CAPITULO 1: A ORIGEM DA VAMPIRA
A menina sugava as ultimas gotas de sangue do turista inglês em viagem à África, ele foi atraído por uma força maior do que sua vontade, ao ver uma criança branca, de uns oito anos de idade em meio à escuridão da noite e da maioria das pessoas negras de angola. Ela estava com roupas sujas, com cara de faminta, e seu instinto de pai o levou a perguntar quem era ela, e onde estava sua família. No instante seguinte, uma dor lancinante no pescoço varreu seu ser e a vida foi exaurida de seu corpo. No entanto, sua alma não estava mais ali, corria agora livre e solta em direção ao quarto de sua filha em Londres, para vê-la uma ultima vez antes de partir...
Como tantas vezes ao longo de milhares de anos, Yula havia matado outro ser humano para poder se alimentar, pois assim como todo ser vivo, ela precisava da energia vital oriunda do que consumia, e como vampira, o sangue dos humanos era o que lhe nutria, e a todos de sua espécie. Graças à energia da vida retirada do senhor Clayton, ela poderia ficar um ano sem matar novamente e ser de novo apenas uma menina, pois quanto mais velha ela ficava, menos sangue necessitava, ao contrario de quando se tornou vampira e a fome e o desejo de matar gritavam dentro dela, e ela atendia a esses desejos de morte e massacres... Isso ocorreu há 10 mil anos, mas era como se tivesse sido no dia anterior. Lembrara-se como se fosse hoje, quando acordou com muita fome e se levantou em sua tenda, indo até sua mãe pedir comida, mas o que viu foi o oposto, ela já estava morta, seu corpo sendo comido por vermes, bem como o resto de seus irmãos e também seu pai. Ao sair do abrigo, o mesmo pôde ver com o resto de seu povo, todos mortos, sendo devorados por animais da pradaria, ao longe avistou um chacal que corria apressado levando uma mão putrefata em sua boca.
Ela não sabia naquele momento, mas com o tempo pôde descobrir que seu povo foi massacrado por três vampiros famintos, ela foi a ultima a ser mordida e sugada, mas quem lhe mordeu também tinha uma filha quando era humano. A criança havia perdido a vida quando lobos atacaram sua aldeia e ele estava caçando mamutes, e sentia – se culpado por não defender sua menininha naquele momento. O corpo dela foi dilacerado antes do animal ser morto por lanças dos jovens da aldeia. Enquanto sugava a menina, a imagem de sua filha lhe veio à mente com força total, e apesar disso ter ocorrido há centenas de invernos, sentiu nela a mesma energia de alma que emanava do corpo de sua filha, e como vampiro ele sabia realmente o que era tal coisa. Os humanos usam apenas uma quantidade mínima do poder de seu cérebro, um vampiro usava 100% dele. E isso implicava não só força, agilidade e inteligência suprema, mas também podiam captar espectros de energia dos quais a humanidade só descobriria milhares de anos após, ao inventar a tecnologia. Assim, quando se alimentavam da força vital das pessoas presente no sangue, a alma de suas vítimas apenas trocava de corpo, e podiam ver tal coisa ao leva-los a morte. Por isso não havia sentimentos em relação a se alimentar de seres inteligentes, eram apenas alimento e mais nada.
Ele sentiu que a alma de sua filha estava de novo no corpo daquela criança. Como vampiro não lhe cabia mais emoções por suas presas, era apenas comida, e sua vida passada não devia lhe atingir nesse momento em que se saciava sua sede de mais vida, em jejum há muito tempo. No entanto, não podia simplesmente matar o ultimo pedaço de sua humanidade, e ao mesmo tempo não deveria mantê-la, estando em negação e conflito com seu novo eu, eterno e insensível. Só lhe restava à única opção possível. Fazer dela sua filha vampira, uma criança que jamais seria outra coisa além de uma vampira criança. Sodak conheceu muitos vampiros ao longo das eras, mas jamais viu um que não fosse adulto, ao que parece, não havia interesse em fazer de uma criança um imortal. Ela não teria com o que contribuir com a espécie, que por sua própria natureza vivia em isolamento, e quando estavam juntos era para se alimentar, sentir prazer uns com os outros e brincar com os humanos até sugar suas vidas. Transformar um vampiro implicava em cuidar dele até que o mesmo deixasse a infância bestial e sanguinolenta em que a fome era maior que a razão. Ele, em toda sua existência jamais havia feito outro, mas como Yula seu desejo de ex-humano e vampiro em transição foi supremo, sugando-a, levou a criança ao ultimo suspiro, e quando percebeu que a alma ia deixar o corpo se continuasse, ele parou. A mordida infectada transferiu o gene que dava a sua espécie o dom que os humanos desejavam desde que tomaram consciência de sua mortalidade.
Mas ele não lhe deu seu sangue, e sim saliva, pois a mesma também tinha vida latente e eterna, contudo, diminuía para quase nada a chance dela se transformar. Lambeu a ferida e os buracos da garganta se fecharam, não queria mais estar ali alimentado e sofrendo por um lado humano que não fazia mais parte de quem era. Deixou a criança a própria sorte, se ela vivesse seria uma vampira, mas se morresse seria melhor para ele porque enterraria sua ultima emoção de algo que não era mais. SodakSó seria realmente criador de uma vampira milhares de anos depois, uma aprendiz de feiticeira chamada Veruska, que ele dedicou um século de sua vida ensinando, e que nunca mais a veria porque ela era o que ele lhe ensinou a ser, forte, impiedosa e com uma beleza digna de uma vampira que ele realmente escolheu como herdeira. Assim ele imaginou que só tinha a ela como cria e jamais imaginou o oposto; mas não foi bem assim que ocorreu com Yula...
Ela morreu como humana, somente um poder sobrenatural que já habitava nela a fez ser o que estava destinada a ser. E no terceiro dia ela despertou para a eternidade, em sua humanidade estava órfã de seres humanos, como vampira, jamais conheceu seu criador, e nem mesmo ele a conheceria por milhares de anos, pois havia desistido de viver ao não mais se alimentar, queria hibernar para sempre, despertou somente para criar Veruska e hibernar cem anos após. Meses depois se entregou ao sono eterno, seu corpo imortal repousava no gelo das montanhas da Sibéria, a fome dos primeiros dias o devorava, e se um dia levantasse de seu desterro gelado, tal como há milhares de anos, uma aldeia inteira não seria o bastante para suprir sua fome milenar...
Por milênios Yula nunca deixou de ser uma menina em sua mente e corpo, e por isso foi rejeitada por outros vampiros, para suprir sua carência, gostava de aparecer nas aldeias e ser adotada por alguma família. Vivia com eles em média de 3 a 4 anos. E assim como um leão observa na pradaria suas próximas presas, ela fazia o mesmo com a família adotada. Um a um ela os matava durante os dias finais de sua vida naquele grupo, rasgava as gargantas deles, dando a impressão de que fora um animal selvagem, e a despeito do sentimento que desenvolvia enquanto estavam vivos, ao se alimentar ela era o que sempre seria; um ser imortal, faminto de sangue, coisa que suas vitimas lhe davam agora.
Em sua longa existência, milhares de humanos lhe deram a vida, mas atualmente ela só caçava os fracos, doentes e inválidos, e não havia lugar no mundo para isso melhor do que a África, com seus aleijados de guerras tribais, doentes de várias doenças, ou punições a homens e mulheres por cunho sexual religioso. Na verdade o sangue dos africanos era particularmente saboroso e com mais energia que os de outros humanos, em finais do século XX ela entenderia o porquê devido ao projeto genoma descobrir que a raça humana inteira era descendente daqueles homens e mulheres negros da África, que se espalharam pela terra, saindo em parte dali para colonizar o planeta...
Mas de vez em quando gostava de variar suas presas de outros continentes, e também era uma espécie de justiça vampira que ela desenvolveu em sua mente. Os europeus fizeram da África uma lastima em termos humanitários, então nada melhor para seu ego do que beber o sangue de um deles de vez em quando. E quando ela fazia isso, não se contentava só com essa primeira vítima, consumia toda família da qual ele fazia parte. E para isso contava não só com os supersentidos de um vampiro, que podia farejar e sentir o tipo e sabor de sangue absorvido, mas também com seus poderes de correr e voar mais rápido que qualquer maquina feita pelo homem.
Ela não estava presa pelas imbecilidades que o escritor de Drácula - Bram Stoker - havia criado sobre vampiros, na verdade, ao ler o livro no século XIX, riu bastante, e teve vontade de sair ao sol com ele, de mãos dadas e ir a uma igreja em pleno dia, matar o padre e muitos fieis que lá estivessem; depois beber da agua benta e amassar as cruzes que supostamente os protegeriam, quanto aos caixões para um vampiro ‘repousar’, coisa de humanos religiosos doentes porque cremar um corpo era a melhor coisa, os indianos faziam e ainda fazem isso há séculos. Em sua opinião de menina travessa, os vampiros deveriam deixar os mortais saberem de sua existência, talvez assim se comportasse melhor como espécie pensante inferior; quem sabe um dia isso ocorra. Mas ela era só uma criança vampira, desprezada por todos os vampiros que conheceu.
Talvez fosse por isso que não matou o escritor de ficção vampírica, os humanos eram mestres em falar e escrever sobre o que não sabiam, e ainda acreditavam que seus deuses e penduricalhos da fé, de alguma forma, podiam salvar suas almas ou impedir de ser a comida de um imortal, e isso a divertia... Ainda assim, anos depois, esperou que ele saísse durante o amanhecer, para algum lugar de Londres, e se apresentou a ele, poucos dias antes do escritor morrer, em 1912... Contou-lhe a verdade sobre sua espécie, aquela que nenhuma de suas pesquisas pela Europa foi capaz de revelar; nada na terra podia deter um vampiro, a não ser outro vampiro mais velho e poderoso. Gostou dele e sabia que a morte em breve o levaria, e se já não tivesse um filho, teria lhe transformado, talvez num futuro distante, quando sua alma voltar a este mundo, aí quem sabe não o faça?
Depois de cruzar os continentes voando, em poucas horas ela estava nas proximidades da casa aonde habitava a família dos Clayton em Londres, ela já saboreava o odor adocicado e delicioso do sangue daquela família. Ao cair da tarde a noticia de que ele estava morto na África já tinha chegado à residência, muitos familiares estavam se dirigindo ao local para confortar Katherine e seus dois filhos menores em prantos. A noite prometia a Yula um banquete como ela já não saboreava tinha décadas...
CAPÍTULO 2: VERUSKA, A VAMPIRA DE IBIZA E IRMA DE YULA...
