CONTO DE FICÇÃO: OS ALIENÍGENAS, O CORONAVÍRUS E A QUARENTENA...
POR DAVID DA COSTA COELHO
O ano era 2016, eu tinha uma empresa que vendia produtos médicos para hospitais públicos, naturalmente importados da China porque era muito mais econômico do que em qualquer lugar do mundo, e como minha empresa era na Califórnia, a logística era rápida e eu revendia os produtos com muito lucro, e já pensava em por minha empresa na Bolsa de Valores para alavancar meu capital. Apesar de ser um empresário rico e bem sucedido aos 30 anos, minha vida pessoal seguia em sentido contrário, eu não tinha filhos, meu casamento acabou e meu divórcio foi doloroso e eu não pretendia ter um relacionamento fixo por um bom tempo, ao menos isso era o que eu pensava...
Eu morava em Monterey, na Califórnia, minha casa grande sem minha esposa – e confesso que sentia muito a falta dela – parecia uma imensa prisão onde eu era meu carcereiro, e até meus cães que eu amava tanto ela levou e eu não quis brigar na justiça por isso, apesar de termos criado eles juntos desde que nasceram. Meu prazer não era a vida de solteiro com todas as lindas mulheres disponíveis da minha cidade, não, eu queria fugir disso, minha rotina era trabalho e de vez em quando dar uma louca e sair e pegar onda na praia próxima a minha casa e fazer caminhada e corridas em Delmont. Deixava meu carro estacionado e me embrenhava pela estrada de chão, respirando o ar da floresta com um misto de cheiro de água do mar.
Mas por alguma razão estranha naquela semana eu não tive vontade nenhuma de ir a minha empresa, ela não precisava de mim porque deixei gente competente no comando, e eu os supervisionava de casa. Deixei todos os assuntos com meu gerente executivo, e as demais coisas que dependiam de mim eu resolvia on line. Resolvi tirar literalmente umas férias da minha rotina de empresário e curtir minha juventude na praia, e decidi também fazer algo que não fazia desde garoto com meu pai, acampar. Tinha saudade dele e de minha mãe, mas eles estavam em mais uma viagem pelo mundo, desta vez na Índia. Preparei minha mochila com barraca, faca, pederneira, meu fogão portátil, meu arco composto e minha pistola para algum animal que quisesse me ver como almoço ou jantar.
Deixei meu carro longe do local onde sempre havia montanhistas e parti para meu recanto de quando era garoto e fazia Bushcraft, lá havia uma árvore com meu nome e do meu pai. Montei meu acampamento rapidamente porque a noite chegaria rápido e deixei meu lampião aceso e montei meu fogão dentro de minha tenda. Comi uns sanduíches que tinha comigo, mas no dia seguinte eu iria pescar afinal ir para a natureza significava viver dela, por isso só tinha comigo aquele único alimento. Minha noite foi intensa naquela floresta porque os sons da natureza eram minha música de dormir... Acordei cedo no dia seguinte e fui direto pescar. Dei sorte e peguei três peixes grandes com ovas, adorava comê-las e o sabor avermelhado delas enlouquecia meu paladar. Comi também frutas silvestres que eram as favoritas dos ursos e outros animais menores. Vi cervos, guaxinins e coiotes próximos de onde eu estava, e eles uivaram no dia anterior como que sentindo minha presença em seu território, e para mostrar quem mandava eu urinei em todo perímetro de minha tenda, um hábito que meu pai me ensinou na infância de escoteiro...
Como sempre a noite caiu cedo na floresta e eu estava sem sono, deixei a fogueira acesa com dois troncos grandes e deitei do lado olhando as estrelas cadentes se precipitarem na atmosfera, algumas deixando um rastro rápido ao se queimarem muito acima. Via também a luz dos satélites cruzando meu espaço, pareciam estrelas, mas eram satélites. Contudo, uma em especial chamou minha atenção. Aquilo com certeza não era um satélite porque se movia para todos os lados numa velocidade maior do que qualquer nave ou avião. Deixou-me curioso e me lembrei das histórias de alienígenas que vimos pelo mundo nas tevês. Fiz até um desejo para aquela luz se podiam descer aqui e me dar uma carona para o espaço e voltar décadas depois, como num filme que assisti dos anos 1970, viajar no tempo e esquecer esse mundo de agora era o que eu precisava...
