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AUTOR: DAVID DA COSTA COELHO
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Veruska nasceu na Rússia, mas não quando a nação passou a ter esse nome, e sim milhares de anos atrás, ainda na época do império romano e chinês. Seu povo vivia nas estepes roubando caravanas que comerciavam com vários reinos, e seu pai era um dos homens mais poderosos das estepes. Embora fosse tradição em sua tribo arranjar o casamento dos filhos e filhas com povos aliados e aumentar o poder dos clãs, impedindo conflitos, com sua filha ele não pode fazer isso porque ela foi escolhida desde o nascimento em um eclipse da lua para ser uma Xamã, mal sabiam eles que o nascimento entre o sol e a lua lhe daria uma vida que eles jamais imaginariam possível de tão longa e infinita.
Ela foi entregue a bruxa kaiuska assim que completou 10 invernos para aprender as artes magicas. Cabia à menina dar sequencia a um conhecimento que passava de geração em geração a poucos e escolhidos de varias famílias da tribo, assim como ela, mais 10 moças do acampamento eram agora as aprendizas da feiticeira. Embora o corpo da anciã aparentasse força e jovialidade, a xamã possuía mais de 200 anos, e se tivesse aceitado o pacto com os deuses das estepes negras, viveria para sempre. Mas o preço que cobraram dela, devido sua boa índole feminina, e querer realmente ajudar seus semelhantes a colocaram em oposição ao que se tornaria caso decidisse viver para sempre, mas eles não desistiram e aguardaram o momento de novo pacto, afinal os humanos não são imortais...
Veruska assimilou todo conhecimento que sua mentora possuía com muito mais afinco e rapidez que as outras aprendizas. Na ordem da qual a bruxa era detentora do conhecimento da vida e da morte, uma das adolescentes deveria ser a herdeira e mestra suprema, e as demais ficariam como auxiliares dela porque ao se tornar a escolhida, deveria viver em isolamento e celibato, sendo consultada apenas pelas auxiliares que fariam o intercambio entre os pedidos de seu povo e o que ela poderia conceder com auxilio dos deuses.
Em uma noite de lua cheia ela foi levada as artes milenares de seu povo: carneiros, cabras e outros animais menores foram degolados para encher uma tina de sangue ainda quente onde ela devia se banhar para assimilar a força vital deles e seu elo com a natureza animal dos seres vivos. Depois um banho com ervas sagradas lhe davam a sabedoria do conhecimento medicinal do plano vegetal, onde os líquidos também se embrenhariam nos poros, fazendo-a a bruxa suprema dos dois reinos.
Ao deixar sua futura bruxa meditando extenuada em sua tenda de pedras aquecidas, kaiuska lhe avisou que havia o ultimo desafio, ser tentada pelo poder eterno e imortalidade dos seres malignos, se ela os aceitasse jamais seria a escolhida, e sim um demônio sem paz e serenidade, um ser vivendo na eternidade e se alimentando de quem ela deveria cuidar. Como já havia passado pelo teste, e as cicatrizes em seu corpo mostravam isso, não cabia à bruxa ensinar sua aluna como resistir aos desígnios da vida, era uma luta entre o espirito eterno e a carne mortal que vestia sua alma. A tentação era natural aos deuses em relação aos humanos, mas cabia a uma escolhida superar os presentes malignos deles, viver em retidão e passar seu dom a próxima escolhida, como era feito há milhares de anos.
Na solidão de seu abrigo, suando pelo calor do local fechado a mais de 40 graus com pedras aquecidas ela delira. Sua alma corre pela pradaria com o espirito do lobo sacrificado para encher com sua vida o sangue na qual ela se banhou, e como tal ela abate mentalmente uma presa do lobo e devora não sua carne e sim a energia vital. Depois ele a liberta e ela agora ela flutua como uma folha ao vento ao voar sobre as planícies. Enquanto sua alma faz a jornada carregada de vida e pronta para o que tem que superar, mas um ser mais antigo que o próprio homem invade a mente da menina. Ele morde seu pescoço, crava os dentes mentais em suas coxas, e embora esteja ali sozinha ela sintomatiza as feridas. O ser nada lhe fala, apenas mergulha a menina em seu futuro e lhe mostra os homens e mulheres de sua aldeia tendo filhos, envelhecendo e morrendo, e ela sofrendo a cada morte.
