AUTOR: DAVID DA COSTA COELHO
Durante milhares de anos homens e mulheres viveram papeis bem definido na sociedade. Os homens caçavam e davam segurança a família, e as mulheres ficavam em casa cuidando dos filhos e negociando com outras mulheres de seu companheiro seu lugar na hierarquia social. Em nações islâmicas onde a poligamia é um fato, existe ainda a figura da 1ª esposa, 2ª e por aí vai.
À medida que o homem foi desenvolvendo tecnologia e novas formas de relacionamento, agora negociar e comprar passou a ter uma importância maior do que a caça porque criamos rebanhos de animais para sustento, plantamos nosso alimento, e, portanto passamos a comprar o que precisávamos. E com dinheiro em excesso para alguns, muitas vezes compravam mais do que precisavam para marcar sua posição numa sociedade como ricos.
Milênios depois chegamos à era industrial e nunca produzimos tantos bens de consumo como atualmente, e para que eles cheguem a sua casa as empresas investiram rios de dinheiro em propaganda e marketing; e essas agências foram capacitar seus profissionais com terapeutas, psicólogos e psiquiatras comportamentais para ensinar como posicionar seus produtos nas lojas e gondolas, além de convencer seu cliente com a propaganda especifica de que ele precisava deste ou daquele produto para satisfazer seu ego e definir seu status social entre seus pares e classes inferiores, a propaganda é [1]dirigida a publico infantil, adolescentes, jovens e adultos, mas é na infância que eles cativarão os clientes do futuro...
Desta forma quando você vê uma mulher com uma bolsa e sapato caro você já sabe que ela é uma madame, assim como um carrão que custa mais do que uma casa popular define seu proprietário como alguém poderoso. Ou seja, comprar é antes de tudo uma imposição de quem tem poder financeiro e social.
Mas e quando a pessoa não tem controle do que faz e age motivada por um gatilho psicológico, um vício de ter, ainda que sem saber disso porque vem seguindo uma linha incentivada por comportamento ancestral e propaganda dirigida, e que se tornou uma patologia denominada compulsão por compra, ou transtorno de compra?
De acordo com os termos técnicos, esses ciclos seguem com ansiedade antes da compra, algo que ela viu e gostou muito, não importando se já tenha centenas em casa, como a mulher que tem mais de 100 sapatos, mas precisa de outro...
O prazer de experimentar e vestir-se podem ser similares ao do caçador que abateu uma grande presa para levar para a sua família faminta na caverna, e da mulher que viu seu esposo chegar com alimento farto para a família, além do couro para fazer sapatos e roupas que ela trocara com outras mulheres de seu grupo.
O pagamento da troca e da alimentação é a satisfação de sobreviver em equipe, mas hoje, milênios depois quando já temos tudo, o que resta é o arrependimento de mais uma compra de algo que era lindo, mas que em realidade não precisamos, foi apenas uma compulsão; assim como a do cleptomaníaco que precisa pegar aquilo que esta na casa de um amigo, ou numa loja cara, ainda que cercada de câmeras e que o porão na cadeia se não aparecer um psicólogo e psiquiatra afirmando que a pessoa é doente e deve ser internada para tratamento.
Não se prendem pessoas com essa compulsão por compras porque ela gasta seus recursos se for rica ou tiver um excelente emprego para viver gastando rios de dinheiro em cartões de credito, ou se for pobre e dever tudo que tem e até de amigos que compram para ela pagar depois.
Na compulsão por compra a pessoa simplesmente olha o produto como se ele fosse uma caça ancestral, abate, e consome com um prazer intenso da posse de ter para si, mas na verdade é só isso porque de fato ela não quer aquilo, foi só mais uma compra...
Muitas nem usarão a peça adquirida, e a que usar, quando muitas serão umas três vezes e depois virá o desejo de mais e mais, tornado irrelevante coisas compradas no passado. Comprar é na realidade caçar aquilo que lhe dá prazer. Mas como se cura alguém disso? E a pessoa em si quer ser curada?
Há diversos tipos de terapia hoje em dia com uma gama de psiquiatras, psicólogos e terapeutas. No [2]meu caso, em todo tipo de pessoa e patologia que apareceu para mim, ao longo desses anos, e já curei pessoas com essa patologia, a solução é e sempre será [3]terapia de confronto.
O paciente em si precisa entender que tem um problema, e que este esta destruindo sua vida na medida em que ele não se controla em suas compulsões. Não só isso, esta afetando seus relacionamentos com seus amigos e familiares no sentido do quanto é danoso tais atos.
Não se esta dizendo aqui que devemos deixar de ser humanos, pois tudo que o homem criou foi para que incentivasse a parte oposta sexual a nos notar. Assim se um homem toma banho e anda limpo e cheiroso não é para atrair outros homens, exceto se for gay, e sim para dar as mulheres à noção de que ele é o cara e esta disponível.
Mulheres se maquiam, compram perfumes, roupas e sapatos para se sentirem bem, fazer inveja as invejosas que não são de seu grupo, mas também para serem desejadas e cobiçadas por homens, ou outras mulheres se for também de seu interesse sexual.