Depois de horas vendo as estrelas o sono veio e fui dormir. Acordei cedo, havia uma nevoa encobrindo toda montanha e o frio doía nos ossos, mas meu estomago não se interessava por isso e precisava caçar ou pescar se quisesse comer. Peguei meu arco e fui para as rotas de animais na esperança de caçar um cervo. Mas para minha surpresa havia uma pessoa no caminho, eu diria que era a mulher mais linda que já nasceu neste planeta. Aproximadamente um metro e setenta com corpo perfeito e escultural vestindo uma espécie de roupa colante prateada, deixando descoberta apenas suas mãos e cabeça. A roupa se estendia até os pés, e eu senti nela uma energia emanando, como o calor do fogo de minha fogueira que me confortava no frio e se grudava em mim, como se ela fosse uma parte esquecida de minha vida, mas que a lembrança dela estava no meu ser, assim como o ar de que tanto necessitava para viver.
Quando eu ia falar com ela eu ouvi sua voz em minha mente, e senti isso como um beijo carinhoso em meus lábios. Ela me falou tantas coisas incompreensíveis em segundos que eu quase desmaiei com aquela sensação da mente dela invadindo a minha. Percebendo isso ela parou e se aproximou de mim, e sem dizer nada porque eu já sabia inconscientemente tudo sobre ela, beijou-me com uma saudade de milênios, e que ao longo do tempo eu viria compreender o motivo porque eu me apaixonei e amei aquela mulher naquele momento mágico...
Como que hipnotizado por ela, voltei para minha barraca e a desmontei e fui para minha casa, ela me disse mentalmente para fazer isso e ficar olhando para o céu durante a noite porque voltaria. Da piscina de minha casa, ao lado de um conhaque que meus pais haviam trazido do Brasil a meu pedido porque ao contrário dos conhaques tradicionais feitos à base de uvas, ou maçã, aquele era feito de aguardente de cana e gengibre, e o sabor diferenciado dessas duas matizes me agradavam mais do que os de vinho, e eu adorava aquela bebida mais do que deveria, e por várias vezes eu tinha dormido ali mesmo ao relento após bebedeiras pela dor da separação ou pena de mim mesmo, como ouvi de meu terapeuta em uma das sessões. Eu não era viciado em bebidas, mas às vezes decidia fazer algo como passar um dia inteiro na praia e não ir trabalhar, acampar ou beber conhaque brasileiro...
Fiquei observando novamente as estrelas e a luz de uma delas foi crescendo, ela vinha em minha direção, mas a imagem estava translúcida quase imperceptível ao olho humano se não tivesse prestando bastante atenção. Uma espécie de nave translúcida pairou sobre minha casa, a nave era imensa, mas invisível aos moradores do local porque minha residência ficava bem distante dos condomínios que haviam por lá. Um facho de luz se projetou até mim e a dama que eu vi anteriormente desceu através dela, como se fosse um elevador de luz. Ao pousar ao meu lado o facho se apaga e a nave volta para o espaço tão rápido quanto um piscar de luz...
Eu ouço em minha mente novamente os pensamentos dela, trajando a mesma roupa prateada de hoje cedo. A mente dela inundou a minha com palavras demais para que eu pudesse compreender o que ocorria, naquele instante único na história humana porque esse dia mudaria tudo. Eu tomei automaticamente todo o conhaque que estava no copo, ela olha para mim com olhos de um azul denso e profundo e estende a mão, e eu entendo que ela também quer a bebida. Eu coloco meio copo do conhaque e dou para ela, e ela bebe de um gole só e sorri para mim.
Eu jamais sonhei em conhecer um alienígena, jamais acreditei nessas coisas, mas meu mundo caiu naquele instante porque ela era real, estava ali e havia jogado centenas de coisas incompreensíveis em minha mente, e as minhas mãos tremiam não de medo, e sim de excitação de ter a mulher mais linda do mundo ao meu lado, apaixonado e louco por ela, e eu mais louco ainda porque ela não era humana e sim alienígena...
