Quantcast
Channel: O PORTAL DO INFINITO
Viewing all 339 articles
Browse latest View live

ETS: ANUNNAKI, O RETORNO DOS NOSSOS CRIADORES?

$
0
0
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança!
Por David da Costa Coelho
No mito da caverna de [1]Platão, um determinado personagem é retirado de sua caverna de ignorância do mundo que achava conhecer, exposto a verdadeira realidade, mas depois de longos anos, retorna ao seu antigo mundo completamente mudado. No entanto, as pessoas que lhe ouviram falar desse mundo que eles não conheciam, acreditaram que ele era um louco, digno de pena e devia ser ignorado. Com esse mito muitos livros, contos e filmes foram feitos, dentre eles Matrix. Como na alegoria de Platão, o personagem central do filme também foi retirado de seu mundo de conto de fadas tecnológico, levado a confrontar o mundo real, oposto ao conto de fadas tecnológico, que viveu até então.  A verdade não lhe produziu a tal liberdade que o conhecimento deveria trazer, e sim mais uma luta inglória porque a verdade, ao contrario do que se afirma, não o libertou, apenas tornou dono de um saber que a maioria não tinha e jamais compreenderia.
 Zecharia Sitchin, nasceu em 11 de julho de 1920, morreu em 9 de outubro de 2010, foi um dos maiores estudiosos do passado da civilização mesopotâmica, onde atualmente fica o Iraque. Pode muito bem ser entendido como o nosso personagem do mito grego, ou do filme Matrix, porque o que ele nos revelou vai muito além de mito e ficção, esta mais para a maior conspiração que a raça humana viveu e vivencia atualmente. Durante sua vida, tornou-se um dos maiores estudiosos e conhecedores da cultura dos povos que habitaram aquela região, além disso, conhecia a [2]escrita e o idioma deles como raras pessoas na terra, o que lhe possibilitou traduzir vinte e cinco mil tabuletas de argila; onde esses povos deixaram registrados não só sua cultura como leis, religiões, e o mais intrigante de tudo...
 A história de uma [3]civilização alienígena que chegou aqui há milhares de anos, em busca de ouro para sua tecnologia, assim como nós atualmente usamos o aço e o titânio, mas já estamos usando o metal precioso em toda nossa cadeia tecnológica do século XXI, repetindo a história de nossos supostos criadores. Como o contingente de alienígenas era pouco - de acordo com as escrituras traduzidas - o trabalho, mesmo auxiliado por tecnologia superior, era duro e indigno a eles, a solução foi à engenharia genética. Como sabemos segundo a ciência atual, a espécie humana deriva de um ramo antropoide que se separou há milhões de anos do ramo dos símios, comumente chamados de macacos. Esses proto-humanos foram utilizados pelos alienígenas em suas [4]experiências genéticas, o que acelerou sua evolução com a inserção de DNA alienígena nos corpos desses seres. Neste processo, os primeiros experimentos não atenderam as expectativas, mas ao chegar a 3ª fase, com o gene da [5]linguagem, exclusivo da raça humana, o trabalho estava concluído.
A ciência atual descobriu que temos realmente determinados genes que nenhum ser da terra possui, corroborando a tese de que somos seres transgênicos, assim como hoje fazemos o mesmo com soja, animais, vírus e bactérias. Há inclusive uma pesquisa no sentido do leite humano que deverá ser produzido por [6]vacas transgênicas, dotadas de genes humanos, já que muitas pessoas são intolerantes à lactose de bovinos e caprinos, abrindo mais um mercado bilionário no capitalismo em sua sanha por lucros; a China tem um projeto para dar leite a todas as crianças do país, o que daria um oceano de lucro aos produtores que exportarão para lá, portanto, se moral ou imoral – conceito de acordo com o tempo e a sociedade inserida - ao final o dinheiro é o que importa.
