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Channel: O PORTAL DO INFINITO
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A REENCARNAÇÃO E A MINHA EXPERIÊNCIA FORA DO CORPO...

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AUTOR: DAVID DA COSTA COELHO

Dizem que a escuridão é uma velha amiga, e querendo ou não, sempre voltamos a ela em momentos em que nossa alma questiona porque ainda estamos [1]aqui. E é quando dormimos que nos entregamos a escuridão do sono, que nos descansa e repousa para mais um dia de luz de vida, com todos os seus prazeres e dores inerentes; luz essa que não sabemos ainda quantos anos temos, mas que um dia se entregará verdadeiramente à escuridão do fim desse corpo e a liberdade para uma luz infinita que só quem realmente a conhece a anseia...
Eu já vivi essa escuridão da morte e essa luz da vida com outros olhos porque realmente deixei meu corpo, e como todos nós que passamos por isso, eu não queria ter voltado, mas me mandaram de volta...
 O ano era final de dezembro de 1983, eu era ainda adolescente, internado em um hospital com confirmação de coágulo no cérebro, no lado direito, uma imensa área tomada em quase toda sua totalidade, e que se nada fosse feito, eu morreria em no máximo dois dias.
Era uma cirurgia com 50% de chance de não voltar. Ao ser informada minha mãe desabou em choro. Mãe tem essa mania de querer que os filhos sejam sempre saudáveis e imortais, mas às vezes tem que entender que a poderes maiores que seu dom materno de proteger a qualquer custo sua prole, e se entregar a incerteza da vida de quem elas geram...
Ao ser informado eu não tive medo, na verdade desejava o fim das dores que me consumiam e davam a impressão de que alguém puxava minha cabeça querendo arrancá-la, ou a esmagava em um torno. Ainda hoje eu experimento essa dor porque deixaram na minha cabeça duas placas de platina, e quando o tempo muda, o ferreiro que me tortura desde os 16 anos retorna por dias...
Pouco depois eu fui despido e colocado numa vestimenta que até hoje acho vergonhosa, com a parte de traz aberta. Levado ao centro cirúrgico, tendo a cabeça raspada, mas não estava só, havia mais dois meninos na mesma situação, mas eu percebi algo neles. Já havia visto a mesma coisa ao ver meu avô morrer do meu lado quando tinha 6 anos. Era uma sombra, uma escuridão só percebida por quem reencarna com algo mais. ao vermos tal ausência de luz, sabemos que o tempo deles na terra está no fim. Eu não tinha conhecimento na época de meus dons, só via...
Cada um de nós foi levado a sua enfermaria e ao seu quadro de profissionais, com os parcos recursos da época. Um médico conversou comigo que estava tudo bem e que ao acordar eu estaria curado. Eu estava no soro e me colocaram de costas. Senti o algodão com álcool gelado na minha espinha e a picada de uma agulha, e no segundo seguinte a escuridão me tomou a luz dos olhos e eu dormi...
Sim eu dormi, mas algo em mim não aceitava aquele sono. Minha mente sempre foi inquieta porque ela sempre pensava e escrevia, como faço há anos, mas antes eu escrevia apenas em minha mente, levaria décadas para eu fazer isso em papel, e finalmente na net.
Descobri-me em [2]pé e estranhei, mas eu não imaginava que aquilo não era minha mente escrevendo, e sim eu olhando para mim mesmo, careca e desprotegido, com um homem cortando minha cabeça, e eu queria gritar, e gritei para ele parar, mas ele não me ouvia, nenhuma das pessoas que ali estavam me ouviam ou viam, e continuavam sua missão de me torturar na morte para me salvar a vida...
Sai dali porque eu não queria ver o quanto era fraco e a disposição daqueles homens. Caminhei para outra sala, estava fechada, mas eu passei por ela e vi o outro menino que também operava. Ele também estava se vendo, mas diferente de mim ele sorria, sim ele sorria porque estava livre, e o vi flutuar acima de mim e desaparecer do meu campo de visão. E em breve eu saberia a razão...
Fui à outra sala e também vi o menino seguinte, mas ele apenas me olhou e também subiu para as paredes do hospital, cruzando por elas, algo impossível a um corpo humano, mas não para a alma que vive em outra dimensão e nada neste plano pode impedir sua passagem...
Andei pelo hospital, cruzava paredes e pessoas, mas elas não me viam ou me sentiam. Fui a minha enfermaria, o local onde se encontravam mais de 50 leitos. Um dos famosos matadouros de hospital público em que se joga gente doente de toda espécie e se coloca um ou dois enfermeiros para atender, e como se sabe, alguém que esta num lugar desses sempre morre...
Durante os dias que fiquei ali eu vi muitos morrerem, e ao retornar eu continuava vendo. Alguns me olhavam e sorriam e partiam, e eu olhava seus corpos vazios de vida. Mas livres da casca que os prendia. Eu segui um pelo teto, e ele partia rumo às estrelas porque era noite. Eu tentava me aproximar dele, mas algo me prendia uma espécie de linha fina e tênue, quase que invisível. Eu a peguei com a mão e tentei partir e não consegui. Então tentei com meus dentes, mas percebi que não tinha dentes, ou se tinha eles não funcionavam...
Eu os via partir e subir, e eu não podia fazer nada para ir com eles, e eu queria muito, como eu desejava saber o que havia nessa liberdade que eles tinham, e eu, mesmo voando centenas de metro do hospital, de alguma forma eu ainda era prisioneiro de meu corpo...
Decidi então explorar os arredores e vi a cidade as escuras e a igreja imensa num monte próximo ao hospital. Via ônibus e carros circulando, poucos na época... Fui a minha casa e vi meus irmãos dormindo, e minha avó também. Mas ela acordou e me viu... Não sei como, mas ela me viu e ouvi ela em minha mente me mandando de volta para o hospital. Eu não queria e fugi dali de volta para o céu. Subi tudo que foi possível e vi o oceano e a praia, e a lua cheia refletida nele e iluminando a areia. Eu queria nadar, mergulhar e me direcionei para a água, e para a areia, mas algo me segurava, me puxava, e como um ioiô, eu puxava para frente e ele para trás, e finalmente me venceu...
Eu voltava e descia as paredes do hospital e via os médicos, mas não queria voltar para o meu corpo. Eu queria a liberdade, mas eles não deixavam. Eu via minha cabeça sendo enfaixada, como se eu fosse um hindu, e no meio das faixas havia dois canudos, drenos que mais tarde eu sentiria com a intensidade do meu ferreiro e torturador se divertir com minha angústia...
Resistia e flutuava, e num ultimo e supremo esforço eu saltei além de tudo, e via agora os dois meninos, mas eles me olharam de cima, seus rostos me discriminavam e eu ouvia deles:

- Volte, volte...

 Eu não queria e estiquei minhas mãos para ir mais rápido, mas me olharam uma ultima vez e sumiram numa luz mais imensa que o sol quente do meio dia, e eu senti um puxão imenso, rasgando minha alma e me jogando fundo num lugar escuro e apertado, e com dor, muita dor; e eu me contorcia de dor não sei se por horas ou uma eternidade, e então abri os olhos e vi minha mãe chorando e implorando que eu ficasse quieto, eu estava amarrado a cama, meus braços e pernas atados com gazes, mas ainda assim me contorcia de dor e vontade de sair dali.
Eu chorava e não era só de dor, mas de vontade de voltar à liberdade, de sair desse sofrimento corporal, então desabei de dor e comecei a chorar, a chorar de derramar lágrimas que eu não tinha. Minha boca estava seca, e eu implorava por água, mas minha mãe não me dava e nem as enfermeiras e eu não entendia porque tinha que sentir uma dor imensa na cabeça e sede...
Eu gritei com minha mãe que queria água e ela dizia que não podia me dar, mas molhou um algodão e passou em meus lábios secos e rachados do frio do centro cirúrgico que deixei. Eu chorei por horas sem lágrimas e dormi...
No dia seguinte eu já podia me alimentar, mas havia alguém me aguardando com saudade, meu torturador eterno, e enquanto escrevo agora, ele me martela porque o tempo está frio e chovendo, e ele se deliciando com minha cabeça latejando de dor...
As enfermeiras ligaram os drenos que eu tinha na cabeça a uma espécie de mini aspirador e eu senti como se estivessem me arrancando à cabeça. Quase desmaiei de dor, mas injetaram analgésicos no meu soro e benzetacil no meu braço, doía como a dor mais divina e infernal da terra, mas eu preferia a dor do braço do que na bunda, onde me aplicaram a 1ª vez. Tomei todas as que podiam nos dois braços e aceitava que viver é aprender que tudo dói inclusive o amor; e quando intendemos isso, a vida se torna o que é uma escola...
Voltei para casa e para a minha vida de sofrimentos dado minha casta social. Tive que batalhar muito e carreguei meu turbante até o dia de retirarem os drenos, os ferimentos criaram casca e eu de vez em quando sacudia minha cabeça, e ela chacoalhava como uma garrafa de refrigerante pela metade.
Voltei de lá e só contei minha experiência para algumas pessoas bem intimas e velhas, pois minha alma é velha e só converso com velhos desde tenra idade. Indicaram-me livros da rosa cruz que explicavam o que eu vivi, e muitos livros de reencarnação.
Não perdi meu dom, ele se ampliou de uma forma que hoje sinto quem está para partir, mas não vejo isso em mim, ao menos não para agora, embora anseie desde que deixei a maca aos 16 anos. Acho que aqueles garotos de certa forma me obrigaram a viver meu tempo, e quem sabe o tempo deles. Mas nada nesta vida é eterno, e um dia eu vou ter o meu direito de cruzar o mesmo portal que eles, e nesse dia eu serei realmente livre...



[1] Algumas correntes religiosas acreditam que nossa alma se rebela contra sua prisão corporal, já outros mais céticos de que é apenas uma fase psicológica em que precisamos nos entregar ao silêncio e a comunhão conosco para poder voltar ao mar de prazer ou lágrimas da qual a vida é composta, vida essa em que às vezes temos tudo de material e desejo, e ao mesmo tempo não vemos desejo de continuar nela, aguardando ansiosamente um chamado, como no olhar daquela velha senhora, e em mim, que como humano, uma hora estarei realmente livre e feliz ao me reintegrar ao universo..


[2] Experiência fora do corpo é a capacidade da alma deixar o corpo em momentos de situação de quase morte, ou também através de treinamento mediúnico para pessoas com alto grau de psicometria. Para as pessoas que já vivenciaram tal experiência, a vida passa a ser vista de forma mãos ampla, onde não a apego a coisas terrenas e sim a uma necessidade de se conectar com algo mais. Geralmente essas pessoas são vistas como deslocadas do contexto social que lhes permeia...


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