Veruska nasceu na Rússia, mas não quando a nação passou a ter esse nome, e sim milhares de anos atrás, ainda na época do império romano e chinês. Seu povo vivia nas estepes roubando caravanas que comerciavam com vários reinos, e seu pai era um dos homens mais poderosos das estepes. Embora fosse tradição em sua tribo arranjar o casamento dos filhos e filhas com povos aliados e aumentar o poder dos clãs, impedindo conflitos tribais, com sua filha ele não pode fazer isso porque ela foi escolhida desde o nascimento em um eclipse da lua para ser uma Xamã, mal sabiam eles que o nascimento entre o sol e a lua lhe daria uma vida que eles jamais imaginariam possível de tão longa e infinita.
Ela foi entregue a bruxa kaiuska, assim que completou 10 invernos para aprender as artes magicas. Cabia, portanto à menina dar sequencia a um conhecimento que passava de geração em geração a poucos e escolhidos de varias famílias da tribo, assim como ela, mais 10 moças do acampamento eram agora as aprendizas da feiticeira. Embora o corpo da anciã aparentasse força e jovialidade, a xamã possuía mais de 200 anos, e se tivesse aceitado o pacto com os deuses das estepes negras – vampiros que ela afastou com sua magia temporária - viveria para sempre se tornando um deles. Mas o preço que cobraram dela, devido sua boa índole feminina, e querer realmente ajudar seus semelhantes, a colocaram em oposição ao que se tornaria caso decidisse viver para sempre, mas eles não desistiram desse intento e aguardaram o momento de novo pacto, afinal os humanos não são imortais, mas eles sim. Eles não temiam os xamans, mas os respeitavam porque fazia parte de suas leis, criadas por um vampiro mais velho que foi xamã e sabia de sua ligação com a natureza, não era a magia deles que afastava vampiros e sim a lei vampírica...
Sob a tutela da mestra, Veruska assimilou todo conhecimento que sua mentora possuía com muito mais afinco e rapidez que as outras aprendizas. E isso era bom porque na ordem da qual a bruxa era detentora do conhecimento da vida e da morte, uma das adolescentes deveria ser a herdeira e mestra suprema, e as demais ficariam como auxiliares dela porque ao se tornar a escolhida, deveria viver em isolamento e celibato, sendo consultada apenas pelas auxiliares que fariam o intercambio entre os pedidos de seu povo e o que ela poderia conceder com auxilio dos deuses.
Em uma noite de lua cheia ela foi levada as artes milenares de seu povo e aos sacrifícios que viriam; carneiros, cabras e outros animais menores foram degolados para encher uma tina de sangue ainda quente, onde ela devia beber e se banhar para assimilar a força vital deles e seu elo com a natureza animal dos seres vivos. Depois um banho com brotos de ervas sagradas lhe davam a sabedoria do conhecimento medicinal do plano vegetal, onde os líquidos também se embrenhariam nos poros, fazendo-a a bruxa suprema dos dois reinos.
Ao deixar sua futura bruxa meditando extenuada em sua tenda de pedras aquecidas, kaiuska lhe avisou que havia o ultimo desafio, ser tentada pelo poder eterno e imortalidade dos seres malignos, se ela os aceitasse jamais seria a escolhida, e sim um demônio sem paz e serenidade, um ser vivendo na eternidade, se alimentando da vida de quem ela deveria cuidar. Como já havia passado por quase todos os testes, e as cicatrizes em seu corpo mostravam isso, não cabia à bruxa ensinar sua aluna como resistir aos desígnios da vida, era uma luta entre o espirito eterno e a carne mortal que vestia sua alma. A tentação era natural aos deuses em relação aos humanos, mas cabia a uma escolhida superar os presentes malignos deles, viver em retidão e passar seu dom a próxima escolhida, como era feito há milhares de anos.
Na solidão de seu abrigo, suando pelo calor do local fechado a mais de 40 graus com pedras aquecidas ela delira. Sua alma corre livre pela pradaria, correndo com o espirito do lobo sacrificado para encher com sua vida o sangue na qual ela se banhou, e como tal ela abate mentalmente uma presa do lobo e devora não sua carne e sim a energia vital. Depois ele a liberta e ela agora ela flutua como uma folha ao vento ao voar sobre as planícies. Enquanto sua alma faz a jornada carregada de vida e pronta para o que tem que superar, um ser maligno, tão antigo quanto o próprio homem invade a mente da menina.
Sodak invadiu a mente dela durante o transe e lhe mostrou o que ela era como humana, e o que poderia ser, e ao contrário de sua mestra, ela não foi capaz de resistir aos dons do vampiro; então ele morde seu pescoço, suga seu sangue até a última gota e parte, mas seu elo mental com ela agora persiste e ele crava os dentes mentais em suas coxas, e embora esteja ali sozinha ela sintomatiza as feridas de seu novo pai. O ser nada lhe fala, apenas mergulha a menina em seu futuro e lhe mostra os homens e mulheres de sua aldeia tendo filhos, envelhecendo e morrendo, e ela sofrendo a cada morte por viver a vida humana.
Por ultimo lhe mostra seu destino como bruxa: solidão, tristeza, conhecimento eterno de toda vida na terra e não ter com quem compartilhar até morrer seca, virgem e sem filhos, velha aos 250 anos de idade, numa existência onde só serviu a todos, mas jamais viveu por si mesma. Seu corpo cremado na pradaria, e suas cinzas dispersas ao vento até caírem ao solo, alimentando plantas, animais e homens...
As mordidas do ser energético se intensificam na sua carne profundamente à medida que ela renega esse destino e abraça o destino que o vampiro lhe deu, ela morre, mas em breve estará mais viva que qualquer ser humano que já viveu. O calor de sua tenda não mais existe apenas um frio glacial e uma fome devastadora que ela jamais sentiu, o desejo por alimentos e tão grande que ela adormece e desperta um dia após; mas para sua surpresa não esta mais em sua tenda e sim em sua aldeia cercada de mortos, todos os membros de sua tribo estão espalhados, homens, mulheres, crianças, bebês recém nascidos, suas colegas aprendizas e a própria kaiuska, degolada. Os pescoços estão rasgados e o sangue infesta o local, mas os carniceiros estranhamente não se aproximam. Ela se pergunta o que teria sido aquilo que destruiu seu povo e família, mas também não sente nenhuma dor por vê-los mortos. De alguma forma sabe que eles não estão... Em seu interior os sente vivos e em sua mente ouve a voz de kaiuska:
- Você falhou menina, sua alma foi fraca a ponto de você desconhecer sua própria essência e se entregar ao mal que lhe tentou e a domou. Não procure os culpados por esse massacre, basta olhar seu reflexo na água e saberá que foi você, enquanto seu corpo era possuído pelo demônio sanguíneo que lhe tentou e devorou seu sangue, mesclando com o dele. Graças a isso você ganhou o dom dele, viver à custa de outros que um dia era de sua raça. Há outros como você na terra, mas há também os que lhes caçam se lhes desobedecer às leis. Aproveite sua vida porque um dia você também será morta da forma mais cruel do que a que impôs aos seus semelhantes, pois para um imortal, a verdadeira morte esta em morrer em vida.
Estranhamente as palavras da antiga mestra não tiveram nenhum efeito sobre Veruska, não era mais humana, e o fato de ver o que teria se tornado a fizeram na verdade jamais querer ser dessa espécie inferior. Compreendia agora o mundo a sua volta com mais entendimento e conhecimento que a própria xamã levou a vida inteira para saber e jamais chegaria a seu estágio. A vida humana, ou de qualquer ser era apenas energia em movimento, e nela os corpos eram apenas invólucros para que a vida seguisse sem caminho. Não havia mais espaço para sentimentos inferiores nessa jornada, ela era agora uma filha dos deuses, e os humanos seu prazer e alimento.
Milhares de anos depois ela esta tomando sol em Ibiza, um lugar paradisíaco, onde ela saboreava o sangue de humanos vindos de várias partes do mundo. Diferente do livro do católico Bram Stoker, e de outros autores que escreveram sobre vampiros, seguindo as bobagens do 1º autor, eles não tinham nenhum ponto fraco, e nem aversão à luz. Ao contrario, podiam ficar muitos meses sem beber sangue humano porque o sol lhes era também fonte de vida e poder. Já o sangue que absorviam não só os mantinham felizes e saudáveis como lhes dava o conhecimento de tudo que sua vitima sabia.
Teve a companhia de seu criador por cem anos, que lhe domou os instintos, ensinou o que podia e compartilhou com elas todas suas memórias, e que ela era sua única herdeira já que jamais deu seu sangue a nenhuma criação além dela. Sentiu-se órfão e abandonada quando seu pai decidiu dormir por milênios, queria ajuda dele, precisava dele, mas ele tinha vontade própria e ela não mais insistiu. Contudo, após ele dormir, podia sentir ainda assim parte da essência dele em algum ser vivo, era algo muito longe, mas ainda assim familiar. Talvez tivesse um irmão ou irmã em algum lugar e seu pai não havia lhe dito. Algum dia talvez se conhecessem...
Após o sono do pai, ela decidiu relegar o contato com os humanos por gerações, só se alimentando deles, e de vez em quando se entregar ao convívio com outros vampiros, de forma tão intensa que só um vampiro poderia vivenciar. Mas também se permitiu tempos depois os prazeres do sexo com milhares de homens e mulheres nesses incontáveis séculos, contudo nunca os deixou envelhecer e morrer, todos estavam dentro dela. Após três anos com cada um deles, ela os sugava até a morte, depois incinerava os corpos e devolvia as cinzas ao mar. Aprendeu ao longo dos anos que havia também muita energia nesse prazer. E naquele momento ela viu algo que ascendeu esse fogo apagado já há uns cinco anos, uma linda mulher chamada Vera estava ali na praia com seu marido. Ela podia ler a mente de qualquer pessoa, e também dominá-las só com sua vontade superior, afinal, era uma vampira...
Os dois humanos sentiram um desejo intenso por ela e caminharam até a vampira, daquele dia em diante teriam um longo e intenso relacionamento, ela os alimentaria com seu sangue e eles seriam seus escravos e amores sexuais até o dia de escolher outro brinquedo, afinal de que vale o poder se não há com quem exercer e viver?
CAPÍTULO 3: MAOMÉ, O DESCENDENTE DA VAMPIRA...
A maioria dos vampiros jamais soube que seriam assim, pois foram escolhidos ao acaso, mas com Yanufffoi diferente, afinal sua mãe, Rasenna, havia sido mordida por uma vampira, mas que não a matou, pois queria apenas o sangue de uma mulher gravida. Ela era descendente de uma linhagem antiga de vampiros, sendo Yurgolum dos mais velhos e poderosos do planeta, e avô do criador dela, ambos hibernando há milênios. Logo após Yanuff nascer, ela morreu, pois já estava fraca, a as dores do parto fizeram o restante que faltava. Contudo, por uma questão pessoal na época, a vampira o viu no berço coberto e decidiu que seria dela aquela criança. Matou a todos ali presentes e levou-o carinhosamente até seu refugio, e o criou como filho e jamais escondeu dele o que era. Desde sua infância ele pôde ver sua mãe adotiva se alimentando de outros seres humanos, parte do sangue que tomou ela dividiu em sua mamadeira, junto com o leite que ficava rosa, e quando ele ia crescendo, ela ensinou o garoto a saborear o sangue que brotava do pescoço das vitimas que ela caçava.
