Autor: David da Costa Coelho
A maioria dos vampiros jamais soube que seriam assim, pois foram escolhidos ao acaso, mas com Yanufffoi diferente, afinal sua mãe, Rasenna, havia sido mordida por uma vampira logo após ele nascer; e morreu naquele mesmo dia, mas por uma questão pessoal na época, a vampira o viu no berço, levou-o carinhosamente até seu refugio e o criou como filho, e jamais escondeu dele o que era. Desde sua infância ele pôde ver sua mãe adotiva se alimentando de outros seres humanos, parte do sangue que tomou ela dividiu em sua mamadeira, junto com o leite que ficava rosa, e quando ele ia crescendo, ela ensinou o garoto a saborear o sangue que brotava do pescoço das vitimas que ela caçava.
Assim que ele teve maturidade, ela contou que tinha matado a mãe verdadeira dele ao se alimentar, não se desculpou por isso, afinal os humanos eram alimento, assim como era direito deles terem vacas, aves e demais seres vivos inferiores para sobreviverem. Yanuff compreendeu isso sem o pesar que se esperaria, e a dieta que sua mãe seguia lhe deu um vislumbre da humanidade que ele pertencia, mas que não desejava mais continuar. Até ele completar trinta anos, ela lhe deu sangue de crianças recém-nascidas, meninos, adolescentes, idosos, ou seja, todas as fases da vida humana, que ao longo dos anos ele desprezava cada vez mais.
Por três décadas ele ansiou ser vampiro, mas por uma estranha razão ela se recusava em lhe dar a vida eterna, desejava que ele se apaixonasse por uma mortal, e tivesse filhos, que ela criaria e cuidaria de seus descendentes pela eternidade. Contudo, seu filho não era assim, ele adorava sangue humano, matar pessoas, saborear o dom de tirar uma vida, devorar uma inocência virginal... Todas as mulheres com quem ele fez sexo ele matava no mesmo dia, e bebia o sangue em seguida, isso era uma questão ainda mais louca para sua mãe entender, e um dia ela lhe perguntou:
- Quando vai ter uma mulher, filhos, se apaixonar, arrumar uma vida, ser parte deste mundo, deixar de matar as pessoas com quem sai?
- Mesmo tendo me criado e cuidado de mim por todo esse tempo, será que jamais vai entender que odeio a humanidade? Não quero ser pai de seres frágeis, ter uma mulher para escravizar meu destino, ficar velho, fraco e decrépito como todos de minha espécie, aguardando uma morte indigna por doença ou velhice. Você esta viva há milhares de anos, já imaginou que fosse possível se tornar humana, e sofrer tudo aquilo que a mim esta destinado, caso não me tire desta frágil e inútil vida mortal? Meu único desejo é ser aquilo que você é, e se hoje, você não me fizer um vampiro, depois de tudo que fez por mim, a única coisa que me resta é tirar essa minha vida humana inútil porque nada nela me dá prazer ou motivo de vida.
As palavras do filho mortal fizeram a mente dela retornar milênios no passado, quando ainda era humana, morando no templo etrusco, onde era uma sacerdotisa, responsável por sacrifícios e ler o [1]futuro nas vísceras de animais, além de rezar e implorar aos deuses pelos mortos. Antes de ser escolhida, ela ajudou a sua irmã mais velha com seus sobrinhos, mas um dia todos foram mortos por guerreiros, às mulheres foram levadas como escravas, e seus templos haviam sido saqueados por aqueles hereges. Ela foi estuprada por vários soldados, e estava quase morta, com hemorragia, portanto inútil para ser levada como escrava, em seus últimos instantes de vida ela sentiu uma mordida em seu pescoço e no final a escuridão. Quando despertou, estava curada de todas as suas feridas, contudo, não era mais humana, e sim uma dádiva da natureza, podia ouvir, cheirar, correr, comandar mentalmente os humanos, voar e ver com os mesmos dons dos deuses para os quais ela rezava. O dia e a noite eram seus companheiros fieis, pois podia aproveitar todas às fases deles simplesmente voando para ver o nascer do sol, ou o luar enluarado, coberto de estrelas.
