AUTOR: DAVID DA COSTA COELHO
Eu me chamo Charles Anderson, nasci em finais do século XIX, eu era marinheiro numa corveta de guerra britânica a caminho da Guiana inglesa, mas passando pelo [1]Triangulo das Bermudas meu navio foi destruído e eu vi um facho de luz, e de repente eu não estava mais nesta época, e sim séculos à frente. Fui socorrido por pessoas vestidas de forma estranha, falando uma língua incompreensível. Eles me examinaram e passaram instantaneamente a falar meu idioma e usar estranhos aparelhos em mim. Depois de meses fui inserido completamente naquela época e lugar séculos depois do dia que nasci. Como nada me ligava a meu passado, já que não tinha mais pais, nem esposa e filhos, aquela passou a ser minha realidade, e nela eu fiz maravilhas porque sempre fui muito inteligente, contudo, em meu mundo eu era um reles ninguém, por isso eu não sentia nem um pouco de saudade de minha época, mas não era o que eu pensaria muitos séculos após...
Minha história de viajante temporal encantou meus salvadores, e eles fizeram todos os testes possíveis em mim para comprovar a verdade, inclusive de buscas por partículas que indicavam viagem no tempo como [2]Táquions e Cronotons, e encontraram, mas a viagem no tempo não era ainda concebível nesta era e eu virei uma espécie de paradoxo temporal que os incentivava a pesquisar mais e mais sobre como eu vim do passado para a época deles, de certa forma, a minha chegada intensificou a ciência desta época com relação ao que este mundo viria a ser...
Aqui tudo era perfeito, tínhamos todas as coisas que vocês assistiam nas principais séries de ficção cientifica de séculos atrás; viagem a outros planetas mais rápido do que a luz em portais espaciais, filhos geneticamente perfeitos, feitos e gerados não mais por pessoas e sim por incubadoras, nenhuma doença genética e expectativa de vida de 500 anos em juventude eterna, podendo ser estendida indefinidamente...
Superamos não só as doenças como também nossa cobiça e desejo de posse porque toda matéria prima que desejássemos estava no sistema solar ou em outros sistemas solares a um deslocamento quântico de nossas naves. O universo agora era nossa maior ambição, pois viajar e explorar o cosmos em busca de vida e recursos era nosso destino e desejo, mas não o meu, algo me impelia para um saudosismo e uma época bucólica...
Eu queria algo que em meu tempo não havia, mas que eu ainda me lembrava de como era, pois nos portos que deixava todo meu soldo havia prostitutas e bebidas, e até amores se ficássemos mais tempo no porto para reparo e reabastecimento da embarcação...
Eu queria realmente ser novamente um homem do meu verdadeiro tempo, sentir fome, desejo de vida e de pessoas reais, e não máquinas e tecnologias que nos davam o que antes um ser humano nos proporcionava com afeto, paixão, sexo e desejo desenfreado, pois isso não existia mais, só no passado, no meu tempo, e eu queria e precisava voltar no tempo...
Depois que me inseri completamente nesta época, toda minha inteligência e capacidade foram elevados à escala de supergênio, e após isso eu passei duzentos anos de minha vida inventando coisas para melhorar nossa exploração do cosmo, devolvendo a meus salvadores os dons que me deram, mas agora eu queria mais, explorar minha vida de uma forma que nenhum deles poderia, já que desconheciam essa parte perdida da humanidade...
Mas para faz isso eu precisava criar algo até agora impossível até mesmo para a ciência desta época porque viagem no tempo ainda era utopia e eu continuava a curiosidade de séculos, mas não mais para mim, eu descobri como fazer meu sonho se realizar, e como era um desejo egoísta, o segredo estaria eternamente comigo aonde eu fosse...
Para romper as cordas do tempo e espaço eu desenvolvi uma teoria cientifica ao longo de décadas, e depois eu criei um acumulador gravitacional que funcionaria ao lado de corpos supermassivos, e com ele eu poderia abrir uma brecha no espaço temporal, e discando para o tempo, a hora e o lugar, não importando em que ponto do cosmo, eu voltaria, só precisava de um local no universo onde existisse um buraco negro...
