POR DAVID DA COSTA COELHO
Imagine por um momento que seu corpo é uma escada, e que ao longo do tempo essa escada pode ter câncer, calvície, doenças genéticas irreparáveis à tecnologia atual, problemas sexuais, falência de órgãos devido à má alimentação e hábitos alimentares terríveis, ou velhice; mas que a solução de seus problemas esta logo ali, numa deusa nova e toda poderosa chamada ciência, e esse nova deusa tem um nome estranho, mas capaz de reestruturar tudo aquilo que originou a humanidade; [1]CRISPR/Cas9.
Não bastando esse poder para os que já têm a escada e servem a ela, imagine agora que você deseja ter filhos, mas possui doenças genéticas que podem levar seu filho a ter Síndrome de Down, Anemia falciforme, Diabetes, Câncer, Miopia, Daltonismo, Distrofia muscular de Duchene, Fibrose cística, Síndrome de Patau, Síndrome de Turner, Albinismo, Fenilcetonúria, Progeria, Hipertricose, dentre tantas outras menos famosas que você já viu em seriados de medicina, ou ouviu falar pela mídia?
A resposta de uma medica [o] especialista em reprodução é que você pode ser pai, mas há uma possibilidade gigantesca de que o bebê venha a herdar tais doenças, e que até então às terapias genéticas tinham pouco a fazer nestes casos, mas com a CRISPR/Cas9 isso agora será passado porque você poderá editar não somente o DNA de seus filhos antes mesmo deles nascer, como agregar qualidades genéticas a seu [2]gosto; e isso já não é mais ficção e sim já esta ocorrendo hoje com animais, e por baixo dos panos com seres humanos mundo afora...
Como sabemos ao longo do século XX a ficção cientifica abordou a existência de seres humanos que teriam a característica genética de inúmeras espécies, e até de outros humanos resistentes a doenças, com olhos desta ou daquela cor, ou com essa ou aquela estatura física ou superinteligentes. O Capitão América foi um destes personagens da ficção quando tomou o soro genético para se tornar o 1º supersoldado...
Quando chegamos a Jornada nas Estrelas, criada por Gene Roddenberry, a terceira guerra mundial ocorreu porque a raça humana havia criado uma super raça de seres humanos mais fortes, inteligentes e com o dobro da longevidade humana, os aumentados, através da engenharia genética. Com o tempo eles começam a desprezar a humanidade porque são melhores em tudo, e fundam seu próprio estado, e este estado avançado e tecnológico entra em guerra com o resto dos humanos, deflagrando a 3ª guerra mundial, a humanidade normal vence a guerra e proíbe a engenharia genética e desenvolve tecnologia para dominar as viagens espaciais, mas partes daqueles aumentados se utilizam desta tecnologia para fugir da terra e criar seu paraíso idílico em outros horizontes galácticos, como vimos ao longo da série e suas continuações...
Há muitos seriados e filmes que abordam esse tema, inclusive STAR GATE, quando os humanos superavançados criam maquinas para evoluir seu DNA a ponto de eles transcenderem a própria humanidade e se tornarem entidades de energia pura...
Mas saindo da ficção e chegando ao mundo real, isso é possível? Claro que é, e a resposta esta em um conto de ficção que eu coloquei a seguinte frase:
- A ficção inventa o futuro, o universo conspira para que a mais viável se torne realidade...
A CRISPR CAS9 tem a capacidade editar o DNA de qualquer ser vivo, por nascer ou já existente, foi criada pela doutora Jennifer A. Doudna Cate e sua colaboradora, Emmanuelle Charpentier, como no exemplo da escada citado acima, agora o céu é o limite.
À luz da ciência, o DNA é uma escada helicoidal, e se a tecnologia permite cortar um pedaço ruim daquela escada e colocar um novo sem doença alguma, ou um pedaço que nos faça superiores ao ser humano que um dia foi, pode ter certeza absoluta que faremos isso...
A ciência não vive os paradigmas da religião, da ética ou do certo e errado, ela proporciona ferramentas para que a humanidade de sentido a nossa existência, o que fazemos com esse conhecimento é o que nos modifica e evolui. A energia atômica hoje ilumina grande parte do planeta, mas em 1945 ela destruiu milhares de vidas em duas explosões atômicas no Japão; ou seja, a ciência fez a energia atômica, os homens é que escolheram seus usos, com a edição genética o mesmo se dá...
Com a edição de DNA, a 4ª revolução tecnológica abre um leque de possibilidades para a raça humana [3]burlar a evolução de todos os seres vivos da terra, extinguir ou criar novas espécies, ou criar um homem perfeito; e isso não é mais ficção e sim realidade a caminho em passos largos graças a vários pesquisadores renomados...
O DR. Kevin [4]Esvelt, diretor do grupo Sculpting Evolution [ esculpindo a evolução ] precursor do estudo e utilização do CRISPR para estudar e influenciar a evolução dos ecossistemas através desta técnica, tem uma legião de cientistas que o seguem mundo afora no mundo acadêmico ou de pessoas comuns que pensam como ele...