Assim que ele teve maturidade, ela contou que tinha matado a mãe verdadeira dele ao se alimentar, não se desculpou por isso, afinal os humanos eram alimento, assim como era direito deles terem vacas, aves e demais seres vivos inferiores para sobreviverem. Yanuff compreendeu isso sem o pesar que se esperaria, e a dieta que sua mãe seguia lhe deu um vislumbre da humanidade que ele pertencia, mas que não desejava mais continuar. Até ele completar trinta anos, ela lhe deu sangue de crianças recém-nascidas, meninos, adolescentes, idosos, ou seja, todas as fases da vida humana, que ao longo dos anos ele desprezava cada vez mais.
Por três décadas ele ansiou ser vampiro, mas por uma estranha razão ela se recusava em lhe dar a vida eterna, desejava que ele se apaixonasse por uma mortal, e tivesse filhos, que ela criaria e cuidaria de seus descendentes pela eternidade. Contudo, seu filho não era assim, ele adorava sangue humano, matar pessoas, saborear o dom de tirar uma vida, devorar uma inocência virginal... Todas as mulheres com quem ele fez sexo ele matava no mesmo dia, e bebia o sangue em seguida, isso era uma questão ainda mais louca para sua mãe entender, e um dia ela lhe perguntou:
- Quando vai ter uma mulher, filhos, se apaixonar, arrumar uma vida, ser parte deste mundo, deixar de matar as pessoas com quem sai?
- Mesmo tendo me criado e cuidado de mim por todo esse tempo, será que jamais vai entender que odeio a humanidade? Não quero ser pai de seres frágeis, ter uma mulher para escravizar meu destino, ficar velho, fraco e decrépito como todos de minha espécie, aguardando uma morte indigna por doença ou velhice. Você esta viva há milhares de anos, já imaginou que fosse possível se tornar humana, e sofrer tudo aquilo que a mim esta destinado, caso não me tire desta frágil e inútil vida mortal? Meu único desejo é ser aquilo que você é, e se hoje, você não me fizer um vampiro, depois de tudo que fez por mim, a única coisa que me resta é tirar essa minha vida humana inútil porque nada nela me dá prazer ou motivo de vida.
As palavras do filho mortal fizeram a mente dela retornar milênios no passado, quando ainda era humana, morando no templo etrusco, onde era uma sacerdotisa, responsável por sacrifícios e ler o futuro nas vísceras de animais, além de rezar e implorar aos deuses pelos mortos. Antes de ser escolhida, ela ajudou a sua irmã mais velha com seus sobrinhos, mas um dia todos foram mortos por guerreiros, às mulheres foram levadas como escravas, e seus templos haviam sido saqueados por aqueles hereges. Ela foi estuprada por vários soldados, e estava quase morta, com hemorragia, portanto inútil para ser levada como escrava, em seus últimos instantes de vida ela sentiu uma mordida em seu pescoço e no final a escuridão. Quando despertou, estava curada de todas as suas feridas, contudo, não era mais humana, e sim uma dádiva da natureza, podia ouvir, cheirar, correr, comandar mentalmente os humanos, voar e ver com os mesmos dons dos deuses para os quais ela rezava. O dia e a noite eram seus companheiros fieis, pois podia aproveitar todas às fases deles simplesmente voando para ver o nascer do sol, ou o luar enluarado, coberto de estrelas.
Mas com a dadiva da vida eterna, também lhe veio à fome e necessidade de beber sangue humano, A vampira que a salvou e transformou era uma jovem, apesar de ser milhares de anos mais velho que ela. Ela era um parente distante que sempre protegeu seus descendentes humanos, não só de outros humanos como também de vampiros, marcados por ele como seu alimento; pois assim como os humanos marcam seu gado, para os vampiros, aquilo tinha o mesmo propósito. Quando ela foi atacada, junto com seus outros descendentes, nada mais podia fazer por eles porque estava longe, mas o grito mental dela, devido à marca, a fez voar depressa para lá. Salvou-a e nada podia fazer no momento, exceto uma vingança alimentícia que podia esperar, e como ela estava além de cuidados humanos, pois iria morrer, só lhe restou fazer dela um ser superior.
Ela a ensinou por décadas em tudo que deveria, massacrou junto com ela todos que atacaram seu povo e os templos, e depois a deixou só para seguir seu próprio caminho. A cada cem anos elas se reencontravam para relembrar aventuras e viver novas, mas ela se sentia muito só, se apaixonou por humanos, viu os envelhecer e morrer, criou e protegeu seus descendentes, mas jamais se sentiu realmente feliz. Então se entregou a sua sina e somente vampiros eram seus escolhidos para se relacionar fisicamente. Contudo, um dia, muitos séculos depois, após matar o pai e a mãe de Yanuff, numa tenda árabe no deserto do Sinai, uma estranha vontade de ser mãe e protetora havia tomado forma nela, e o bebê lhe devolveu isso, mas ao crescer ele era não mais um humano comum, pois se comportava impiedosamente como vampiro. Em toda sua longa vida ela nunca devolveu a ninguém o dom que possuía, nestes 2500 anos de existência. Talvez fosse a hora de apresentar a sua criadora uma cria também, afinal ela só tinha a ela como herdeira, e só esse desejo inconsciente explicaria suas ações, pois seria um vampiro que ela realmente criou e educou, coisa que nunca ocorria no mundo dela, sempre escolhidos ao acaso ou por paixão. Yanna olha o filho nos olhos e pede que ele lhe de seu pescoço. Os olhos dele brilham como fogo porque sabe que seu desejo finalmente será atendido, em breve será um vampiro, tendo o dia e a noite para ser feliz e imortal. Devorar qualquer ser humano que deseje, possuir todas as mulheres do mundo porque elas não poderiam resistir a seu poder mental e vontade de lhe agradar; matá-las não mais por vingança humana após o sexo, como faz atualmente, e somente se tiver fome... Poder viver em palácios e hotéis de luxo, já que seus donos estariam com as mentes prontas para seus comandos mentais. Enfim, o sonho de sua vida em ser imortal, ao lado de sua mãe estava prestes a se realizar, e com prazer ele se entregou aos dentes penetrantes dela.
Enquanto ela sugava lentamente cada gota do homem que um dia foi sua criança, seu bebê, seu filho, ela imaginou os milhares de anos que viveu como vampira, a fome, a dor inicial de matar humanos, coisa que ele jamais sentiu porque isso já estava em sua alma, e a falta de humanidade que ele já possuía. Mesmo não sendo humano, um vampiro deveria seguir algumas regras impostas pelos mais velhos para protegê-los dos humanos. Não que os temessem, pois vampiros não podiam ser mortos por armas humanas, mas ainda assim desejavam ficar conhecidos só como mitos. Somente vampiros mais velhos tinham força e poder para matar outro vampiro, mas sua própria lei os impedia, a não ser que aprovado por um ancião, e ainda assim se fosse algo muito grave que afetasse outros vampiros.
De alguma forma ela sabia que seu filho não seria um vampiro fácil de se lidar, ainda que estivesse sob o poder dela após transformado, ele continuaria sendo um desobediente, da mesma forma que era como humano, e ela como anciã, tinha responsabilidade com seu povo. Mas ao mesmo tempo não queria deixa-lo morrer como humano, afinal ele foi para ela a coisa mais importante do que viveu em séculos.
Era apaixonada pelo filho, moveria mundos e fundos para que ele fosse feliz ao lado dela porque a imortalidade sem família é uma maldição. Ela corta seu pescoço e coloca o sangue na boca do filho. Ele sente seus lábios bebendo o poder dela pela primeira vez, e ao final do dia ele não é mais um humano fraco e frágil, mas ainda não era um vampiro. Ao acordar ele esta curado e pergunta o motivo de ainda ser mortal, e ela responde:
- Você é meu filho, e será assim por toda eternidade, mas antes de virar um imortal, eu tenho um pedido para você... Preciso de um filho seu, alguém para proteger e manter sua descendência, você não possui parentes vivos, pois se assim fosse poderia farejar pelo sangue deles, é o ultimo de uma linhagem que remonta ao meu povo, pensei que estavam todos mortos, mas um descendente estava na barriga das mulheres levadas em minha época. Eu só soube disso depois de matar seus pais, mas não naquele instante e sim anos depois. Vou arrumar algumas mulheres férteis, você vai copular com elas, e assim que elas ficarem gravidas, no mesmo dia eu te transformo, até lá seja paciente.
Yanuff não ficou muito satisfeito, mas saber que realmente tinha parentesco com sua mãe vampira o animou a cumprir o desejo dela. Assim ele recebeu varias mulheres e atendeu ao pedido. Apenas duas delas ficaram gravidas, a filha que nasceu ele chamou de Azira, e o filho, Abū al-Qāsim Muḥammad, séculos depois o mundo o conheceria como Maomé, o pai do islamismo. Eles criaram os filhos até que o menino e a menina já estivessem grandes o bastante. Com a pressão do filho, ela o transformou em vampiro e as mulheres dele foram entregues a um parente, um tio por parte de mãe de Maomé. Os vampiros sabiam que eles estavam seguros e deixaram-nos seguirem seu destino, pois Maomé segue sua própria lenda, pois assim como seu pai vampiro, ele herdou dele o dom de falar e manipular outros para que o seguissem fielmente, a avó vampira lhe dera também um pouco de sangue vampiro para ser mais forte que os humanos normais... Yanuff foi criado, e alimentado com sangue vampiro, e foi feito com sangue de uma anciã, ou seja, ele já nasceu poderoso, e como vampiro, ele era o mais cruel e sádico dos seres, não tinha nenhum dos pesadelos que sua mãe teve milênios atrás ao se transformar e alimentar-se; seu alimento predileto eram bebês e crianças até os 10 anos, não gostava muito do sangue de pessoas mais velhas que 20 anos, bebia apenas para dar tempo aos humanos de se reproduzirem. Sua mãe estava mais preocupada com a descendência dele, e quando percebeu que Maomé tinha ficado órfão, protegeu-o, e depois hipnotizou a ele e uma mulher rica para que se casassem. Ela se revezava em ensinar o vampiro e também cuidar do neto humano. Maomé nasceu para o sacerdócio, assim como ela tinha sido milhares de anos atrás, estava no sangue de sua família. Com seu poder mental sobre os humanos, ela apareceu para ele em sonhos durante muito tempo, e ensinou dogmas de moral e costumes antigos de seu povo etrusco, adaptado a realidade das religiões do deserto, até que ele codificou os mesmo em algo que seria uma nova religião. Percebeu que isso iria matá-lo e ordenou ao mesmo que fugisse, enquanto ela e o pai dele massacravam os inimigos de sua descendência.
