Quantcast
Channel: O PORTAL DO INFINITO
Viewing all articles
Browse latest Browse all 339

MÁRCIA, A VAMPIRA QUE VEIO DA CIDADE DE TRÓIA...

$
0
0




AUTOR: DAVID DA COSTA COELHO

O vampira observa do auto as facções de gregos e troianos lutando nos últimos momentos da guerra de Tróia, havia tantos mortos ao longo dos anos que ele quase intercedeu ao lado dos troianos, exterminando os gregos, mas vampiros não deveriam se meter nas guerras de suas presas, ao contrário, guerras provinham alimento sem ter que ir ao local onde habitavam, com seus odores e hábitos repugnantes para o olfato de um vampiro.
Embora tenha sido humano há milhares de anos, Win Lao jamais teve apego a sua espécie ou amores, sempre se dedicou ao conhecimento como caminho de superação a sua humanidade e foi abençoado porque foi escolhido para ser vampiro, algo muito raro, e nesses quase quatro mil anos de existência imortal, além do prazer de ser dá espécie suprema deste mundo, o que mais fez foi estudar a humanidade. Mas dentre todos ele gostava dos eruditos e dos que se dedicavam ao estudo do oculto, da magia, os magos.
E em Tróia havia muitos eruditos e magos, e ver a cidade ser devastada, extinguindo um conhecimento que morreria com aquelas pessoas, isso fez com que ele tomasse uma posição, mas não a favor ou contra nenhum grupo, sim sendo um vampiro, pois ao se alimentar de pessoas, eles absorviam não só a vida e energia vital, como também todas as suas experiências e conhecimentos adquiridos da hora que nasceram até o momento da morte, além de um pouco da memória genéticas dadas pelos pais...
Ele se aproxima dos túneis secretos onde as pessoas capacitadas estavam escondidas, mas que em breve seriam descobertas e mortas, e as domina mentalmente porque o tempo era escasso. Aliado a isso, ele não se alimentava há muito tempo, pois sua sede de sangue já havia passado, contudo, oportunidades como aquela o fazia reviver sua febre por sangue e o prazer e a dor de saborear as vidas que vinham juntos.
Sob o domínio do vampiro as pessoas se aproximam dele e ele as suga até a morte, e os tuneis vão se enchendo de corpos frios e secos. Ao final resta só uma sacerdotisa do templo do deus Marte, e em homenagem ao deus da guerra, e sabendo que ela seria sacerdotisa, seus pais a chamaram de Marcia, porque as sacerdotisas eram consideradas esposas do deus, suas protetoras na terra, e quando morressem, não iriam para o Hades e nem os Campos Elísios e sim para o palácio do deus a quem servirão em vida; e que agora mortas, suas almas continuariam servindo pela eternidade...
Mas quando o vampiro sugou sua primeira gota de sangue, ele sentiu algo nela destinado a poucos humanos ao longo dos milênios, e ele sabia o que foi, pois era o criador de dois vampiros, e ela tinha mais dons que seus dois filhos juntos; e isso mudou tudo porque Marcia não seria morta e teria seu corpo consumido por vermes, como todos os sacerdotes que ele matou; ela seria algo mais, muito mais linda e poderosa que seus dois filhos, ela será uma vampira sacerdotisa, e ele a divindade dela...
Ele parte dali voando com a mulher ainda humana em seus ombros e ao chegar ao seu palácio, muito distante da guerra, ele a desperta e lhe apresenta em sua mente toda sua erudição e sua história. A mente dela quase enlouquece diante de tanto poder e saber. Ela tinha 25 anos, era virgem, como toda sacerdotisa deveria ser, e jamais imaginou ver um deus, jamais pensou que adoraria outro deus além de Marte; mas agora ela tinha um novo deus, um vampiro que se chamava-se Win Lao...
Ele a alimenta e cuida por semanas, tornando-a forte para o que virá. Ensina-lhe sobre o que é e o que ela será, pois a salvou da destruição para ser uma deusa, e jamais ser vítima de nenhum humano, na verdade, em breve os humanos a alimentariam. O vampiro sentiu por aquela humana uma conexão tão estranha que ele decidiu fazer algo que poucas vezes fez na vida como humano ou como vampiro, sexo...
Ele a deitou em seu peito e conversaram por horas, e quando se sentiu realmente integrado a ela, ele a guiou em sua inexperiência e temor, pois era virgem. E quando ela repousou completamente seu corpo sobre o dele, um pequeno filete de sangue deu por encerrada sua virgindade e o pacto com um antigo deus da guerra ciumento...