Kevim é um dos precursores desta ideia, e dentre estes seguidores há os que se denominam [5]Biohacking, ou seja, um grupo de pessoas que tem acesso a material genético humano ou de outras espécies, e que se injetam na própria casa para obterem as melhorias genéticas que desejam...
Loucura? Claro que não, apenas visão de mundo distinta. Eu compartilho desta ideia, e se possível eu gostaria de poder ter acesso a um gene que cura calvície, miopia sem precisar de cirurgia, outro que me desse à potência sexual dos meus vinte anos, e outro para longevidade com saúde...
Estou errado? Claro que não porque o maior amor do mundo é o amor próprio, e faz parte da raça humana nessa busca eterna por beleza e saúde. Se considerarmos errado, e que isso e isso são coisas imorais e ilegais, devemos fechar todas às clinicas de cirurgia estética do planeta e também fechar fabricas de tinta para cabelo, batons e inúmeras bobagens que usamos para nos sentirmos mais bonitos e mais atrativos para outros...
Nesta linha de pesquisa há outros pesquisadores e cientistas numa longa lista de famosos da ciência que deram inicio à 4ª revolução com trabalhos éticos ou [6]antiéticos mundo afora, mas a consequência imediata desta descoberta é que enterra de vez a evolução aleatória, aquela provocada pelo sol e pelo meio em que se vivemos, ou a seleção antinatural que o homem fez com plantas e animais para servir a nossa civilização, a exemplo dos cães e suas inúmeras raças, que originalmente eram lobos...
Graças a essa inovação revolucionaria, os pais poderão escolher em pouco tempo todas as qualidades genéticas dos seus filhos, bem como aprimorá-las, e excluir doenças genéticas que os filhos teriam. Não só isso, pois permitirá também a homens e mulheres estéreis agregar ao seu DNA a presença de um 3º ou 4º doador para que seus filhos venham a nascer, e ainda com mais benefícios genéticos do que apenas o de duas pessoas, ou seja, a tecnologia é não só de tirar o folego, como assustadora e editora de paradigmas sociais, religiosos e éticos, dando a pessoas de todas as opções sexuais e formas de relacionamento para terem não só filhos, mas com vários pais como progenitores...
Mas a pergunta que vem a tona é se ela estará disponível somente para os ricos do planeta, a elite dominante, ou se os pobres e despreparados terão acesso à mudança genética?
Toda tecnologia sempre beneficia em primeiro instante os ricos e abastados, é assim há milênios, mas hoje estamos na era da internet, o conhecimento se dissemina instantaneamente, e na visão dosBiohacking, já visto, todos os seres humanos podem e tem o direito de acessar essa tecnologia, ou seja, o gênio não está mais dentro da garrafa e o mundo como o de antigamente dentro de poucas décadas será outro.
Plantas novas e poderosas, como o milho que nascem em desertos da série Arquivo X poderão não só nascer como alimentar o mundo inteiro. Pragas de mosquitos poderão ser erradicadas sem inseticidas, bastando mudar o gene que faz nascer macho e fêmea, se só nascerem machos, em uma década não haveria nenhum mosquito para infectar a humanidade com doenças típicas. O mesmo para as pragas de insetos que devastam a agricultura, ou fazer abelhas mais resistentes a pesticidas ou ao clima. Como dito, o mundo nunca mais será o mesmo porque agora poderemos erradicar espécies inteiras...
Mas e com relação a nossa própria espécie, corremos o risco de sermos extintos com o bioterrorismo que essa tecnologia promete?
Evidente que tudo é possível, afinal é uma revolução que mudou tudo. A maior revolução que a raça humana experimentou foi à invenção do fogo, antes dela a humanidade jamais existiria porque foi o fogo que tornou possível cozinhar alimentos, e ficando mais calóricos e macios, nossa arcada dentaria diminuiu e nosso cérebro foi crescendo ao longo de milhões de anos até sermos realmente humanos e dominar todas as criaturas vivas da terra...
Com a 4ª revolução não dominamos mais criaturas, e sim as letras genéticas que fazem todas as criaturas, e aliadas a biotecnologia e a engenharia genética, se não nos destruirmos antes com um biovírus, em 2 ou 3 séculos seremos uma sociedade em que se reproduzir fora da engenharia genética será proibida, como no mundo do personagem super homem, e neste dia alguém olhara para trás e perguntara:
O quão longe nós fomos em nome do progresso humano?
[1] O que há de mais atual em engenharia genética é o CRISPR, sigla para Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats. Foram descobertas as defesas de bactérias sobreviventes a ataques de vírus que as atacavam inserindo trechos de suas informações genéticas. Descobriu-se, assim, a CAS9, uma proteína que identifica a seção exata do DNA invasor e corta aquela sequência fora com absoluta precisão, tornando-a inútil e salvando a bactéria do ataque viral.
