Por David da Costa Coelho
Quando se fala no problema da água no mundo, pensamos primeiro em países do Oriente Médio, África, ou nos que estão cortados por imensos desertos na Ásia, mas que surpresa, a coisa esta preta aqui mesmo, e o nome dado deviria se chamar canalhice, pilantragem, desgoverno e privataria; mas vamos à tese...
O Brasil possui os dois maiores aquíferos do planeta, o primeiro é o Aquífero [1]Alter do Chão, o maior do mundo, localizado nos estados do Amapá e Amazonas, ou seja; totalmente brasileiro. O segundo é o [2]Aquífero Guarani, que corta o Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso, e que divide também com partes dos territórios do Uruguai, Argentina, Paraguai. Contudo, mais de 70% deste segundo e imenso reservatório esta a disposição dos brasileiros, num cenário mundial de escassez hídrica, tornando as nações detentoras destes recursos estratégicos, mais importantes do que as possuidoras de reservas petrolíferas, mas no caso do Brasil, somos privilegiados porque as riquezas hídricas e de hidrocarbonetos abundam em nosso território.
No entanto, a excessiva riqueza hídrica do País não é tratada com a mesma seriedade que ocorre com as nossas reservas petrolíferas, ao contrário, esses recursos mais valiosos que petróleo, e que em muitos locais do mundo já provocam conflitos, e em breve guerras entre nações, segundo a ONU; aqui basicamente a água é desperdiçada, poluída, tratada com descaso pelas autoridades, privatizada para grupos locais ou explorada por empresas internacionais, sem nada contribuir para o benefício da nação e de seus cidadãos, os verdadeiros donos da água.
Entretanto, diante dessas questões e descobertas desses imensos volumes do precioso líquido em nosso território, e de políticas públicas que se tornaram visíveis pelos conflitos que envolvem esses recursos, a importância deles ganhou destaque no nosso País com a transposição polêmica do Rio São Francisco, a questão da seca do Sistema Cantareira; a poluição do aquífero Guarani, e a disputa entre os governos estaduais de São Paulo e do Rio de Janeiro em torno da transposição de águas da Bacia do Rio Paraíba do Sul para reabastecer o Sistema Cantareira, que secou mais por privataria e descaso das autoridades paulistas do que por questões climáticas.
Se levarmos em conta a questão da seca, dada por desculpa por autoridades paulistas, países do oriente médio não poderiam sobreviver porque recursos hídricos lá são tratados a peso de ouro, e eles fazem a lição de casa para abastecer a população. Aqui, no entanto, além da cultura do descaso e desperdício, a água se perde em vazamentos de adutoras – em média de 30 a 40% da água vaza em instalações velhas e sucateadas - poluídas por despejos residenciais e industriais, e principalmente por descaso das autoridades que não previnem com a construção de novos reservatórios para a época de cheias, não reflorestam a mata ciliar no entorno de rios e nascentes, e não impedem seu contínuo desmatamento e construções irregulares nestas áreas que deveriam ser sagradas; não despoluem e limpam os rios, fazendo os mesmos perderem ao longo de décadas seu potencial natural; questões essas muito abordadas na transposição do Rio São Francisco.
Já a tão falada e questionada transposição deste rio era um projeto bem mais antigo, um desejo de Dom Pedro II, no entanto, para a época, tecnologia e politica dos coronéis do nordeste, era apenas um sonho inviável, contudo, a ferro e fogo, o ex-presidente Lula, conseguiu levar a cabo a obra mais polêmica de seu governo porque ia de encontro a interesses de poderosos que viviam e se elegiam através da indústria da seca e do voto de cabresto através do caminhão pipa.
Neste contexto se insere também a crítica ao projeto porque serviria apenas para ajudar gente muito rica a ficar ainda mais rica como a fruticultura irrigada, e levar água para indústrias específicas que se instalariam no entorno dos canais. Agregou-se a isso a tese de que o rio, como a maioria dos que cortam todo o Brasil, estava poluído, assoreado e que não poderia ceder tal montante de água porque definhava a passos largos e estava cada dia mais raso devido assoreamento, causado é claro pela destruição da mata ciliar...
Diante desta informação, a mídia caiu de pau no governo, os políticos opositores usaram suas tevês e rádios comunitárias para lutarem no campo mais ideológico, convencendo a população e religiosos que aquilo era um crime ecológico em benefício de uns poucos abastados. O caso do o bispo da cidade da Barra, na Bahia, Dom Frei Luiz Flávio Cappio; que ficou famoso por greve de fome contra o projeto é só mais um capitulo nesta história. O presidente Lula, no entanto, com seu jeito maroto de postergar politicamente, e depois enfiar a faca nos opositores, não se intimidou e deu sequência a sua maior realização em 8 anos de governo, e que ficará para história de todo cidadão que viveu e sofreu a seca e tinha que se humilhar pedindo água a político corrupto...