 Com seu novo mestre ela amou e teve prazeres que nenhum humano jamais sonhou. Seus cabelos negros e olhos azuis encantavam seu amante sobrenatural, e ela sabia que ao final do dia ela não mais seria humana porque agora seu deus a possuía e lhe cravou os dentes em sua jugular o sangue fluiu de seu corpo para o dele...
 Mas ainda assim Lao foi um cavalheiro, bebendo gota a gota, de um sangue imensamente rico e saboroso, algo que ele jamais havia provado, exceto Sodak, o criador de Yula, a futura imperatriz dos vampiros, o ser mais poderoso da terra. Mal sabia ele que estava criando alguém que faria parte da realeza de Yula, e que um dia seria mais poderosa que o vampiro que a criou porque seu sangue era especial. Sendo devorada em sues últimos segundos como humana, Márcia vê um túnel de luz lhe chamando, ali há muitas pessoas cruzando para a luz, um deles se vira e a chama, mas algo a puxa, e nesse momento ela morre para o mundo humano...
Nos próximos três dias ela começa um processo de mutação onde seu corpo se cura e se regenera de todas as dores físicas e mentais, músculos crescem proporcionalmente a sua idade e poder de vampira, seus caninos retrateis surgem e se ocultam para o momento apropriado, e sua mente se expande, e ela agora pode captar o voo de uma borboleta a milhares de quilômetros, o caminhar de formigas e algo mais; uma força incomparável tanto física quanto mental e fome, muita fome, comparável a de centenas de elefantes devorando uma pradaria...
Marcia acorda no 3º dia com essa fome insana, mas no seu caso só havia um alimento para saciar seu tormento, sangue humano. Win Lao a leva para uma vingança porque centenas de barcos carregando homens fortes e bem alimentados estão retornando às cidades gregas após destruir Tróia...
 Eles levam também muitos escravos, mulheres e crianças entre eles, mas para Marcia isso não interessa. Só o sangue dos humanos, quente e forte, circulando pelas veias do pescoço a saciariam, e em breve a alimentará em sua virgindade de matança e gula...
Eles pousam nas primeiras galeras gregas, barcos grandes com remos e velas, e sem poder fazer nada devido as ordens mentais da vampira porque o poder de comandar a mente de suas presas, os humanos, era o maior dom dos vampiros. O primeiro que sugou era um comandante de esquadrão, um homem alto, forte e musculoso, e seu sangue inundou a vampira de prazer e desejo de mais e mais, uma sensação de quando se tem orgasmos sexuais múltiplos e se busca a continuação pelo próximo melhor e mais poderoso. Ao acabar, ela o atira ao mar e observa suas próximas vítimas, completamente aterrorizadas por aquelas duas criaturas...
 Os soldados gregos rezam mentalmente aos deuses do olimpo por um lugar nos [1]campos elísios e cedem seu sangue e suas vidas para que um ser imortal e poderoso nasça e dê sequencia a seu destino...
Naquele dia ela acabou com mais soldados gregos do que em dez anos de guerra. Mas também muitos troianos, e num certo sentido, morrer nas mãos de uma vampira conterrânea era melhor do que serem escravos na Grécia. Mas seu destino agora não estava em vingança e sim ser vampira, e aos olhos dos humanos, um ser mau e destruidor, assassinos que ao longo de milênios destruíram civilizações inteiras...
Marcia tem em seu deus, o pai vampiro Lao o seu criador, o seu amante e o seu professor, e como não podia deixar de ser, estava ligada a ele pela eternidade. Ele a ensinou tudo que um mestre de quatro mil anos de idade tem a passar para sua aluna, mas deixou-a quando o império romano começou a se expandir pelo velho mundo. Ele ainda era apegado à China de muitas formas e se enclausurava em mosteiros para continuar sua erudição. Diferente de seus conterrâneos vampiros, ele via a humanidade muito mais do que alimento e prazer para os imortais, sabia que eles estavam destinados a muito mais...
Ao longo dos séculos Marcia segue sua vida imortal sem seu mentor, mas de certa forma estava livre para experimentar a liberdade e o poder de vampira. Mas ela era uma vampira dominada pela sede de sangue, mesmo já tendo mais de um milênio de vida, ainda gostava de massacrar aldeia inteiras de humanos. Ela tinha não só o nome do deus da guerra, mas também atitude guerreira, e ao longo dos séculos isso jamais diminuiu.