Desta forma, o que se pretende na terapia é fazer a pessoa confrontar suas aquisições, perguntar a história de cada item adquirido, falar sobre tudo que envolveu cada peça, não permitindo respostas evasivas de comprei porque gostei, achei legal e tantas outras...
O cliente precisa realmente falar, expor suas entranhas e colocar seu coração naquilo que se pretende. Feito isso, entrando em seus profundos e escondidos desejos, no caso aqui a compra compulsiva, e nesse sentido, muitas vezes aflora o choro e o sentimento de culpa devido descontrole de sua vida e atos seus ou criticas de amigos e familiares.
Nessa hora o terapeuta deve realmente ser bom porque é o momento mais frágil da pessoa em tratamento, e ela precisa entender que esta realmente ao lado de uma pessoa capacitada, humana e que pode sim lhe ajudar...
Em alguns casos o terapeuta até chora com seu cliente - dependendo da linha que ele siga - eu já passei por essa experiência varias vezes e me fez melhor porque assim como comer sozinho é ruim, ver alguém fragilizado e chorando só, machuca muito, afinal terapeuta também é humano, mas às vezes também um grande ator...
Depois de várias semanas de tratamento, lembrando que terapeuta, diferente do psicólogo, trabalha com horário ao gosto e tempo do cliente, e logo se percebe um progresso, semelhante ao nascimento de uma criança que deixa de ser um bebê e logo se torna um jovem e depois adulto.
Mas há sempre alguns mais resistentes e que recaem nos seus atos antigos, e nessa hora não é a de bater pesado e explicar de forma terna que nem sempre a mudança é instantânea, leva tempo, mas com novas abordagens técnicas e inserções no processo de culpa, logo o cliente retoma sua vida pós-terapia.
Mas há sempre um final feliz, e esse é o ato da libertação. Para os indianos e ciganos, queimar o corpo do morto liberta a família de uma casca que não tem mais a alma dele, que partiu para a próxima reencarnação. Seguimos o mesmo processo no sentido dos bens adquiridos.
O cliente deve ser convencido a escolher entre seus mil penduricalhos aquilo que deve doar, por em brechó, ou queimar para se libertar de vez.
Num segundo momento pagar tudo que deve, mesmo que não precise agora, pagar é de longe outra libertação porque nada lhe cobra e prende. E no final ir a lojas onde comprava, e observar o que gosta e pulsa de desejo de compra, mas apenas olhar, ou seja; confrontar suas vontades, desejos obscuros, mas estar livre deles.
Quando for capaz disso aí sim estará livre, podendo ser normal, comprando porque todos nós podemos nos dar presentes, mas jamais deixar que os mesmos se imponham a nós porque não somos robôs do passado, e nem vitimas de propagandas de marqueteiros e psicólogos e psiquiatras de compras que ensinam como dominar os clientes certos...
[1] Resumo e análise do documentário: Criança, a alma do negócio: O documentário trata da forma como a mídia atualmente interfere no desenvolvimento da criança. De forma apelativa, grandes partes das propagandas são voltadas para o publico infantil, com finalidade de incentivar não só o consumismo infantil, como o adulto também. Infelizmente, as grandes empresas que investem neste tipo de propaganda estão exclusivamente preocupadas com os lucros que ela vai render, e em momento nenhum se preocupam com a qualidade de vida daquele que assiste as propagandas.
Através de algumas pesquisas, e através do próprio convívio com as crianças é possível notar, que desde pequenas elas são induzidas a serem consumistas. Observando alguns exemplos do documentário, é possível notar que alguns valores estão se perdendo, e as crianças se preocupam muito mais com o que tem, do que com o que são. Grande parte delas gosta mais de fazer compras, do que brincar.
Percebe-se então que a infância aos poucos vai sendo deixada de lado, e as crianças cada vez mais precocemente, vão iniciando a vida adulta. Já é possível encontrar crianças com comportamento e vestuário de adultos. Crianças pequenas já frequentam salão de beleza e usam salto alto. O uso de maquiagens também é frequente inclusive nas meninas dos primeiros anos escolares. Muitos deles já possuem celulares, e passam mais tempo vendo televisão e frequentando shoppings do que brincando. Analu Ferreira de Lara (Estudante do terceiro ano de Pedagogia - UNESP - Campus Bauru)
[2] Quem sou eu? Alguém que nasceu numa época, mas com a mente voltada para outras. Sou Professor de História, Terapeuta Reencarnacionista, e escritor... Assim posso viver mais vidas do que apenas a que possuo. Em um dos meus livros de ficção científica isso um dia será comum a todos nós.
[3] Tipo de terapia que visa o enfrentamento do problema, e por mais doloroso que seja só lutando contra o que lhe fere e machuca você será capaz de entender que aquilo ficou no passado e não pode mais moldar sua vida, e a partir do momento que você decidiu para si que aquilo não lhe serve mais, e que você, somente você tem o direito de escolher como pode e vai ser feliz e pleno...