Mas com a dadiva da vida eterna, também lhe veio à fome e necessidade de beber sangue humano, o vampiro que a salvou e transformou era um jovem, apesar de ser milhares de anos mais velho que ela. Ele era um parente distante que sempre protegeu seus descendentes humanos, não só de outros humanos como também de vampiros, marcados por ele como seu alimento; pois assim como os humanos marcam seu gado, para os vampiros, aquilo tinha o mesmo propósito. Quando ela foi atacada, junto com seus outros descendentes, nada mais podia fazer por eles porque estava longe, mas o grito mental dela, devido a marca, o fez voar depressa para lá. Salvou-a e nada podia fazer no momento, exceto uma vingança alimentícia que podia esperar, e como ela estava além de cuidados humanos, pois iria morrer, só lhe restou fazer dela um ser superior.
Ele a ensinou por décadas em tudo que deveria, massacrou junto com ela todos que atacaram seu povo e os templos, e depois a deixou só para seguir seu próprio caminho. A cada cem anos eles se reencontravam para relembrar aventuras e viver novas, mas ela se sentia muito só, se apaixonou por humanos, viu os envelhecer e morrer, criou e protegeu seus descendentes, mas jamais se sentiu realmente feliz. Então se entregou a sua sina e somente vampiros eram seus escolhidos para se relacionar fisicamente. Contudo, um dia, muitos séculos depois, após matar o pai e a mãe de Yanuff, numa tenda árabe no deserto do [2]Sinai, uma estranha vontade de ser mãe e protetora havia tomado forma nela, e o bebê lhe devolveu isso, mas ao crescer ele era não mais um humano comum, pois se comportava impiedosamente como vampiro. Em toda sua longa vida ela nunca devolveu a ninguém o dom que possuía, nestes 2500 anos de existência. Talvez fosse a hora de apresentar a seu criador uma cria também, afinal ele só tinha a ela como herdeira, e só esse desejo inconsciente explicaria suas ações, pois seria um vampiro que ela realmente criou e educou, coisa que nunca ocorria no mundo dela, sempre escolhidos ao acaso ou por paixão.
Yanna olha o filho nos olhos e pede que ele lhe de seu pescoço. Os olhos dele brilham como fogo porque sabe que seu desejo finalmente será atendido, em breve será um vampiro, tendo o dia e a noite para ser feliz e imortal. Devorar qualquer ser humano que deseje, possuir todas as mulheres do mundo porque elas não poderiam resistir a seu poder mental e vontade de lhe agradar; Matá-las não mais por vingança humana após o sexo, como faz atualmente, e somente se tiver fome... Poder viver em palácios e hotéis de luxo, já que seus donos estariam com as mentes prontas para seus comandos mentais. Enfim, o sonho de sua vida em ser imortal, ao lado de sua mãe estava prestes a se realizar, e com prazer ele se entregou aos dentes penetrantes dela.
Enquanto ela sugava lentamente cada gota do homem que um dia foi sua criança, seu bebê, seu filho, ela imaginou os milhares de anos que viveu como vampira, a fome, a dor inicial de matar humanos, coisa que ele jamais sentiu porque isso já estava em sua alma, e a falta de humanidade que ele já possuía. Mesmo não sendo humano, um vampiro deveria seguir algumas regras impostas pelos mais velhos para protegê-los dos humanos. Não que os temessem, pois vampiros não podiam ser mortos por armas humanas, mas ainda assim desejavam ficar conhecidos só como mitos. Somente vampiros mais velhos tinham força e poder para matar outro vampiro, mas sua própria lei os impedia, a não ser que aprovado por um ancião, e ainda assim se fosse algo muito grave que afetasse outros vampiros.
