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AUTOR: DAVID DA COSTA COELHO
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No princípio sua existência era desconhecida por todos, mas ainda assim sempre se manteve ali aguardando o momento que retornaria. Esperou durante muito tempo até que duas pessoas especiais se unissem para lhe trazer de volta para o mundo onde tudo são luzes e sentidos. No começo foi estranho sentir que embora estivesse completa, como ente energético, ainda assim sua parte material estava desconexa. Os pedaços de seu corpo precisavam ser montados pela mãe natureza. Então células começaram a crescer e fizeram cada parte desta nova casa que sua alma ia necessitar para controlar aquilo que posteriormente ficaria conhecido como seu corpo. Em sua existência anterior, não era nem o bem nem o mal, masculino ou feminino. Apenas energia em estado puro que havia retornado ao ente universal consciente, e lhe repassado sua antiga peripécia terrena. E agora por determinação deste ser supremo, estava novamente vestida num invólucro humano. Ao abandonar o universo uterino, se insere dentro da sua nova escola conhecida como o mundo.
Ali sua alma descobre que a máquina chamada corpo possui muitas deficiências e começa a contestar cada uma delas. Então o ente eterno lhe aparece em sonho e desliga seu conhecimento consciente do mundo anterior à época do seu retorno, mas deixa guardado em seus instintos para o futuro, pois seu retorno a terra tem um propósito celestial. Junto com outros seres imperfeitos a menina cresce e se descobre mulher. Seu corpo então busca um companheiro imperfeito, e por pouco tempo, para dar a ela o que lhe falta para trazer até esse mundo dois outros entes para dividir seu carma na forma de filhos. Ele sabe que não será fácil sua missão na terra, pois ela não está aqui a passeio. Com o tempo seu corpo passa a sofrer das fraquezas necessárias a sua evolução espiritual, e ela perde pela segunda vez outra forma de contestar o mundo, voltando novamente às escuras ao ficar cega. E como no útero de sua mãe, somente os sentidos podem caminhar junto ao corpo. Ela agora consegue claramente ouvir as batidas do seu coração.
Distingue os suaves perfumes que emanam de um bebê transportado por uma mãe ao longe. Sua boca saliva ao distinguir o odor de camarões sendo refogados com bastante alho a distancia na praia. Uma brisa beija seu corpo, e mesmo sabendo que não possui um amante, ainda assim ele se encontra investido na forma de vento e a faz delirar de prazer em suas súplicas diárias ao passar entre árvores. A cada dia ela vai descobrindo que apesar de depender de muitos outros entes imperfeitos, ainda assim é capaz de superar todos os obstáculos que surgem em meio a sua caminhada humana. Esquecendo-se de si mesma, e de sua missão divina, passa a projetar no outro aquilo que se encontra dentro de si. Apesar disso vai aos poucos encontrando caminhos de atender esses entes ao perceber que pode ver mais do que pessoas dotadas com visão de águia.
Em seus sonhos, o seu eu toma conta novamente dela e lhe mostra sua missão verdadeira. Mostra-lhe que a missão dela aqui na terra não é carregar a cruz de outras pessoas, portanto deve olhar dentro de si mesma e ver a verdade. Mas ao acordar esquece tudo novamente. Então seu eu inconsciente se projeta para fora de seu corpo e pouco a pouco vai lhe mostrando as verdades da qual tinha conhecimento, mas ainda assim insistia em não ver, não com seus olhos, pois estes já estão às escuras há muito tempo; mas sim com seus sentidos celestiais que nunca abandonaram, apenas permaneceram adormecidos enquanto sua visão estava acordada.
Seu inconsciente recebe a mensagem da energia suprema, avisando que está na hora de determinados seres abandonarem a vida dela para que possa realmente cumprir o seu papel na terra. Ela vê a morte chegar a sua casa, e como tal que desconhece que nada morre, deixa que seu corpo sofra em prantos, dor e lamentos, quando na verdade deveria estar sorrindo ao saber inconscientemente que nada perece, apenas a casca humana incapaz de suportar uma essência que agora transcende além dela. Lá de cima ele fala ao em inconsciente dela para que não perca seu tempo lamentando por algo que está agora novamente ao lado do ser eterno. E que mesmo distante, ele sempre estará ao lado dela, protegendo-a em todos os momentos, e também aqueles que dividiram a mesma essência espiritual, e que bastava simplesmente deixar seus sentidos sentirem sua energia para que ela soubesse que sempre se manteria presente dentro dela.
