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O QUE DIRIA A CRIANÇA, A MÃE, E AS PESSOAS ASSASSINADAS NO RÉVEILLON POR SIDNEI RAMIS DE ARAÚJO?

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AUTOR: DAVID DA COSTA COELHO

Todo ano temos um novo motivo para recomeçarmos, mas para mim, ano novo não quer dizer nada, Já que aos 16 anos eu conheci um senhor que havia lutado na 2ª Guerra, e ele me disse que o único ano que interessa é o seu aniversário porque esse é seu verdadeiro ano novo, devendo ser comemorado com muita alegria e vida plena porque não saberemos se teremos dentro de um ano outro ano novo...
Desta forma, após ler na internet as falas de várias pessoas que concordaram com o que o cidadão acima fez, e os que discordam; como escritor, terapeuta e professor, cabe-me neste texto não continuar dando voz a quem se tornou fala única, e sim aos que graças a ele, com suas elucubrações e síndromes, que [1]retirou o direito de outros de se expressarem, e que me lembra do porque mais uma vez eu defendo o porte de [2]armas para todos. Se existisse no evento descrito outra pessoa armada, ao menos teríamos menos mortes porque revidaria e mataria o meliante...
Mas vamos às falas, o menino, como toda criança, quer crescer ao lado de seus pais, ser protegido por eles, direcionado no bom caminho, e ao final de muito estudo e apoio familiar, ser um cidadão com tudo que isso lhe confere, depois viver sua própria vida, e ao final brindar seus pais com uma família, não importando aí suas escolhas sexuais no futuro.
 Mas graças a este homem, Sidnei Ramis de Araújo, esse menino jamais poderá comtemplar tais destinos porque assim como a mãe dele não devia ter se separado e tirado o direito dele – do Sidnei - de ser pai em tempo integral, este homem resolveu que o garoto, seu filho; um jovem lindo e sorridente, com amigos e pessoas que o amavam e apoiavam em meio à crise da separação e ausência de sua figura paterna, agora virou só mais uma estatística de pessoas mortas por armas de fogo no Brasil, no país onde as armas são proibidas, mas que mais se mata no mundo...
 Claro que o menino se espantou ao ouvir tiros, que correu temendo por sua vida, vendo que o atirador era alguém que o viu nascer, dormir ao lado dele, e sorrir sempre que trocava fraldas e via o filho fazer xixi nele, como o meu fez em mim tantas vezes, e eu ria dessa situação.
O mais triste para o menino não foi ver sua mãe e outras pessoas sendo mortas por alguém que um dia ele amou e idolatrou como pai, mas saber que agora tal pessoa se aproximava e fazia a mesma coisa com ele, e antes das balas entrarem em seu corpinho, o que restou foram segundos de decepção por alguém que jamais deveria ter tido o direito de ser pai, e que se realmente o deus que ele tanto fala existisse, que o tornasse estéril para impedir o que já estava escrito que iria fazer, já que o tal deus cristão é onisciente...
 Para a ex-esposa não foi menos traumático, apenas um relato das tristezas que fazem parte da vida das mulheres numa nação racista, machista e xenofóbica, e em que as mulheres são vistas ainda como reles parideiras, pessoas que não se deve contratar porque engravidam, dentre tantos estereótipos e demais coisas a descrever.
 Nos dias atuais, muitos casais se separam por uma série de razões, e a separação é uma coisa traumática, e as crianças acabam sofrendo mais ainda. A guarda neste caso, salvo raras exceções, fica sempre com a mulher, e ela paga um preço maior porque é difícil recomeçar a vida com outra pessoa devido aos filhos e a presença do ex-marido no que tange as visitas semanais ou quinzenais, ciúmes, e brigas semanais em que quase sempre a mulher é a culpada pelo término do casamento por não aceitar certas coisas inerentes aos homens.
Homem, casado ou não, pode aprontar tudo porque a sociedade é machista, e a mulher que quer se casar deve aceitar e entender esse papel porque ao se separar, mesmo sendo uma santa paroquiana, ela será sempre a culpada. E se tentar arrumar um namorado ou marido, enquanto seu ex-marido faz isso desde o primeiro dia, é claro que o cargo e o nome de vadia serão seus pela eternidade, inclusive aos olhos de quem devia entender e defender, ou seja, outras mulheres...