Com as ondas gravitacionais do buraco distorcendo a realidade temporal para o futuro, o resto era comigo e minha nave e meu acumulador, semelhante a uma musica tocando, ondas gravitacionais do buraco negro podiam ser percebidas pelo meu acumulador, e graças a elas eu achei o que queria; uma fenda no tempo, agora era só modificar a frequência que ela emitia, e reverter para a época e o lugar no universo aonde eu queria ir; meu lindo planeta azul, no século XIX, com todas as suas incongruências e mazelas que definirão séculos de história humana...
Eu sabia aonde queria ir, Alemanha de 1872, um país orgulhoso de vencer a poderosa França de Napoleão 3º, ganhando com isso os territórios da [3]Alsácia e Lorena. Um lugar onde ainda havia calçamento com pedras, e as mulheres mais lindas de seu tempo, e bordeis, sim bordeis; algo impossível em minha época porque até prazer sexual bastava pensar e nossos hemisférios cerebrais eram estimulados e o orgasmo vinha com força, mas de nada me servia porque faltava calor humano, desejo e sensualidade...
Como minhas roupas eram simbiônticas, eu não precisava trocar ou lavar, elas se adaptavam a minha realidade naquele local. E o dinheiro e joias eu trazia aos montes em meus bolsos, feitas no sintetizador da nave. Dinheiro, algo que não existia há séculos para a humanidade, mas que aqui era tão necessário como o sangue no corpo...
Eu entrei no prostibulo, não tive problemas com o idioma porque a tecnologia que eu trazia, e era comum em meu tempo nos inserirem todas as línguas da terra. Poliglota seria uma definição pequena para quem sabia mais de cem mil dialetos e idiomas... O ambiente ali era inadequado para padrões de meu tempo, mas para mim, aquele cheiro de absinto e demais bebidas, cigarro e charutos, cachimbos e sexo era um paraíso. Aproximei-me do balcão e pedi uma caneca de cerveja preta. Como era saboroso algo que não era feito de uma máquina replicadora...
Não havia muita higiene naquele local, mas eu era imune a todas as doenças que um dia existiram na terra, e hoje era meu dia de diversão e eu fui para meu tempo dos prazeres e comecei a olhar aquele ambiente que me encantava a cada segundo. Ao fundo estavam às prostitutas em suas roupas berrantes e vermelhas, e a característica principal, além de loiras é claro, é que eram cheinhas; gordinhas seria o termo correto. Os padrões de beleza mudam com o tempo, mas numa época em que mulher cheinha era a musa, aquelas era a opção, e eu era fã dessa época e quis logo três para meu quarto, se existe fome, por que não se empanturrar?
Posso dizer aqui que sem entrar em detalhes eróticos que eu tive mais prazer com aquelas três devassas do que em séculos de sexo com realidades aumentadas e androides, além é claro de humanas frívolas. Sentir a entrega, a pele da pessoa, o calor do corpo, os odores alucinantes do sexo, o louco ouvir do seu prazer e dos gritos delas, e olha que foi prazer mesmo porque meu corpo tem nano tecnologia e podia ver as ondas de energia varrendo o corpo delas em cada orgasmo; gostaram tanto de fazer amor comigo que não queriam meu dinheiro e perguntaram onde eu estava hospedado para me fazer uma visita gratuita...
Eu apenas ri coisa que eu não fazia há séculos, e depois de minha orgia, fui dormir num hotel chique de Berlim. Como eu amava a sensação de não ter mais nada tecnológico me cercando e enchendo minha mente com atualizações subespaciais. Nós, os humanos, criamos os computadores e suas atualizações para nos servir e beneficiar, mas no final eles foram implantados em nós, e agora nós éramos como os computadores em eterna atualização, tirando de nós o mais importante, a humanidade...
