POR DAVID DA COSTA COELHO
Num certo sentido o terapeuta é a pessoa mais feliz do mundo porque não precisa assistir novelas para vê-las ocorrendo diante das pessoas que o buscam em auxílio para seus dilemas pessoais. Elas nos trazem novas ideias e conceitos que realmente são tabus para grande parte da sociedade hipócrita, mas que fazem as escondidas, no entanto, rotula e massacra quem o faz. Entre os ricos, com seus encontros conjugais, [1]Swing e bacanais, isso é mais antigo que as taras do império romano, mas nos dias de hoje, os seres humanos estão redefinindo a forma de casamento e união entre pessoas, e até o namoro; haja vista o recente item do [2]casamento poliafetivo. Dito isso, vamos elaborar algumas das novas tendências do que se chama sexo livre, ou amigos com benefícios e ver para aonde vai a raça humana...
1ª HIPÓTESE:
Imagine que você conheceu uma pessoa que foi sua amiga por muito tempo, e a química entre vocês era perfeita, amizade suprema, mas jamais rolou sexo. Ambos se casam e se mudam, mas continuam se falando por redes sociais de como vão às contas, filhos, anseios e o sexo com os respectivos companheiros. Como são amigos não há nada a esconder, inclusive do que gostaria que ocorresse numa relação sexual ampla, sem nenhuma espécie de coisa inerente a um casamento desgastado, mas que não pusesse o mesmo em risco, tendo em vista o preço disso...
Os amigos se encontram e decidem que podem se auxiliar em segredo, dando nesse encontro a satisfação que só a união das pessoas que se conhecem realmente de corpo e alma, muito a quem da união por emoção pode conseguir. E o momento foi tudo aquilo que esperavam. A amizade secreta segue ao longo de anos, e o sexo entre eles é o melhor de tudo, e ainda assim continuam com seus respectivos parceiros, suas vidas de casados até a velhice...
Errado? Uma traição ao casamento? Uma covardia com seu parceiro [a]? No dizer de algumas pessoas que conheço que fazem isso; o que os olhos não veem o coração não sente.
2ª HIPÓTESE:
Vários amigos e amigas se conhecem tão bem que fazem um acordo entre eles, quando alguém sentir vontade de fazer sexo e aliviar as tensões da vida cotidiana, marcam em um local específico ou casa do grupo que interage desta forma e todos são livres para viverem ali suas vontades sexuais da forma que desejarem. Eles são amigos e parceiros sexuais, não rola ciúme ou intensão de viver a vida de casal, construir filho e família, e se algum deles decidir que esta rolando uma emoção a mais que destrua aquela liberdade, a pessoa deve falar ao grupo e tirar um tempo de se relacionar com o objeto do desejo e sim com outro parceiro ou parceira, pois nesse tipo de vida não há nada que o prenda em sua felicidade sexual. A cura para qualquer paixão esta em fazer algo com pessoa diferente, demora, dói, mas a coisa segue.
Orgia? Bacanal, sexo por sexo? A vida só nasce com uma regra, um dia você envelhece e morre, e o que faz no meio do caminho é o que dá sentido ao que fez por ela.
3ª HIPÓTESE:
O rapaz ou a menina decidem que são parceiros sexuais, mas não querem namorar nem viver juntos, mas buscam parceiros para isso. Ambos têm namorado ou namoradas, vão se casar com eles, mas sempre que possível estão se divertindo fazendo sexo livre e sem compromisso porque o que existe entre ambos os dá essa liberdade e desejo, sem a prisão do que farão ao se casarem. E mesmo após o casamento, agora ambos com seus filhos, continuarão amigos, indo a festas de crianças e parentes, com os companheiros de vida; mas para o resto da vida são amantes de corpo e alma, uma união que casamento algum pode prover; a verdadeira identidade secreta deles...
Outra canalhice e traição, ou apenas mais uma forma de exercer uma liberdade que só amigos íntimos com benefícios podem entender?
À luz da terapia, os seres humanos tem em sua mente a necessidade da liberdade e do segredo de quem realmente é e do que deseja, pois mesmo com a pessoa que dorme ao seu lado, e o vê sentado no vaso sanitário, uma das maiores intimidades, ainda assim não pode ser realmente o que é por medo de magoá-lo se falar o que realmente quer. E o sexo, de longe é o que nos motiva a viver, mesmo quando não o fazemos mais e só podemos imaginar como será; e isso já dizia o tarado do [3]Sigmund Freud. Não fomos feitos para viver nesta cúpula de monogamia e hipocrisia ocidental, mas a cultura, imposta pela religião hipócrita, cria essa caverna da qual as pessoas não conseguem sair e ser livres porque ela foi engendrada num sistema perfeito. Família, bens, tradições e não contestação das mesmas. Dito isso, percebe-se porque os ricos praticam as coisas das três hipóteses acima, tão abordadas e novelas e filmes e que geram discussões e debates acalorados e audiência recorde nesses eventos midiáticos.
