POR DAVID DA COSTA COELHO
Um dos maiores prazeres de minha vida foi, depois de muitos anos de batalhas em diversas profissões, que me auxiliaram a pagar as contas, sustentar meus irmãos menores, comprar minha casa, pagar meus estudos em escolas particulares, pois devia terminar o 2º grau e ao mesmo tempo conciliar a escola com meu emprego; fui concluir o 3º grau numa universidade particular porque não tinha como entrar para uma publica devido à competição desigual e tempo para me preparar porque tinha que trabalhar para sobreviver e sustentar outros, além do mais, o tal do ENEM e COTAS, ainda não estavam disponíveis como hoje, pois se estivesse na época, eu teria economizado uma grana boa... Formando-me em História, podendo abraçar a profissão de professor como um ideal de vida realizado, sentia-me um louco apaixonado pela docência, como mais um professor utópico sonhador, queria mudar o mundo através da educação, tendo como horizonte meu esforço pessoal para deixar meus discentes cientes que estudar, por mais difícil e terrível que seja, no sistema capitalista, pautado pela desigualdade social e intelectual; ainda é de longe o único caminho.
Durante o curso eu ouvia dos professores que ministravam as aulas as queixas de sempre... Salario de miséria em escolas particulares ou dos governos, alunos terríveis que não respeitam ninguém, professores que faltam mais do que lecionam devido problemas pessoais e psicológicos derivados do trabalho, pedagogos que são um nojo, já que não entendem nada daquilo que o professor passa em sala, mas querem uma prova assim ou assado, ou demais trabalhos e testes feito deste e ou daquele jeito porque é assim que tem que ser e acabou. Se examinar o conhecimento histórico e politico de cada um deles – salvo raras exceções – da pena, pois são embasados em uma teoria que não se aplica a realidade do século XXI, e mesmo quando se atualizam, o fazem com bases em teorias que não se aplicam aos avanços da tecnologia de informação, ciência em linguística, psicologia e realidade politica de cada país ou estado onde atuam... A parte pior é filtrar o conhecimento que devemos passar segundo a realidade de cada município ou estado, onde coisas como ditadura militar, coronelismo e voto de cabresto dá demissão e não renovação de contrato porque pode fazer com que os alunos encham a cabeça de seus pais, o que resulta em votos para o lado errado...
Não bastando tudo isso, o trabalho do professor é considerado uma coisa inútil, não gera lucro, pois o modelo de sociedade que nos temos baseia-se nas ideias de Platão e Auguste Comte. O filosofo grego acreditava que a sociedade perfeita deveria ser governada por uma elite intelectual, na escala abaixo pessoas para serviços de meia qualificação, e na base maior da pirâmide, gente para trabalhos essenciais e inglórios, no caso os estrangeiros e escravos, já que a escravidão era comum na antiguidade, e mesmo Atenas, precursora da democracia, possuía milhares de escravos.
Comte, professor e filosofo francês do século XIX, foi o pai do positivismo, acreditando ser possível planejar a sociedade e seus indivíduos com critérios científicos, em minha opinião ele deveria ser canonizado pelo vaticano como santo, pois previu um milagre eternamente atual, já que até hoje os governantes despejam dados em qualquer entrevista do que estão fazendo, ou farão num próximo mandato, ou seja, a ciência virou um profeta a serviço do futuro que talvez um dia chegue... Para este docente francês, o estado seria composto de três estamentos, uma elite intelectual, financeira e tecnocrata, com curso superior, cabendo a ela comandar o estado, pautado pela ordem social e pelo progresso; aquelas palavras lindas que estão na bandeira do Brasil, mas que bem sabemos seu lado oculto e inútil, além de profecia a espera do milagre...
Logo abaixo, o 2º estado deveria haver os técnicos, para operações especificas, sem muitos dados de como o mundo funcionava, nem conhecimentos históricos capazes de ousar contra o estado constituído. Seriam os responsáveis pela manutenção industrial, cargos burocráticos de secretariado, no comercio e até mesmo nas forças armadas, o sargento é um exemplo clássico dessa dela porque ele é o responsável por treinar as pessoas; mas em breve muitos oriundos da elite que ele treina serão alçados ao oficialato e conhecimentos que sequer imagina, enquanto ele permanecerá na mesma função eternamente. Com uma remuneração que permita um contentamento e aceitação de sua situação e origem, e que este repassa de forma condicionada na sociedade com quem convive, aceitando a forma social como ordem natural é vontade divina, ou da estória; repetido desde a meninez por pais, religião e tradições inventadas, aprendem na escola já na infância a manifestação destes dogmas ao cantar hinos, do estado ou da religião católica, a exemplo clássico do ‘pai nosso’. O fato de o estado ser ‘laico’, e que impor uma obrigação de cantar hino de qualquer religião ser um crime, isso não vem ao caso, o que importa é dogmatizar e condicionar crianças que um dia serão adultos...