Evidente que parte das críticas sobre a destruição do rio foram contempladas com projetos de limpeza, recomposição da mata ciliar, construção de açudes e do maior programa mundial de entrega de caixas d’água e construção de cisternas para os nordestinos, o que feriu de morte aqueles políticos nefastos que viviam da indústria do caminhão pipa. A presidente Dilma Rousseff, herdeira política de Lula, afirmou que a conclusão das obras de transposição do rio São Francisco deve acontecer em 2015, e como ela foi reeleita, e Lula é seu padrinho político... Aposto que no dia derradeiro, ambos estarão lá para discursar para o povo beneficiado pelo projeto do século XIX, já que as coisas no Brasil levam em geral um século para ocorrer, se for para ajudar pobres, agora se for para ajudar rico a ficar mais rico, bom, aí é no dia seguinte...
Como exemplo, temos a disputa pela água entre São Paulo e Rio de Janeiro, pela a Bacia do Rio Paraíba do Sul, e ao contrário da transposição do São Francisco, que beneficiara mais de 12 milhões de pessoas, tendia a se arrastar por brigas jurídicas, politicas e empresariais porque São Paulo concentra o maior parque industrial do Brasil, gastando em média de 20 a 30% de água para compor sua produção; e sem água do Cantareira, renovado com as aguas do Rio Paraíba do Sul, caso não se chegasse a um acordo entre os estados e a união, as férias coletivas, as demissões em massa, bem como a queda de receita e produção era um cenário tão certo como o nascer do sol, daí um acordo foi feito, e quem pagará a conta serão os cariocas no futuro próximo se nossos governantes não se prevenirem...
Mas transpor não ajudará o Rio de janeiro, ao contrário, a tendência é que o mesmo ocorra aqui, por isso o litígio entre os estados e o posterior acordo maléfico ao RJ. Lembrando que a culpa é e sempre foi dos políticos paulistas e seu modelo neoliberal de privatizar os lucros e socializar os prejuízos com a população. Mas fazer o que? O paulista que vota a vida toda na direita nefasta, que privatiza tudo para eles mesmos, instaura um pedágio em cada esquina, e privatiza uma das maiores companhias de água do mundo, e depois toma banho de baldinho, esta feliz cada dia mais feliz com seus governantes, portanto, que continuem votando neles porque faz bem pra pele...
Como sempre, neste modelo de gestão [3]politica – neoliberalismo - a parte mais afetada é a população pobre, pois o rodizio já vem sendo feito há bom tempo em bairros de periferia, já nos bairros nobres e de classe alta, a tendência é manter o fornecimento com algum contratempo de poucas horas. Mas como se conseguiu essa proeza com o sistema Cantareira?
Há inúmeros fatores, mas em geral podemos elencar o aumento da população sobre as áreas de mananciais, e de empresas no entorno que se servem da água para produção e venda de seus produtos, demandando cada vez mais água. O segundo é o desperdício e a não revitalização do rio, o combate à poluição e destruição das matas ciliares, e um modelo de gestão que obrigue empresas a tratar parte da água utilizada, como já ocorre em muitos lugares do País. Quanto aos condomínios, devem captar agua da chuva para reuso em diversos segmentos específicos. Sobram leis ambientais para isso, bastando bons políticos e apoio midiático honesto, tipo daquela mídia que os governadores corruptos não compram para falarem bem dele, e não das suas canalhices no governo. Mas como isso é meio utópico, nos restam apenas os blogs sujos, onde a real informação estará lá gratuitamente a quem deseja realmente saber o porquê, quando e onde ocorreu tal coisa.
Aqui no rio nos temos um deputado estadual do [4]PT, é um exemplo de um político voltado as leis ambientais, embora eu seja filiado ao PMDB, meu voto nele em todas as eleições se dá porque eu sou um ambientalista por amor e vocação, e neste eu sei que sou bem representado no que acredito e divulgo, e nós precisamos sim escolher políticos ambientalistas porque sem o verde, as águas, e demais ensejos ambientais, o que vemos são os maus políticos fazendo canalhices e jogando a conta nas pessoas pobres...
Concluindo, o Brasil não tem problema de água e sim do que fazer corretamente com a que jorra por inúmeras partes do seu território, seja de rios, aquíferos e nascentes de montanhas, ou da própria chuva, ao contrário de diversas nações do globo, onde a agua nestes casos e ouro líquido. Para resolver esse problema, somo obrigados a tocar na velha tecla, educação; seja ela biológica, ambiental, histórica, geográfica e política.
Pessoas educadas não são enganadas por políticos, pois se informam e cobram deles. Também são conscientes de suas obrigações sociais e ambientais, com soluções e novas ideias na gestão da coisa pública. Em se tratando de meio ambiente, não estamos mais no século XIX ou XX, quando a natureza era tratada como um depósito sem fim a ser explorado. Ela tem seus limites, o homem não, e se não existir pessoas esclarecidas e educadas, as guerras que a ONU prevê pela agua no mundo, em breve teremos parte dela em pequena escala no nosso território...