A mulher de outro mundo observa aquele homem que ela esperou tanto para renascer, e ciente de que a mente dele ainda processava suas informações mentais, e sabendo que a comunicação e compreensão telepática dele ainda não tinham despertado, ela teve que voltar a antiga forma de comunicação de seu povo, a fala:
- Olá Jack, como é bom revê-lo! Você não tem noção de quanto tempo eu esperei para poder ver você, tocar você, sentir você! Meu nome é Yoni, sou uma Landara, minha raça se chama assim. Logo você também será um Landara porque é o primeiro que transcendeu daquilo que transmutamos sua espécie há milhares dos seus anos. Viemos ao seu planeta muitas vezes porque temos um legado a deixar e receber. Da primeira vez que viemos seu mundo ainda estava verde e fértil, e seus ancestrais ainda viviam nas árvores. Num segundo momento o clima mudou e seus ancestrais simiescos agora habitavam planícies.
Mas percebemos que poderia haver potencial e decidimos voltar para ver se este mundo poderia ter seres inteligentes. Retornamos há 500 mil de seus anos. Selecionamos o seu parente mais promissor, o Homo Erectus, que já estava em um gargalo genético, e se não tivéssemos feito isso, ele teria se extinguido e os humanos jamais teriam existido. Capturamos todos que viviam no período – hoje vocês chamam isso de abdução alienígena – e os modificamos geneticamente para serem mais inteligentes e mais fortes ao meio em que viviam, e também introduzimos neles um gene que os fazia aventureiros. Deu certo porque eles começaram a procriar e caçar mais, aumentando seus números. Depois de nossa intervenção eles deram um salto evolutivo e originaram duas novas espécies, o Homem de Neandertal e o Homo sapiens. Havia outras espécies de hominídeos nesta época, mas sabíamos que eles se extinguiriam pelas condições climáticas de seu mundo, ou com a competição de seres melhores e mais inteligentes que auxiliamos com nossa intervenção genética.
Voltamos há 200 mil anos para avaliar a qual das espécies nos daríamos o verdadeiro salto evolutivo, e apesar do cérebro do Neandertal ser maior que o de vocês, e eles serem mais fortes e resistentes, faltava algo neles que só havia em vocês, curiosidade, inventividade, crueldade, e uma tendência à religiosidade e crença, coisa que colocamos no genoma do Homo Erectus para evoluir as duas espécies, mas só vocês Sapiens herdaram essa modificação completa. Sabíamos então o que ocorreria, pois com o tempo vocês iriam dominar todo o planeta, e como vocês eram os vencedores na corrida genética que iniciamos, inoculamos todos os descendentes Sapiens com o gene da fala e linguagem complexa...
Com essa poderosa arma vocês dominaram o resto do planeta, mataram todos os Neandertais, e se apropriaram das mulheres deles, o que foi bom porque parte da herança genética deles também está em vocês hoje. Mas agora vocês precisavam ser tutelados porque seu planeta ainda estava em modificação, e a erupção gigante de um vulcão há 74 mil anos dizimaram praticamente todos os Sapiens fora da África, e nós tivemos que intervir novamente. Recolhemos todos os poucos descendentes que havia nesta época e os colocamos em hibernação em nossas naves até que o inverno global que durou dois anos terminasse.
Em nossas naves nos decidimos fazer mais intervenções genéticas em vocês, evolui-los para a próxima etapa em que seriam como nós em mais alguns milhares de anos, e eu, em segredo de meu povo, decidi fazer a minha própria intervenção, só que de cunho egoísta e pessoal, e mais rápido...