O 3º e ultimo e aquele destinado a cargos de salario mínimo, a variedade reflete o poder das ideias desses filósofos nos dias de hoje. Salvo raras exceções devido crescimento do mercado, o que força o pagamento de salários maiores como no caso de motoristas de ônibus, construção civil, empregadas domesticas; a realidade para essas pessoas continua idêntica, devem ser as pernas com as quais o País anda, e o braços com o qual se trabalha e produz riquezas; além é claro de pagarem a maioria dos impostos porque os produtos primários que consomem são os mais onerados pelo governo...
Alimentos, materiais de construção, eletrodomésticos, transportes, bebidas alcoólicas e combustíveis. As pessoas do 2º grupo também são oneradas nestes artefatos, mas não tanto quanto os pobres, mas no final lhes sobra pagar por medicina privada, escolas particulares e muitos outros gargalos que lhes absorvem o patrimônio e as esperanças, sendo que estas depositam no futuro dos filhos; na iminência de um curso superior que os faça progredir na vida – exceto professor, pois aí já é burrice – pelos filhos eles suportam as desigualdades sociais impostas e enterram suas próprias vidas e sonhos.
E de novo retornamos a o topo, pois os ricos, que comandam os três poderes, se beneficiam de todos os dividendos que a sociedade possui, não querem jamais que tal ordem social divina se modifique, para isso eles constituíram - só para terem certeza - um 4º poder; a ‘imprensa livre’. Com ela e suas mídias diversas, Rádio, internet, televisões, jornais e revistas nas mãos de um grupo pequeno de famílias, seja no Brasil ou qualquer lugar do mundo, eles disciplinam o 2º e 3º estados com verdades sócias e cívicas inventadas por eles, para que as classes abaixo as idolatrem e desejem fazer parte daquele estado. A exemplo temos os filmes de reis, rainhas e princesas, poucos se recordam - graças a professores terríveis de história - que estes nobres viviam uma espécie de socialismo dos ricos. Protegidos por leis religiosas e com o poder de vida e morte sobre os servos, que deviam trabalhar terras dos nobres, da igreja, pagar inúmeros tributos, vivendo em estado de miséria, até mesmo para casar tinham que pagar mais um imposto, e ainda deviam dar a 1ª noite de núpcias para o senhor feudal em muitos lugares da Europa, pois era ele quem tirava a virgindade da noiva, e não seu marido; como se podia esperar em face de nosso mundo atual.
Determinados conhecimentos não devem ser administrados as classes inferiores no saber e opinião dos senhores da pirâmide social, portanto os professores são os inimigos naturais destes lordes do tempo porque tem a obrigação acadêmica, moral e intelectual de revelar tudo aquilo que fez a humanidade chegar ao estagio atual de tecnologia e civilização. Mas como fazer com que tais coisas permaneçam enterradas? Simples, politica de estado e economia, pois os professores devem atender um planejamento anual do que ensinam baseado na opinião da elite dominante no poder, em determinada época e lugar. Ao final, a história se resume em comercio, guerra e religião, e se temos uma grade curricular que não interessa, basta muda-la; o exemplo mais radical é o da doutrina de direita nos EUA, o "Macarthismo" que durou de 1950 a 1954, criada pelo senador Joseph McCarthy, um anticomunista ferrenho, esse movimento se caracterizou pela intimidação e delação de qualquer cidadão, não importando sua origem social, atingiu em grande escala os meios artístico e intelectual porque eram mais politizados do que o americano mediano, alias como até hoje naquele país.
Neste período da guerra fria, ter livros considerados subversivos e comunistas era caso de policia, prisão ou algo mais ao estilo CIA... No Brasil ainda hoje pagamos o preço de tal ideologia com base na imposição do golpe militar no afã de nos defender de uma tomada de poder pelos ‘comunistas’. Após o golpe, patrocinado pelos EUA, em conluio com a nossa elite imoral e apátrida e Igreja Católica; diversos autores do Século XIX foram proibidos em escolas e universidades. Atualmente temos aulas em que as ideias de Marx e demais precursores dos socialistas são tidas como uma forma de fazer as próximas gerações se tornarem esquerdistas, portanto devem ser suprimidas de forma subliminar já nas compras governamentais de livros didáticos que em termos de conhecimento contextualizado são pobres. Não que o autor que os escreveu seja imbecil, ao contrario, deve ler e muito. Mas se colocarem de fato as verdades no papel eles nem entram em licitação e concorrência. Sendo assim a escolha que lhe resta é adequar seu livro a uma realidade capitalista que lhe permita sucesso e ascensão social e ‘intelectual como escritor acadêmico. ’
O único professor que é de fato valorizado é aquele que vai educar em escolas que formam a elite intelectual da pirâmide, embora tenham ali as aulas de mundo real em todos os aspectos, recebem também as teorias acadêmicas e econômicas que justificarão por parte de seu grupo o comando das classes inferiores. Mas até mesmo essa premissa é suspeita, uma vez que para galgar esta posição, tens que matar a criança interior que desejou um dia sonhar em educar, porque sentiu que podia fazer algo a mais, coisa que não lhe foi dada na escola... As lutas sociais do século XIX levaram a inúmeras conquistas trabalhistas e civis, a revolução Russa centralizou tais direitos porque não havia opção aos manipuladores do sistema capitalista.
