AUTOR: DAVID DA COSTA COELHO
Uma das maiores histórias de amor do mundo está na Índia, no [1]Taj Mahal, e esse é um dos motivos do que agora escrevo, e tento responder a essa questão porque ser escritor é dizer às vezes o que muitos pensam, mas poucos tem a coragem de se expor e de viver de forma tão crua e realista:
- É possível amar duas ou mais pessoas ao mesmo tempo?
Na história humana há inúmeras situações em que um homem tinha diversas mulheres a sua disposição, mas havia sempre uma que lhe arrebatava a alma porque ela era algo muito maior do que as mulheres que aquele homem possuía. Delas – as comuns - ele só tinha o corpo, mas da amada amante escolhida ele tinha a alma única de mulher, aquela que os olhos falam, o sorriso encanta e a essência feminina não o dominava, não ela não precisava disso porque a mulher especial não precisa dominar, ela simplesmente é sentida pelo homem que sabe que está eternamente perdido em seus olhos de diva; e ele sabe que enquanto ela estiver em seus pensamentos, dos olhos dela ele não quer se afastar, e sim se prender neste oceano de luz infinita porque dessa luz ele se alimenta e devolve com fogo e paixão que só ela pode sentir.
Há histórias fantásticas nesse sentido como o do presidente da França, [2]Emmanuel Macron, que aos 15 anos se apaixona pela sua professora - Brigitte Trogneux - muito mais velha, casada e com filhos, e ainda assim, mesmo sabendo disso, ele lhe prometeu que um dia ela seria sua esposa, começando daí em diante uma relação secreta entre um homem jovem e solteiro e uma mulher casada e com filhos, até que após anos, agora separada e ele homem feito os dois se casam. O que para muitos seria uma história sórdida de traição sexual no casamento, aos olhos de uma realidade de filhos, família e segurança, restava então o segredo que só podia ser dividido pelo casal nas alcovas e na vida, com um amor muito além do físico, diria quântico, de alma...
Mas nem sempre é tão fácil ter acesso à pessoa que você realmente deseja porque uma série de fatores impede a paixão de ocorrer, e um desses maiores exemplos é o do rei Davi e de Bate-Seba, esposa do soldado Urias. O rei Davi, como todo rei poderoso, tinha seu harém com 10 esposas, mas em sua vida perfeita e abastada faltava algo, sentia que não era completo, e ele redescobriu a vida após olhar uma mulher que superava todas as outras. Da janela de seu palácio, no último andar, ele olha para uma diva, ela se chama Bate-Seba, ele manda buscá-la e deita-se com ela, cometendo adultério e engravidando-a, após mil e uma peripécias, já que o soldado Urias se recusa a deitar com a esposa e assumir o filho, ele é mandado para a guerra e morre, e ela fica viúva, Davi se casa com ela, mas ela perde o filho...
Deus o perdoa e ele tem outro filho, que será o rei Salomão, com um harém de mais de mil mulheres, mas sua paixão será a rainha de Sabá, ou seja, embora esses homens poderosos tivessem tudo, no final faltava uma mulher especial que compreendesse como é raro viver com uma mulher especial, capaz de entender essa faceta humana; e isso também se aplica a mulheres famosas na história como Sherazade, que por mil e uma noite encantou seu sultão, escapando da morte e sendo a mulher mais esperta e inteligente da literatura islâmica, e que ele jamais viu em seu imenso harém.
Sim, há pessoas especiais neste mundo, mas como sempre, ou elas estão casadas, separadas, ou enroladas, ou o homem da vida delas também está em situação semelhante; e o amor que os une de corpo e alma, ainda que distante, é o elo que jamais se quebrará. E a despeito de qualquer coisa de suas vidas com as pessoas reais que estão, e que possa tentar intervir nessa ligação quântica de duas almas que poderiam se completar, elas são obrigadas a viver vidas semelhantes ao do presidente francês; amando em silêncio, em segredo e só na mente, e uma vez ou mais na vida, num dia e numa noite que se fazem eternos até o segundo reencontro, mas que a todo o momento é amado e desejado, e esperado ansiosamente porque deixará a eternidade com ciúme do que virá...
Não mandamos nas emoções humanas, pois somos escravos de nossas realidades e destinos, mas nada no universo consegue impedir as mentes que se tocaram, antes mesmo dos beijos, abraços e gritos de eterno quero mais, de se completarem a cada segundo do impossível...
Se um dia você viveu, ou se ainda vive essa realidade, não se culpe e nem se desculpe pelas tramoias do destino, aceite as coisas como elas são porque as únicas certezas da vida são a velhice e a morte, e neste meio tempo encontre motivo para fazer muito mais do que existir, viva tudo o que precisa com quem está ao seu lado, e com o ser que realmente ama, seu porto seguro do seu verdadeiro eu, seja de verdade aquilo que está destinado [a] a ser, não importando a realidade que os cerca, amor não se explica, se vive, se entende, se ama...
[1] O Taj Mahal é um mausoléu situado em Agra, na Índia, sendo o mais conhecido dos monumentos do país. A obra foi feita em memória de sua esposa favorita, dentre muitas outras de seu harém Aryumand Banu Begam, a quem chamava de Mumtaz Mahal ("A joia do palácio"). Ela morreu após dar à luz o 14º filho, tendo o Taj Mahal sido construído sobre seu túmulo, junto ao rio Yamuna.
[2]– Brigitte, a qualquer custo: Em 1993, com 15 anos, Emmanuel se apaixonou por Brigitte, que era sua professora de teatro em sua escola em Amiens, uma pequena cidade do norte da França. No entanto, na época Brigitte era casada e mãe de três filhos. Mais tarde, declarou seu amor:
“- Aos 17 anos, Emmanuel me disse ‘Faça o que fizer, me casarei com você!'”, explica atualmente sua esposa, procedente de uma família de chocolatiers abastada.
“- Não era como os demais, não era um adolescente (…) Eu estava completamente subjugada pela inteligência daquele menino”. E, “pouco a pouco, venceu todas as minhas resistências”.
Os pais de Macron, médicos, tentaram tirar a ideia de sua cabeça enviando-o a um instituto de prestígio em Paris. Mas ele não desanimou. “Tinha uma obsessão, uma ideia fixa: viver a vida que havia escolhido com aquela que amava. E fazer todo o necessário para conseguir isso”, explica o candidato à presidência francesa em seu livro “Revolucion”.
Alcançou seu objetivo em 2007: Macron e Brigitte se casaram. “Foi à consagração oficial de um amor primeiro clandestino (…) incompreendido por muitos antes que nos impuséssemos a eles”, afirma o ex-banqueiro e ex-ministro da Economia.
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