DESAPEGO? VOCÊ SABE LIDAR COM TÉRMINOS?
Por: Marcelo Guerra / Médico graduado pela UFRJ.
Reflita sobre a importância de aceitar a impermanência da vida, pois muitas filosofias orientais falam da impermanência das coisas. Assim, aquilo que é de uma maneira hoje, não necessariamente será do mesmo jeito amanhã. Hoje você pode ter estabilidade financeira e amanhã pode se ver completamente sem dinheiro.
No entanto, não só os bens materiais são perecíveis. Os relacionamentos e os sentimentos também podem mudar ou até mesmo terminar. No início de um namoro é comum cada um fazer juras eternas, como se aquela relação nunca fosse acabar ou mudar. Depois de alguns anos, a convivência pode trazer dificuldades a este casal ou as mudanças de cada um podem levá-los a ver a vida de forma diferente, causando obstáculos intransponíveis. Afinal, aquelas promessas não fazem mais sentido, já que as pessoas passaram por transformações e não são mais as mesmas.
A precariedade daquilo que temos como certo é chamada insegurança. E saber conviver com isso é uma arte. Acredito que há forças atuantes em todo o universo que conduzem muitos dos acontecimentos, nos permitindo novas escolhas a cada momento de nossas vidas. O medo nos força a evitar a insegurança através do controle, mas é impossível ter o controle de todas as situações. O controle exagerado leva inevitavelmente à frustração.
O que temos de permanente é nossa essência, muitas vezes encoberta por sombras e por preocupações materiais, mas é aquilo que somos e aparece pelos nossos propósitos maiores na vida. Por isso, o único remédio para a impermanência das coisas é o desapego. Para abrirmos mão do controle, é preciso ter confiança de que as forças do universo guiarão nossos destinos. Pode nem ser como esperamos, mas sempre ocorrerá o melhor possível, rumo ao nosso desenvolvimento.
Rudolf Steiner, fundador da Antroposofia, fala como o futuro pode ser aguardado com serenidade, pela confiança nas forças que direcionam o universo. Assim, a certeza e a coragem devem andar de mãos dadas, uma conduzindo a outra, para que sejamos pessoas seguras, por mais precárias que sejam as certezas. ”Em verdade, nada terá valor se a coragem nos faltar. Disciplinemos nossa vontade e busquemos o despertar interior todas as manhãs e todas as noites".
MÁGOA E PERDÃO
Por: Talita Boros
Estudos recentes mostram o impacto de sentimentos negativos, como a mágoa e o rancor, no sistema cardíaco. A psicanalista Lindalva Moraes explica que a pessoa ressentida sente necessidade de alimentar a dor, fortalecendo a posição de injustiçada, e confirma que esses sentimentos negativos podem acabar influenciando numa piora da saúde, colaborando para o aparecimento de sintomas físicos e até de doenças graves, como o câncer.
Segundo o professor de Psicologia Júlio Rique Neto, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), existem diversas formas de controlar a mágoa, mas somente o perdão é capaz de fazer as pessoas realmente superarem esses anseios. “Mesmo aquelas que têm o sentimento de vingança, não se sentem melhor depois que quem lhes fez mal paga por isso. O ressentimento não passa”, explica. “Quando a pessoa mostra arrependimento verdadeiro, a gente consegue perdoar. O perdão também faz bem para quem está sofrendo situação”.
O Forgiveness Institute (Instituto do Perdão) da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, se dedica a estudar cientificamente os benefícios do perdão e defende a prática. O psicólogo Robert Enright, uma das autoridades no tema, explica que quando uma pessoa perdoa, ela exerce o aprendizado da virtude moral. “O perdão é como a paciência, bondade, justiça e o respeito. Em todas essas virtudes, não existem pré-requisitos para oferecê-las. A pessoa não precisa ser justa para receber lealdade, por exemplo. E o mesmo funciona para o perdão. Nós podemos oferecê-lo aos outros sempre que desejarmos. O perdão é incondicional, assim como a justiça”, Segundo Enright, não é fácil perdoar qualquer tipo de erro e muitas pessoas não conseguem perdoar injustiças terríveis, como no caso do assassinato de um ente querido.
“O que muitas vezes as pessoas não entendem é que perdoando estamos fazendo um favor a nós mesmos. O perdão serve para nos libertar da prisão emocional da raiva, ressentimento e infelicidade. Uma pesquisadora da Duke University Medical Center afirmou que os benefícios do perdão estão correlacionados com o aumento da função imunológica em pacientes com o vírus HIV. Além de dar a sensação de liberdade o ato de desculpar pode fazer muito bem à saúde de quem consegue realizá-lo.
Pessoas que sofrem de estresse cardíaco após uma grande decepção restauram as funções do coração depois que conseguem perdoar o outro, assim como as que tinham alterações de pressão, retomam o ritmo normal após relevarem o rancor e perdoarem.