Com o tempo o ente cósmico lhe dá novamente a visão do mundo, e também de além dele, pois como ser especial tem missões com outros seres humanos. E revela isso em sua arte, em suas visões e decisões que se interpõe no destino dessas pessoas, e finalmente esta completa ao poder viver dentro daqueles dois mundos, ainda que incompreensível as que a cercam. De vez ou outra se pega em meio a um vazio questionando seu momento atual e se entregando a tristeza, mas então se lembra que não está sozinha. Agora mesmo quando olha a lua, vê além de suas crateras, ainda que seus olhos humanos não tenham tal capacidade, sua mente não está presa a eles. É o seu ente verdadeiro que cruza as barreiras do tempo e do espaço para que ela veja além de seus sentidos humanos.
Ele lhe diz que não espere em outros seres a união com sua essência terrena, mas que continue explorando seus sentidos todas as noites até que com o tempo outro ser com a mesma capacidade e destino possa captar a energia do prazer de viver e sentir que é emanada por ela; e entrem em sintonia para que possam se encontrar. Não precisa ser em forma humana, basta cerrar os olhos e deixar que as energias se remetam ao estado uterino, e novamente se unam para recriar esse ser especial completo chamado mulher, incompleta, em duvida, cega ao que não lhe interessa ou magoa, mas mulher; o ser que dá sentido ao homem.
Pode ter qualquer nome, cor de pele e cabelo, há um universo delas, sem os quais os demais cosmos masculinos e femininos seriam entidades vazias, tão profundas que só em se imaginar neles, as mentes retornam ao útero seguro e onde jamais desejariam sair; mas crescem, muitas se tornam meninas em alma de mulher, e ganham o primeiro beijo de adolescentes. Depois a primeira noite em que arremetem seus corpos definidos contra falos masculinos nas entranhas da casa da vida pulsando em ritmo com a vida que podem gerar naquele dia; ou mais tarde se lhes aprouver. Finalmente, ao terem quem lhes afaga e protege ao dormirem, após darem nova vida, amamentarem e cuidarem de todos que saíram de seus úteros, ou de quem os fez e a elas presenteou; sua missão não esta cumprida, ao contrario, os anos mostrarão que falta muito, e se não der nesta vida, a luz as fará repousar por um tempo e depois as mandarão de volta a um útero para contar outra história.
A perfeição do ser humano só ocorre quando ele percebe que é um organismo em mutação, e assim como seu corpo, seus conceitos devem acompanhar os ensinamentos da vida. Viver é antes de tudo ter o prazer de desistir de algo para recomeçar no dia seguinte sabendo que é uma nova estrada, e que ela esta a disposição do que somos agora, para ser construída à medida que descobrimos esse caminho mágico chamado vida.
Viva seus momentos de forma terna e infinita, pois assim como a garotinha sorriso presa em você, e que ainda hoje enfeitiça sua beleza com seu jeito angelical, ela jamais deixou de ser menina, apenas mais vivida, experiente e sapeca.
Viva seu dia dos namorados fazendo de seu amado uma extensão de seu ser, mas sabendo que ele é apenas um complemento de alguém muito especial. Alguém que não só sabe ser Sherazardi, a mulher que encantou o homem impiedoso e rancoroso por mil e uma noites, e o domou com seu sorriso e seus dons de mulher fatal, e também como menina sorriso e mulher inteligente; e como tal a única coisa que alguém com a sorte de ter você como companheira pode e deve fazer e lhe dar o que dá sabor e valor a vida: primeiro o companheirismo, pois é ele que sobrevive ao amor, e por último amor, pois é o que se dá antes de tudo a quem se deseja como companheira.
Ser não é questão de refletir em nós o que se espera pra agradar as pessoas alheias. Assim como a velhice que nos rouba a energia da vida e nos dá em troca apenas a sabedoria, que só se conquista com o tempo; mas que apenas servirá para passarmos aos outros em consequência da inaptidão física da idade.
Aceitarmos que somos únicos e superiores aos demais é uma consequência de ser realmente quem somos. Por mais linda que seja qualquer pessoa hoje, em algumas décadas o que se refletirá dessa estética física é a sabedoria que legaremos aos nossos próximos.