Ao acordar naquela manhã fria, observei da janela do meu quarto a neve caindo, e as pessoas seguindo suas vidas caminhando na neve e andando em carruagens, e por um momento eu esqueci onde estava e desejei um café quente para o sintetizador que era acionado on line em minha mente, mas sorri porque não existia isso nesse tempo, felizmente; então fui para a sala de refeição do hotel e me fartei de comer bobagens deliciosas da culinária alemã; doces, pães, salames e queijo, café, manteigas, linguiças. Eu enlouquecia meu paladar a cada mordida e viajava nos sabores das comidas, lembrando-me de minhas viagens pelo mundo ainda um marinheiro...
Mas outro sabor me pegou não pelo estomago, e sim pelos olhos. Do outro lado da sala havia a mulher mais linda que este universo foi capaz de criar, e de longe eu percebi sua face de dor. Havia traços de sofrimento num rosto que deveria ser esculpido e exposto pela eternidade em museus por ser tão bela.
Eu a olhei e queria falar com ela, mas eu sentia um peso, como se minhas pernas estivessem presas por correntes e bolas de ferro. Seria receio de macular uma obra de arte num momento que ela estava lavando o oceano com suas águas da alma? Sabendo que eu a queria para mim, mas ela pertencia a essa época e lugar e eu não, podendo criar[1] paradoxos temporais que afetaria tudo que eu conhecia no futuro?
Eu não sabia o motivo do receio então dei uma gorjeta ao garçom e pedi informações sobre a linda mulher. Ele me disse que ela era de uma família nobre, condessa Elga Strauss Schubert Von Dorf, mas que era a última da linhagem e o marido tinha morrido há um ano na guerra contra a França. Era dona de um castelo, mas sem o marido e filhos era só um imenso mausoléu, uma lembrança que com sua morte enterraria uma dinastia. Mas nesses dias turbulentos se casar seria manchar o nome de um herói de guerra e ela deveria aceitar seu destino como a mulher viúva de um valoroso oficial alemão...
Mas eu não tinha ido aos confins da galáxia para achar um buraco negro e voltar no tempo para desistir de viver tudo que me motivou a deixar aquele mundo perfeito, mas que para mim de nada servia. Eu devia me aproximar dela, porÉm não ali, ela estava cercada de olhos e essa ainda era uma sociedade puritana e hipócrita...
Quanto a mim, eu vivia meu próprio calvário. Voltei no tempo para viver de passado, mas eu apreciava demais a minha tecnologia do futuro e tudo o mais que ela me garantia nessa realidade, e ter aquela mulher era algo que eu queria desde o momento que seus olhos cruzaram os meus...
Retornei a minha nave ao me teletransportar, e dê lá eu gravei seu padrão de calor e a segui com um drone menor que uma formiga, e com ele eu seguia seus passos ao entrar na carruagem que a levou ao seu castelo. Um lugar pouco iluminado e lúgubre, uma coisa vazia e triste que só intensificava o que ela estava sentindo. Mas isso era algo que uma dama da corte jamais deveria sentir, e me cabia mudar tal coisa...
Em minha época não há segredos porque todos os humanos estão conectados numa rede sináptica, e eu precisava trazer essa linda dama para o meu mundo, ainda que ela não tivesse acesso ao que eu sabia. Mas também tinha receio de forçar uma relação antinatural, queria que ela me visse e se encantasse por mim, e para tanto eu decidi incorporar um nobre da época e todos os vieses que isso representava. Minha nave me propiciou documentos de um nobre russo e a história de sua família por gerações, eu seria um barão e um nobre guerreiro, um coronel de nome Piort Ivanovich langsdorff Vladislav, Barão Vladislav para os amigos...
De posse de meu titulo e do poder que isso representava, passei a frequentar os eventos dedicados à nobreza por semanas e contava as aventuras de minha família e dos sonhos de tornar a Rússia uma potência tão poderosa quanto à Alemanha. Como solteiro eu era disputado por damas da corte, e era visto como um excelente partido porque era muito rico e poderoso. Minha nave produzia diamantes do tamanho que eu quisesse, além de rubis, safiras e esmeraldas, e até mesmo ouro em moedas de diversos países que eu desejasse. Converti as joias em milhões de Marcos, o dinheiro da época, e comprei ações de vários bancos e empreendimentos, fiz doações generosas à caridade nos eventos que participava, e decidi que iria comprar um castelo, e que havia gostado muito de um em Berlim, talvez fixar residência e pedir cidadania alemã me casando e investindo na nova nação recém-unificada...
