POR DAVID DA COSTA COELHO...
Há em todas as séries pouco espaço para as mulheres, e olha que eu já assisti a centenas ao longo dessas décadas. E em se tratando de ficção científica, muitas ganharam espaço e algumas se sobressaíram em suas próprias séries, mas em se tratando de Games of Thrones, uma nova realidade se interpôs sobre essas mulheres que começam fracas, apenas coadjuvantes de seus maridos, amantes ou filhas a serem protegidas...
Claro que as mais famosas são Cersei Lannister – e olha que sou fã das maldades dela ao longo da série – principalmente quando mata seu marido, e também de uma vez só todos os seus inimigos reunidos num templo religioso. Acredito que muitos pensaram o mesmo com relação a determinados templos religiosos famosos, ou onde se concentram os políticos canalhas de seus países...
E a não menos bonitinha e maldosa, a mãe dos dragões por ser invulnerável ao fogo; Daenerys Targaryen. Ela começa a série como uma princesa sem reino, onde quem manda é o seu irmão Viserys, que vende sua irmã numa negociata por um exército, mas apenas um homem idiota. No final ele morre e a 2ª mulher poderosa renasce das cinzas com três dragões porque nada faz o ser humano mais forte e poderoso do que a dor que alimenta em si e o poder de transcender a dor...
Com seus dragões ela parte para obter um exército, os imaculados, e os consegue ao trocar um dragão, mas dragões não abandonam sua mãe, e ao seu comando, eles matam as centenas e nasce naquele dia a lenda de Daenerys Targaryen. Com o tempo ela vai arrumando mais aliados e seu exército se torna gigantesco com os Segundos Filhos e os dothraki, conquistando tudo que estava fora dos sete reinos...
Isso lhe dá ideias, e sonhos a ponto de pensar em retomar o que um dia já foi dos Targaryem, o trono de ferro que comanda os sete reinos, e que por acaso está nas mãos de uma certa rainha loira e impiedosa, e que faz qualquer acordo para manter o poder, mas que não cumpre nenhum que ameace este poder; Cersei Lannister...
Nesse meio tempo há outras mulheres poderosas, mas que cairão diante das maquinações de Cersei, como Sansa Stark, uma menina que se vê presa em um jogo de poder do qual ela não tinha interesse e não estava preparada, era apenas uma princesa esperando seu príncipe, mas ao longo da série ela vai descobrindo que nem tudo é cor de rosa na realeza...
Ela assiste seu pai ser decapitado e descobre que a morte se aproxima dela através de maquinações contra sua linhagem, mas escapa com auxilio de um nobre que jura protegê-la, desta forma ela se entrega a um homem mais velho e apaixonado por ela, mas que não a teve, e num ultimo momento a entrega em casamento a Ramsay Bolton, um sádico que a estuprana noite de núpcias...
Mas o que a maioria dessas mulheres fortes fizeram foram matar ou enterrar seus maridos, e com Sansa não seria diferente porque o marido perdeu a batalha para Jon Snow, irmão bastardo dela, mas que na verdade é um Targaryen. E como a vingança e o poder é o que define essas mulheres, com Sansa a vingança não seria diferente. Ela aprisiona seu marido e deixa que seus leais cães, que não comem há vários dias deem ao seu marido uma lambida carinhosa no sangue que desce do rosto cortado, e em seguida eles começam devorá-lo ainda vivo...
A segunda vingança vem contra o homem que esteve por trás de sua salvação e também de seus tormentos, Mindinho. Ela o julga em meio aos nobres e o condena a morte, mas essa morte é dada não por um homem, e sim por uma mulher muito poderosa - Arya Stark - porque ela aprendeu muito com o deus de muitos rostos e seus seguidores, os Homens Sem Face e como é uma nobre, e matar faz parte de ser nobre, ela será uma especialista em se disfarçar e matar seus inimigos, ou até mesmo os que poderiam ser amigos...
Diferente de todas as mulheres acima, ela é a única que mata seus inimigos ao vivo, com espadas, punhais, facas e veneno, e há certo prazer nisso, afinal ver a vida se apagando dos olhos do algoz, o sangue lavando a alma em forma de vingança, sentir que aquilo que era uma ameaça para você já não tem mais esse poder, isso é indescritível...
Me remonta aqui aqueles casais loucos e apaixonados, mas que por qualquer motivo não podem mais serem mais amantes de vida. Mas o que fazer quando ele tem suas memórias, suas histórias e suas fotos mais íntimas, lembranças e imagens que poderiam arruinar sua vida se a pessoa em si não for de boa índole e aceitar que terminou? Somente bloquear páginas na net e telefone não resolveriam porque ele poderia ser como Ramsay Bolton, e ter na vingança o seu único prazer...
De todos os personagens femininos e poderosos da série, ninguém supera Arya Stark porque ela sofreu e viveu mais coisas ruins do que todas as mulheres perigosas e assassinas que nos encantam nesta saga. Mas acredito que há alguém que sofre uma dor maior, a minha heroína Cersei Lannister. Para uma mulher não há dor maior do que perder um filho, e ao longo da série ela perdeu todos, exceto o que ainda esta em sua barriga...
Mas minha heroína sabe se vingar, ainda mais de uma mulher - Ellaria Sand - que matou sua filha com veneno. Aprisionada num calabouço e acorrentada. Ali ela vê a filha - Tyene Sand - acorrentada receber uma dose de veneno, para morrer em frente a mãe, secar e apodrecer na frente de sua mãe, e isso é uma dor que a maior das dores jamais superará.
Mas ela também sabe ser piedosa, como vemos quando pegou a sacerdotisa que a torturou no templo e a aprisionou em seu calabouço. Não foi a morte que Cersei deu a sua inimiga, afinal há muitas formas de vingança, e viver, dependendo da situação, é de longe uma delas...
Ao contrário, ela ganhou o direito de ser alimentada e estuprada todos os dias, um castigo digno da mente de Cersei a alguém que entregou seu corpo a um deus que não foi capaz de cuidar de seus milhares de seguidores e de seu líder, o Septo de Baelor, morto por Cersei.
Cersei representa esse dom feminino, o de se livrar daquilo que pode ameaçar sua segurança emocional. E diferente de todas as demais, ela não precisa de consciência, o poder não pede balança e sim peso, e Cersei Lannister, com suas maquinações e ausência de moralidade é o que faz de GAME OF THRONES um divisor de aguas...
Não há diferença entre homens e mulheres com relação à maldade humana. Como terapeuta, escritor e professor, acredito que sob determinados estímulos psicológicos e físicos, todos os seres humanos são capazes de tudo, e Cersei representa não só as mulheres e os homens, e sim a humanidade porque parte de nós se diverte com as mortes macabras que essas lindas mulheres causaram aos seus inimigos ou seus amantes...