Seja quem você é sempre; independente da contestação do planeta inteiro. Viver é antes de tudo ter consciência do eu, a felicidade então passa a ser uma consequência desse seu estado. Ser você é antes de tudo compreender que é uma pessoa que ao falar, carrega dentro dos que a amam e admiram a eterna gratidão de compartilhar um mundo diferente dos demais, pois problemas todos têm. Ausência financeira também, tristezas? Nem se fala; mas compartilhar o mundo com seres únicos e especiais como você e eu, é para muito poucos. por isso somos os vencedores da maratona uterina, porque somos especiais.
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Escrevi para uma grande amiga que já se foi, voltou a 4ª dimensão. O tempo que a conheci via NET foi o que devíamos a nós para sermos os amigos que fomos, não deixou saudades e sim a certeza de que pessoas especiais sempre terão o que contar se seus amigos muito especiais retornarem a ser energia antes de nós... em breve nos veremos de novo amiga, o tempo não importa, só o que fazemos dele.
ODE À MINHA AMIGA CIDA GANDRA
Existe uma lenda grega sobre um determinado local no mundo antigo onde os navios que passaram foram levados a se chocar contra recifes devido ao canto e encanto melódico produzido por um som oriundo de todas as partes. Esses sons vinham também do mar, e era projetado pelas sereias; mulheres lindíssimas, que ao enfeitiçar os homens, deixava os completamente aos seus caprichos, e quando o barco afundava, elas os levavam para as profundezas abissais do oceano.
Os corpos jaziam em meio às águas, mas os espíritos dos marujos seguiam eternamente aprisionados com as sereias. Com o tempo essas deusas se utilizaram da essência espiritual desses homens e puderam abandonaram o mar. agora elas também fazem da terra seu destino, e dos homens sua presa. Suas descendentes são mulheres de uma inteligência impar, uma beleza exposta, não apenas em seu corpo e sua alma; pois isso seria algo comum a qualquer mulher mortal.
Como suas ancestrais, elas carregam em seus lábios o dom de proferir palavras que são mais poderosas que encantamentos. Até mesmo o simples ressonar delas ao dormir é capaz de levar um homem aos mais recantados sonhos de insensatez e desejos carnais. Por elas cruzariam o universo e singrariam todos os desertos do mundo a pé. Não é o que elas lhes dão que permeia essas atitudes, mas seus segredos revelados apenas quando se apossam da alma masculina, e ali os fazem adormecer o sono eterno dos que dão sua vida por amor a uma deusa.
Diariamente convivemos com essas sereias, que sem motivo algum deixam os homens perdidos dentro desse oceano misterioso chamado mulher. Belas curvas que dão origem a carros cada vez mais femininos, taças com o formato dos seios onde tolos homens se alimentaram quando criança, e agora buscam neles, quando sugam em libido extremo, não o leite materno, mas apenas o aconchego das deusas, e o deleite de ser delas. Bocas que ao beijarem-nas, se embebedam com o som de línguas cruzando suas almas, e o amor oriundo da união imperfeita de corpos, mas que se equilibram somente ao fundirem-se ao das deusas. Muitas são essas mulheres ao longo da história, elas simplesmente dominaram seu mundo. Sherazade, Cleópatra, Maria Bonita...
Cida Gandra é uma de suas descendentes. Pois desperta nos homens o seu lado criança necessitando de amparo, o lado feminino ao se entregar a alguém superior e forte, o lado escravo ao querer ser domado pela diva, e o seu lado alma carente necessitando da fusão espiritual que só uma sereia é capaz de proporcionar a um pobre mortal. De sua voz doce e ao mesmo tempo potente não há amarras mais compactas, e ao mesmo tempo tão lindamente femininas. Como toda sereia, ela não fala, encanta. Ela não respira, sussurra. Ela não precisa dizer nada pra ser entendida e desejada, mesmo distante, o mar e o vento trazem sua essência até nós; pobres homens mortais, carentes de alguém que não veio do mar, veio antes disso do céu, pois como descendente de deusas será sempre uma deusa, filha de Gáia a deusa da vida, e que por conformidade, nesse momento, estou ouvindo sua voz trazida até mim pelo vento.