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POR DAVID DA COSTA COELHO
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Marcus vivia há 10 mil anos, era um dos vampiros mais velhos da terra, mas sabia muito pouco de sua espécie e nunca soube como se tornara um. Acordou numa noite com muita fome, em plena pradaria, sem saber como havia chegado ali. Por um momento esqueceu que estava faminto e olhou ao seu redor, reconhecendo o local de uma caçada a mamutes dias atrás. Só não se recordava de ter voltado para a aldeia onde estava sua família, um medo aterrador do que poderia ter lhes ocorrido o fez correr para lá, chegando há segundos sem perceber isso. E seu temor era real, todos mortos há dias, os ossos limpos por vermes e carniceiros. As ossadas dos mamutes tinham agora a companhia de todos os homens, mulheres e crianças de sua tribo. Ao longe ele percebe um dos corpos dos anciões do grupo que vivia em reclusão por ser um Xaman sendo devorado vivo por chacais.
A cena forte fez sua alma arder em vingança, pegou uma lança e atirou no animal, a força foi tanta que passou de um lado a outro e penetrou fundo na terra. A fúria se torna mais insana, e um a um ele destroça os outros animais com uma velocidade estonteante, sem noção alguma disso. Aproxima-se do idoso que estava com as pernas ensanguentadas das mordidas e lacerações, mas quando ia perguntar ao velho o que ocorrera ali e como ele tinha sobrevivido, a visão e o odor do sangue se apossam de sua nova vida e ele o suga até a última gota, e com o sangue a memoria de todo conhecimento do Xaman, exceto o que ocorreu porque ele não estava ali e sim em reclusão mediúnica.
A fome intensa ganha apenas um alivio imediato, mas o alimento faz seu primeiro efeito. Ele podia sentir, ouvir, farejar e ver como nenhum outro ser vivo da terra era capaz, exceto os vampiros. Seus olhos percebem a noite como se fosse dia, pois ele agora fazia parte de uma cadeia de vida além da morte, já que era imune a ela. Esse foi um dom que ele ganhou não de um vampiro adulto e sim de uma menina, seu nome era Rubia, uma linda criança aparentando oito anos de idade, de tão linda, poderia ser modelo fotográfico de comerciais para roupas infantis ou brinquedos, mas teria que esperar milhares de anos até o capitalismo surgir. Ela o criou apenas por um capricho, pois era ignorada pelos membros adultos de sua espécie, nunca conheceu nenhum vampiro de sua idade. Quando transformou Marcus não queria um amigo ou pai e sim alguém para lhe proteger dos demais membros de sua raça, alguns não gostavam dela e achavam - na uma aberração antinatural; na hierarquia dos vampiros, não se transformavam crianças, só adultos, e Marcus era realmente seu único filho porque nunca mais criou outro...
Depois de massacrar a todos da aldeia, ela não tinha mais fome, então encontrou outros caçadores, Marcus era um deles na pradaria em busca de caça, só não sabia que agora ele se tornara uma... Ela sugou todos até a morte apenas por gula, e escolheu Marcus como protetor, lhe deu seu sangue para que a vida eterna voltasse a seu corpo; e assim caso necessitasse dele era só invoca-lo que ele ali estaria. Como sua criadora, ele lhe devia obediência eterna, mesmo jamais sabendo quem ela era, bastava chamar mentalmente e ele estaria próximo em um instante porque estaria de forma inconsciente nas imediações onde sua genitora estivesse, e de novo, sem noção alguma de que não tinha sua liberdade, era um escravo em todos os sentidos.
No entanto, ao passo de Rubia ser uma criança, podia sentir tudo que seu filho vivenciara, mesmo sendo criança eternamente, ela sentiu através dele os prazeres do sexo, as dores da solidão eterna e a perda dos seres que morriam, enquanto ele permanecia; O medo de ser só, vazio e não ter sentido em viver, as dores de se apegar a humanos e os ver envelhecer e morrer, como as folhas secas ao vento. Por inúmeras vezes pensou em matá-lo devido a esta ligação mental e de alma que a torturava, mas ao longo dos séculos após cria-lo, ela compreendeu melhor seus dons e aprendeu a isolar pensamentos e desejos de seu filho com os quais não concordava. Como ela não sabia quem a criou séculos antes, não via motivos para deixar seu filho também saber de si.