Meus drones verificaram a saúde da baronesa, e ela era perfeita aos 26 anos de idade. Mas algo nela me chamou atenção, seu corpo tinha resíduos de viagens temporais, seria ela uma viajante do passado ou do futuro? Fiz uma varredura em busca de tecnologias pelo corpo e nada, ela era humana normal, mas como podia ter tais leituras?
Quando ela dormiu, eu a transportei para minha nave e confirmei minha duvida, ela não era desta época, e era a mulher mais linda que eu já tinha visto, eu a queria como nunca quis nenhuma mulher em minha longa vida, e para isso eu decidi incutir nela parte de minha tecnologia e desejos subliminares por mim. Se estivéssemos nesta forma de pensamento desta época, diria que a estava enfeitiçando para se apaixonar pelo primeiro que visse, mas esse era eu porque era minha imagem que gravei em seus desejos.
Ela foi devolvida a seu castelo e no dia seguinte eu fui de carruagem até lá, com mais uma atrás de mim que seria meu advogado e interlocutor. Ele fez as honras de me anunciar ao mordomo da condessa e a natureza de minha visita, que era buscar um castelo a minha altura como nobre e alugar ou comprar o imóvel, e que tinha gostado muito daquele porque era magnifico e estava próximo da capital.
A condessa falou com meu advogado, que explicou minhas intenções e depois nos recebeu, muito bonita e elegante, e de repente ela pôs seus olhos em mim. Naquele instante meu feitiço subliminar tecnológico fez efeito e ela se encanta pela minha pessoa, sua aura de tristeza se desnublou para uma beleza radiante e fez as honras...
- Seja bem vindo a minha humilde residência barão, ja ouvi falar do senhor por amigas que vieram me visitar, eu sou a condessa Elga Strauss Schubert Von Dorf, se desejar, o senhor e seus convidados podem se hospedar aqui por um tempo e apreciar a beleza de nossas paisagens, pois ter companhia de nobres é sempre relevante, ainda mais com tantas histórias de seus país para contar, ando muito só e apreciaria a sua companhia, mas meu castelo não está à venda e nem para alugar. Há tempos que não temos hospedes, e seria um honra recebê-lo com toda pompa e gloria de seu título com uma grande festa, esse castelo está de luto há muito tempo, e uma festa será ótimo para lembrar a todos que nobres amam festas...
- Pois então baronesa desculpe minha ousadia de tão indecente proposta, eu sou o barão Piort Ivanovich langsdorff Vladislav, mas Barão Vladislav está ótimo. Tenho intensão de me tornar cidadão alemão e estou procurando um castelo, e recebi indicações de que a senhora, por ser viúva, e morar aqui apenas com a criadagem, talvez quisesse vender e morar mais próximo da cidade, mas vejo que me enganei e por isso peço desculpas. Mas aceito seu convite para uma festa, desde que deixe que eu pague por ela, e que seja minha anfitriã num desejo de prosseguir meu legado, busco uma noiva, alguém para continuar minha linhagem porque sou o último de minha dinastia.
Como o feitiço já havia feito efeito às palavras dele de que buscava uma companheira a deixou com ciúme, algo dentro dela desejava aquele homem, e se tivesse que lhe arrumar uma esposa, ela seria a escolhida, a despeito das tradições alemãs de que deveria morrer velha e solteirona devido ao heroísmo de seu marido.
- Não se preocupe barão, conheço todas as solteironas de Berlim, das mais nobres e ricas famílias, e com certeza encontraremos uma que lhe dê uma boa esposa e uma mãe para seus filhos continuarem sua linhagem...
Após retornar ao hotel, a notícia de que o Barão Piort Ivanovich langsdorff Vladislav daria uma festa no castelo da condessa Elga Strauss Schubert Von Dorf, convidando toda a nata da sociedade porque estava em busca de uma noiva, e que se hospedaria no castelo neste período para organizar e cuidar do evento sacudiu a imprensa que cobria os socialites, tinha tudo para escandalizar os puritanos, mas como era um evento para um casamento, foi uma coisa a ser festejada...
