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CHE GUEVARA O HERÓI TRANSFORMADO EM VILÃO?

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Por David da Costa Coelho

Ao longo dos anos conheci muitas lendas e mitos sobre Che, embora tenha lido bastante sobre ele em livros acadêmicos na faculdade, a lacuna precisava de mais opiniões de seus fãs apoiadores e dos que o odiavam e ainda odeiam no mesmo nível; Por isso embrenhei-me na leitura de paginas e revistas direitistas como a [1]Veja e outras semelhantes, onde o mesmo é tratado como um vilão e cruel terrorista, ou de esquerdas, que mostram Che como um [2]herói, lutando contra o imperialismo dos EUA e seus aliados.
Assisti documentários, vi filmes, mas ao final de tudo – em minha opinião - ele era um garoto que se transformou num homem, com anseios e duvidas como todos nós. Dentro dele havia o adolescente revoltado, o jovem em busca de seu lugar, e ao final de tudo, numa idade mais adequada, sobressaiu o guerrilheiro, junção de todas suas personalidades, e que seria para sempre marcado como uma das faces do incrível e terrível século XX.
Podemos definir a era desta forma porque foi à somatória de todo processo de evolução e conhecimento que nos identificou como espécie suprema neste planeta, ao mesmo tempo quase foi à época de nossa quase extinção com a 3ª guerra mundial que nunca veio, mas que se realizou de forma homeopática e profunda com a guerra fria, com reflexos até hoje, e que se nada for feito em face da geopolítica mundial, em breve estará de volta porque a história tem a péssima tendência de sempre se repetir porque os seres humanos não mudam, continuam escravos de suas religiões pré-históricas, suas ideologias repaginadas e seu egoísmo imediatista.
Che [3]nasceu neste mundo em mutação, era um garoto de classe média, originário de um país na ponta da América Latina, e dali ele saiu para mudar o mundo e ser de longe a face mais impactante do século XX. Muito mais que o presidente JFK, assassinado por uma conspiração de seus próprios cidadãos oligarcas, descontentes com a forma com a qual desqualificava os anseios deles, e que levou a decisão de matá-lo para introduzir as mudanças que ele não desejava fazer.
 Muitos classificam Che como um assassino cruel e sanguinário, um conspirador do mal, mas [4]JFK, se somados seus crimes em nome da direita fascista dos EUA, um dos articuladores e financista das ditaduras oligárquicas e assassinas que varreram a América Latina, é de longe um campeão mundial nesse quesito, deixando Che na lanterninha dos crimes propostos e impostos exclusivamente a ele. Em se tratando de matar e conspirar em nome da democracia, do livre mercado e da paz mundial, nenhum presidente americano deixa o cargo sem ter eliminado no mínimo cem mil pessoas.
Che, ao longo de seus anos como combatente pelo socialismo utópico imaginado por [5]Leon Trotsky, teve que matar pessoas, disso não há duvidas, pois sem a força das armas e da ideologia marxista, ainda hoje cuba seria um reduto de mafiosos e traficantes americanos. Seu povo continuaria a ser tratado como mão de obra de 3ª classe para corporações dos EUA, e a 3ª guerra mundial poderia ter ocorrido porque sem os misseis atômicos que a URSS colocou em Cuba, por acordo com Fidel, apontados para o território americano, em represália aos que os EUA tinham colocado na Turquia meses antes, não haveria como impedir o ataque ao território soviético planejado poucos anos após a explosão da bomba atômica nas cidades japonesas. Documentos públicos do governo americano neste sentido estão disponíveis no livro [6]Stalin e a Bomba. Sem essa barreira, nada impediria a guerra e hoje os sobreviventes estariam numa espécie de idade média com revolução industrial.