Após Marcus matar o velho, o cheiro da morte entra por suas narinas e o faz querer chorar, mas lagrimas não saem, e aos poucos ele entende que seus familiares estão além de seus sentimentos, e que a morte de seres humanos se tornou sua verdadeira fonte de vida. Procurando pela aldeia ele encontra os ossos de sua filhinha, Narrini, o colar de ossos que lhe fez foi o que levou a reconhecer e se perguntar como alguém tão infantil pode morrer sem ter sequer vivido? Em prantos sem lagrimas, ele deixa a aldeia, e o corpo morto do velho aos carniceiros. Caminha pela relva em direção ao horizonte, segue sem pensar em comer ou beber, algo o impulsiona em direção ao sul, onde havia um rio e dali para o mar. Durante dias e noites ele anda, não há fome ou sede só o caminhar em direção à luz das estrelas e do sol nascendo e se pondo. Até que finalmente ele encontra pessoas, muitos homens mulheres e crianças, uma grande tribo, falando uma língua que ele não entende, eles não o viam como um homem e sim como um estranho. Palavras duras são ditas e ele é cercado pelos aldeões, ele ergue as mãos num gesto de paz abandonando a lança que trazia e se entrega, esta cansado da solidão e talvez pudesse ser aceito pela tribo, afinal um homem a mais nas caçadas garantia a sobrevivência.
É levado para o centro da aldeia e de repente todos o estão adorando de joelhos, em suas mentes dominadas por Marcus de forma incosnciente, ele é visto como uma divindade, pois como vampiro ele tinha o dom da Psicomorfose, podia fazer as pessoas imaginarem o que quisessem, e uma delas foi entender que ele era um deus e precisava de alimento. Um sacrifício de uma jovem era requisitado, ela de bom grado e fé em sua deidade viva foi até o local onde ele estava e deu-lhe o pescoço, no segundo seguinte o sangue virginal da menina inundava seu corpo de energia vital e prazer. Mas a fome não bastou, ao contrário, tornou se imensa, e mais mulheres e crianças se entregaram ao deus vampiro. Ao beber ele se alimentava e ao mesmo tempo fazia isso de forma psíquica para Rubia, ele não era apenas seu protetor, em alguns casos a amamentava com energia vital e psíquica das vitimas que fazia, por isso muitas vezes continuava com fome após se banquetear.
Um a um, todas as pessoas da tribo deram suas vidas de forma pacata e tranquila a seu devorador, não havia medo e fuga, apenas sorriso de prazer ao se entregar de corpo e alma a um deus. Ao contrario de outros vampiros que amavam impor medo em suas vitimas e beber um sangue cheio de adrenalina, ele preferia o sabor delicado do sangue feliz e espiritual. Essa foi uma das coisas que encantou sua genitora, a alma de criança que ela possuía lhe contaminou no ato da criação, e ao longo das eras ela gostava mais de receber alimento via Marcos do que sair por aí rasgando corpos para sugar vida. No entanto, não raro ela se entregará a essa sina, afinal vampiros vivem de morte, e matar ou morrer faz parte da natureza de quem deseja se mantiver vivo.
Ao longo dos milênios Marcus rodou o mundo seguindo ao longe os passos de sua mentora, conheceu vampiros, viveu e caçou com eles, massacrou povos inteiros, amou muitos com a fome sexual inerente a sua vontade de sangue, muitas vezes sem saber chegava a locais onde vampiros tinham estado; achando locais de massacre com cabeças jogadas para todos os lados. Alguns vampiros gostavam de arrancar a cabeça de suas vitimas e sugar o sangue direto do pescoço sem cabeça. Ele, no entanto desgostava desta prática, característica de animais selvagens. Ao longo das eras ouviu relatos de uma vampira criança e desejou de forma inconsciente conhecer quem criará tal abominação e se encontrasse ela, com certeza a mataria como favor a ela. Embora ele fosse vampiro, achava que não deveriam mais existir outros, muito menos um com o corpo de uma criança, portanto jamais criou um vampiro.