Tenho uma cliente que já saiu com inúmeros de seus amigos, mas ela é casada com um bom marido trabalhador e evangélico. Ela se fez feliz nesse tipo de situação, e sabe muito bem que fora do lar, aquele é seu verdadeiro eu. Em casa é o que diz no matrimônio. Conheço muitas mulheres que nem sonham em casar, ao contrário, tem sua profissão, dinheiro e carro, e amigos para o que der e vier quando o desejo e a tara sexual lhes assalta. Falar que o mesmo ocorre com homens seria redundância porque os homens tem liberdade sexual desde que entram na puberdade. Como nascem mais mulheres que homens historicamente, e estes ainda morrem cedo ou ficam doentes ou broxas, além dos que se tornam gays, homem sempre terá amantes à sua escolha...
Lembrando que nos livros de religião, o que mais se encontra é homem com uma ou várias esposas ou uma que ele deseja e faz toda canalhice do mundo para obter. O caso mais famoso é o do rei Davi, casado com várias esposas, e da Bate-Seba, casada com o soldado Urias; o marido esta fora lutando pelo país, mas ela tem o rei como seu amigo beneficiário, e mais tarde após a ‘morte’ de seu marido, se casa com o rei e lhe dará o herdeiro que se chama Rei Salomão, o supremo pegador da Bíblia, com mais de mil mulheres em seu harém, e que assim como seu pai, se apaixona por mais uma e extremamente famosa, a rainha de Sabá...
Essa alusão acima é para mostrar que mesmo o hipócrita que mete a língua na vida alheia, a luz da sua religião, é apenas mais um grande imbecil, lembrando que na Bíblia há casos piores, mas não cabe aqui neste contexto.
Uma relação nesse sentido, e como terapeuta, não me cabe dizer se você esta certo [a] ou errado [a], ao optar por tais coisas, proporciona sexo, companheirismo e amizade, e num certo sentido, mesmo na pior de suas dores, há aquela pessoa secreta para compartilhar algo que transcende a tudo isso. A liberdade mental para fazer o que tem vontade, sem precisar dar satisfações ao seu parceiro ou parceira oficial - já que é seu lado secreto – lhe dá o que Freud chamou de ‘motivação’. Evidente que seria bom viver uma relação com seu parceiro onde você pudesse dizer:
- Amor, vou dar um pulo ali no motel e passar algumas horas de sexo intenso com meu amigo ou minha amiga, mas amanhã de manha volto para levar nossos filhos na escola.
De parte do companheiro [a]:
- Tudo bem amor, vá e se divirta, mas amanhã à noite será minha vez porque faremos uma orgia épica e você tem que tomar conta do Paulinho e ver o horário dos remédios aqui na geladeira...
Esse teoria de coisa acima exigiria um tipo de liberdade que nossa sociedade, tal e qual ela é, só se permite a um segmento minoritário e elitista, cabendo aos demais da pirâmide desejar parcialmente o mesmo, mas jamais ter coragem de viver esse conto de fadas que sua amiga, amigo ou vizinho tem. As relações humanas não são estáticas, elas mudam com o tempo. O casamento como se conheceu esta sofrendo mudanças, a exemplo da união poliafetiva, em que um homem casa com várias mulheres, ou uma mulher casa-se com vários homens. Eu diria que essa é a forma de se conseguir manter um relacionamento com amizade real e sexual num relacionamento sério e conjugal, ainda que com vários parceiros, já que essa é a forma de união menos hipócrita porque se permite liberdade de prazeres sem a regra da prisão da posse e do ciúme, inerente ao casamento monogâmico, um contrato com regras claras e que não podem ser quebradas, daí os segredos...
[1]É um local, geralmente uma casa – podendo ser de amigos ou estabelecimento comercial - aonde os casais vão para ter relações sexuais não com seus parceiros, mas sim uma troca de casais, ou até mesmo um grupal com todos incluídos. O swing é um momento de entrega total onde os desejos mais secretos veem à tona e em se consentindo, tudo pode. Para seus adeptos, é a mais saudável forma de manter um relacionamento. No swing não existe traição, e sim limites de acordo com as imposições que o casal colocar. Através dele é fácil sair da mesmice e manter uma vida sexual relativamente ativa e diversificada, na Europa e Estados Unidos é bem comum essa prática, havendo inclusive clube para se conhecerem e variarem parceiros.
[3] Para explicar o comportamento Freud – o pai da Psicanalise - desenvolve a teoria da motivação sexual (sobrevivência da espécie) e do instinto de conservação (sobrevivência individual). Mas todas as suas colocações giram em torno do sexo. A força que orienta o comportamento estaria no inconsciente e seria o instinto sexual.