[1] O Aquífero Alter do Chão futuramente a ser chamado de Aquífero Grande Amazônia é uma reserva de água subterrânea localizada sob os estados do Pará, Amapá e Amazonas. Abastece a totalidade de Santarém e quase a totalidade de Manaus através de poços profundos. Dados iniciais revelam que sua área é de 437,5 mil km² com espessura de 545 metros. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará e da Universidade Federal do Ceará desenvolveram estudos que podem revelar que o aquífero pode ser maior que o calculado inicialmente, passando inclusive a ser maior que o Aquífero Guarani. Com 86 mil quilômetros cúbicos, o aquífero poderia ser suficiente para abastecer em aproximadamente 100 vezes a população mundial.
[2] Aquífero Guarani foi o nome que, em 1996, o geólogo uruguaio Danilo Anton propôs para denominar um imenso aquífero que abrange partes dos territórios do Uruguai, Argentina, Paraguai e principalmente Brasil, ocupando 1 200 000 km². Na ocasião, ele chegou a ser considerado o maior do mundo, hoje considerado o segundo maior, capaz de abastecer a população brasileira durante 2 500 anos. A maior reserva atualmente conhecida é o Aquífero Alter do Chão com o dobro do volume do Aquífero Guarani.
[3] Lucro X Investimento
Para ele, a abertura das ações na Bolsa de Nova York é um dos principais motivos da falta de investimento na ampliação dos mananciais para o abastecimento de água da população de São Paulo. “Não investe porque só quer ter lucro para repassar aos acionistas. Estar na Bolsa de Nova York é sintomático. A Sabesp entrou na lógica do lucro, deixou de se preocupar com água e saneamento básico, para se preocupar com seus acionistas.” http://www.viomundo.com.br/denuncias/as-aguas-e-os-tucanos-sabesp-segue-sanepar-e-privilegia-acionistas-em-detrimento-dos-consumidores.html
[4] Esta é a 20ª Cartilha do Cumpra-se!
Desde o início, percebemos que muito mais difícil do que aprovar uma lei é fazer com que seja CUMPRIDA! Em nossos mandatos, aprovamos 148 leis, o recorde na história da Alerj, e nenhuma delas nome de rua ou títulos para autoridades. Todas ligadas ao Saneamento, Reciclagem, Saúde do Trabalhador, Passe-Livre, Combate à Homofobia, Educação Ambiental, Pescadores, Acupuntura, Segurança Pública, Proteção às Teste- munhas, Creches, Associação Livre de Estudantes, Direitos de Bombeiros e PMs, Direitos Humanos, Trabalho de Presos.
Começamos a Campanha do Cumpra-se! em 1990, para informar às pessoas os seus direitos e como fazer uma lei relevante ser RESPEITADA! Endereços, telefones, procedimentos, Ministério Público, Procon, Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, Comissões da Alerj, Mídia, Justiça – tudo o que um cidadão pode e deve fazer para que seus direitos sejam respeitados.
Nos últimos oito anos, estivemos parte do tempo na Alerj e aprovamos novas leis relevantes.
Fui por dois anos ministro do Meio Ambiente do presidente Lula. Preparamos leis e decretos que foram assinados por Lula ou aprovados pelo Congresso, entre os quais: Lei de Mudanças Climáticas, com o Brasil sendo o primeiro país em desenvolvimento a adotar metas de redução das emissões de carbono! Decreto que endurece ações contra crimes ambientais e viabilizou as operações Boi-Pirata que reduziram à metade o desmatamento na Amazônia entre 2008 e 2010. Decretos que criaram 15 parques e reservas extrativistas para seringueiros e pescadores, somando 6 milhões de hectares.
Durante quatro anos, estivemos à frente da SEA (Secretaria de Estado do Ambiente). Aprovamos leis, como a do ICMS Verde e a do Fundo da Mata Atlântica, e dezenas de decretos criando parques, reservas ou incentivando energia solar e eólica. O Rio de Janeiro passou do estado maior para o menor desmatador da Mata Atlântica. Passou do estado que tinha maior percentual de lixo em lixões (90% em 2006) para o que mais avançou na eliminação dos lixões, tendo, em 2014, 93% do total do lixo em aterros sanitários. Tudo isso você verá nesta Cartilha do Cumpra-se!
Fonte:
http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2014/03/13/tucanos-sabem-dos-riscos-no-cantareira-desde-2009/
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/03/1424659-estado-foi-alertado-em-2009-sobre-riscos-no-cantareira.shtml
http://gizmodo.uol.com.br/giz-explica-agua-sistema-cantareira/
http://acertodecontas.blog.br/wp-content/uploads/2007/11/cappio.thumbnail.jpg