Meu marido e companheiro de eras não tinha mais condições de continuar vivendo, nem mesmo com toda nossa tecnologia que nos permitia viver milhões de anos. Então eu teleportei seu corpo para nosso transdutor genético, mas ainda vivo e inseri sua matriz genética num grupo específico de homens e mulheres, e deixei um marcador genético para ser capaz de rastrear todos os descendentes até que você ressurgisse milhares de anos depois... Você Jack, é o meu marido reencarnado física e geneticamente, por isso você sente minha energia, minha paixão, minha saudade de você, por isso é curioso, beberrão, mandão, aventureiro, e quando virou adulto, mesmo sem saber buscou uma mulher para casar que poderia se parecer comigo em algum aspecto, mas como ela não era eu, seu inconsciente fez com que seu casamento não durasse para se libertar de sua prisão com uma humana que ainda não é uma Landara, e muito menos eu...
Jack ainda estava atônito e tremendo com aquela história, mas dentro dele havia um fogo e uma saudade quase que infinita de uma mulher que ele estava vendo pela primeira vez, mas que sentia que era sua por incontáveis gerações e ouvia apaixonadamente o que ela falava, como se ela fosse uma sereia a dominar seu mundo mental com sua voz e encanto, como no conto de Ulisses da mitologia grega, onde o canto delas enlouquecia os marinheiros que se jogavam ao mar em busca delas para amá-las.
Ele se aproxima dela, abraça-a pela cintura e a beija, e nesse beijo ancestral ele a ouve e a entende mentalmente como sempre fez por milênios. Ele se lembrou de tudo que era e do que vivia, seu nome ancestral era Lantar. Era um dos cientistas de seu mundo que havia descoberto esse planeta azul, que decidiu dar a esse planeta uma civilização inteligente, e que descobriu que toda sua espécie também estava num gargalo genético...
Para escapar disso eles deveriam evoluir uma nova capacitação genética e agregar genes novos, e somente à espécie que eles criaram era capaz de prover isso, e ao longo de milênios seu povo abduzia alguns para ver se eles já poderiam ser doadores para curar seu povo, mas ainda faltavam milênios para isso ocorrer. Devido a isso muitos estavam agora em hibernação aguardando essa dádiva genética, mas a experiência de sua esposa mudou tudo. Eles poderiam simplesmente repetir a experiência dela e todos os humanos seriam Landarianos já na próxima geração porque seu próprio corpo tinha a resposta do refinamento genético.
Para os padrões humanos que ele herdara de estudo e conhecimento, aquilo seria imoral, mas o que os humanos estavam fazendo com aquele planeta lindo e exuberante era mais imoral ainda, além do que eles viviam a um fio de uma 3ª Guerra Mundial que seria ainda mais catastrófica do que a erupção do vulcão há 74 mil anos. E a superpopulação também estava destruindo os recursos biológicos da Terra, algo extremamente raro num universo caótico e perigoso, onde um buraco negro ou uma supernova poderia varrer a vida, coisa que eles já viram e interviram ao salvar espécies em arcas galácticas para colonizar novos mundos longe de destruidores cósmicos...
Ao longo de milênios eles mesmos selecionaram sua experiência genética na Terra ao modificá-las geneticamente, ou expô-las a infecções bacterianas, como na peste negra da idade média, e na gripe espanhola. Levando os humanos infectados de vírus e bactérias para os dois extremos do globo em locais superpovoados, todos os humanos inferiores morreram, e os que viveram, refinaram ainda mais sua resistência genética para serem doadores melhores para os Landarianos. Precisavam agora de uma nova geração de vírus, uma que inoculasse o mesmo padrão genético que o permitiu renascer, ao passo que mataria milhões de humanos inferiores, o que era ótimo para o planeta porque diminuiria a sanha destrutiva nos ecossistemas.
Mas isso também devia ser feito por outro motivo, havia outras espécies de alienígenas interessadas na Terra, que na ausência dos Landarianos abduziram humanos e outros seres vivos para experiências genéticas, e se os humanos ficassem sem seus criadores e guardiães, os inimigos dos Landarianos tomariam esse planeta e o usariam como colônia. Foi necessário deixar uma frota camuflada no sistema solar para impedir as raças inimigas de se apropriar do que era a milhões de anos dos Landarianos. Todas essas questões agora estavam na cabeça de Jack, mas quando junto à esposa era Lantar...