Como eles podiam andar com os humanos, já que o conto de fadas que vampiro pode morrer exposto à luz e outras idiotices de escritores católicos e linhas semelhantes é apenas isso; com a ajuda deles o exercito islâmico de Maomé era imbatível, e a fome dos vampiros estava sempre saciada pela carnificina que se seguia, bem como o silencio e cegueira dos humanos porque o poder de hipnose deles impedia de verem a verdade. Maomé terá inúmeros descendentes antes de morrer como humano alguns anos depois, pois assim como seu pai antes dele, ao ser informado de seu legado, ele não quis mais ser humano. Seu pai o mordeu e levou seu corpo para uma das montanhas mais altas do mundo, transformando-o em vampiro. Com o pai e a avó, ele viveu e se saciou por séculos, até decidir hibernar e ali ele permanece congelado até hoje.
Séculos depois, sua família foi literalmente sendo exterminada pelas facções da religião que ele criou, e os últimos descendentes foram transformados em vampiros, contudo, embora o mundo pense que estão todos mortos, apenas dois filhos foram salvos, e dados à realeza da Arábia Saudita. Hoje, em pleno século XXI, os descendentes de Yanuff são numerosos e poderosos, como reis e príncipes. Mas ele, sua mãe e descendentes vampiros não estão preocupados mais com eles e sim em serem predadores imortais, aproveitando toda riqueza e prazer que o mundo humano criou para o deleite dos imortais que se alimentam deles e de suas posses...
CAPÍTULO 4: JESUS, O FILHO DO VAMPIRO...
Indra foi um dos últimos discípulos de Buda, o mestre hindu o aceitou porque viu nele uma aura pura e iluminada, uma que só um mestre ascendido podia perceber num ser humano, e após décadas trilhando vários caminhos religiosos, Sidarta encontrou o seu. Gautama sabia que seus dias na terra estavam chegando ao fim, e que nenhum dos antigos discípulos que o acompanhavam há vários anos podia lhe suceder após desencarnar porque ainda estavam todos presos às coisas do mundo. No entanto, Indira Indra, o mais jovem deles, foi escolhido como seu herdeiro, o que não agradou aos demais discípulos, mas como a palavra de Sidarta era lei, e nenhum dos discípulos podia se opor, após a escolha, ele dedicou ao rapaz toda atenção e o conhecimento que arrecadou nesta vida e em todas as outras que viveu ao se iluminar. A tarefa era árdua e esperava ter um pouco mais de tempo nesta vida para educá-lo, contudo, a morte veio para ele, mas não da forma natural que aguardava...
Meses após a morte do mestre, Indra ainda lamentava a falta de Buda, ele tinha sido envenenado, um velho homem era suspeito de ter lhe dado um alimento estragado, mas ele tinha suspeitos entre os discípulos do mestre, alguns que poderiam ter feito isso através do chá, coisa que ele bebia diariamente e que podia ser administrado veneno de forma lenta e gradual. E as suspeitas se confirmavam porque entre eles haviam muitas razões para isso porque estavam descontentes em não serem herdeiros do homem mais sagrado de seu tempo, ao qual foram fieis a vida toda, já que o mestre tinha escolhido um novato, ao invés de seus discípulos mais sábios e antigos.
Indra sabia também que seu mestre havia atingido a iluminação em vida, e que apesar de restar-lhe alguns anos pela frente, ao morrer envenenado, ele poderia retornar à vida em qualquer época, na forma de criança para viver o que restava, também podia escolher uma época especifica e se transmigrar ao corpo de um homem adulto e viver o que restava, ensinando novamente, ou poderia simplesmente jamais retornar à 3ª dimensão porque não seria mais necessário a uma alma ascendida, podendo habitar com almas superiores na 4ª dimensão. Indra não tinha mais como saber essas coisas, e nem qual seria a opção de seu mestre, mas gostaria que ele transmigrasse e o reencontrasse em vida... Em pouco mais de dois anos após a morte de Sidarta, seus discípulos se dividiram em três facções e não aceitaram o comando do escolhido de Buda, cada um com suas concepções pessoais, ditando novas regras religiosas, e sem terem como ser corrigidas pelo fundador do budismo, cada um passou a interpretar o budismo não mais com as palavras sagradas de Buda haviam-no descrito, e sim do que eles queriam que fosse. Aquela situação levou Indra a buscar seu próprio caminho de iluminação e esclarecimento, ele se torna um asceta, vivendo isolado numa montanha, plantando sua própria comida, e passando a maior parte de suas noites sentado, meditando; tentando recriar em sua alma a iluminação que seu mestre havia obtido décadas atrás... Por um tempo ele encontrou a paz e a tranquilidade para meditar, ver o sol nascer e se por, observar as estrelas, o cair da chuva, o cheiro de plantas molhadas e crescendo com a vida que vinha do céu em forma de luz ou chuva, mas isso durou pouco, pois ao dormir era assolado por sonhos nefastos e pesadelos terríveis, sentia-se perseguido por algo poderoso e selvagem, um ser que ia contra tudo aquilo que ele acreditava; uma espécie de mal muito antigo. Ao acordar no ultimo dia de vida como ser humano, ele percebeu a presença da morte o chamando, igual o que seu mestre pressentiu tempos atrás, sua vida estava no fim, em algumas horas ele morreria, sabendo disso, rezou e pediu a Buda que acolhesse sua alma na 4ª dimensão, e se possível, que reencarnassem juntos...
O vampiro estava feliz, após milhares de anos ele havia encontrado um ser humano digno de receber sua herança imortal. Em sua longa existência, mais de 20 mil anos de idade, Lamak, filho de Yurgol, jamais criou outro vampiro, pois não via com bons olhos a sua espécie... Frios, egoístas e dotados de uma fome sádica, onde se matava por fome ou prazer; a cura dessa sandice levava séculos, e muitos ainda assim persistiam como se estivessem nascido há pouco tempo porque gostavam de matar os humanos inferiores. Quando ele ainda era humano, vivia como um Xamã, voltado à busca da cura e auxilio a outros seres humanos e também estar em comunhão com a natureza, os deuses e o universo... Mas um dia foi mordido e transformado em vampiro. Seu criador, Yurgol, o ensinou e protegeu; afinal um vampiro que cria outro é em verdade o pai dele, estando ligados pela eternidade em fidelidade, mente e corpo astral. Por séculos ele havia esquecido a solidão, já que com seu filho havia muitas aventuras a compartilhar, contudo, assim como seu criador anterior, Yurgol também decidiu hibernar por alguns milênios, à humanidade estava ainda numa fase Bárbara, sabia que eles evoluiriam, coma a outra humanidade que se destruiu, e agora que tinha seu filho; as aventuras dele na terra podiam ser captadas em sua mente, ainda que hibernando...
E assim Indra, que um dia foi discípulo de Buda, um homem quase santo, ao se tornar vampiro, era obrigado a saciar sua fome fazendo o que mais odiava, matar pessoas e beber seu sangue, já que a fome era maior que seu valores de outrora. Como imortal e detentor de poderes imensos, seguiu as linhas budistas que foram para a Índia, a China, Japão e Tibet. Mesmo deturpados, muitos dos ensinamentos de seu mestre chegaram ao oriente médio e ao império romano, mas poucos seriam capazes de entender tais palavras, essas pessoas não tinham um mestre à altura do desafio para mudar seus corpos e mentes, presos ainda a deuses tribais e religiões primitivas; amparadas no conceito de bem e mal, coisa que ele sabia há séculos que não existia. Só havia o caminho do meio, e suas escolhas determinam sua reencarnação.
Embora se alimentasse de animais, às vezes ele se dava o luxo de beber sangue humano, e no império romano isso era coisa fácil de encontrar porque havia jogos e escravos em qualquer lugar, ou pessoas colocadas em cruzes nas estradas para morrer esmagadas pelo seu próprio peso em seus pulmões, sufocando... A crucificação, ao contrario do que acreditariam os mortais milênios após, não era para matar a pessoa em um dia ou dois, e sim que ele ficasse ali vivo e sofrendo até que a morte chegasse por asfixia, um exemplo a todos que contestassem o poder de Roma.
Ele não gostava dos romanos, na verdade odiava aqueles selvagens, inúmeras vez se entregou ao seu lado vampiresco e massacrou legiões inteiras, mas fazia isso apenas quando eles se excediam em suas maldades, como no dia que invadiram uma aldeia na Judeia e massacraram homens, mulheres e crianças. Aquele massacre covarde ficaria para sempre em sua lembrança, mas sua vingança também. Matou mais de mil homens em um só dia e se banqueteou do sangue deles. Os conflitos na Judéia e inúmeros salvadores religiosos, aqueles que libertariam os judeus dos romanos, faziam com que o povo sofresse muito nas mãos deles e dos líderes religiosos judaicos. A única coisa que o prendia naquele local era a crença na reencarnação que os judeus mantinham; por isso é que lutavam com tanto vigor contra os romanos invasores. Contudo, algo mais chamou sua atenção, dentre muitos judeus, um dia ele caminhava próximo a uma carpintaria e viu um jovem trabalhando ao lado do pai, o menino tinha uma aura pura e brilhante, assim como a sua ao ser escolhido por Buda. Aproximou-se do rapaz e viu que a aura dele tinha uma energia semelhante à de seu mestre, Sidarta, mas não sentiu que ele estava no rapaz. Os poderes de um vampiro estão muito além daqueles que Buda acumulou em vida, mas a essência de predadores os tolhia de usar. Conversou com o pai dele, um homem chamado Jose, e também com a mãe, que se chamava Maria. Sabia que o rapaz podia ser um novo Buda, mas vivendo e trabalhando ali jamais seria quem nasceu para ser. Ele dominou a mente dos pais e os fez entregar o jovem carpinteiro como seu discípulo. Seus pais não tinham como dizer não, além do mais, eles poderiam acompanhar o jovem se ele fosse para locais distantes.
Dos 6 aos 30 anos, Jesus aprendeu tudo que o vampiro sabia do mundo e de religião, os ensinamentos de Buda, como o mestre havia passado a Indira Indra séculos atrás, agora encontrava uma alma pura e evoluída para ser novamente fonte de salvação a outros. No dia do aniversário de 30 anos do rapaz, Indra decidiu deixar seu discípulo com os pais e tirar uns dias longe dos humanos, às vezes ele precisava disso. Sentou-se no topo do monte Sinai e começou a meditar, no entanto, algo superior chamou sua atenção, uma forma energética que ele sabia muito bem quem era; seu sagrado mestre flutuava em sua frente, a energia o tocou e em sua mente as palavras do mestre ganharam vida.