De minha parte eu queria e precisava guiar o destino porque ainda não era isso que eu queria, por isso voltei-me ainda mais ao meu objeto de desejo, e quando ela dormia, eu me materializava em seus sonhos com um implante neural e vivíamos um romance além do físico que eu tanto fiz para ter ao retornar séculos no tempo, mas percebi que um relacionamento virtual com quem você realmente gosta pode ser tão ou mais intenso quanto ao vivo. A condessa era tudo que eu sonhei em séculos como amante porque era insaciável, e a melhor amante que eu tive em todos os meus dias de vida, e ela deveria ser minha esposa, e seria, mas ao acordar ela não se lembrava de nada, só estava feliz e mais louca por mim, ainda que devesse ocultar...
O barão se instalou no castelo na ala oeste, com aquela parte reservada a ele e sua criadagem recém-contratada. La ele recebeu os nobres famosos, ouvia suas aventuras de guerra, sempre atualizado por sua conexão com a nave, para saber quem foi o personagem e sua vida, e dizer que soube de suas aventuras por jornais e compatriotas. Aproveitou para saber também sobre as solteironas e viúvas nobres, e a opinião deles sobre elas se casarem novamente...
Aquela era uma época machista, e os homens eram os seres a serem adorados, e as mulheres deveriam relegar-se a sua vida de cuidadoras dos filhos, da família, ou da viuvez. E nas conversas que tinha com os nobres, ele deixou claro que queria uma esposa, uma nobre de estirpe antiga, não importando se viúva ou virgem, e que no dia da festa ele iria propor um sistema que lhe daria a esposa se elas aceitassem um velho costume de sua província na Rússia, quando havia concorrentes demais para um nobre. Todos ficaram curiosos, mas ele disse que só revelaria no dia da festa...
As semanas seguiram e ele conversava com a baronesa e as diversas amigas e amigos que vinham ver o nobre durante o dia e se encantavam por suas historias de viagem pelo mundo, até mesmo pelas colônias americanas onde tinha alugado um navio para fazer exploração cartográfica, de um lado a outro do imenso continente, dos indígenas comedores de gente que via ao longe, e ainda viviam nas selvas, ou das guerras que lutara em seu país quando jovem, sempre no comando; e à noite eles se amavam, ela sentia por ele um desejo cada vez maior, que estava difícil esconder até mesmo das futuras pretendentes...
Mas finalmente chegou o dia da festa e havia 31 damas de excelente estirpe, mas ele foi a um púlpito acima dos convidados e falou-lhes.
- Em minha terra, na mãe Rússia há uma tradição. E eu sou fruto dela porque meu pai e minha mãe se casaram desta forma. Aqui há as filhas dos nobres de maior prestigio e muitas mulheres lindas também, mas que são viúvas e na flor da idade, mas também devem concorrer, então nos fazemos um pedido a deus, de que ele intervenha e nos escolha a nossa esposa e mãe de nossos filhos, a primeira regra é que não sejam plebeus e sim nobres, e como aqui somos desta classe social, não há nada de errado na primeira regra, e a segunda é que isso será feito por um sorteio...
Daremos números a todas as pretendentes, e seu número terá outra cópia, e este será colocado em uma sacola. Caberá ao nobre mais velho e de prestígio, fiscalizar os números de cada concorrente e escolher um número nesta sacola e dizer a todos os presentes o escolhido, e do primeiro filho que nascer desta união, ele será o padrinho. A pessoa escolhida neste sorteio abençoado por deus será então a minha esposa, dona do meu coração, não importando quem ela seja, de todas as minhas posses e títulos, e se deus quiser, a mãe de muitas crianças que serão filhos desta nação linda e poderosa...
Essa tradição faz com que nenhum nobre seja ofendido por não ter sua filha escolhida porque foi à vontade de deus, e como lhes disse, sou filho de uma baronesa que teve a sorte e o destino de ser esposa do barão Piort, meu pai, de quem carrego não só o nome e o sobrenome, e que pretendo dar ao meu filho...