Assim os crimes que Che cometeu, aos olhos dos heróis direitistas que o denigrem, são não só justificáveis como também uma forma que mãe natureza encontrou para o equilíbrio de terror que foi a marca da guerra fria e quase destruiu o mundo. Lembrando que ele não fez os mesmos sozinho, teve auxilio de forças cubanas e soviéticas, na extensão das ideias socialistas utópicas pelo 3º mundo...
 Nesse sentido ele pecou pela inocência porque os EUA jamais permitiriam o mesmo processo que se deu em Cuba, espalhando-se por outros de seus satélites e interesses estratégicos. Não só isso, aliados a sua maquina de imposição cultural, compraram as direitas de todos os países onde instalariam governos fascistas e fantoches, para vender sua verdadeira ideologia, o neoliberalismo como tabua de salvação e melhora de vida das pessoas; mas que na realidade é só outro ismo fascista para destruir pessoas e nações detentoras de recursos específicos... E como são muito bons em propagar mentiras em nível mundial, a culpa precisava recair sobre o estado de bem estar social advindo das ideias e movimentos socialistas.
Che enxergou parte disso ao ciar o programa que hoje ganha prêmios mundo afora, o médico de família. A elite intelectual e financeira de Cuba fugiu para os EUA após a revolução, e ele teve que refazer não só essas mentes como planejar o futuro porque o embargo americano não permitiria dar saúde e qualidade de vida a população da ilha. Para isso ele criou o programa mais médicos e instituiu a ida dos mesmos a pequenas comunidades. Hoje cuba tem medicina de ponta, apesar de não ter recursos financeiros para isso, e ainda exporta médicos para o mundo inteiro, para aqueles locais que nenhum doutor que se preze quer ir por falta de recursos.
Não que eles estejam errados, medico merece trabalhar com tudo que o século XXI possui, mas não esqueçamos que a coisa publica é administrada por políticos, e em sua maioria eles são corruptos, desviam dinheiro, contratam parentes e apaniguados pelegos, e no final das contas, o dinheiro some, não vão presos e os pobres que foram manipulados a votar neles é pagarão a conta.
Partidos de cunho popular levariam décadas para erradicar tais mazelas, e isso não é fácil porque são bombardeados pela imprensa fascista, e demais poderes que os oligarcas dominam há séculos, restando ainda o lobby de hospitais particulares e clinicas para ricos. Com tudo isso, em algum canto de sua genialidade médica futurística, Che deixou um legado de [7]médicos que salvam inúmeras vidas mundo afora... Tecnicamente cada pessoa que eles salvam, servem como uma cruz a menos que Che deve desenterrar no inferno para o qual a direita mundial mandou sua alma e passado de guerrilheiro.
Che tem essa péssima mania de não ficar morto e enterrado, o filme [8]Diário de Motocicleta, que retrata suas aventuras pela América Latina é só mais um dos sucessos de publico e motivos que o levou a ser a personalidade do século XX. Seu programa de médicos é elogiado no mundo inteiro, dele saíram outros como visitas de mata mosquitos que encontram e destroem focos de epidemias e ensinam a erradicar doenças provenientes deles. Como dito anteriormente, a natureza sempre busca o equilíbrio, e no caso de Che, não se pode dizer que ele foi um santo, pois até mesmo estes tiveram seus crimes e pecados...
Neste contexto, o Papa João II foi um notório defensor de padres pedófilos, responsável por uma bula que proibia as famílias das vitimas de falar alguma coisa após passar pelas mãos de padres tarados, pois se isso ocorresse, seriam excomungados, com todo poder que isso representa para um católico, e olha só, agora é mais um santo da Igreja Católica. A lista é quilométrica, como Obama ganhando o premio Nobel da paz, e no dia seguinte mandando bombardear e matar pessoas em nome da ‘paz’. Como dito, Che não era um santo, era um homem com ideias e objetivos claros. Viveu uma vida intensa e morreu para viver para sempre na história. Se ele foi bom ou mal, isso já não mais importa, e sim que sem ele, talvez estivéssemos na idade média.