O casal se recolheu ao quarto e por horas eles se amaram com a fome da ausência de centenas de séculos, e diferente do sexo humano, eles sentiam totalmente os prazeres do corpo também na união de mentes, numa espécie de fusão física e cerebral que os tornava literalmente um só na penetração corpórea e mental.
Ao raiar do dia ele ainda tinha fome de amar a esposa e ser amado por ela, mas o que ocorreu com ele não podia ser oculto de sua espécie, e todos deveriam saber que agora havia esperança para 500 milhões de Landarianos, mesmo que isso significasse terminar uma experiência genética de milhares de anos, ou deixar a experiência continuar com os humanos por mais alguns milhares de anos, evoluindo-os ao expô-los a Vírus e bactérias, forçando os corpos deles a criar cada vez mais resistência biológica e deixar que o DNA Landariano os fizesse serem os herdeiros genéticos e doadores perfeitos.
Ao comando mental da esposa a nave retorna a casa durante a noite e recolhe o casal. Jack agora está totalmente reintegrado a sua vida antiga e percebe como é bom voltar a ser completamente Landariano, com todo poder que isso significava, e um deles era ter uma nave gigantesca passando ao lado de centenas de satélites das potências mundiais, e a despeito de todo avanço tecnológico, nenhuma tecnologia da Terra, nem mesmo o mais avançado telescópio espacial podia captar as naves Landarianas guardando o sistema solar de outros alienígenas inimigos.
O cientista que retornou a vida se dirige ao conselho de seus líderes e a experiência ilegal de sua esposa é narrada, uma parte pequena do conselho a recriminou, embora entendesse seus desejos de mulher pelo homem de sua existência, outros entenderam que aquilo também era válido porque ao final era mais uma experiência genética que eles não souberam fazer, mas Yoni sim, e diferente de todas as demais, era a experiência suprema porque ela era uma das melhores cientistas daquela espécie, e agora não era só a melhor, mas uma divindade científica porque ela fez o impossível ao reviver o marido, e o mesmo era agora um fato científico a ser replicado ou não, dependendo do destino que os Landarianos desejavam para humanidade...
Jack retorna a terra e deixa sua esposa trabalhando com os líderes e demais cientistas. Ele agora sabe que nada mais no mundo que ele nasceu o surpreenderá ou lhe dará prazer maior do que curar sua verdadeira espécie e poder desfrutar da companhia de sua esposa pela eternidade porque foi isso que ela deu aos Landarianos, eternidade...
Ele deixou sua empresa no comando de seus gerentes, e a colocou na bolsa de valores e foi à Índia visitar os pais, sentia que devia muito a eles, e o que viria pela frente dependendo do que seu povo planejava para humanidade, iria varrer da terra pessoas mais velhas e fracas geneticamente. O reencontro foi terno e carinhoso, afinal ele era filho único, e os pais sabiam que o casamento dele tinha terminado, e infelizmente sem netos.
Jack sai para passear e comer com os pais, e sem que eles percebam, ele coloca dois pequenos comprimidos nas bebidas deles, é uma vacina que aumentará a resistência imunológica deles, e lhes garantirá uma velhice saudável sem doenças. Parte dele ainda tem apego aos humanos que foram seus genitores e parentes, mas só os pais ele salvará para o que vier se o conselho tomar a decisão que ele entende a mais lógica e correta que é salvar seu povo, mesmo ao custo de outra raça com bilhões de seres...
Ao retornar aos EUA, ele passa primeiro em sua empresa, demonstra felicidade porque o capital em bolsa permitiu a expansão da empresa e do capital, e abriu até uma área para criação de vacinas porque o governo subsidiava tais pesquisas e usava algumas como armas, testando-as em prisioneiros em troca de benefícios na pena de prisão. A contratação de mais funcionários e planos melhores para o futuro foi necessária com a injeção de tanto capital, mas ele sabe em seu íntimo que esse futuro será curto em termos cronológicos para os humanos.