Em um determinado dia de dezembro de 2012 ele estava em uma cobertura em Londres, pois o dono dominado pela mente do vampiro o via como seu mestre e mentor, assim sendo tudo que ele possuía estava a disposição de Marcus. Nas noticias locais havia a de um massacre como não se via há décadas na Inglaterra, uma família inteira havia sido morta de forma macabra, todos com as cabeças arrancadas. Os vampiros aprenderam que não deviam deixar pescoços rasgados e furados com presas, isso poderia levar a descobri-los, portanto deveriam pensar que era coisa de assassinos em série. Ao anoitecer ele caminha pela cidade e esta feliz por seu uma daquelas noites londrinas em que a nevoa encobre tudo e só vampiros podem ver o que olhos humanos jamais poderão. Então algo rasga a sua mente, um pedido de socorro maior que sua vontade, três vampiros quase tão velhos quanto ele estão atacando uma menina, e ela finalmente perde a consciência ao ser arremessada contra uma parede. Embora mais velha que todos os presentes, a sua força é proporcional a seu tamanho, se fosse apenas dois ela os derrotaria, mas em três foi impossível.
Possuído pelo espirito dela com genitora, ele parte para cima deles e os mata arrancando suas cabeças, logo em seguida ele ergue os corpos e suga o sangue de cada um. E uma sensação que ele só experimentou uma vez ao se tornar vampiro retorna com força suprema, ele viveu em sua mente a existência de cada um daqueles seres, sabe quem os criou e que agora pode ser caçado por eles em vingança. Mas ele não é mais um simples vampiro de 10 mil anos, o sangue daqueles corpos lhe deu muito mais poderes do que qualquer um de sua espécie jamais teria. Beber sangue de vampiro era melhor, mais doce e saboroso do que o de milhares de humanos. Sem que ele perceba, Rubia esta de novo acordada e mais forte que qualquer vampiro na terra, afinal ele sempre alimentava a mãe ao beber sangue...
Aproxima-se dele e lhe olha nos olhos, de repente ele descobre quem ela é, as palavras em sua mente só confirmam isso.
- obrigado meu filho, sua força e vontade me salvou, e foi para isso que lhe criei e protegi. Matar vampiros não é permitido entre nossa espécie, muito menos nos alimentarmos de nossa própria gente, portanto você deve esquecer esse momento, e para que não o rastreiem e tentem matar devido o sangue deles em seu corpo, cada gota deve sair dele para o meu...
Sem que o vampiro pudesse dizer ou fazer algo contra, ele oferece calmamente seu pescoço a matriarca, ela suga todo o sangue dele a ponto de deixar o mesmo mumificado. Leva o até a África e deixa em uma caverna que mantem há milhares de anos. Acorda-o algumas vezes para se alimentar de crianças que trás até que ele recupere completamente seu poder de vampiro, poucos dias após ela o leva de novo a Londres onde ele retorna a sua rotina na cobertura de sua vitima. Não há uma lembrança de Rúbia e daqueles dias fatídicos, e nem nada que o ligue aos que matou, ela era sua genitora, portanto podia apagar nele as lembranças que não queria. A de que era sua mãe foi apenas uma delas. E após aquele dia não havia mais nele a sensação de ser órfão, e sim de que um dia viu algo especial e fraterno, mas que não podia carregar com ele.
Rúbia estava na África quando os vampiros partiram para cima dela para vingar a morte de suas crias. Mas ela agora não era só uma das vampiras mais velhas do mundo, era também mais forte do que 50 deles, e após arrancar as cabeças de seus inimigos que não aceitavam uma vampira criança, bebeu-lhes o sangue e conheceu os milhares de anos de vida que tiveram, ela estava ganhando força em progressão geométrica e a caminho de se tornar a vampira suprema, mas outra mudança começou a ocorrer, ela deixou de ser uma menina, havia se tornado uma adolescente, de alguma forma, alimentar-se de vampiros a envelhecia. Assim sabia agora a fórmula para ser um dia uma mulher... mas não agora, queria saber como era ser adolescente...
Por milênios seu filho Marcus a alimentou, agora era ela quem fazia isso, ele não precisaria mais matar, só viver e se divertir ao lado dos humanos, e ela o teria como Avatar, vivendo de suas experiências e pronta a matar qualquer um por ele, e ele por ela, afinal sua mãe era a vampira suprema, e ele filho dela....
Por milênios seu filho Marcus a alimentou, agora era ela quem fazia isso, ele não precisaria mais matar, só viver e se divertir ao lado dos humanos, e ela o teria como Avatar, vivendo de suas experiências e pronta a matar qualquer um por ele, e ele por ela, afinal sua mãe era a vampira suprema, e ele filho dela....