- Antes de morrer você me pediu para estar junto a ti numa reencarnação, eu não tinha como aceitar porque meu tempo que resta neste plano é de apenas três anos, mas eu achei o modo de fazer isso, o discípulo que você adotou tem a idade e a alma certa para que eu use seu corpo e alma. Eu e ele seremos um só, não haverá dominador nem dominado, apenas duas almas compartilhando o mesmo destino. Em três anos eu o deixarei seguir sua vida, mas o que devo fazer implica que ele deve morrer por instantes para que eu possa compartilhar o corpo com ele. O que desejo de você Indra, meu único e fiel seguidor, é que sugue sua vida por esses instantes, dê a ele seu sangue, com parte de seus dons ele poderá estar à altura do que nos aguarda porque não será mais humano, nem tão pouco um vampiro, ele será um hibrido, contudo, terá grande parte de seus poderes, amplificado também pela minha alma em ascensão.
- Sim mestre, eu farei isso, estarei ao seu lado por todo o tempo que o senhor estiver no corpo de Jesus!
- Não Indira, essa jornada não é para você, pois embora tenha sido um dia meu discípulo, você não é mais um ser humano, na verdade os humanos hoje o servem como alimento. Vá e tire um tempo para meditar, com seus dons no corpo que habitarei, não precisarei de nenhuma proteção porque serei mais poderoso que qualquer ser humano, mas minha missão é usar o conhecimento que tenho, e o poder que você nos dará para iluminar a vida e a alma destes seres terrenos. Quando estiver terminada minha missão eu o chamarei e você terá novamente Jesus como discípulo, só que agora ele será o meu escolhido na terra, orientado o seu povo com o que lhe legarei.
Indira parte de volta à casa de Jesus, voa sem pressa, um pouco contrariado porque queria o contrário de que seu mestre pedia, mas ele era seu mestre em vida, e agora também como ser ascendido, um mestre ainda maior. Assim o pedido era uma ordem, além do mais, ao dar seu sangue a Jesus, mesmo que ele não se tornasse um vampiro, dali em diante estariam ligados em quanto ele estivesse vivo, e saberia passo a passo tudo que o corpo e a alma dele estariam fazendo aonde quer que fossem...
Ele chega em meio as comemorações, controla a mente de todos que estão ali, e nenhum deles daria a falta do rapaz porque em suas mentes ele estaria dormindo, bêbado após tanto vinho. O rapaz é levado ao monte Sinai, e ali a energia de Sidarta espera o seu momento de ocupar novamente um corpo humano. Indra crava suas presas e suga o sangue tenro e jovem, é um sangue tão doce e poderoso que ele quase perde o controle e mata o rapaz. Foi necessário todo seu treinamento budista para não ir até o final... Meio desfalecido, com sua alma quase deixando o corpo, Buda pôde se conectar ao cordão de prata de Jesus porque as almas deles possuíam a mesma frequência, a alma de Sidarta transmigrou para o corpo dele, agora cabia a ele dar-lhe novamente a vida. Indra se corta e dá o sangue para que o rapaz sugue tudo que lhe foi tirado momentos antes, se cure e receba seu enorme poder. Ao receber a alma de Buda e o sangue do vampiro, algo novo iria surgir daquela união, e daquele dia em diante o mundo nunca mais seria o mesmo porque um verdadeiro salvador havia retornado... Indra se alimenta poucas horas depois de deixar Jesus em sua casa, tinha ido para a África atrás de bestas selvagens, mas algo abaixo mudou seu cardápio, navios romanos carregando escravos e feras. Ele desce e mata todos os romanos ali presentes. Bebe o sangue, rasga o corpo e arranca as cabeças daquelas pessoas e dá os restos mortais para as feras. Liberta os escravos e as feras e parte para seu exílio no local aonde foi transformado em vampiro. Decidiu hibernar por aquele curto espaço de tempo que seu mestre levaria neste mundo.
Nos três anos seguintes, com os poderes psíquicos e o sangue do vampiro, o corpo com duas almas arregimentou fieis e seguidores; flutuou sobre as águas, curou pessoas em coma, mas que muitos pensavam estar mortos, curou leprosos, e todos os demais milagres que um dia seria descrito nos livros sagrados em honra a seu nome e poder. Passou a mensagem do budismo, mas com outra roupagem para aquelas pessoas...
E assim como no tempo de Buda, nem todos ficaram felizes com o que ele dizia. O povo gostava, mas os governantes não. Ele foi pego, por opção própria, pois podia matar a todos se assim desejasse; mas seguiu com eles, sendo julgado e condenado à morte. Seu corpo foi chicoteado e o sangue escorria de seu corpo. Se ele fosse apenas um ser humano já estaria morto, mas ele tinha o treinamento budista e a energia de um vampiro. A dor era intensa, tanto física quanto mental, os romanos eram mestres naquele tema de destruir pessoas, flagelavam sua pele e alma, mas o que ele queria provar com seu suplicio é que este era o mundo da ilusão, e que o corpo nada mais era que uma casca descartável que se trocava a cada reencarnação. E os judeus desta época eram muito mais reencarnacionistas do que os de hoje, restando poucos que acreditam na verdadeira fé.
Buda estava completamente no controle do corpo naqueles instantes finais, jamais permitiria que o jovem Jesus padecesse as dores e o suplicio que os romanos infligiam a cada chicotada. Depois de tanto sofrimento ele é posto numa cruz e atado a ela. Ele ficaria ali por uma semana e morreria como qualquer infrator das regras romanas, mas o tempo de Buda na terra estava no fim. Contudo, ele sabia que Jesus não podia e nem devia morrer nesta época e lugar, na verdade ele escolheu o rapaz para passar a mensagem que em vida não terminou, e também para dar a Indra um companheiro para a eternidade.
Sabia que seu discípulo hibernava, podia chama-lo mentalmente, mas decidiu realizar a transformação de Jesus num ser eterno e poderoso, ao mesmo tempo em que retornava à 4ª dimensão para jamais voltar a este plano de seres primitivos e em transição, mas que se seguissem suas palavras, poderiam também ascender.
Um soldado romano estava próximo, ele ordenou mentalmente que se aproximasse, carregando sua lança. Sem poder pensar ou fazer outra coisa diferente, o soldado enfiou sua lança no homem que agonizava na cruz. Pouco tempo após o homem estava morto. Dali ele foi levado para uma gruta, seu corpo coberto com um manto, e por três dias ele ficou em animação suspensa, enquanto seu corpo humano morria e nascia mais um vampiro sedento de sangue, vingança e poder. Ciente de que o corpo de Jesus agora estava novamente pleno, Buda deixa o cordão de prata dele vibrar em sua forma pura e deixa a terra. Seu ultimo ato aqui é enviar uma mensagem a Indra:
- Seja pleno, não tenha receio do que se tornou e nem deixe seu filho sem um pai, cuide dele, e ele cuidará de você.
Ao anoitecer, com a força de vários homens, o vampiro empurra a imensa pedra que bloqueava sua caverna e deixa sua prisão de morte. A sede que sente é um tormento maior que qualquer conceito humano que um dia teve, e como tal só lhe resta aplacar sua gula. Ele voa em direção a um acampamento romano, e veloz como um raio, mata e suga o sangue de cada soldado que ali se encontra. Antes que a noite chegasse a sua metade, mais de cem homens estavam mortos. Mas antes dele prosseguir para nova matança, Indira Indra chega e doma sua mente insana. Indira coloca na mente das pessoas que vigiavam a gruta que Jesus havia ressuscitado em vida, e que eles deveriam espalhar seus ensinamentos por um mundo melhor. E que um dia ele voltaria para ver o progresso do que haviam feito, ou refazer tudo aquilo que em vida ele fez.
Livre de sua missão com seu mestre, e com um filho para educar e cuidar, dentro de uma comunidade restrita e poderosa como a dos vampiros, restava ao velho vampiro doutrinar seu filho, e a primeira coisa que faria seria não matar tantos em uma só noite, afinal, eles eram imortais, invulneráveis, indestrutíveis, e a carreira de Jesus salvador da humanidade ficava a cargo de seus mitos em vida, mas a de Jesus, vampiro poderoso e eterno, esse não iria mais voltar porque ele jamais partiu...
CAPÍTULO 5: MARCOS, O FILHO DE YULA...
Marcus vivia há 10 mil anos, era um dos vampiros mais velhos da terra, mas sabia muito pouco de sua espécie e nunca soube como se tornara um. Acordou numa noite séculos atrás com muita fome, em plena pradaria, sem saber como havia chegado ali. Por um momento esqueceu que estava faminto e olhou ao seu redor, reconhecendo o local de uma caçada a mamutes com sua tribo dias atrás. Só não se recordava de ter voltado para a aldeia onde estava sua família, e um medo aterrador do que poderia ter lhes ocorrido o fez correr para lá, chegando em segundos sem perceber isso. E seu temor era real, todos mortos há dias, os ossos limpos por vermes e carniceiros. As ossadas dos mamutes tinham agora a companhia de todos os homens, mulheres e crianças de sua tribo. Contudo, ele percebe um gemido ao longe, um dos anciões do grupo que vivia em reclusão por ser um Xamã estava sendo devorado vivo por chacais.
Aquela cena forte fez sua alma arder em vingança, pegou uma lança e atirou no animal, a força foi tanta que passou de um lado a outro e penetrou fundo na terra. A fúria se torna mais insana, e um a um ele destroça os outros animais com uma velocidade estonteante, sem noção alguma disso. Aproxima-se do idoso que estava com as pernas ensanguentadas das mordidas e lacerações, mas quando ia perguntar ao velho o que ocorrera ali e como ele tinha sobrevivido, a visão e o odor do sangue se apossam de sua nova vida e ele o ataca na garganta e suga até a última gota, e com o sangue do velho, vem junto a memoria de todo conhecimento do Xamã, exceto o que ocorreu na tribo porque ele não estava ali e sim em reclusão mediúnica.
O alimento não foi suficiente e a fome intensa ganha apenas um alivio imediato, mas ainda assim faz seu primeiro efeito. Ele podia sentir e ouvir, farejar e ver como nenhum outro ser vivo da terra era capaz, exceto os vampiros. Seus olhos percebem a noite como se fosse dia, pois ele agora fazia parte de uma cadeia de vida além da morte, já que era imune a ela. Esse foi um dom que ele ganhou não de um vampiro adulto e sim de uma menina, seu nome era Yula, uma linda criança aparentando oito anos de idade, que de tão linda, poderia ser modelo fotográfico de comerciais para roupas infantis ou brinquedos, mas teria que esperar milhares de anos até o capitalismo surgir. Ela o criou apenas por um capricho, pois era ignorada pelos membros adultos de sua espécie, nunca conheceu nenhum vampiro de sua idade. Quando transformou Marcus poucos anos apos se tornar vampira, não queria um amigo ou pai e sim alguém para lhe proteger dos demais membros de sua raça, alguns não gostavam dela e achavam - na uma aberração antinatural; na hierarquia dos vampiros, não se transformavam crianças, só adultos, e Marcus era realmente seu único filho porque nunca mais criou outro...