Ao chegar a sua casa ele recebe sua esposa e novamente eles matam a saudade da ausência numa fome de amar que só seres que podem se amar além do tempo e do corpo entendem realmente o que é amar outro ser único. Não falam de nada mais a não ser do amor que ambos nutrem e da saudade. Embora seja uma guardiã dos humanos, ela nunca aproveitou a companhia deles, nem nada deste mundo, mas com o marido ela foi à praia, a restaurantes e eventos sociais onde eles eram vistos e fotografados, e sua beleza ímpar chamava a atenção de todos, e ele estava completamente feliz, mas a sombra da decisão do extermínio da humanidade ainda o deixava triste.
Por um ano eles viveram tudo que um casal que se ama intensamente vive, e eles foram a todos os lugares mais remotos para nadar, acampar ou escalar, aos jogos de cassinos, e até mesmo aos parques de diversão espalhados pelo país, era como se estivessem em férias do juízo final por vir, e ele veio...
Eles foram convocados ao espaço para ouvir a decisão. Um novo vírus seria lançado nos centros populacionais da Terra, era uma derivação de um Vírus que infectava várias espécies de mamíferos, tais como camelos e morcegos dentre outros. O que os humanos descobririam com sua genética primitiva seria apenas que ele atacaria as pessoas e que dentre três grupos, um não sentiria nada, mas contaminaria outros, outros sentiriam sintomas leves e também contaminaria outros mesmo curados, e os mais velhos, frágeis ou geneticamente inferiores morreriam.
Embora eles fossem determinar medidas paliativas para impedir milhões de mortos, uma vez expostos ao Vírus, os infectados e os curados continuariam transmitindo de forma passiva a doença, independente do que os humanos fizessem para tentar combater, mas na verdade o que o Vírus realmente fazia era dar aos humanos a ultima atualização genética e esterilizar a maioria deles, deixando férteis apenas 500 milhões de homens geneticamente aperfeiçoados e o número igual de mulheres nas mesmas condições; eles seriam os novos pais dos Landarianos que sofreriam a atualização genética desenvolvida por Yoni, mas queimando etapas de séculos para apenas uma geração. Em 80 anos a população humana desapareceria completamente, e restaria no planeta apenas meio bilhão de Landarianos. Mas os cientistas decidiram que talvez recriassem os humanos em outro planeta, para isso eles guardariam os melhores óvulos femininos e os espermatozoides mais perfeitos e variados geneticamente, mas desta vez com atualizações que não os permitissem repetir a mesma sanha destrutiva que fizeram neste mundo, e com uma longevidade maior, afinal os humanos eram de certa forma filhos dos Landarianos, e como pais, queriam seus filhos perfeitos e educados...
As pequenas naves camufladas devolveram os humanos que foram abduzidos e tiveram a memória do evento apagada, em seus corpos carregavam um novo Vírus, era final de 2018 e início de 2019. Foram escolhidos porque eram os resistentes genéticos e nada sentiriam, só espalhariam o Vírus. Os países escolhidos foram China, EUA, Japão, Brasil, União Europeia, Chile, Equador, Peru, Argentina, continente africano, Oceania e Oriente Médio. Todos esses locais receberam de volta seus cidadãos abduzidos carregando o cavalo de Troia genético, e agora a corrida mortal de 80 anos havia iniciado...
A China detecta o Vírus e faz o que os alienígenas esperavam, iniciam protocolos de quarentena e notificam outras nações, mas as desigualdades e ideologias entre elas os fazem desdenhar do que está por vir. Mas com a chegada do ano 2020 ele começa a dizimar milhares de pessoas e os países decretam o fechamento de cidades com maior contaminação, depois de estados e finalmente das próprias nações. Como a China resolveu rapidamente seu problema, sua economia voltou à ativa enquanto a do resto do mundo estava parada, todas as nações do globo descobrem que são dependentes não só da economia chinesa, bem como de seus produtos que podem salvar a vida de infectados, como equipamentos de proteção individual, máscaras, respiradores e demais coisas da área médica.