De alguma forma ela sabia que seu filho não seria um vampiro fácil de se lidar, ainda que estivesse sob o poder dela após transformado, ele continuaria sendo um desobediente, da mesma forma que era como humano, e ela como anciã, tinha responsabilidade com seu povo. Mas ao mesmo tempo não queria deixa-lo morrer como humano, afinal ele foi para ela a coisa mais importante do que viveu em séculos. Era apaixonada pelo filho, moveria mundos e fundos para que ele fosse feliz ao lado dela porque a imortalidade sem família é uma maldição. Ela corta seu pescoço e coloca o sangue na boca do filho. Ele sente seus lábios bebendo o poder dela pela primeira vez, e ao final do dia ele não é mais um humano fraco e frágil, mas ainda não era um vampiro. Ao acordar ele esta curado e pergunta o motivo de ainda ser mortal, e ela responde:
- Você é meu filho, e será assim por toda eternidade, mas antes de virar um imortal, eu tenho um pedido para você... Preciso de um filho seu, alguém para proteger e manter sua descendência, você não possui parentes vivos, pois se assim fosse poderia farejar pelo sangue deles, é o ultimo de uma linhagem que remonta ao meu povo, pensei que estavam todos mortos, mas um descendente estava na barriga das mulheres levadas em minha época. Eu só soube disso depois de matar seus pais, mas não naquele instante e sim anos depois. Vou arrumar algumas mulheres férteis, você vai copular com elas, e assim que elas ficarem gravidas, no mesmo dia eu te transformo, até lá seja paciente.
Yanuff não ficou muito satisfeito, mas saber que realmente tinha parentesco com sua mãe vampira o animou a cumprir o desejo dela. Assim ele recebeu varias mulheres e atendeu ao pedido. Apenas duas delas ficaram gravidas, a filha que nasceu ele chamou de Azira, e o filho, Abū al-Qāsim Muḥammad, séculos depois o mundo o conheceria como Maomé, o pai do islamismo. Eles criaram os filhos até que o menino e a menina já estivessem grandes o bastante. Com a pressão do filho, ela o transformou em vampiro e as mulheres dele foram entregues a um parente, um tio por parte de mãe de Maomé. Os vampiros sabiam que eles estavam seguros e deixaram-nos seguirem seu destino, [3]Maomé segue sua própria lenda, assim como seu pai vampiro...
Yanuff foi feito com sangue de uma anciã, ou seja, ele já nasceu poderoso, e como vampiro, ele era o mais cruel e sádico dos seres, não tinha nenhum dos pesadelos que sua mãe teve milênios atrás ao se transformar e alimentar-se, seu alimento predileto eram bebês e crianças até os 10 anos, não gostava muito do sangue de pessoas mais velhas que 20 anos, bebia apenas para dar tempo aos humanos de se reproduzirem. Sua mãe estava mais preocupada com a descendência dele, e quando percebeu que Maomé tinha ficado órfão, protegeu-o, e depois hipnotizou a ele e uma mulher [4]rica para que se casassem. Ela se revezava em ensinar o vampiro e cuidar do neto humano.
Maomé nasceu para o sacerdócio, assim como ela tinha sido milhares de anos atrás, estava no sangue de sua família. Com seu poder mental sobre os humanos, ela apareceu para ele em sonhos durante muito tempo, e ensinou dogmas de moral e costumes antigos de seu povo etrusco, adaptado a realidade das religiões do deserto, até que ele codificou os mesmo em algo que seria uma nova religião. Percebeu que isso iria mata-lo e ordenou ao mesmo que fugisse, enquanto ela e o pai dele massacravam os inimigos de sua descendência. Como eles podiam andar com os humanos, já que o conto de fadas que vampiro pode morrer exposto à luz e outras idiotices de escritores [5]católicos e linhas semelhantes é apenas isso; com a ajuda deles o exercito islâmico de Maomé era imbatível, e a fome dos vampiros estava sempre saciada pela carnificina que se seguia, bem como o silencio e cegueira dos humanos porque o poder de hipnose deles impedia de verem a verdade. Maomé terá inúmeros descendentes antes de morrer como humano alguns anos depois, seu pai levou seu corpo para uma das montanhas mais altas do mundo, e ali ele permanece congelado até hoje.
