Por David da Costa Coelho
A infância que todos nós tivemos, com todas suas questões pessoais e realidades distintas, inerentes a cada um de nós, sempre será uma benção porque é nela que nos descobrimos como pessoas e que dentre algumas, especiais, percebemos que somos amados e elevados como prioridade porque somos sua continuação neste mundo. Contudo, ela é uma fase curta da vida, mas de longe a mais longa porque carregaremos eternamente em nossa mente e algumas de nossas atitudes nas demais fases da vida. Temos nela, neste inicio de vida, o resumo do que nos contam ao imaginarmos em nossas mentes juvenis, os príncipes e princesas, os contos de fadas e os amores infantis.
Contudo, à medida que crescemos, embarcamos em outros sonhos, amores, desejos, e os da infância, temos que deixa-los dormir por um tempo; e neste longo sono, convivemos com pessoas, que não são boas nem más, pois assim como a moeda tem três lados, é em cima de sua borda que avaliamos as mesmas e o que permitimos que elas nos façam – seres humanos tem a tendência de imputar culpa em algo fora de seu eixo pessoal, como se tais escolhas não fossem suas - todos que nos amam ou aprontam, estão ali porque um dia nos permitimos a elas, e se as mantemos; ainda que massacrado pela parte delas que vimos que não presta, é porque em algum momento estamos nos testando pra ver se nos tornamos iguais ou somos melhores porque aprendemos – a duras penas – suportar todos os pecados capitais humanos...
Conviver com quem amamos de verdade – em geral os nossos filhos e depois os outros, sempre nessa linha – também com quem herdamos como parentes próximos e distantes, amigos, paixões, amores, desejos, sexo, ou inveja de quem está ao nosso lado, e ainda assim se sente vazio por não ter o que possuímos; com certeza causam em nós muito mais dores do que uma faca nos rasgando de lado a lado. No entanto, de todas as dores, a mais intensa é a que deixamos nossa mente comandar para o interior de nosso ser...
Cada um de nós tem sua forma mágica de se auto torturar profundamente; mas dentre os seres humanos, não são os mais tolos, idiotas ou manipuláveis que pagam esse preço, são os que nasceram com alma, inteligência é apego ao próximo... Contudo, neste mundo de ilusões e idiotices que recebemos, e ao longo de décadas, e que deixamos também nos influenciar, chega uma hora que você – a duras penas – deve tentar ser menos emocional e mais capitalista – porque a vida é uma questão de lucro emocional.
E se estamos aqui, fazendo o melhor possível para tudo que amamos e nos importamos, e no final o crédito é só dor, lamento, angustia e lagrimas na alma; ao contrario do tão propalado se ocultar, fugir do assunto, ou deixar ir, não é a fuga ou o silencio que nos cura, e sim o enfrentamento da questão. Se não pudermos fazer isso no mundo ao vivo, com quem quer que seja, que isso ocorra na sua mente... Entre tu e seu algoz...
Parece difícil? Claro que não, pois se lembre de quando era criança, brincava com a boneca ou o soldadinho e eles falavam contigo não é mesmo? Nossa alma sabe das coisas, desde a nossa mais tenra idade, assim como criar personagens para todos os momentos e emoções, basta querer e ela responde na hora. E nesse dialogo, ao vivo ou ficcional, assim como num texto preparado, não se exclua de por para fora as farpas que lhe rasgam, elas estão aí para isso; dizer-te que dores só perduram enquanto não as enfrentamos e retiramos o espinho encravado...
Entenda também que pessoas – mesmo nossos filhos, que amamos e morreríamos por eles no agora, neste minuto se precisassem – também tem sua alma e personalidade, e em suas amizades, companhias e escolhas, um dia também nos espetam. Se eles, que saíram de nós; fazem isso, que dirá estranhos amigos e algozes. O fato de nos comportarmos como um tipo raro de ser humano – gente boa, que se importa com o outro, se sacrifica, se molha na chuva para dar o casaco a quem precisa - não significa que todos ao nosso redor irão seguir nosso exemplo.