“O perdão restabelece o controle emocional e físico do corpo, além de reabilitar a dignidade e o bem-estar da vítima”. Descobrimos que as pessoas que foram tratadas injustamente tendem a ter menos energia se não perdoarem. Perdão adiciona vitalidade, acrescenta alegria, e isso tem um efeito positivo no sistema cardiovascular já que a raiva incessante é prejudicial”, relaciona o psicólogo Robert Enright. A última pesquisa feita na Universidade de Wisconsin mostra que quem perdoa apresenta um grande crescimento da autoestima e da esperança no futuro. No outro lado, para ser verdadeiramente perdoado, primeiramente a pessoa que cometeu a injustiça deve se arrepender do erro que cometeu. “Se queremos o perdão do outro é importante assumir total responsabilidade por aquilo que fizemos, pedir desculpas e tentar fazer as pazes. Mas a decisão de perdoar ou não cabe a outra pessoa”.
CULPA - MÁGOA E OS MICROORGANISMOS NA GÊNESE DAS DOENÇAS.
Por que algumas pessoas sentem culpa-mágoa, mas continuam suas vidas, enquanto outras param de viver, sem ânimo para continuar? Por que as reações são tão diferentes? Habitualmente, esse conteúdo de culpa e mágoa se entrelaça efetivamente em nossas vidas. À proporção que vamos nos dando conta de que estamos lesando alguém ou lesando a nós mesmo, de que estamos nos sentindo lesados e machucados por alguém ou por nós mesmo, temos dois caminhos a seguir: um de alimentar a culpa e a mágoa, e o outro de diluí-las. Quando as alimento, fixo-me, estagno e crio um movimento de petrificação, de imobilidade e encaminho-me para a doença, que irá desaguar no corpo caso eu não redirecione essa postura.
Quando eu faço a escolha por dissolver a mágoa-culpa, estou tomando uma direção exatamente oposta, mobilizando o auto perdão, no caso da culpa, e o hetero perdão no caso da mágoa, liberando-me, portanto, daquele conflito, dando um salto de qualidade e aprendendo com aquela experiência sofrida que experimentei. Assim, são duas dinâmicas absolutamente deferentes. Uma me leva para a enfermidade, e a outra para a cura. A mágoa e a culpa que eu sustento me fazem adoecer, e a mágoa e a culpa que eu trabalho positivamente me fazem crescer.
Qual a influência desses estados psicológicos no corpo físico? Por que eles favorecem a ação, de microorganismos causadores de doenças?
A mágoa e a culpa instalam-se em nível psíquico, repercutindo no corpo perispiritual.
Se não fazemos o desabafo ou se não estabelecemos a corrigenda como propõe André Luís no livro Evolução em Dois Mundos, surgem no nosso campo perispiritual zonas de remorso, resultado das nossas atitudes e posturas que estão sendo sustentadas teimosamente sem uma resolução plausível. Essa zona de remorso cria um campo de solução de continuidade na interação do corpo perispiritual e do corpo físico, abrindo espaço para a vulnerabilidade numa área do corpo, num tecido ou então no organismo por inteiro, gerando, assim, a manifestação de disfuncionalidades orgânicas ou de processos patológicos e físicos, bem como de distúrbios que envolvem as emoções ou de transtornos que envolvem a mente. Desse modo, esses conteúdos, se não são solucionados a tempo, vão se refinando até chegar ao corpo, que é a instância última que a natureza nos propõe para que possamos reverter o nosso caminho através da corrigenda, do auto perdão e do perdão ao outro, ambos originários na misericórdia que devemos ter. Por isso, Jesus propôs o "Bem Aventurados os Misericordiosos", pois, quando não exercemos a misericórdia, caminhamos para a instalação das doenças no corpo físico.
Quais os tipos de doenças físicas e mentais mais comuns relacionadas à culpa - mágoa?
Como diz André Luís tirando a imprevidência, a imprudência e a falta de higiene, todas as patologias derivam da relação profunda do espírito e seus campos energéticos mais profundos, que vão aos poucos se manifestando no corpo. Então poderíamos afirmar que na maioria das patologias vamos encontrar a culpa-mágoa, uma ou outra e, habitualmente, as duas entremeadas, como sendo as verdadeiras causas das doenças infecciosas, degenerativas, alérgicas, etc. ou sistêmicas, de natureza física ou mental.
Assim, vamos tendo esses conteúdos desequilibrantes de mágoa-culpa como sendo a verdadeira gênese das patologias que alcançam os homens na Terra.
Quais os recursos das psicoterapias para auxiliar a cura de pessoas contaminadas por esses estados negativos?
Toda abordagem psicológica ajuda para que se possam trabalhar essas sombras que carregamos dentro de nós mesmos.
Qualquer providência que leve o indivíduo à autorreflexão e a auto percepção, e que busque naturalmente projetá-lo para a saúde, o ajudará na superação dos seus limites, a vencer a mágoa e a trocar a culpa pelo perdão. Efetivamente, o Evangelho é, indiscutivelmente, o maior repositório de amor que a história da humanidade conheceu e está sempre nos inspirando a fazer esse trabalho de profundidade e sem nenhuma concorrência com qualquer psicoterapia ou abordagem psicológica. Ao contrário, sendo um instrumento catalizador, fornecedor, agenciador e sinergicamente terapêutica, o Evangelho é o grande espaço onde podemos nos encontrar para promovermos essas mudanças tão necessárias que não se limitam ao trabalho de dissolver sombras, porém, e sobretudo, de ampliar luzes dentro de nós mesmos.
Dr. Alberto Almeida - médico e terapeuta transpessoal, com formação em Homeopatia, Dinâmica de Grupos, Terapia Familiar Sistêmica e Programação Neurolinguística (PNL).