Todas as mulheres ali se emocionaram com as palavras do barão, e ao mesmo tempo sabiam que não havia uma preferida e sim a que estava destinada a ele, e quem iria fazer o sorteio seria o barão [4]Otto von Bismarck, o mais famoso herói de guerra e o mais velho entre os presentes. A regra de viúvas também participarem deixou alguns um pouco descontentes, mas como havia apenas duas em meio a trinta e uma solteiras foi aceito porque a chance de uma ser sorteada era quase impossível, e isso deixou a condessa anfitriã triste porque o queria, mas era dever dela aceitar as regras de seu convidado.
Ela foi ao púlpito e disse às palavras que ele esperava:
- Como Viúva, eu deveria permanecer assim até o fim de meus dias, assim como a baronesa Elga von Langarten aqui presente, mas abri as portas de meu castelo para a festa de noivado do barão Vladislav, e aceitei as regras de sua festa porque lhe dei os privilégios de hospedagem para escolher a sua noiva, e se todos concordarem com os termos dele, farei parte do sorteio, assim como a baronesa Elga, pois é minha amiga de bom tempo e temos pensamentos iguais quanto a convidados de nossos castelos. Só peço a deus que dê ao barão uma esposa jovem e forte para lhe dar muitos filhos para nossa pátria, e que quando eles nascerem, que Elga e eu sejamos as madrinhas também...
Todos ouviram e concordaram com as regras, 33 números foram distribuídos às convidadas, e 33 números iguais foram colocados numa sacola. Elas foram entregues ao juiz escolhido, Otto von Bismarck, o que dava ao sorteio não só a honestidade porque ele viu cada número nas mãos da concorrentes, como também o prestigio de ser ele o homem que uniria mais uma casa de nobres e apoio político para ser o homem mais poderoso do reino, ainda mais com o dinheiro e amizades poderosas que tinha o futuro noivo...
As réplicas foram para sacola. Elas se posicionaram numa fila com sua sequência numérica, o número da baronesa era 33, o ultimo da fila, e todas ali já sabiam que a solteirona jamais teria a sorte de sair de seu luto eterno; mas elas não sabiam nada da tecnologia de séculos à frente. As bolas nas mãos das concorrentes foram todas padronizadas com o DNA da baronesa, e embora estivessem em diversos números na sacola. Quando ele tocasse na pedra dentro do saco, era o 33 que seria sorteado porque os números se rearranjariam e a sequencia da sacola continuaria intacta para dar lisura ao processo...
O barão não poderia deixar de fazer um discurso, afinal de contas ele era um político.
- Antes de saber quem será a futura esposa do Barão Vladislav, confirmo que vi os números de cada uma e coloquei os mesmos números nesta sacola para ser escolhido. Nosso país precisa de filhos e filhas para expandir o futuro da Alemanha, temos direito a um espaço vital para levar nosso império ao destino que ele foi designado no mundo. Não escolhi ser um homem predestinado a mudar nossa história, o destino me escolheu para ser o [5]Chanceler, assim como hoje escolherá uma nova família nobre e poderosa para criar as bases de nosso segundo império. Mas devo encerrar por aqui se não eu falaria por horas e não haveria sorteio...
Todos riram e observavam o Chanceler sacudir a sacola várias vezes, dando mais expectativas as concorrentes ao ouvir o barulho das bolinhas. Então ele parou, ajustou seu uniforme de gala e colocou a mão dentro da sacola e tirou um número, mostrou para outros dois observadores, olhou profundamente para todas as candidatas e fixou os olhos na Elga Strauss Schubert Von Dorf.
- O sorteio foi feito conforme as tradições do Barão Vladislav, e o numero 33 foi o escolhido, e quem possui a sorteada é a condessa Elga Strauss Schubert Von Dorf. Quis o destino que ela tenha um segundo casamento, e eu respeito muito o destino porque entre vocês uma nova geração crescerá.