Com evidências alienígenas de natureza cientifica, históricas, arqueológicas por todo planeta, e também conspiratórias, já que tais provas batem de frente com outras vertentes civilizatórias que discordam contra tais argumentos, ainda assim o assunto não cai no esquecimento, ao contrario... À medida que nosso conhecimento do passado avança, bem como a ciência progride, fica evidente que alienígenas estiveram entre nós num passado distante, mas não só isso; Estão conosco até os dias de hoje. As principais potências nucleares do planeta possuem milhares de arquivos de encontros com ETS, trancafiados durante décadas sob a clássica fala da doutrina de segurança nacional. Mesmo quando submetidos às leis máximas de seus legisladores no sentido de mostrarem tais documentos e provas, quando entregam, elas vem todas manchadas com borrões de tinta negra, impedindo o acesso à informação conflitante que ocultaram.
Se os alienígenas que modificaram nosso DNA e nos criaram ainda estão por aí, ou povos com tecnologia similar que nos estudam após a partida deles também nos vigiam, há que imaginarmos o porquê de tal coisa. Talvez sejam uma vertente semelhante do sistema da série de ficção STAR TREK, só fazendo contato com os nativos quando estes atingissem determinados estágios de tecnologia e civilidade. Ao que me consta, se for essa a premissa de nosso 1º contato, talvez ocorra daqui a uns três séculos, se não nos destruirmos até lá. Nesse meio tempo eles estão por aí em suas naves nos observando, e em muitos casos se fazendo notar pelos poderosos de nosso planeta. Contudo, para essas nações e seus lideres maquiavélicos que se supõem donos do mundo, com seu poder bélico convencional e nuclear, saber que tais armas são como pistolas de agua a uma civilização alienígena que nos observa há milênios, ocasiona medo no circulo elitista deles...
 O temor concreto das nossas elites é que uma vez apresentados a nós, a humanidade não estaria mais presa a conflitos tribais, religiosos, financeiros e tecnológicos produzidos em seus antros conspiratórios. Evoluiríamos para aquilo que seria a civilização de jornada nas estrelas do século XXII, supervisionados por ETS do planeta Vulcano. Com a tecnologia que dispomos hoje, já poderíamos – caso as elites mundiais quisessem - salvar, alimentar e cuidar de todos os seres humanos do planeta, não o fazendo porque o barbarismo e o egoísmo ainda perdura em quem detém exclusivamente para seus grupos pessoais tais benesses, que não permitem sob nenhuma hipótese ao homem comum. Ao contrario, segundo nossos lideres psicopatas, é mais fácil manter a guerra, fome, doenças, intolerâncias religiosas e conspirações do que mudar o rumo de destruição que a cada dia assombra mais a raça humana.
De outra, fico imaginando os nossos vigias em suas naves a nos observar, será que impedirão a nossa destruição se não mudarmos o foco de nossa civilização? As mesmas evidências arqueológicas que indicam que eles estiveram e estão entre nós, também nos informam que existiram outras civilizações humanas anteriores as nossas. Pirâmides no mundo inteiro, inclusive no fundo do mar a grandes profundidas. A cidade de Tiahuanaco, na Bolívia, é uma das mais antigas do planeta, na casa de 17 mil anos de existência, sendo que existem estruturas ainda mais antigas pelo globo. Portanto, assim como foram três experiências genéticas para chegar a nós, na evidencia de um conflito atômico a civilização recomeçaria dos resquícios dessa; como defendem os que acreditam que somos herdeiros da civilização atlântica que se destruiu, mas deixou também provas cabais que tinham tecnologia semelhante a atual por mapas antigos como de [7]Piri Reis... Mapeando a terra do espaço, da mesma forma que nossos satélites fazem hoje.
Se nos destruirmos, levaremos outros 10 mil anos para nos reerguermos, mas até quando nossos vigias celestiais aceitarão impassíveis nosso surgir e ressurgir sem nunca extinguir em nossa genética tal destino fatídico? Estamos condenados a carregar a terra, ver suas belezas, mas jamais termos a condição de sair do planeta não mais como seres atrasados, mas como iguais a quem nos criou? As perguntas são inúmeras, as respostas cabalísticas, contudo, somente nossos criadores e visitantes extraterrestres podem mudar o mundo e responder a essas questões; aguardemos tal dia do 1º contato...




