POR DAVID DA COSTA COELHO
No final do filme sobre o FACEBOOK, a advogada de Mark Zuckerberg lhe diz que ele é uma pessoa incrível e maravilhosa, mas com atitudes que fazem as pessoas verem somente seu lado mau, daí sua fama de mau caráter; e esse é o motivo que me faz retornar as letras, não somos o que nos fizeram, mas algumas pessoas se atem ao que foram para serem o que não deveriam ser. Esse é também o tema central de personagens da literatura – heróis e vilões - e das próprias religiões, a pessoa passa por dores físicas e emocionais, tendo sua zona de conforto destruída para se tornar um ente poderoso e salvador, a exemplo do judaísmo, cristianismo e islamismo.
A única exceção a esta regra no que tange as religiões esta no budismo, pois seu criador foi isolado de todos os males que poderia destruir sua zona de conforto, cercado de todos os prazeres que um herdeiro do trono devia ter, mas ele saiu de sua gaiola de ouro e viu o mundo como deveria ser, e após muitas lutas internas e externas com as realidades adversas, ele conseguiu seu intento, deixando de ser Sidarta Gautama, para se converter em Buda, aquela pessoa que consegue acessar pelo próprio esforço o conhecimento de todas suas reencarnações, e que entende que o que vivemos aqui é só um personagem temporário para crescermos espiritualmente...
Mas fora do mundo das religiões, há pessoas que na infância sofreram violência espiritual – imposição religiosa a crianças – verbal com xingamentos e ameaças, física com espancamentos, sexual com mutilações genitais ou estupros, e não há nada no tema que agora discorro que não tenha ouvido de pessoas a quem tratei ao longo dos anos. E isso muda tudo na cabeça de uma criança que um dia se tornará adulta. Alguns se tiverem ajuda terapêutica escaparam o transtorno de estres pós-traumático, e dos vários sintomas de Toque que desenvolverão, e mesmo assim não há 100% de garantia de um gatilho psicológico que o remonte ao momento específico do que viveu na infância...
Outros sem tratamento são bombas relógio a explodir porque a mente dele não entende que as pessoas de agora não são aquelas do passado que a danificaram mental e fisicamente na infância ou adolescência. O caso mais famoso nesse sentido no Brasil foi em 2011 aqui no RJ, quando um rapaz de 23 anos entrou numa escola de manhã e atirou contra alunos em salas de aula lotadas, matando 11 crianças e deixando 13 hospitalizadas, sendo detido por um policial que o feriu, e sem saída ele se suicida...
Seu histórico psicológico informou que na infância ele sofria maus tratos dos colegas de classe, e em sua mente doentia, presa a uma infância que não mais existiam, as crianças inocentes daquela escola eram seus algozes no sentido das implicâncias e maus tratos, e cabia a ele eliminá-las, por isso a necessidade de psicopedagogos e psicólogos nas escolas se faz muito necessário, para que tal coisa não vote a se repetir, ou coisas menores, contudo de cunho psicológico terrível, como as que minha esposa ouvia no tempo que atuava como especialista e psicopedagoga, e à noite se reportava a mim como marido e terapeuta porque ela jamais poderia carregar mentalmente o que vivia nas escolas...
Como dito, sem tratamento há inúmeras chances de a pessoa surtar, e com tratamento, há sim chance, só que em menor escala, e ainda assim ela aparece, pois conheço várias pessoas que sofreram as patologias acima descritas, e mesmo tratadas, ainda passam do que agora classifico – ao menos para quem me busca, de síndrome Zuckerberg – não importa a condição financeira da pessoa ou sua estirpe de nascimento, isso pode afetar qualquer pessoa se o passado patológico vier à tona...
Mas vou me ater aqui às pessoas que conheci e conheço ao longo dos anos, a maioria com ótimas condições financeiras, com casas grandes e confortáveis, dinheiro na conta, donos de empresas, mas padecendo do mal do Zuckerberg. Muitos destes se entregaram as drogas ou ao álcool como mola terapêutica de fuga, e nestes estágios alterados de consciência, desenvolvem uma personalidade que será a culpada pelo que farão em suas crises.
Quem trabalha com comercio de bebidas alcoólicas acaba vendo isso de outra forma, quando o cliente todo certinho chega e começa a beber, e depois de alcoolizado, ele deixa uma parte sua que reprime aflorar e se torna violento, ou brigão, ou mulherengo e cobiçando a mulher do próximo, levando a brigas, ou então quer deixar seu lado gay aparecer. E no dia seguinte volta ao bar e pede mil desculpas porque não era ele, e sim um lado oculto que ele nem sabia que existia, e que vai tentar ocultar não bebendo mais, mas saíra sim após o próximo gole e escândalo.
Ou seja, é uma pessoa com patologias do passado que se oculta num estereotipo mental de uma personalidade criada para suportar seu trauma, e como que ganhando vida própria – o assassino de crianças acima – num dado momento, ela assume o controle do corpo e faz o que tem que fazer, seja na violência assassina, seja no exemplo do bar, ou mesmo magoando pessoas que ama e que precisa como familiares ou amigos, e como sempre, o eu real nada tem com isso, ainda que sóbrio...
Mas é verdade isso? Depende, pois para vivermos em sociedade, e principalmente em família, todos nós criamos personagens para cada pessoa que nos cerca e rodeia de acordo com nossos interesses diversos – sim temos nossos momentos artísticos - mas no final somos nós que os habilitamos tais entes em nosso eu para ser o responsável das coisas que fazemos e não podemos assumir. E isso é um excelente argumento para quando se vai pedir perdão porque haverá a parte psicológica a ser julgada, e a desculpa que vai procurar um especialista nas ciências da mente para buscar uma cura porque não é normal magoar a quem gostamos ou amamos...
Mas na realidade é normal sim, vem do nosso passado ancestral onde precisávamos mentir e dissimular para vivermos num mundo em mutação, disputando parcos recursos, vivendo no extremo entre a vida e a morte, para nos reproduzir, e na incerteza da próxima refeição que precisávamos caçar. Hoje não caçamos, compramos nossa comida, mas ainda há ali nosso primata interior nos protegendo das mentiras da sociedade, por isso disputamos promoções nos mercados e lojas em filas, brigamos por nosso político canalha e mentiroso, ou para ser amante daquela mulher linda que nos faz a alma em fogo, ou daquele homem que é um deus grego ou um gigante de ébano...
Mentimos porque é necessário, ou porque nos dá uma vantagem em algum momento, porque dizer a verade em nossa sociedade não é ecologicamente correto; e mentir quando se tem uma patologia traumática é proteção porque as mentiras vêm mais facilmente, assim como o estado de irritação ao ser contrariado na mentira que falamos, ou nos argumentos que colocamos, por isso o ente patológico acaba elevando a voz, os gestos se tornam bruscos e a respiração arfante, um mecanismo de defesa desenvolvido para suportar sua dor anterior ao trauma.
Se em algum momento tal conhecimento aqui descrito lhe veio à mente, e passou por isso, ou ainda passa, ainda que de forma inconsciente, busque ajuda, ou terapias diversas a escolher nos dias de hoje, ou meditação. Não há fórmulas mágicas para curar ninguém, há conversa e confiança, e o resto é confrontar o passado e entender que não é mais aquela criança indefesa ou o adolescente frágil, é adulto [a] e há esperança se assim desejar porque magoar a quem ama ou gosta é enterrar mais um pedaço do que restou de si não é uma coisa normal...