Por ultimo lhe mostra seu destino como bruxa: solidão, tristeza, conhecimento eterno de toda vida na terra e não ter com quem compartilhar até morrer seca, virgem e sem filhos, velha aos 250 anos de idade numa existência onde só serviu a todos, mas jamais viveu. Seu corpo cremado na pradaria, e suas cinzas dispersas ao vento até caírem ao solo, alimentando plantas, animais e homens...
As mordidas do ser energético se intensificam na sua carne profundamente à medida que ela renega esse destino. O calor de sua tenda não mais existe, apenas um frio glacial e uma fome que ela jamais sentiu, o desejo por alimentos e tão grande que ela adormece e desperta um dia após; mas para sua surpresa não esta mais em sua tenda e sim em sua aldeia cercada de mortos, todos os membros de sua tribo estão espalhados, homens, mulheres, crianças, bebês recém nascidos, suas colegas aprendizas e a própria kaiuska degolada. Os pescoços estão rasgados e o sangue infesta o local, mas os carniceiros estranhamente não se aproximam. Ela se pergunta o que teria sido aquilo que destruiu seu povo e família, mas também não sente nenhuma dor por velos mortos. De alguma forma sabe que não estão. Em seu interior os sente vivos.
Em sua mente ouve a voz de sua mentorakaiuska:
- você falhou menina, sua alma foi fraca a ponto de você desconhecer sua própria essência e se entregar ao mal que lhe tentou. Não procure os culpados por esse massacre, basta olhar seu reflexo na agua e saberá que foi você, enquanto seu corpo era possuído pelo demônio sanguíneo que lhe tentou. Graças a isso você ganhou o dom dele, viver à custa de outros que um dia foi sua raça. Há outros como você na terra, mas há também os que lhes caçam. Aproveite sua vida porque um dia será morta da forma mais cruel do que a que impôs aos seus semelhantes, pois para um imortal, a verdadeira morte esta em morrer em vida.
Estranhamente as palavras da antiga mestra não tiveram nenhum efeito sobre Veruska, não era mais humana, e o fato de ver o que teria se tornado a fizeram na verdade jamais querer ser dessa espécie inferior. Compreendia agora o mundo a sua volta com mais entendimento e conhecimento que a própria xamã. A vida era apenas energia em movimento, e nela os corpos eram apenas involocros para que a vida seguisse sem caminho. Não havia mais espaço para sentimentos nessa jornada, ela era agora uma filha dos deuses, e os humanos seu prazer e alimento.
Milhares de anos depois ela esta tomando sol em Ibiza, um lugar paradisíaco, onde ela saboreava o sangue de humanos vindos de várias partes do mundo. Ao contrario do que o idiota do Bram Stoker e outros autores que escreveram sobre vampiros, eles não tinham nenhum ponto fraco, e nem aversão à luz. Ao contrario, podiam ficar muitos anos sem beber sangue humano porque o sol lhes era também fonte de vida e poder. Já o sangue que absorviam não só os mantinham felizes e saudáveis como lhes dava o conhecimento de tudo que sua vitima sabia.
Apesar de relegar os humanos e de vez em quando se entregar ao convívio com outros vampiros, se permitiu os prazeres do sexo com milhares de homens e mulheres nesses incontáveis séculos, mas nunca os deixou envelhecer e morrer, todos estavam dentro dela. Após 3 anos com cada um deles, ela os sugava até a morte. Depois incinerava os corpos e devolvia as cinzas ao mar. Aprendeu ao longo dos anos que havia também muita energia nesse prazer. E naquele momento ela viu algo que ascendeu esse fogo apagado já há cinco anos, um linda mulher chamada Vera estava ali na praia com seu marido. Ela podia ler a mente de qualquer pessoa, e também dominá-las só com a mente.
Os dois caminharam até a vampira, e daquele dia em diante teriam um longo e intenso relacionamento, ela os alimentaria com seu sangue e eles seriam seus escravos e amores sexuais até o dia de escolher outro brinquedo, afinal de que vale o poder se não há com quem exercer e viver?