Pessoas, boas ou más, diferente do que dizem os leigos em questões próprias, que acreditam que exemplos mudam o mundo; na verdade elas só mudam quando o mundo próprio despenca em suas cabeças e os afasta de sua zona de conforto. Não podemos e não devemos viver pelo que pessoas que estão ao nosso lado dizem, muito menos aquelas que morreram há milhares de anos, deixando livros sociais e religiosos do que deveríamos fazer; e que em nosso intimo como seres humanos, sabemos que em nosso lugar e tempo eles fariam exatamente o oposto do que deixaram escrito.
Cada vida aqui na terra é um prazer, uma dor e uma provação, é semelhante a achar uma pessoa, amar, se entregar sexualmente, engravidar, carregar com dor e sofrimento o feto, morrer e lutar por ele até que esteja adulto pra viver sua vida; e ao mesmo tempo sofrer de preocupação de onde ela ou ela se encontra nesse mundo cão, cheio de gente que os três lados da moeda ainda não foram vistos pra escolhermos o lado. A insegurança, seja de amar quem quer que seja, ou sofrer pelo que nos fazem, faz parte do processo de entender que não somos mais inocentes, e sim seres que amam a inocência, mas sabe que ela tem hora e lugar.
Quando eu era mais novo, o que eu mais temia era a morte, sofria pela morte de quem eu amava ou de quem poderia morrer. Secretamente eu via meu pai e minha mãe dormindo, para ver se estavam respirando. Eu já sabia o que era morte porque nasci com esse dom de ver certas coisas. Vi meu avô morrer quando eu tinha seis anos, e quando chamei minha avó e disse que o vovô tinha morrido, pois no minuto anterior estava vivo... Levei um tapa da minha avó, por ela pensar que era mentira de criança, brincando com coisa séria, mas não era...
Aquilo de poder ver e sentir a morte me devastou, e por anos eu morria por dentro por temer a minha morte e a de quem amo. Só me curei no dia que enfrentei a minha, pelos meus próprios atos; portanto, sofrer por algo que não temos controle, e morrer pelo sofrimento imputado no inconsciente para o consciente; é uma morte diária, semelhante a um luto católico e protestante, que nos faz lembrar por meses e anos quem já foi, felizmente existe a morte do reencarnacionista, coisa que sou, e após nos livrarmos das cinzas do corpo, tanto ele quanto nós estamos livres.
A morte não é a pior das coisas, e sim um aviso de que só os mortos estão livres para voltar para a sua divindade ou reencarnação, a gosto – religioso - de cada um. Se um dia amou realmente quem você é, e todos aqueles que já se foram, ou irão um dia, não deixe a morte das emoções e conflitos se fazerem de caixão em sua mente. A única segurança que temos na vida é que ainda estamos respirando. O controle de outras pessoas é tão frágil quanto a fumaça de um incêndio colossal.
A menina pequena, ou o menino brigão ou brincalhão que algum de nós foi um dia, que precisava de colo, do pai, da mãe e de seus bichinhos, eles jamais se foram, ao contrario, quando se lembra deles, são eles quem lhe diz para brincar. Ser adulto foi um sonho de uma criança que não entendia o que era crescer, e agora que crescemos, quem de nós não adoraria poder desejar ser de novo, nem que por um breve momento, a criança que um dia foi. Contudo, temos o meio termo, carregamos a nossa criança interior, nosso adolescente rebelde, nosso jovem sonhador, e o adulto cheio de compromissos e diversos medos. Eles estão dentro de nós, e se precisar de cada um deles, peça a sua alma, ou deixe que ela os libere, afinal, assim somo o sol, a lua, e as estrelas, brilhamos de acordo com a intensidade daquilo que precisamos iluminar...