Um dia em uma orgia de sangue ela estava tão alucinada que matou humanos marcados por um vampiro mais velho que ela, um vampiro negro como a noite, Azuzu, e ele não gostou nada disso porque vampiros eram donos dos humanos que marcavam. A morte dos humanos por outro vampiro foi um grito do mortal em sua mente, e ao descer na aldeia africana onde Marcia estava ainda em seu transe de gula, algo em si muda...
Azuzu sentiu algo naquela vampira que jamais experimentou por nenhum humano durante sua vida humana, ou como vampiro milenar. Ela tinha uma aura estranha e poderosa em sua volta que emanava fome, prazer e fúria.
 Quando a vampira percebe o que fez por roubar a comida de outro vampiro, algo lhe assombra em forma de medo e calafrio, ela havia cometido um crime, e ele era poderoso e velho, mais velho que seu pai, e num gesto típico de sua espécie, ela se agacha e se ajoelha para cumprimentar o ser a quem ela havia ofendido sem saber em sua tara de sangue que eles eram marcados...
Azuzu a olhou profundamente naqueles olhos azuis, e ela a ele nos olhos castanhos. Ela havia cometido um crime contra sua espécie, e desde que não a matasse – algo proibido pela lei dos anciões – ele poderia escolher a pena que melhor lhe conviesse...
Marcia tremia de medo, mas ao mesmo tempo experimentava algo mais, desejo carnal por aquele deus ancestral. E foi esse desejo que seu agora carcereiro também sentiu emanando dela, e uma estranha sensação se apoderou de ambos. Não havia necessidade de palavras, vampiros podiam se comunicar também por telepatia, pois suas mentes eram milhares de anos mais avançadas que a dos humanos, e foi com esse contato que os dois se aproximaram e se beijaram porque não havia mais crime e punição, apenas desejo intenso e imortal.
Eles alçaram voo e se entregaram ao sexo, ao amor e ao prazer com uma fome e uma intensidade que nenhum humano jamais provou ou provará. Eles se conectaram não só com seus órgãos genitais, mas com seus cérebros, e era assim que fazia amor, um dando ao outro mais amor e prazer do que jamais foi possível porque agora eles se pertenciam e se entregavam de corpo e alma, cada um querendo dar mais de si ao outro...
Mas Marcia ainda era uma vampira sedenta de sangue e seu deus sabe que nada pode fazer contra a vampira que o domava com as coxas cravadas em suas costas e se rende. Ela, ensandecida de prazer e gula, morde pescoço dele e crava os dentes na jugular do ancião vampiro. O sangue flui dele para o corpo e a mente dela recebe um sangue velho e poderoso...
O prazer que veio a seguir era infinito, bem como a onda de energia e lembranças do velho vampiro. Todas as suas dores e prazeres de milênios, suas mortes e crimes contra sua espécie, e a solidão; intensa e dolorosa. Ele nunca dividiu sua vida com ninguém, nem mesmo com seu criador milhares de anos atrás. Um mentor por poucos meses apenas e hoje um hibernante milenar porque não via nada de bom em humanos e vampiros, e a única coisa que precisava era de sono eterno...
Ela se liga a ele e ele a ela como só vampiros criadores eram capazes com suas crias. Mas há coisas na vida que não são permitidas, e beber sangue de vampiro sendo vampiro era uma delas, e o preço sempre vem. Azuzu e Marcia experimentaram algo muito raro, amor puro e desejo intenso de cada um estar ao lado do outro, e eles não se largavam. Massacravam aldeias inteiras em orgias de sangue. Mas vampiro têm certas responsabilidades dentro de sua espécie e algo assim não seria permitido...
Azuzu tinha um criador, e mesmo hibernando, sabia que seu filho não era mais senhor de suas ações, algo havia mudado porque ele estava cometendo ações que implicavam nas regras de sua espécie. Malac desperta contra sua vontade, mas há coisas que mesmo vampiros imortais e cruéis aos olhos dos humanos – seu gado, seu alimento – devem fazer, e salvar sua cria era uma delas...
Como todos que despertam após milhares de anos, sua fome era devastadora e ele chamou seu filho, e algo maior do que o amor pela vampira impeliu Azuzo ao seu mestre. Por dias e dias ele nada falou apenas se alimentou de humanos, e sua predileção vampírica era por crianças, cujo sangue era doce, puro e fino, com inocência no sabor. Assim como humanos saboreavam vários tipos de vinho, vampiros também degustavam seu alimento por idade, etnia e origem geográfica...