O barão e a condessa subiram ao púlpito e o Juiz pegou as mãos do casal e uniu. A condessa estava aos prantos de lágrimas porque jamais imaginava tal destino, e as demais aplaudiram o casal. Bismarck desceu e se juntou a outros convidados para ouvir as palavras do Barão lVladislav:
- Eu não tenho palavras para agradecer ao carinho e a hospitalidade da nata da nobreza deste país, que me acolheram nesta nova terra onde pretendo viver até o fim de meus dias, cercado de filhos e de minha linda esposa, escolhida pelo destino; agradeço a todas as nobres que fizeram parte desta minha tradição, e espero que vocês tenham um marido digno de seus títulos e beleza. E se cada uma de vocês desejarem a mim e a minha futura esposa como padrinhos de casamento, eu pagarei todas as despesas de seus casamentos. Muito agradecido a todos e que a festa continue.
A condessa desceu com o futuro esposo a pequena escada e recebeu de todas elas um abraço e felicitações, o mesmo se deu com o Barão, e os outros nobres. A festa seguiu por horas, alguns se hospedaram no castelo e outros partiram após o evento. Mas sabiam que o casamento seria na próxima semana...
Como não ficava bem para o noivo ficar tão próximo a noiva, Vladislav também foi para a capital fazer os preparativos de seu casamento. Mas ao chegar ao hotel ele se trancou em seu quarto e passou a noite amando virtualmente sua futura esposa. Durante a semana ele enviou-lhe cartas contando como ficou louco de felicidade por ela ser a escolhida porque desde que a viu pela primeira vez, sabia que o destino os uniriam.
Na semana seguinte eles se casaram numa festa que duraram três dias e três noites, e depois o casal foi para a lua de mel num hotel caríssimo nos confins de Berlim. Os dias e as noites de amor do casal era o sonho que aquele viajante temporal imaginou por toda sua vida. E ao terminar as núpcias, eles retornam ao castelo que passava por uma reforma geral para ser mais lindo e iluminado, retirando a aura lúgubre e antiga de luto que possuía...
Mas enquanto isso a nave havia acabado de configurar as frequências das partículas que ela emitia. Ela não só não era desta época, como também não era deste universo, era de uma terra paralela, e isso intrigou ainda mais o cientista que acabara de se casar e que amava a esposa. Enquanto ela dormia em sono profundo após horas de amor, ele se teletransportou para a nave. Identificou o rastro quântico e partiu para a realidade que ela tinha vivido. Havia rastros do que um dia foi um planeta terra na orbita do planeta entre marte e Vênus. Ele volta no tempo e acompanha o que ocorreu com aquela terra.
Um imenso asteroide acertou o planeta na sua parte mais frágil e profunda, a fossa das [6]Marianas, por seu tamanho e velocidade, ele penetra profundamente no planeta, chegando ao núcleo de magma e ele explode, e a reação em cadeia faz o planeta inteiro explodir também, destruindo toda uma civilização que ali havia. Com os padrões temporais de sua esposa, ele volta mais um pouco no tempo, e a vê no mesmo local de seu mundo aonde ele foi para o futuro. Ela esta num Iate com seu marido e filhos, mas o barco é tragado pela passagem quântica, e ela morre, mas sua essência corporal não. Ela segue a energia da alma dela cruzando para outra realidade paralela até encontrar o corpo da condessa sem vida, ela tinha pulado da sacada da escada e se matado de tanta tristeza por perder seu esposo...
A essência de alma toma aquele corpo ainda quente que vibrava na mesma frequência de [7]transmigração, e o corpo inteiro se regenera e se cura. E ela toma conta desta nova vida e reassume completamente o personagem desta época e lugar, nada de sua realidade sobra, a não ser sua poderosa energia vital. De forma inconsciente, ela limpa o local da queda, queima as roupas e volta a ser a condessa que deve viver sua vida triste sem seu esposo e filhos. Sente também uma imensa vontade de viver e amar, mas isso não é mais possível porque é uma nobre num mundo machista. Para isso o universo deveria conspirar para a felicidade dela...