Depois de massacrar a todos da aldeia, ela não tinha mais fome, então encontrou outros caçadores, Marcus era um deles na pradaria em busca de caça, só não sabia que agora ele se tornara um... Ela os atacou e sugou todos até a morte apenas por gula, e escolheu Marcus como protetor. Deu - lhe seu sangue para que a vida eterna voltasse a seu corpo; e assim, caso necessitasse dele era só invoca-lo que ele ali estaria. Como sua criadora, ele estava ligado a ele e lhe devia obediência eterna, mesmo jamais sabendo quem ela era, mas bastava chamar mentalmente e ele estaria próximo em um instante porque estaria de forma inconsciente nas imediações onde sua genitora estivesse, e de novo, sem noção alguma de que não tinha sua liberdade, era um escravo em todos os sentidos.
No entanto, ao passo de Yula ser uma criança em termos humanos, podia sentir tudo que seu filho vivenciara, mesmo sendo criança eternamente, ela sentiu através dele os prazeres do sexo, as dores da solidão eterna e a perda dos seres que morriam, enquanto ele permanecia; O medo de ser só, vazio e não ter sentido algum em viver, as dores de se apegar a humanos de vida tão curta, os ver envelhecer e morrer, como as folhas secas ao vento. Por inúmeras vezes pensou em matá-lo devido a esta ligação mental e de alma que a torturava, mas ao longo dos séculos após cria-lo, ela compreendeu melhor seus dons e aprendeu a isolar pensamentos e desejos de seu filho com os quais não concordava. Como ela não sabia quem a criou anos antes, não via motivos para deixar seu filho também saber de si.
Após Marcus matar o velho, o cheiro da morte entra por suas narinas e o faz querer chorar, mas lagrimas não saem, e aos poucos ele entende que seus familiares estão além de seus sentimentos, e que a morte de seres humanos se tornou sua verdadeira fonte de vida. Procurando pela aldeia ele encontra os ossos de sua filhinha, Narrini, o colar de ossos que lhe fez foi o que levou a reconhecer e se perguntar como alguém tão infantil pode morrer sem ter sequer vivido? Em prantos sem lagrimas, ele deixa a aldeia, e o corpo morto do velho aos carniceiros. Caminha pela relva em direção ao horizonte, segue sem pensar em comer ou beber, algo o impulsiona em direção ao sul, onde havia um rio e dali para o mar. Durante dias e noites ele anda, não há fome ou sede só o caminhar em direção à luz das estrelas e do sol nascendo e se pondo. Até que finalmente ele encontra pessoas, muitos homens mulheres e crianças, uma grande tribo, falando uma língua que ele não entende, eles não o viam como um homem e sim como um estranho a ser domado e conduzido aos anciões. Palavras duras são ditas e ele é cercado pelos aldeões, Marcus ergue as mãos num gesto de paz abandonando a lança que trazia e se entrega, esta cansado da solidão e talvez pudesse ser aceito pela tribo, afinal um homem a mais nas caçadas garantia a sobrevivência.
Ele é levado para o centro da aldeia e de repente todos o estão adorando de joelhos, em suas mentes, dominadas por Marcus de forma inconsciente ele é visto como uma divindade, pois como vampiro ele tinha o dom da Psicomorfose, podia fazer as pessoas imaginarem o que quisessem, e uma delas foi entender que ele era um deus e precisava de alimento. Um sacrifício de uma jovem era requisitado, e ela de bom grado e fé em sua deidade viva foi até o local onde ele estava e deu-lhe o pescoço em oferenda, no segundo seguinte o sangue virginal da menina inundava seu corpo de energia vital e prazer, enquanto um sorriso nos lábios dá a ela o prazer de servir de alimento a um deus. Mas a fome não bastou, ao contrário, tornou se imensa, e mais mulheres e crianças se entregaram ao deus vampiro. Ao beber ele se alimentava e ao mesmo tempo fazia isso de forma psíquica para Yula onde quer que ela estivesse, ele não era apenas seu protetor, em alguns casos a amamentava com energia vital e psíquica das vitimas que fazia, por isso muitas vezes continuava com fome após se banquetear. Uma a uma, todas as pessoas da tribo deram suas vidas de forma pacata e tranquila a seu devorador, não havia medo da morte ou desejo de fuga, apenas sorrisos de prazer ao se entregarem de corpo e alma a um deus que eles veneravam. Ao contrario de outros vampiros que amavam impor medo em suas vitimas e beber um sangue cheio de adrenalina, ele preferia o sabor delicado do sangue feliz e espiritual. Essa foi uma das coisas que encantou sua genitora, a alma de criança que ela possuía lhe contaminou no ato da criação, e ao longo das eras ela gostava mais de receber alimento via Marcos do que sair por aí rasgando corpos para sugar vida. No entanto, não raro ela se entregará a essa sina, afinal vampiros vivem de morte, e matar ou morrer faz parte da natureza de quem deseja se mantiver vivo...
Ao longo dos milênios Marcus rodou o mundo seguindo ao longe os passos de sua mentora, conheceu vampiros, viveu e caçou com eles, massacrou povos inteiros, amou muitos com a fome sexual inerente a sua vontade de sangue, muitas vezes sem saber chegava a locais onde vampiros tinham estado; achando locais de massacre com cabeças jogadas para todos os lados. Alguns vampiros gostavam de arrancar a cabeça de suas vitimas e sugar o sangue direto do pescoço sem cabeça. Ele, no entanto, desgostava desta prática característica de animais selvagens. Ao longo das eras ouviu relatos de uma vampira criança e desejou de forma inconsciente conhecer quem criará tal abominação e se encontrasse ela, com certeza a mataria como favor a ela mesma. Embora ele fosse vampiro, achava que não deveriam mais existir outros de sua raça, na verdade ele abominava sua espécie, e muito menos uma com o corpo de uma criança, portanto jamais criou um vampiro, decidiu seguir só pela eternidade...
Em um determinado dia de dezembro de 1981 ele estava em uma cobertura em Londres, pois o dono, dominado pela mente do vampiro o via como seu mestre e mentor, assim sendo tudo que ele possuía estava a disposição de Marcus. Nas noticias locais daquele dia havia a de um massacre como não se via há décadas na Inglaterra desde Jack o estripador, uma família inteira havia sido morta de forma macabra, todos com as cabeças arrancadas. Seguidores de seitas religiosas que veneravam a morte eram os primeiros suspeitos a serem investigados pela polícia... Os vampiros aprenderam ao longo de séculos que não deviam deixar pescoços rasgados e furados com presas, isso poderia levar os humanos a descobri-los, portanto deveriam pensar que era coisa de assassinos em série. Ao anoitecer ele caminha pela cidade e esta feliz por ser uma daquelas noites londrinas em que a nevoa encobre tudo e só vampiros podem ver o que olhos humanos jamais poderão. Então algo rasga a sua mente, um pedido de socorro intenso, maior que sua vontade, três vampiros quase tão velhos quanto ele estão atacando uma menina, e ela finalmente perde a consciência ao ser arremessada contra uma parede. Embora mais velha que todos os presentes, a sua força é proporcional a seu tamanho, se fosse apenas dois ela os derrotaria, mas em três foi impossível.
Possuído pelo espirito dela como genitora, ele parte para cima deles e os mata com uma fúria irracional, arrancando suas cabeças, logo em seguida ele ergue os corpos e suga o sangue de cada um. E uma sensação que ele só experimentou uma vez ao se tornar vampiro retorna com força suprema, ele viveu em sua mente durante milésimos de segundos a existência milenar de cada um daqueles seres, sabe quem os criou e que agora pode ser caçado por eles em vingança mortal. Mas após beber o sangue incomum e antigo, ele não é mais um simples vampiro de 10 mil anos, a energia vital daqueles corpos lhe deu muito mais poderes do que qualquer um de sua espécie jamais teria. Beber sangue de vampiro era melhor, mais doce e saboroso do que o de milhares de humanos. Sem que ele perceba, Yula esta de novo acordada, olhando para ele, e mais forte que qualquer vampiro na Terra, afinal ele sempre alimentava a mãe menina ao beber sangue...
Ela se se aproxima dele e lhe olha nos olhos de forma terna e maternal, de repente ele descobre quem ela é, e as palavras ternas e carinhosas em sua mente só confortam e confirmam isso.
- Obrigado meu filho, sua força e vontade protetora por mim me salvou, e foi para isso que lhe criei e protegi. Matar vampiros não é permitido entre nossa espécie, muito menos nos alimentarmos de nossa própria gente, portanto você deve esquecer esse momento, e para que não o rastreiem e tentem eliminar devido ao sangue deles em seu corpo, cada gota deve sair dele para o meu...
Sem que o vampiro pudesse dizer ou fazer algo contra, ele, assim como suas vítimas sobre seu poder, oferece calmamente seu pescoço a matriarca, e ela suga todo o sangue dele a ponto de deixar o mesmo seco e mumificado. Leva o até a África e deixa-o em uma caverna que mantem há milhares de anos como refúgio secreto. Acorda-o algumas vezes para se alimentar de crianças recém-nascidas que ela rouba das mães nas aldeias africanas, de varias tribos e tipos de sangue diferentes, até que meses após ele recupere completamente seu poder de vampiro. Poucos dias após ela o leva de novo a Londres onde ele retorna a sua rotina na cobertura de sua vitima. Não há uma lembrança de Rúbia e daqueles dias fatídicos em sua mente, e nem nada que o ligue aos que ele matou, exceto a força suprema que emana de sua mãe, e que ele divide, ela era sua genitora, portanto podia apagar nele as lembranças que não queria. A de que era sua mãe foi apenas uma delas. Após o retorno, não havia mais nele a sensação de ser órfão, e sim de que um dia viu algo especial e fraterno, mas que não podia carregar com ele.
Yula estava na África quando os vampiros que a rastrearam pelo sangue de seus pupilos no corpo franzino de menina a encontraram, eles partiram para cima dela para vingar a morte de suas crias... Mas ela agora não era só uma das vampiras mais velhas do mundo, era também mais forte do que 50 deles, após arrancar as cabeças de seus inimigos que não aceitavam uma vampira criança, bebeu lhes o sangue velho e poderoso sem deixar uma gota; e de novo conheceu os milhares de anos de vida que tiveram, e viveu em sua mente cada delicioso momento, bem como milhares de anos de angustias e tormentos, mas ela não se importava mais com tais sentimentos e sim com o resultado; estava ganhando força em progressão geométrica e a caminho de se tornar a vampira suprema, mas outra mudança começou a ocorrer, ela deixou de ser uma menina e cresceu poucos dias após matá-los, havia se tornado uma adolescente linda e alta como uma modelo de passarela, de alguma forma, alimentar-se de vampiros a envelhecia. Assim sabia agora a fórmula para ser um dia uma mulher... Só que não agora, queria saber primeiro como era ser adolescente, e o fogo daquela fase já varria suas entranhas, havia a busca por aventuras, desafios e sexo, mas como ela nasceu virgem, mesmo fazendo sexo com outros vampiros ou humanos, nunca deixaria de ser virgem...