Isso deu origem a manipulações laboratoriais mais precisas, baratas e rápidas. Mas não para por aí: isso deu também a capacidade de alterar DNA para qualquer pessoa que possua acesso a um laboratório, além de conhecimento, obviamente.
https://canaltech.com.br/inovacao/humanos-20-uma-revolucao-na-engenharia-genetica-esta-prestes-a-acontecer-107840/
[2] Cientistas estão tentando criar embriões humanos com informações genéticas totalmente editadas para alcançar um bebê perfeito, livre de qualquer tipo de predisposição genética a doenças.
Imagine uma vida sem doenças para essa linda bebê. Se pudermos controlar características que tornem lúpus ou alzheimer ameaças inofensivas à humanidade, por que não modificar os bebês para terem super inteligência? Ou facilidade para ganhar músculos, cabelos mais resistentes aos processos químicos, olhos de outras cores?
https://canaltech.com.br/inovacao/humanos-20-uma-revolucao-na-engenharia-genetica-esta-prestes-a-acontecer-107840/
[3] A espécie de gado “Azul” da Bélgica é conhecida pelos seus enormes músculos, sendo considerados os “halterofilistas” do mundo animal. Os touros chegam a pesar uma tonelada, e seus músculos são duas vezes maiores que os das outras raças bovinas. Sua origem remete ao século XIX, quando touros da raça Shorthorn do Reino Unido foram mandados para lá com o objetivo de aprimorar a estrutura muscular do gado nativo, que era principalmente leiteiro. Dessa maneira, a partir de uma seleção artificial, que cruzava apenas os animais mais musculosos, criou-se essa nova raça, popular pela qualidade de sua carne.
A raça bovina belga “Azul” é conhecida pelos seus grandes músculos
A raça bovina belga “Azul” é conhecida pelos seus grandes músculos
No ano de 1997, cientistas descobriram que a mutação na formação muscular desse tipo de gado originava-se da inibição do gene responsável pela secreção da proteína miostatina. Essa proteína age no organismo dos animais com o objetivo de limitar o crescimento do tecido muscular. Assim, no momento em que ela não é mais produzida, os músculos podem crescer livremente, como no caso da raça belga.
Utilizando-se desse conhecimento, foram feitos experimentos com camundongos, removendo a miostatina presente nesses animais. O resultado foi roedores muito mais musculosos, que continuaram fortes mesmo com o passar das semanas. Ainda foram feitos testes em ratos que receberam genes para produzirem mais energia em suas mitocôndrias. Eles ficaram hiperativos, correndo vinte e cinco vezes mais rápido e vinte vezes por mais tempo que ratos normais; além disso, a duração de suas vidas dobrou.
Comparação entre um camundongo normal (à esquerda) ao lado de um sem miostatina (à direita)
Comparação entre um camundongo normal (à esquerda) ao lado de um sem miostatina (à direita)
E nós, humanos?
[4] Kevin Michael Esvelt é um biólogo americano. Atualmente, é professor assistente no MIT Media Lab e lidera o grupo Sculpting Evolution. Depois de receber um B.A. na faculdade de química e biologia Harvey Mudd College, concluiu seu trabalho de doutorado na Universidade de Harvard como pesquisador da Hertz.
[5] Biohacking é a prática de misturar biologia com ético hacker. Atualmente, essa área ainda está muito restrita ao DIY (Do It Yourself - faça você mesmo), sendo que aplicações comerciais ainda estão por vir. Biohacking abrange um grande espectro de práticas e movimentos, desde especialistas que projetam e instalam aprimoramentos corporais DIY, como implantes magnéticos, até biólogos que conduzem sequenciamento genético em suas casas. Biohacking está emergindo em uma tendência crescente de desenvolvimento científico e tecnológico não institucional.
http://jornalismojunior.com.br/a-engenharia-genetica-e-a-criacao-de-super-humanos/
[6] Recentemente, os chineses cruzaram mais essa barreira – biológica e ética – ao usar embriões feitos com óvulos imaturos. Eles também são descartados por clínicas de fertilidade, mas já geraram muitos bebês saudáveis. O novo experimento voltou a corrigir mutações que causam anemia. A técnica foi aplicada ao embrião enquanto ele ainda era composto de uma única célula, a que se replica durante a gestação até formar todas as outras. Em seis tentativas, os pesquisadores conseguiram um embrião totalmente curado das mutações e outros dois parcialmente modificados. Os cientistas interromperam o desenvolvimento desses embriões.
Agora, a última fronteira teria caído. O cientista chinês He Jiankui, da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul de Shenzhen, anunciou na última quarta, 28/11, o nascimento de um par de gêmeas imunes ao HIV. O DNA delas teria sido editado na fase embrionária de modo que as crianças nascessem resistentes ao vírus.
https://super.abril.com.br/ciencia/prepare-se-seu-dna-ainda-sera-remixado/