Séculos depois, sua família foi literalmente sendo exterminada pelas facções da religião que ele criou, e os últimos descendentes foram transformados em vampiros, contudo, embora o mundo pense que estão todos mortos, apenas dois filhos foram salvos, e dados a realeza da Arábia Saudita. Hoje, em pleno século XXI, os descendentes de Yanuff são numerosos e poderosos, como reis e príncipes. Mas ele, sua mãe e descendentes vampiros não estão preocupados mais com eles e sim em serem predadores imortais, aproveitando toda riqueza e prazer que o mundo humano criou para o deleite dos imortais que se alimentam deles e de suas posses...
[1] CONTOS DE TERROR: YULA, A FILHA DO VAMPIRO
[2] CONTOS DE TERROR: MARCUS, O VAMPIRO SUPREMO
[3] CONTOS DE TERROR: A VAMPIRA DE IBIZA
[4] AZZAK, O PRIMEIRO VAMPIRO...
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[1] A interpretação dos presságios através do exame das entranhas dos animais sacrificados, semelhantes às efetuadas na Babilónia e do voo das aves, faz parte da arte divinatória dos Etruscos, que, por seu turno a ensinaram aos Romanos. Para os Etruscos, como para os Egípcios, a morte e as cerimónias fúnebres tinha, no plano religioso grande importância. A morte inspirava aos Etruscos um terror sem limites. Nenhum povo europeu imaginou criaturas mais pavorosas do que os demónios etruscos. Os Etruscos ornamentavam os seus túmulos com cenas escolhidas entre as mais divertidas da vida terrena, como se quisessem arranjar compensação para a morte.
[2] O Sinai é uma península montanhosa e desértica do Egito, entre os golfos de Suez e Aqaba. Este nome vai buscar a sua origem no deus Sin, deus da lua. Por isso se diz que Sinai é a "Terra da Lua"; e a terra das águas turquesa da Paz.
[3] Abū al-Qāsim Muḥammad ibn ʿAbd Allāh ibn ʿAbd al-Muṭṭalib ibn Hāshim, mais conhecido como Maomé, foi um líder religioso e político árabe. Segundo a religião islâmica, Maomé é o mais recente e último profeta do Deus de Abraão. Para os muçulmanos, Maomé foi precedido em seu papel de profeta por Jesus, Moisés, Davi, Jacob, Isaac, Ismael e Abraão. Como figura política, ele unificou várias tribos árabes, o que permitiu as conquistas árabes daquilo que viria a ser um império islâmico que se estendeu da Pérsia até à Península Ibérica. Não é considerado pelos muçulmanos como um ser divino, mas sim, um ser humano; contudo, entre os fiéis, ele é visto como um dos mais perfeitos seres humanos
[4] Cadija foi a primeira esposa do profeta Maomé. Foi a primeira pessoa a se converter à religião pregada pelo marido, o islão. Filha de Khuwaylid ibn Asad e Fátima bint Za'idah, pertencia ao clã dos Banu Hashim. Era uma rica viúva envolvida no comércio caravaneiro quando Maomé entrou ao seu serviço, trabalhando como seu agente nos negócios das caravanas que atravessavam a Arábia em direção à Síria. Por volta de 595, quando ela tinha cerca de quarenta anos e Maomé cerca de vinte e cinco, propõe o casamento a Maomé, o casal permaneceu unido nos próximos 24 anos.
[5] Abraham "Bram" Stoker foi um romancista, poeta e contista irlandês, mais conhecido atualmente por seu romance gótico Drácula, a principal obra no desenvolvimento do mito literário moderno do vampiro.