Por milênios seu filho Marcus a alimentou, agora era ela quem fazia isso emanando energia mental e física para sua cria, pois desde que ela se tornou adolescente, ele não precisava mais matar, só viver e se divertir ao lado dos humanos, e ela o teria como Avatar dessas aventuras, eternamente ligados em mentes, corpo e alma vivendo de suas experiências e pronta a matar qualquer um por ele, e ele por ela, afinal sua mãe era a vampira suprema, e ele filho único e supremo dela...
CAPÍTULO 6: O DESPERTAR DO VAMPIRO, A IMPERATIZ...
Os vampiros existem na Terra há milhares de anos, contudo, muitos deles depois de vidas intensas, sugando sangue para viver. Coexistindo com humanos, ou com os de sua própria espécie, ainda assim precisam de um tempo longe de tudo para poderem dar sentido as suas vidas, se reciclarem. Para isso alguns deles decidem hibernar por décadas, ou séculos, outros por tanto tempo que jamais serão capazes de entender o conceito de dormir por 20 mil anos. Um dos que hibernavam era o criador de Yula, Sodak, assim como seu irmão que deu origem ao vampiro Jesus e a irmã que criou o vampiro Maomé. Sua filha agora era vampira mais poderosa da terra, transformada por ele com o corpo de uma menina 10 mil anos atrás, sem que ele soubesse; mas graças ao sangue de diversos vampiros antigos que ela exterminou e sugou, havia crescido e se tornado uma adolescente alta e linda.
Por acaso, um dos que também dormiam há centenas de séculos era o criador dos vampiros velhos que ela matou, e a morte de seus filhos soou como uma sirene em sua mente, despertando com fome de sangue e vingança. Ele tinha 50 mil anos de idade, mas havia poucos vampiros na terra com o mesmo tempo de vida, poder e força. Assim como a menina, ele também matou e se alimentou de outros de sua espécie na juventude, no entanto, nenhum tão velho quanto os que Yula devorou, ainda assim o poder dele comparado ao dela era igual em força, mas imenso mentalmente, a mente de um vampiro era de longe sua maior arma, e quanto mais velho, maior era esse dom. Ele despertou com fome, muita fome. Milênios atrás ele escolheu adormecer nos montes congelados dos apalaches americanos. Um lugar com pouquíssimos humanos, hoje havia milhões deles naquele continente. Seu primeiro voo o levou a uma pequena cidade do interior. Ao contrário dos filmes de vampiro tão comuns de que eles são vítimas do sol, religiões e seus penduricalhos religiosos, nada na terra poderia detê-lo.
Ele caminhou até uma escola cheia de crianças, e ao seu comando telepático, todas elas, além dos adultos seguiam para o corredor onde ele estava. Organizados numa fila como zumbis, ele caminhou por ela, matou todos e bebeu o sangue saboroso e cheio de vida. Ao seu comando seguinte, todas as pessoas da cidade se dirigiram para a igreja que ficava no centro dela. De forma calma e tranquila, eles se organizaram ali, comiam e bebiam, aguardando sua vez, e assim ele bebeu o sangue de 20 mil pessoas em poucos dias.
Contudo, esse número imenso de gente desaparecendo de compras, telefonemas, internet, despertou a curiosidade de parentes de outras localidades e das autoridades próximas. Quando chegaram lá, encontraram o espetáculo mais macabro do século XXI. Milhares de pessoas decapitadas, ou com pescoços rasgados. Nunca na história dos EUA ocorreu tamanha coisa macabra e sem explicação por enquanto, um caso que se chegasse à mídia e internet, geraria milhares de teorias da conspiração. Contudo, milhares de vampiros que também moravam naquele país sabiam que era coisa de um vampiro mal e sedento, alguém que despertou de uma longa hibernação.
Logo as câmeras de segurança identificaram o homem na escola porque todos os corredores tinham vigilância eletrônica, as de vários comércios também o viram chegando e saindo da escola rumo à igreja, e também a fila quilométrica que as pessoas fizeram para serem mortas. Pela primeira vez na história, a existência dos vampiros estava confirmada, e alguém com capacidades de dominar mentalmente todas as pessoas de um local, matar sem nenhum sentimento, e invulneráveis à luz solar e religião dizia que realmente havia deuses na terra, se alimentando de humanos.
A cidade foi cercada e declarada em isolamento total num raio de 40 quilômetros. Todos os vídeos e filmagens entregues ao FBI e outras agências secretas do governo. Ninguém seria enterrado, todos seriam cremados e a cidade inteira seria varrida com fogo. Por outro lado a maior caçada histórica da humanidade havia iniciado. A foto do homem estava em todas as mídias como o terrorista mais procurado do mundo.
Contudo, havia outro grupo mais poderoso em seu encalço, era sua própria espécie. Nenhum deles o conhecia, nem mesmo os vampiros mais velhos da atualidade. Para um vampiro, achar outro de sua raça era fácil porque eles tinham cheiro, aura e mente que podia ser sentida à distância. Quanto maior o poder de um vampiro, melhor eram essas formas de encontrá-los porque irradiavam tais coisas como um aviso aos fracos. Contudo, diferente de todos os demais, Yula por ter sido criança por milênios tinha aprendido a mascarar seus dons para se proteger. Agora ela fazia isso por instinto, já que nenhum vampiro da terra poderia matá-la, salvo algumas raras exceções, como seu criador, ou alguém igual ou mais forte que ela...
Ao contrario do que os humanos que estavam caçando Yurgol, sem nenhuma sorte até agora, os de sua espécie foram mais felizes em sua busca. Ele estava meditando no deserto de nevada, atualizando sua mente e corpo a esta época, com todas as memórias e conhecimentos das pessoas das quais se alimentou semanas atrás. 500 vampiros chegaram até ele, muitos com sete, e nove mil anos de idade. Vampiros não tinham muitas leis, apenas três, não matar e se alimentar de sua espécie; Respeitar e idolatrar os mais velhos pela sua sabedoria e poder, e jamais revelar a existência da raça vampira. Não que eles temessem os humanos, mas porque viver no mundo deles era melhor e mais prazeroso, já que comandá-los e devorá-los mentalmente era tão fácil quanto matar galinhas. O mais velho deles, um vampiro chamado Win Lao, da Antiga china, se dirigiu até ele de forma respeitosa, sabendo que poderia ser morto sem nem saber de onde veio o golpe. A energia de Yurgol era tão poderosa que se quisesse, poderia matar num só dia todos ali presentes e muitos mais.
- Meu senhor, estamos felizes que tenha acordado e que possa nos guiar com seu conhecimento e poder, não viemos aqui para lhe repreender ou dizer que tenha feito algo que nós já não tenhamos também realizado milhares de vezes; afinal os humanos são nosso alimento e prazer, mas como o senhor já sabe agora, a humanidade evoluiu a um estágio de tecnologia que possibilitou ver tudo que o senhor fez. Graças a isto, agora conhecem nossa raça e todas as nações estão a sua procura. Evidente que isso não muda em nada o que eles imaginam poderem fazer caso lhe achem, são insetos, mas o senhor nos expôs, indiretamente, violando uma das leis que tão sabiamente criaram milhares de anos atrás, mas com certeza já sabe como resolver tal coisa. Sabemos também que sua fome ainda não esta satisfeita, por isso podemos indicar locais ermos onde a tecnologia e a informação deles não registrará nada. Estamos prontos a lhe servir em tudo que precisar, basta dizer o que deseja e nós faremos, somos seus servos porque essa é a nossa lei.
Yurgol sentiu na aura de cada um deles a origem de seus criadores. Nenhum dos que mataram seus filhos estavam ali. E como mandava o código, ele era o mais velho acordado, e sendo assim quem os comandava agora, o imperador dos vampiros, sua palavra e desejos a única coisa que eles deveriam atender. Um vampiro pode falar quando quer, geralmente para humanos ou seus filhos vampiros, entre sua espécie eles usam a telepatia. Mas como ele não falava há muito tempo, decidiu dizer algumas coisas...
- Eu sou Yurgol, não foi meu desejo acordar agora, pois os humanos, com todo seu esplendor e tecnologia de hoje não se assemelham a outra humanidade que se extinguiu 30 mil anos atrás; eles ainda são o nosso alimento, nada mais que isso, e continuam desprezíveis e mesquinhos. Como sabem pela nossa história, eles se destruíram em suas eternas guerras fratricidas, e só não desapareceram de verdade porque nos os salvamos, alimentamos e os fizemos procriar. Graças a isso, durante muito tempo bebemos o sangue impuro de animais como mamutes e outras feras gigantes para que eles se multiplicassem. Sofremos muito com a fome, mas sobrevivemos e graças a isto, aqui estão vocês, vivos e fortes para o futuro. Eu sabia que eles recriariam sua tecnologia, e que cedo ou tarde farão a mesma coisa para se matarem, já que é da natureza deles se odiarem, assim como da nossa os ter como nosso melhor alimento.
No entanto, alguns de nós foram fracos na época da fome, mataram seus irmãos vampiros e devoram seu sangue, um ato abominável, indigno de nossa raça, coisa desses humanos repulsivos. E foi esse ato nefasto entre nossa espécie que me despertou, pois algum vampiro mais velho e poderoso massacrou meus filhos e os filhos que eles criaram. Minha obrigação de pai, e de antigo protetor e guardião das leis, é achar essa coisa que denigre quem somos, arrançar todos os ossos de seu corpo e deixá-lo secando ao sol neste local, como exemplo de nossa lei mais sagrada; vampiros não matam vampiros sob nenhum motivo, e nem tão pouco se alimentam deles.
Mas antes devo também encontrar seu criador e notificar o crime de sua criatura. Com certeza ele é um dos que dorme, pois sou o único com 50 mil anos de existência acordado nesta época. De alguma forma que eu não descobri ainda, ele conseguiu ocultar seus dons, então eu devo usar os meus. O que desejo de vocês é que usem seus dons e ponham na cabeça dos humanos onde investigarei o que ocorreu que não estou ali, e que esta pessoa que eles procuram já foi encontrada e morta pelo governo que vocês acharem melhor nesta área. Farei isso o mais rápido possível, e depois que justiçar esse vampiro, voltarei a dormir porque esse mundo de vocês, com tudo que criaram, nada tem que me agrada. Agora me levem para comer, porque ainda tenho muita fome.
Um mês depois Yurgol estava em Londres, no exato local em que os netos tinham morrido, usando sua psicometria reversa, ele os vê massacrando uma criança vampira, outra abominação que algum vampiro descuidado deixou viver ao se alimentar. Então outro vampiro surge para defender a criança e os massacra, depois lhes bebe o sangue num frenesi de ódio. Não consegue distinguir nada deles só vultos. Depois ele vê a criança sugando o sangue do adulto, estava claro que era a mãe dele. Havia uma aura que ele pode sentir, muito distante ainda, um vampiro velho que dormia e poderia ser o pai dela. O rastro o leva até a África e ele assiste-a novamente se alimentado, desta vez de seus filhos. Essa criança era um demônio e sabia que agora ela era uma assassina potencial de sua gente porque sangue vampiro era algo muito além do que qualquer ser pode degustar sem se viciar. Yurgol não revelou aos súditos que também fizera isso milênios atrás. Como havia poucos humanos, ele transformou um deles, e depois que ele se alimentou de feras. Ele o sugou e pôde passar décadas sem precisar beber de mamutes asquerosos e outros mamíferos grandes da megafauna.