A empresa de Jack tinha tudo isso porque ele comprou anteriormente por saber o que iria ocorrer, e ele não só supria todas as demandas como tinha dado ordens de comprar a qualquer preço tudo que estivesse disponível ou não, e as ordens era do governo americano, dadas secretamente porque o governo Donald Trump havia cometido erros de avaliação da pandemia e poderia perder a reeleição se não providenciasse equipamentos médicos o suficiente para população.
Isso mostrava outra faceta da humanidade que os Landarianos iriam excluir na próxima colonização planetária, o gene do egoísmo onde não se importar com o outro era a máxima do pensamento liberal, e que o fracasso derivava de si mesmo e não das desigualdades aplicadas pelo sistema econômico e de governo...
Com as nações enclausurando seus habitantes, algo maravilhoso começou a ocorrer, o ar estava mais limpo, as cidades silenciosas, e os animais selvagens começaram a passear durante a noite, e os ratos e baratas começaram a competir por alimentos, se expondo a predadores e diminuindo seu numero porque a velha lei da natureza, de sobrevivência do mais forte e mais adaptado voltou a funcionar. O mesmo ocorreu com pombos e outras aves que viviam do excesso de comida que os humanos deixavam nas cidades e lixões.
Aquilo se percebia melhor do espaço numa nave em que o casal se encontrava. O oceano, antes apinhado de navios de cruzeiro, de pesca, militares e de petroleiros agora estava tudo parado em seus países de destino ou de origem. O mar estava se reciclando com nuvens oceânicas de peixes vistas da nave, e todas as demais formas de vida que o homem destruía com poluição ou pesca predatória em escala industrial agora se reproduziam e alimentavam o ecossistema marinho e planetário. A humanidade outrora controlada por milhares de anos, em três séculos chegou quase a 8 bilhões de pessoas. Não se tratava mais de ser moral ou imoral o que estava por ocorrer e sim que a Terra precisava de um tempo para si mesmo, e isso só se daria se seu principal predador encontrasse seu fim.
Ao longo dos meses de 2019 e 2020 não existia vacina, e as medidas de isolamento evitaram a morte dos milhões previstos, mas o resultado que os humanos não viam já ocorria porque mesmo reabrindo parcialmente suas economias, as medidas protetivas tornaram as pessoas esquizofrênicas em relação a outros que poderiam ou não ter o vírus, e sem contato, aquele ano e o próximo reduziria o numero de nascimento de crianças, nascendo apenas os que já estavam encaminhados, e já contaminados para serem os pais da espécie alienígena que os criara.
As mortes pelo Covid 19 ficariam extremamente baixas, mas pela fome e desemprego, e mais tarde por recursos e demais doenças pré-existentes aumentaria exponencialmente, e dentro do corpo de homens e mulheres não escolhidos, eles bloqueavam os genes reprodutores e a esterilidade de bilhões de humanos começou, e não haveria mais volta, nem mesmo com todo avanço cientifico da humanidade seria possível produzir filhos ou clones de humanos ricos e poderosos...
O casal observava com tristeza as notícias do planeta, os cortejos de carros do exército transportando milhares de corpos para serem enterrados em valas comunitárias, hospitais que não tinham como atender a todos, cidades cavando valas para enterrar pessoas em caixões construídos às pressas, ou apenas cobertos por lençóis. Aquilo deixou o casal louco de raiva porque os governos deveriam optar por crematórios, mas essa humanidade estava realmente destinada ao fim porque as coisas não eram geridas pela lógica e ciência e sim por religiões imbecis que eles criaram para quantificar suas vidas curtas e medíocres, e, além disso, eles poderiam fazer a bobagem de disparar armas nucleares uns contra os outros.