No entanto, sem um inimigo comum em escala trabalhista mundial, pressionando pela busca do saber e conquistas sociais, o que temos hoje é o recrudescimento de tais ganhos na medida em que as politicas neoliberais de vampirismo de estados pobres e recursos tonaram-se a máxima capitalista. Portanto o nosso Comte retorna com força total, o que mais importa hoje e no Brasil e em países que alçam ao desenvolvimento são um oceano de técnicos para milhares de funções. Claro que há falta de cientistas, engenheiros, e tantas outras funções acadêmicas, mas técnicos estamos sim em carência, e se nada for feito - EDUCAÇÃO - a única solução é importar milhões de técnicos da Europa em processo de falência pelas politicas vampiras já conhecidas, e outorgadas pelos jornais e revistas do 4º poder aos gastos com politicas ‘socialistas. ’
Nesta ordem, determinados grupos de professores devem ser excluídos, aqueles das ciências humanas, conhecedores profundos da dialética social, e que poderiam abrir os olhos destes explorados e manipulados das externalidades de suas funções como poluição, exploração, e prejuízos a sua saúde, bem como seus direitos trabalhistas e políticos. Como exemplo desta desvalorização, o governo de São Paulo, na pessoa do governador Geraldo Alckmin, retirou o ensino de História, Geografia e Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental, afinal esses professores já começam estragando a cabecinha das crianças desde cedo. Em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, os políticos decidiram meses antes aumentarem o salario deles e de mais membros de cargos de comando, e como a folha ficou pesada, alguém tinha que pagar a conta, decidiram então cortar 40% dos salários dos professores da cidade; mas desta vez foi diferente porque os professores colocaram a mídia para funcionar e entraram em greve. Com as recentes manifestações no Brasil, não se deseja o mesmo holofote para cidade, esse corte esta sendo revisto porque o ministério público tenta um acordo com as partes e com certeza há de conseguir. Mas no caso em questão não se trata de 'acordar' as partes e sim pedir intervenção estadual e federal em face de canalhice destes senhores para as pessoas que são naturalmente massacrados, os desvalidos deste texto.
Eu poderia estender estas falas por diversas fontes do que os professores passam e sofrem diariamente, posso dizer que não me arrependi da missão de ser professor, pois se engana aqueles que acham que só existimos em sala de aula, assim como um policial que atua 24 horas, ou medico; nos também temos a mesma premissa, ainda mais com o viés do 5º poder - INTERNET - este mesmo que deu voz as massas mudas até então. Muitas delas, sou forçado a repetir, apenas seguem a manada condicionada, repetindo fotos, textos e reportagens sem pesquisar a origem e conspiração embutida. No entanto, a cada dia as pessoas vão descobrindo a luz no fim do túnel. Estão aos poucos, como formiguinhas, caminhando no sentido da não aceitação como ovelhas das coisas impostas. Por mais incredulidade que se possa ver, em todas as passeatas no Brasil, a primeira premissa é a educação.
Eu sou reencarnacionista, como tal não acredito em divindades e milagres, apenas em dar o melhor de mim na convicção de educar pessoas, me educar cada dia mais e esperar que a coisa siga em frente para daqui alguns anos ou séculos, quando aqui retornar sem memorias desta vida, não lembrar que a educação era um lixo ou sonho, e sim nesta realidade algo real na vida das pessoas. Enquanto tal dia não chegue, lembro-me de forma triste dos meus amigos professores que fizeram concurso para outras funções que não sejam acadêmicas, mas que pagam de 5 a 10 vezes mais. Fizeram isso porque em 1º lugar estava à pessoa que precisava mudar a realidade social e econômica, eles mesmos, em 2º lugar porque desistiram da educação como horizonte de vida. Eu mesmo fiquei um ano fora da educação em 2010 porque minhas necessidades econômicas eram maiores do que as inúmeras aulas que eu lecionava no contrato, fora as extras, e remédio para garganta... Estes meus amigos, assim como eu, já passaram em concursos para educação, mas ser chamado, em face de inúmeras falcatruas de estados e municípios é questão de justiça mesmo, pois nem milagre resolve. Não raro eles fazem concurso sem sequer chamar os que foram aprovados anos antes. Espero que movimentos sociais, reformas politicas e o 5º poder mudem isso, pôs se nada for feito, só restará aos professores mudar não mais a educação, e sim de sonho e profissão.
A educação -- Viviane Mosé
A escola fragmentada, dividida em disciplinas e grades curriculares, e distante da vida dos professores e alunos, se deparar, a cada dia, com um mundo que faz perguntas cada vez mais globais e urgentes, como a necessidade de considerar o todo, o planeta, a cidade. Quais os desafios da educação no mundo contemporâneo.
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Arnaldo Jabor e os problemas na edução brasileira.