Após refazer-se de seu sono milenar ele nada fala, e sem sequer pedir permissão ele invade a mente de seu filho e lhe mostra os crimes que cometeu, um deles foi não punir a jovem vampira por tomar seu alimento marcado. Dar-lhe seu sangue, matar sem saber se as presas eram de outros vampiros, o que ele fez junto com ela, e deixar vestígios do ataque causado por vampiros, e deixar que suas emoções descontroladas ameaçassem o sigilo de sua espécie.
A lei dos vampiros impedia o assassinato de sua gente como punição, mas havia algo pior do que isso, hibernação forçada, e só o vampiro criador poderia fazer isso ao filho, essa era a lei...
Malac leva Azuzu ao monte mais alto do que um dia será a Europa, e lá ele encontra uma caverna. Ordena ao filho que se aproxime e o morde no pescoço. O sangue do vampiro é sugado gota a gota até que não há mais nada, mas Malac não para até que seu filho fique seco e mumificado. Beber sangue de vampiro era contra a lei da espécie porque dava força e poder, mas Malac não tinha interesse em poder, e cada dia mais odiava ser dessa espécie parasita que é obrigada até mesmo de punir seus filhos com destino pior que a morte, a mumificação.
A dor que seu filho sentiu não era nada comparada a que ele tinha experimentado ao reviver tudo que sua cria viveu nesses milênios, e sem nunca ter hibernado, e até mesmo o amor louco pela vampira que lhe imputou a desgraça, e que agora também pagará o preço. Se não houvesse tal lei, ele a mataria e jogaria seus ossos aos tubarões...
Como ela tinha o sangue de Azuzo em seu corpo, ela agora também era sua comandada, e nem Win Lao, seu pai poderia fazer nada porque ela tinha cometido crimes, e o vampiro que a puniria era também ancião...
Ele a convoca e o medo varre a espinha de Marcia. Sem nada dizer ele alça voo até a caverna onde seu amante é agora uma múmia pela eternidade. Nenhum vampiro poderá acordá-lo exceto seu pai, pois essa era a lei e não deveriam se passar menos de 5 mil anos para isso. Ela se aterroriza com tal destino porque vampiros hibernavam sim, mas com plena força e vigor, jamais mumificados porque precisariam ser despertos e cuidados pelo pai ou mãe, e Win Lao jamais poderia despertá-la, seria uma morte em vida, e sem o amor de sua vida...
Malac observou esse terror na vampira e isso acalmou por meros segundos sua ira e fúria descomunal, ainda mais alimentado pelo sangue de seu filho. Sua vontade era de sangue e massacre, como se estivesse nascendo hoje como vampiro...
Ele ordena e a vampira lhe entrega o pescoço.  Ele a suga até deixa-la mais seca que ao próprio filho. Depois ele pega seu corpo seco e leva ao outro lado do mundo, outra caverna no lugar mais alto do planeta. E lá ele a joga para que ali fique pela eternidade porque ele nunca vai acordá-la, ninguém pode porque a ele cabia o fim da punição por amar o que não podia ser amado, e ter o que não era dela e sim dele.
 Azuzu era seu único filho, jamais faria outro, e agora ele não tinha mais um filho por milênios. O mundo dos humanos o revoltava, o dos vampiros o enojava, não havia motivos para não compartilhar do sono eterno com seu filho, e assim, lado a lado ele se entrega ao sono eterno, programando sua mente para despertar milhares de anos após a punição de seu filho e o despertar dele...
E assim foi por milhares de anos, mas Malac, Azuzu e Marcia não sabia que nesse meio tempo uma deusa vampira surgiria entre sua espécie, com príncipes vampiros que eram de sua linhagem sagrada, e que entre eles estava uma vampira congelada pela eternidade, mas Yula -https://oportaldoinfinito.blogspot.com/2017/05/contos-de-terror-o-encontro-da-vampira.html
 -  jamais deixaria uma princesa secar pela eternidade, e em breve ela voltaria, mas não como alguém frágil e dominada, e sim para domar e dominar...



[1] Campos Elíseos era um lugar no Hades para aonde só iam os heróis e pessoas importantes da Antiga Grécia. Um lugar parecido com o Paraíso cristão. Todos os outros pobres mortais iam para o Hades, onde vagavam como sombras por toda a eternidade.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 339