Quando tomou consciência de seu ato nefasto devido à fome, pois tinha ajudado a matar outros que fizeram o mesmo, sabia que estaria condenado caso seus irmãos descobrissem o sangue no seu corpo. Por isso decidiu hibernar e acordava em longos períodos para massacres, o sangue humano limpou seu corpo e estava normal e indetectável de seu crime. Mas novamente ele não entendia como aquela vampirinha e seu filho assassino podia ser indetectável, será que ela estaria hibernando, ou descobriu uma forma de matar vampiros sem que isso a denunciasse?
Entretanto, não havia mais duvida, ele sentiu um rastro mínimo da presença do criador da menina. E também do pai dele, ambos dormiam há milênios. Contudo era hora de acordar, afinal o criador era um dos seus filhos, e o vampiro criador da menina seu neto, o que deixava as coisas muito mais complicadas do que deveria. Não precisava acordar o mais velho e sim seu neto. Sabia que o pai dele jamais quis que ele soubesse que era pai, e como criador aceitou o desejo do filho. Percebeu agora seu erro. Crescer sem saber quem são seus genitores e códigos de lealdade e honra da espécie ocasionavam tal coisa.
Ele se dirigiu a Sibéria e chamou Sodak Darsínios mentalmente, o velho vampiro acordou, e com ele a fome suprema. Sem precisar dizer nada, pois a telepatia já tinha feito isso, eles se dirigiram para um transatlântico lotado de humanos, ele sugou a todos e com ajuda do conhecimento adquirido encheu os tanques de lastro do navio de forma perigosa, e com auxílio do avô, empurraram o navio até ele afundar no mar gelado e profundo. Aquele lanchinho não seria o bastante. Dali eles foram para países da Ásia, em locais ermos e montanhosos, onde havia alimento abundante e privacidade. Depois de dias de orgias de sangue, ele estava refeito. Sabia quem era seu pai, e também seu avô, pois este o acompanhava agora. Sabia também que Yula estava viva e tão poderosa que ele não podia senti-la talvez estivesse morta ou se transformou em outra coisa. Quis acordar seu pai, mas não tinha esse direito, só Yurgol podia. Havia outra forma de achar a menina, localizando a cria dela, e isso era mais fácil porque ele era um adulto quando ela o mordeu, parte de sua essência e força que dera a Yula estavam nele, um rastro detectável e que lhe permitia comandá-lo.
Marcus sentiu um chamado intenso, e sem ter como resistir, voou a noite toda até chegar ao Afeganistão, os vampiros o farejaram e sentiram sua aura, mas não acharam uma gota de sangue de outros da espécie no corpo dele, o que significava que a menina o limpara e hipnotizara, perceberam também um poder gigantesco nele, quase igual ao de Yurgol. Como filho dela, seu ato em Londres foi para proteger a mãe, daí sua explosão de fúria. Sabia que vampiros matam as crianças que se tornavam imortais. Não havia uma lei proibindo tal coisa, o que também foi outro erro, pois o código maior deveria prevalecer. Sem uma liderança global, assim como os humanos, sua espécie estava entregue ao caos. Algo devia ser feito para corrigir isso. Yula também seguiu o filho assim que ele foi dominado pela mente velha e poderosa. Não sabia como isso era possível e seja quem estava fazendo isso, mas se o machuca-se, pagaria com a vida.
Ela pousa entre os três e seu poder deixa Yurgol fascinado, seu filho a reconheceu na hora porque ela tinha liberado sua mente da hipnose e sabia que o amava e protegeria de qualquer coisa. Ela e Yurgol tinham o mesmo nível de força e aura, o que era impossível porque só anciãos eram capazes disso. Também era invulnerável a telepatia deles como criadores; outra coisa também única porque um vampiro estava preso eternamente a seu criador ou outro mais velho do mesmo sangue familiar. Mas ele não havia vivido todo esse tempo sem aprender alguns truques novos. Uniu sua mente a de seu filho, que ele havia despertado e dado seu sangue para se recompor, e também ao do bisneto, assim pôde acessar a mente dela através do filho que ela veio salvar, e dominar sua mente, desde que não fosse para obrigá-la a fazer algo contra sua vida ou da cria.
Yurgol viu tudo que ela viveu desde que foi mordida em sua aldeia, até o momento que chegou ali. Ela não tinha mais segredos para ele, pois agora tudo era de seu conhecimento, assim como ela reviveu o que ele fez e viveu na terra em 50 séculos devido à união mental entre eles. Ela agora sabia que eles eram sua família e que jamais fariam algo de ruim contra ela e sua cria, mas viveu outra coisa nesse tempo milenar relativo de alguns instantes, eles eram seres vazios e com muita dor acumulada. Num certo sentido, gostariam de dormir pela eternidade e jamais acordar...
Mas mesmo eles não podiam escapar da fome, precisavam de vez em quando acordar e voltar ao mundo dos humanos para comer. Só havia uma coisa que poderia libertá-los disso; a morte final por outro vampiro superior porque eles não podiam se matar. E a lei dos vampiros proibia que se matassem vampiros. Yula, entretanto, estava em outro patamar, nascer criança a tornou imune a muita coisa, ser adolescente amplificou esse poder. Ela não se importava com seu pai, e ao mesmo tempo podia libertar o avô e bisavô, pois sabia que esse também era seu maior desejo. Mas para isso algo precisava ser feito porque ela não poderia matá-lo por ser seu criador. Cabia a Yurgol, a triste e pior missão de um ser vivo, matar seu filho e neto...
Darak e Darsínios não estavam tristes com o que iria ocorrer, na verdade eles desejavam se libertar do que eram há muito tempo, pois diferente da maioria dos vampiros, eles jamais conseguiram enterrar todas as emoções que um dia tiveram como humanos. Foi por isso que Darsínios deixou Yula viver, e agora, depois de milênios, isso finalmente seria possível. Havia cometido um crime ao fazer de uma criança um vampiro, uma abominação dentro de sua espécie, por isso ela teve que se ocultar e sofrer mais que um vampiro normal. E graças a isto, muitos irmãos morreram. Era hora de receber sua punição... Seu pai lhe arrancou a cabeça de um só golpe e sugou o sangue do corpo, a cabeça ele ordenou a Marcus que bebesse. Logo ela sentiu o poder vampiro antigo emanando novamente em si devido ao elo que os unia, em seguida Darak também foi morto e sugado. Finalmente Yurgol, o bisavô lhe falou, afinal ela também era sua cria.
- Você sabe que os humanos estão muito próximos de realizarem o que já fizeram milênios atrás, pois são muito bons nisso com suas máquinas de destruição. Também sabe que os vampiros de hoje não se importam com isso, e se nada for feito, em breve teremos que voltar a nos alimentar de vacas e outros seres desagradáveis porque eles se extinguirão. Isso não pode e não vai ocorrer, você como minha herdeira suprema, será a partir de hoje a imperatriz de todos os vampiros, nenhum deles escapará de sua mente e poderes. Seu filho será o imperador porque vocês são únicos, e me desculpe dizer isso com tanto prazer, também o meu orgulho por ser também seu criador... Para que seja o que preciso, você deve agora fazer a coisa que desejava para daqui alguns séculos, ser uma adulta. Embora esteja apaixonada por essa fase de adolescente, divertindo-se muito há algumas décadas, crescer e assumir responsabilidades é parte da vida, até mesmo dos vampiros. Mas apreciará mais do que qualquer outro de nossa raça a herança suprema que terá de mim... Venha minha criança, beba do meu sangue.
Yula não pôde resistir ao poder e as ondas mentais sufocantes de seu bisavô vindas através de Marcus, descontrolada, subiu em seu corpo e arrancou a cabeça dele e sugou cada gota de sangue daquele demônio ancestral. Ao terminar, o corpo virou pó, depois sugou a cabeça, as cinzas dela também foram levadas pelo vento forte que varria aquele lugar. Ao terminar, um grito terrível de dor emocional saiu de sua garganta por matar sua própria carne e sangue, e logo em seguida um grito mental rasgou o planeta na velocidade da luz. Todos os vampiros da terra, mesmo os que dormiam há milênios a ouviram, e ela a eles. Em sua mente, ela viu todos se curvando em pensamento para ela e sua cria, os vampiros supremos e mais fortes acordados, e mesmo os que dormiam eram inferiores a eles.
Marcus fez o mesmo e todos responderam da mesma forma. Eles agora tinham lideres, e como tal as três regras estavam valendo, mas ela criou a quarta ao falar telepaticamente, jamais deveriam atacar vampiros crianças que por ventura ainda existissem, ao contrario, deveriam cuidar deles e protegê-los. Mas nenhum vampiro podia fazer de adolescentes e crianças outros vampiros, sob nenhuma hipótese, e quem o fizesse, seria morto imediatamente por ela. Depois assumiu o controle de todos e direcionou a mente deles para os humanos que sabiam o que seu bisavô fez. A ordem deles era destruir todos os arquivos e esquecer que um dia aquilo havia ocorrido; que seguissem com suas vidas medíocres mundanas e breves.
Marcus olhou para a sua mãe, agora realmente consciente de tudo, e sabendo que ela não mais iria se ocultar dele. Contudo sua aparência mudara novamente, fisicamente era uma mulher de 40 anos, a vampira mais linda e poderosa do planeta, o ser supremo a ser idolatrado pela eternidade. Como imperadores, possuíam o comando de dois milhões de vampiros, os seres mais poderosos do planeta, em um nível que a humanidade levaria milhares de anos para entender. Num certo sentido eles eram a evolução suprema da raça humana como predadores imortais e conhecimento superior. Se um dia ela decidisse dar a raça humana um caminho global sob suas ordens, isso seria fácil, pois a mente de todos podia ser dominada por ela a hora que desejasse.
Contudo, ao longo de sua vida, e da de todos os seres que consumiu, descobriu que não existe nada melhor que a liberdade de escolhas e pensamento, e enquanto a raça humana criasse coisas que lhe encantasse, deixaria as mentes deles livres, mas se chegasse o momento de outra guerra atômica, ai sim ela os impediria. Mesmo os vampiros sabiam que seu alimento sem ser cuidado, acaba por se estragar se não se cuida, aduba e rega para um boa colheita, além disso ela sabia que tinha uma irmã, Veruska, e em breve ela estaria próxima porque ordenou que viesse ver a imperatriz e seu imperador, não era uma vampira forte de milhares de anos, mas seria escolhida para a corte dos vampiros, assim como seus primos jesus, Maomé e os criadores deles, os últimos descendentes de seu clã...