Quando se separam, muitos homens não aceitam que elas tenham outra pessoa, assim espancamentos e crimes passionais acabam ocorrendo contra elas, relatados na inútil lei Maria da penha que só protege mulheres ricas e famosas, e a única coisa que pode fazer de especial para uma mulher pobre e perseguida é colocá-la num abrigo para que fuja do meliante, de novo voltemos às armas, se tivesse porte de arma para todos, mulher iria temer ex-marido querendo matá-la?
As razões elencadas em sua carta são muitas, mas são as razões dele, um julgamento ao estilo faroeste em que se pega o cara, diz que é culpado, pendura uma corda e o enforca e o povo sai gritando feliz porque mais um bandido foi morto. Semanas depois que descobre que a pessoa era inocente, mas um copo de uísque no bar apaga tudo.
No caso em questão, a mãe desse menino não era inocente, ela foi à culpada – segundo Sidnei – já que era uma vadia, como todas as suas parentes e amigas que ele matou nesta festa, e que como ele era um ser do bem e estava higienizando o mundo de vadias que poderiam fazer o mesmo com outros homens, ali ele era o justiceiro certo na hora divina, disposto a padecer para sempre no inferno por ser o destruidor dessas humanas imorais.
 Que o mesmo tinha problemas psicológicos não se exclui aqui, como terapeuta, sei que qualquer coisa traumática que ocorre em nossas vidas dispara um gatilho emocional, alguns superam e seguem em frente, outros não tem essa capacidade e encontram um culpado comum.
No caso dele foram vários fatores, mas foi a esposa vadia – mas que era perfeita enquanto não mandou o cara embora – a causadora de tudo, e por isso ele a escolheu para o extermínio, assim como outras na festa, e até mesmo a presidenta Dilma, cujo mandato foi roubado pelos políticos corruptos e o judiciário canalha e vendido,levou chumbo literário, mas ela foi culpada maior por ser mulher e “vadia”, e superior a ele como presidenta, um absurdo para os machistas.
Assim como o menino, seu olhar ante a arma apontada e as balas entrando, não foi para ele, e sim para o filho, se perguntando como o garoto poderia suportar a sua morte, mal sabendo ela que em poucos instantes, sua alma encontraria a do filho, rumo a uma nova reencarnação se ela fosse de meu credo, ou indo para seu paraíso religioso se fosse cristã. 
Nesse momento as balas e a vida estariam congeladas no tempo, restaria a ela vislumbrar cada face que aquele homem doente e perverso ocultou dela durante anos, e que agora, em seus últimos instantes de vida, ela contemplava seu verdadeiro rosto, a de um ser que ela jamais conheceu em vida, mas sim na morte.
Quanto às vítimas, como personagens numa boate prestes a explodir, poucos perceberam quem era o atirador, e os que lhe viam, tentavam em vão escapar dos fogos provenientes de sua arma, abafados pelos que explodiam nos céus, como eles, suas almas mais que depressa deixaram seus corpos, alguns ainda agonizaram ao chão ao ver a mãe e o menino tingindo suas roupas de sangue, um mais sortudo pôde ver a hora que o meliante decidiu acompanhar a todos que já estavam encomendados...
Quanto aos amigos e familiares dos que se foram, recomendo que procurem de imediato um terapeuta porque isso é um trauma, e podem levar outros gatilhos a serem disparados ou não. No entanto, já temos a segunda e maior vítima de todas elas, as mulheres.
Não se trata mais de apoiar o marido preso por bater em você e esperar que ele vá melhorar porque você ainda é uma dependente emocional dele, como a situação da delegada que apanhava no carro, em que o marido bateu numa vigilante e depois foi lá e pagou a fiança dele. Trata-se de entender que uma coisa começa porque é bom e termina quando vai terminar, e se for ameaçada, faça um curso de vigilante e peça um porte de arma, porque só isso te protegera, afinal, machista não é macho quando tem uma arma apontada para ele...






[1] http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,autor-de-chacina-em-campinas-escreveu-carta-sobre-seu-plano-veja-trechos,10000097539

[2]Não surpreende que os Estados e cidades com leis mais rigorosas de controle de armas sejam os que têm maiores índices de crimes violentos.


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