De posse do conhecimento da capacidade quântica daquela estranha passagem temporal e espiritual que se dividiu em vários universos paralelos, ele promete estudar isso mais a fundo no futuro para [8]entender como e porquê surgiu, mas agora ele só quer uma coisa, e retorna para a sua casa e esposa. Viajar no tempo permite muitas coisas, inclusive passar muito tempo fora, e voltar poucos instantes depois de sair da cama e dormir abraçado a sua esposa...
[1] Mas o portal também fez outra coisa, ele criou uma abertura no tempo e no espaço, conectando o passado longínquo e o futuro onde viviam os humanos. Graças a isso eles podiam ver as criaturas de épocas distintas em rios, lagos oceanos ou em locais misteriosos da Terra. Um dia a humanidade teria energia e conhecimento para criar portais espaciais, contudo, não precisariam fazer isso porque os mesmos já estavam aqui, só necessitavam aprender como usar...
[2] Hipoteticamente, os Táquions e os Cronotons, e outras partículas estranhas são formadas num horizonte de evento de gravidade massiva, a exemplo dos buracos negros, buracos de minhoca, aceleradores de partículas, ou num local onde ocorreu um deslocamento temporal para o passado ou o futuro, seja num ser vivo ou em seus apetrechos, à medida que a ciência avança, tais partículas poderão em tese ser utilizadas para viagens espaciais mais rápidas do que a luz, ou viajar no tempo ao criar buracos de minhoca que interligue o tempo do viajante a era que ele deseja ir...
[3] O que foi a guerra franco-prussiana? Foi um conflito armado disputado entre a França e um conjunto de estados germânicos liderados pela Prússia, que levaram a melhor sobre os gauleses. As causas diretas desta guerra foram, por um lado, a vontade expressa de Bismark, o estadista prussiano, de se expandir e pôr termo à influência francófona sobre os povos germânicos do Reno. Por outro, a França, sob a governação do imperador Napoleão III (1852-1870), tentava recuperar o prestígio perdido com uma série de desaires diplomáticos, e em particular pela perda de influência na Prússia, na sequência da derrota na batalha austro-prussiana de 1866.
O conflito foi declarado aberto pela França a 19 de julho de 1870. A Prússia desde logo contou com o apoio dos estados germanos do Sul, na luta de Guilherme contra a França, chefiados pelo estratega Helmut Karl Bernhard Graf von Moltke. A batalha que decidiu o conflito foi a Batalha de Sedan, de 1 de setembro de 1870, concluída com a rendição das tropas francesas e a captura de Napoleão III.
O Tratado de Frankfurt, assinado a 10 de maio de 1871, acabou com a guerra entre a França e a Alemanha, mediante a obrigatoriedade do vencido entregar o território da Alsácia e parte da província da Lorena e pagar cinco biliões de francos de ouro.
[4] Otto von Bismarck. Otto von Bismarck, militar e político prussiano, nasceu em 1815, em Schönhausen. Bismarck unificou os estados alemães e construiu os alicerces do Segundo Império Alemão que durou de 1871 a 1918. Ficou conhecido como "Chanceler de Ferro" devido sua política implacável contra seus adversários.
[5] O Chefe de Governo na Alemanha recebe tradicionalmente o nome de Kanzler (chanceler).
[6] A Fossa das Marianas é o local mais profundo dos oceanos, atingindo uma profundidade de 10 984 metros. Localiza-se no oceano Pacífico, a leste das ilhas Marianas, na fronteira convergente entre as placas tectônicas do Oceano Pacífico e das Filipinas.
[7] A transmigração é a capacidade que a alma tem de ocupar um corpo com a mesma energia, sintonia. Par que isso seja feito, o hospedeiro do corpo original morre, e a nova alma ocupa o corpo e passa a viver essa nova vida com lembranças apenas da vida do corpo, e não de seu passado. É uma alternativa a reencarnar novamente para viver um tempo de vida que se extinguiu antes do tempo...
[8] Em 2050 ele descobriu porque tinha ictiossauros no Loch Ness, havia um buraco quântico ali conectando as duas épocas, ele também havia descoberto o poder do irídio para abrir portais.
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