POR DAVID DA COSTA COELHO
Um dos melhores estilos de Kung fu foi inventado por uma mulher, a monja Ng Mui, do Templo Salim na China do século 18, e quando ela passou seu estilo não foi para um homem e sim para uma mulher perseguida por um lutador poderoso que a queria, mesmo que ela não o desejasse para marido ou qualquer coisa...
A monja ficou com pena dela e ao invés de derrotar o homem com seu estilo poderoso, decidiu lhe ensinar, e meses após, ao ser agora confrontado pelo abusador, entra em combate com ele e o derrota numa luta marcial. O estilo em si foi desenvolvido por uma mulher, e como tal não lhe venceu pela força ou bailados e sim por ir direto ao ponto em curta distância, e já foi usado pela policia militar do Rio em treinamento das forças de elite para becos e favelas onde precisa ser rápido e certeiro num combate...
Livre de seu perseguidor ela se casou depois com o homem que queria e seus descendentes prosseguiram a sina de um estilo de artes márcias inventado por uma mulher para se defender de homens que não entendem quando a mulher não quer e diz não...
Hoje há inúmeras escolas de artes márcias e autodefesa para as mulheres que querem ser senhoras de si e não ter medo de ser abusadas por um desses canalhas, dentre eles o estilo da monja, além de Jiu-jitsu, Krav Maga e MMA.
Mas e quanto àquelas mulheres que não sabem artes marciais e são vitimas de namorados ciumentos e canalhas, maridos e até mesmo amantes que pensam que podem fazer o que quiser com as mulheres, como se elas fossem bichinhos a sua disposição ou brinquedos que eles podem quebrar torturar e até matar?
Nos anos 1980 eu conheci uma senhora já idosa que me contou uma história terrível que passou com o primeiro marido, ela tinha muitas marcas no corpo das surras de cinto que ele lhe dava por ciúmes ou porque achava que ela deveria apanhar, mesmo sendo mãe de cinco de seus filhos. Um dia ela cansou daquilo e esperou que ele dormisse e lhe deu uma paulada na cabeça.
Com auxilio dos filhos que também apanhavam e sofriam muito, ela levou o marido para fora de casa e o colocou em pneus e o queimou. Ela morava em uma favela de Niterói neste período, e apesar de ser visitada pelos bandidos da época por seu ‘crime’, ela foi perdoada. Hoje nas favelas cariocas homem que bate em mulher vira defunto sem dó nem pena, pois lá a lei do não se bate em mulher vale mais do que aqui no asfalto.
Hoje moro num bairro do RJ em que as milícias mandam e desmandam, e quando há brigas de casais, namorados ou amantes, eles aparecem e ditam as regras, e se há violência gratuita contra mulher o conselho é parar ou morrer, e como veem, nos subúrbios do RJ não há muitos homens espancando mulheres porque elas vão à boca ou no chefe da milícia e fazem a ‘ocorrência’, e o resto é com a lei local...
Mas fora desse mundo o caso e o descaso com as mulheres ainda persiste. E para mim, enquanto terapeuta, tristemente ainda ouço relatos de mulheres que apanham de seus maridos, que são vítimas de maus tratos, estupros ou coisa pior, e acredite, isso existe...
Mas há sempre aquela fala de quem esta de fora e não é terapeuta de que a mulher se acostuma ou gosta de apanhar porque não faz nada, mas como dito, é opinião de quem está de fora e nada entende porque cada mulher esta inserida numa realidade, e muitas vezes a ausência de recursos, filhos e o peso religioso da família pesa maior que as dores no corpo e na alma.
E me pego como exemplo na velha senhora do texto, que por anos sofreu e apanhou com os filhos menores para protegê-los de um homem abusador e canalha até que eles cresceram e se aliaram a ela em face ao que sofreu por eles. E esse é quase sempre o mesmo destino de mulheres que tem filhos e sabem que será pior para eles se ela se for...
Para uma mulher solteira e sem filhos a coisa não é tão difícil, mas cada caso é um universo a parte porque sobram relatos de mulheres assassinadas por ex que não tinham filhos com elas, mas não aceitavam o fim do relacionamento e o início com outro homem, uma ofensa a esses doentes mentais, e como resposta do canalha vem à perseguição, o espancamento e até mesmo o assassinato da mulher que ousou largar essa pessoa tão gentil.
Em 1994 eu trabalhei para um amigo que teve a loucura de namorar a ex de um policial que não aceitava o fim do namoro, inclusive com várias queixas contra ele na delegacia do bairro. Um dia nós saímos e fomos a um bar próximo a casa dela onde estávamos tomando umas cervejas – nesta época eu bebia cerveja, mas hoje não - ela pediu que ele fosse à casa dela rápido pegar umas coisas que levaria para a casa dele no fim de semana que passariam juntos, enquanto eu permaneci no bar aguardando com a chave do carro...
Pouco tempo após ouvi muitos tiros vindo do local aonde ele foi e ele correndo por um terreno abandonado e sangrando de feridas de arame das cercas e de uma bala que pegou de raspão no braço. Ele me gritou desesperado para ligar o carro e eu entrei e liguei e cheguei para o lado e ele partiu queimando pneu...
A mulher levou dois tiros na barriga e ele se evadiu após o crime, e meu amigo foi para o pronto socorro tomar pontos e depois fazer boletim de ocorrência e corpo delito, mas não deu em nada, na verdade deu sim, ele gostava dela, mas gostava mais dele mesmo e a largou, e dela se soube depois que teve infecção generalizada devido aos tiros no intestino...
O Brasil tem uma verdadeira legião de homens valentes que adoram bater em mulher, e até mesmo matar. Não importa a classe social porque ser dessa estirpe não necessita classe, educação ou dinheiro e sim entender que a mulher, mesmo não querendo mais você, é sua e ninguém pode pensar o contrário, e se ela esquecer isso um bom corretivo ou a morte faz ela lembrar disso...
Mas e o estado, o que ele faz contra essas pessoas? A resposta do governo foi a inútil lei Maria da penha que só funciona para mulheres ricas e atrizes da Globo porque cada juiz tem em média 7 mil processos para julgar; e se não tiver a mídia no pé, nem em sonho se resolve.
Mas o pior da lei é que ela não protege a mulher, ao contrário, se a mulher tiver um problema com um desses meliantes, além da acusação em delegacia e defensoria, e as tais medidas preventivas, o que se sugere é que a vítima se interne em um abrigo pelo resto da vida porque o estado não pode dar um policial 24 horas para a vítima...
Eu tenho uma solução mais prática para essa pessoa, mude-se para uma comunidade do rio de janeiro e avise ao pessoal da milícia ou da boca o seu problema, e te garanto que após um bom papo, seu algoz não vai querer mais se intrometer em sua vida sem ele, na verdade vai até ficar feliz porque do contrário ele vai alimentar urubus ou doar seus ossos calcinados para adubo...
Essa é a grande realidade, não há segurança para as mulheres que padecem de tal mazela, salvo praticando artes márcias, ou requerendo uma arma legal ao nosso corrupto governo e todas as barreiras legais que te impõe.
Uma solução é fazer um curso de vigilante para aprender atirar e requerer a arma em face da periculosidade da profissão, mesmo que você nunca atue...
Outra é lembrar que miliciano e bandido também vende a um preço módico, e ainda ensina e vende a munição, e se por acaso fizer algo parecido com o policial que atirou na mulher, consulte antes um advogado, ele vai te ensinar como fazer e acontecer sem se lascar...