Felizmente o mundo deles era tão primitivo que poderiam ser parados sem que se precisasse disparar sequer um raio laser em suas armas, apenas um campo dissonante, semelhante ao pulso eletromagnético e nada que fosse movido e controlado por eletricidade poderia chegar a cem metros de altura, caindo em seguida por pane elétrica. Mas estava na hora deles terem mais medo ainda. As naves dos Landarianos abaixaram seus campos de dispersão da luz, ficando parcialmente visíveis aos olhos e tecnologia humana, desta forma relatos de OVNIS começaram a aparecer na internet e até mesmo em canais de tevê ao vivo. Relatos se espalharam pelo mundo e os governos mundiais intensificaram as patrulhas com aeronaves e rastreio por satélites. Mas como os Landarianos pretendiam dar também uma amostra de seu poder sem se apresentar aos humanos, eles deslocaram um asteroide para passar próxima à Terra; deixando pequenos meteoritos penetrarem na atmosfera, derrubaram centenas de satélites antigos e obsoletos, que ao reentrarem na atmosfera também fazia espetáculos de luzes...
O raio trator das naves recolheu o lixo espacial e o devolveram ao planeta, fazendo espetáculos de luzes também. Tantas notícias de catástrofes, alienígenas, meteoritos e satélites caindo, e o número de mortos aumentando pela doença atemorizou ainda mais a população mundial. E como planejado, a contaminação seguia em escala geométrica, e agora o gênio da morte tinha realmente saído da garrafa.
Yoni e seu marido não estavam mais interessados no que viria a ocorrer com os humanos, assim Jack, o empresário, vendeu suas ações da empresa até o último centavo, vendeu sua casa também e doou todo esse dinheiro para hospitais do país que cuidavam das pessoas sem condições econômicas. Localizou os pais na residência deles, pois voltaram às pressas para os EUA, e falou que iria fazer uma longa viagem, talvez levassem muitos anos para revê-los, mas que não se preocupassem com a doença porque em seu laboratório descobriram que ele era assintomático, e, portanto os pais também eram ainda mais com o histórico de viagens pelo mundo e de vacinas que tomaram. Mas a mãe dele queria saber mais do lugar para onde ele iria:
- Vou coordenar uma empresa do governo na América do Sul mãe, como sabe, nós estamos numa guerra não declarada com a China por descobrir uma vacina contra o Covid 19, e contra outras pandemias mais que virão e o governo já sabe. Essa quarentena está quebrando nossa economia e isso é só o começo, temos que nos preparar em todas as áreas, e a biotecnologia são uma das que pode suprir nosso país com coisa que nos torne independentes de outras nações, pois é questão de segurança nacional. Eu estarei bem, Yone estará comigo porque me ama e vamos nos casar, e ela é também é uma das principais cientistas do projeto, terão noticias minhas, e talvez um ou dois netos...
Ele abraçou e beijou os pais e partiu dirigindo em silêncio. Devolveu o carro a locadora e partiu com a esposa caminhando com mochila de acampamento. Ao chegarem num local tranquilo uma pequena nave os recolheu, ainda havia um traço de Jack nele ao sentir uma pequena lágrima saindo de seu olho, e sua esposa a secou com os dedos. No espaço eles olham a Terra pela última vez porque só retornariam aqui quando seu povo estivesse todo refeito, dentro de 80 anos.
A nave abre um portal quântico e eles estão agora num novo sistema solar, um planeta semelhante à Terra, apenas um pouco maior e com clima tropical, pois ali seria o novo mundo deles e da raça humana, e também dos seus pais porque eles foram abduzidos e congelados. Seus corpos passariam por atualização genética e rejuvenescimento, e ele não queria quebrar a promessa de revê-los sempre que possível...
O gargalo genético é um evento evolucionário, de cariz populacional no qual uma percentagem significativa da população de uma espécie morre ou é impedida de se reproduzir. Este efeito faz aumentar a deriva genética numa população: a taxa da deriva genética é inversamente proporcional ao tamanho do efetivo populacional. Variação genética reduzida significa que a população pode não ser capaz de se adaptar a novas pressões seletivas; o efeito gargalo de garrafa é um evento genético causado por uma redução drástica do tamanho da população, onde há perda de variabilidade genética. Pode dizer que partes dos genótipos são impedidas de participarem na produção da geração seguinte. Pode ser causado por diversos fatores, como por exemplo, o desastre natural; alta frequência de predação natural, redução do habitat; redução da migração devido a uma barreira geográfica, por exemplo; surgimento de novas ramificações populacionais; sendo um caso extremo de efeito de gargalo, a extinção.