[1] Especial Che. Há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa: "Não disparem. Sou Che. Valho mais vivo do que morto." Há quarenta anos, no dia 8 de outubro de 1967, essa frase foi gritada por um guerrilheiro maltrapilho e sujo metido em uma grota nos confins da Bolívia. Nunca mais foi lembrada. Seu esquecimento deve-se ao fato de que o pedido de misericórdia, o apelo desesperado pela própria vida e o reconhecimento sem disfarce da derrota não combinam com a aura mitológica criada em torno de tudo o que se refere à vida e à morte de Ernesto Guevara Lynch de la Serna, argentino de Rosário, o Che, que antes, para os companheiros, era apenas "el chancho", o porco, porque não gostava de banho e "tinha cheiro de rim fervido".

[2] O jornalista criticou a reportagem de capa da revista Veja em que o revolucionário argentino é acusado de ser uma farsa e até de não gostar de tomar banho. “O artigo de Veja é ridículo! Baseadas em fontes parciais e comprometidas, sem nenhuma novidade, é um exemplo singular de jornalismo barato, ou seja, algo construído a partir do nada, mas com o objetivo de fazer sensacionalismo. Embora aparente ser jornalismo investigativo, na realidade é puramente tablóide.” Leia a seguir a íntegra da entrevista de Jon Lee Anderson, que se encontra atualmente viajando por vários países dando palestras sobre Che Guevara. Ele falou à CartaCapital via e-mail enquanto esperava, no aeroporto de Miami, um voo para Caracas.

[3] Ernesto Guevara de la Serna, conhecido como "Che" Guevara, nasceu na cidade de Rosário, na Argentina, em 14 de junho de 1928, e morreu assassinado pelo exercito boliviano, a mando da CIA, em La Higuera, na bolivia, em  9 de outubro de 1967), foi um político, jornalista, escritor e médico argentino-cubano.

[4] COMO KENNEDY APOIOU GOLPE DE 64: Primeiras medidas práticas para ajudar movimento que derrubou Jango foram tomadas em junho de 1962

[5] O trotskismo é uma doutrina marxista baseada nos escritos do político e revolucionário ucraniano Leon Trótski. É formulada como teoria política e ideológica e apresentada como vertente do comunismo por oposição ao stalinismo. Em 1946 Hermínio Sacchetta, dirigente trotskista brasileiro nos anos 40 e 50, define assim o trotskismo: " (...) trotskismo (é) o conjunto de ideias de Marx, Engels e Lênin defendidas sem quartel por Leon Trotsky. (...) Quero, pois, de início, acentuar que o trotskismo não constitui uma doutrina política. Nem mesmo a teoria da Revolução Permanente, que ganhou seus contornos definitivos graças à enorme contribuição que lhe proporcionou o criador do Exército Vermelho, pode lhe ser atribuída como uma concepção inteiramente original. Entretanto, foi em torno dessa teoria que se travaram quase todos os choques ideológicos no plano do movimento comunista, sobretudo de 1923 a esta parte. "

[6] Autor David Holloway Sinopse: Os bastidores da construção da bomba atômica soviética no âmbito do mundo científico, na atuação da espionagem e nas relações entre o poder central e a comunidade acadêmica. Segredos guardados durante 40 anos de Guerra Fria.
[8] O filme Diário de Motocicleta retrata a viagem feita na década de 90 por Ernesto Che Guevara e seu amigo Alberto Granado pela América Latina. O objetivo, a princípio, era percorrer cerca de 8000 km e explorar o continente que até então só conheciam através dos livros, questão que os deixavam intrigados pois tinham um amplo conhecimento da Grécia Antiga e da Europa, mas em compensação não tinham o mesmo pelo seu próprio continente, sendo esses um dos motivos que os fizeram partir para a explorar o território latino americano.
Os viajantes partiram da Argentina passando por diversos lugares e chegando ao destino final que seria a Venezuela. No decorrer da viagem são surpreendidos pela extraordinária geografia física e humana do continente, o qual havia muita pobreza, fazendo com que os dois mudassem de mentalidade ao longo da viagem, principalmente Che. Aos poucos eles começam a se sensibilizarem com a extensa pobreza e desigualdade existente no continente. Um dos principais fatores dessa mudança foi sentido quando chegaram na colônia da San Pablo no Peru (Amazônia peruana) onde havia um leprosário. Este leprosário era composto de uma verdadeira segregação entre os doentes, os quais se localizavam na zona sul da colônia, e os médicos e companhia que se encontravam ao norte da colônia, esta que era dividida pelo rio Amazonas, sendo que essa questão da segregação foi uma da que mais tocou Che.
Lá mesmo, na colônia, Che começa a aprofundar seus princípios revolucionários, sobretudo quando faz um discurso a respeito do desejo de uma América unida, sem divisões de nacionalidades, mas sim uma América constituída de uma única raça mestiça, que podemos ver uma certa influencia de Simon Bolívar que teve esse mesmo desejo no século XVIII a respeito do Pan-americanismo (bolivarismo). Notando assim o tanto que essa viagem influenciou os pensamentos e princípios de CHE.
Sendo uma viagem a princípio com o objetivo de aventura, e no fim acaba definindo o destino de um dos maiores lideres revolucionários do séc. XX. Oito anos após a viagem Ernesto já se torna o tão reconhecido Che Guevara um dos lideres mais proeminentes e inspiradores da Revolução Cubana na qual lutou por seus princípios, muito deles adquiridos na viagem pela América Latina. Sendo assim uma viagem de autoconhecimento e transformação para Che.

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