[1] A alegoria da caverna trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade, é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância; é a passagem gradativa do senso comum enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso, mas na causalidade.

[2] O sistema de escrita cuneiforme, era assim chamado porque os babilônios escreviam em plaquetas de argila com um estilete em forma de cunha. Através dela, sabemos hoje que esse povo possuía técnicas avançadas de agricultura, com irrigação e drenagem de solo, construção de canais, diques e reservatórios. Seus conhecimentos na medicina, arquitetura, engenharia hidráulica, matemática, química, física e astronomia eram muito avançados para a época, e ainda hoje nos assombram.
http://www.fontedosaber.com/historia/povos-mesopotamicos.html

[3] Anunnaki (Os Do Céu Que estão Na Terra), que mais tarde foram chamados de Elohim (Senhores do Céu). Humanoides gigantes vindos do planeta Nibiru e que devido à problemas no seu ecossistema, decidiram iniciar um processo de colonização no nosso planeta, por volta de 450 mil anos atrás.
http://osnefilins.tripod.com

[4] O mistério do DNA: uma sequência indecifrada de genes guarda o segredo da origem da espécie humana. O Projeto Genoma foi além do esperado e os cientistas estão perplexos com a descoberta de material genético que não pertence ao planeta Terra. A descoberta confere um tom a mais de credibilidade às hipóteses da origem humana como resultado de colonização da Terra realizada por viajantes cósmicos, que vieram “dos céus”, como nos relatos mitológicos de culturas (principalmente a cultura da Suméria, Mesopotâmia, hoje o Iraque) antigas de todo o mundo. Não se sabe com que propósito tal experiência foi e/ou está sendo feita: se é apenas um projeto científico já concluído, em acompanhamento, uma preparação do planeta para uma colonização ou ainda, somente um compromisso de espalhar a vida por todo o universo.
http://thoth3126.com.br/cientistas-encontram-genes-extraterrestre-em-dna-humano/

[5] Chimpanzé, nosso mais próximo parente na cadeia animal, não fala. Nós falamos. Agora cientistas localizaram uma mutação em um gene que pode ajudar a explicar essa diferença. Essa mutação parece ter sido determinante para o desenvolvimento da fala [...] Este gene - chamado FOXP2 - sofreu mutação durante o desenvolvimento humano, promovendo a habilidade da fala. "Esta descoberta apresenta a maior diferença entre o chimpanzé e o homem", disse Daniel Geschwind, autor do estudo e professor de neurologia, psiquiatria e genética humana da Universidade da Califórnia. "Você faz a mutação deste gene em humanos e obtém um transtorno na capacidade de fala e comunicação", conclui o especialista. "Isto mostra o que pode estar acontecendo no seu cérebro."
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,gene-descoberto-pode-ser-a-chave-da-evolucao-da-fala,464793,0.htm

[6] Uma vaca clonada por cientistas argentinos com genes bovinos e humanos começou a produzir leite similar ao humano como forma de contribuir na luta contra a mortalidade infantil, informou nesta segunda-feira (11) a universidade responsável pelos estudos. As proteínas são lactoferrina e a lisozima, incorporadas no DNA da vaca, também conhecida como "Rosinha". "Esta é uma maneira de contribuir com a luta contra a mortalidade infantil, já que uma proteína permite evitar doenças infecciosas do aparelho digestivo e evitar anemia nos recém-nascidos", explicou o reitor da Unsam, Carlos Rota.
http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/

[7]O mapa de Piri Reis mostra a costa ocidental da África, a costa oriental da América do Sul, e na costa norte da Antártida. O litoral norte da Antártica é perfeitamente detalhado. O mais intrigante, contudo, não é tanto como Piri Reis conseguiu desenhar como um mapa preciso da região da Antártida 300 anos antes de ser descoberto, mas que o mapa mostra a costa sob o gelo. Evidência geológica confirma que a data mais recente é de que poderia ter sido mapeado em um estado livre de gelo. A ciência oficial diz que o gelo que cobre a Antártida é de milhões de anos. O mapa de Piri Reis mostra que a parte norte do continente foi mapeada antes que o gelo cobrisse. Isso deve fazer pensar que foi mapeado milhões de anos atrás, mas isso é impossível, já que a humanidade não existia na época. A pergunta é: Quem mapeou o Queen Maud Land of Antartida milênios anos atrás? Que civilização desconhecida tinha a tecnologia ou a necessidade de fazer isso?
http://ufosnow.blogspot.com.br/2012/10/mapa-de-piri-reis-mapa-da-antartica.html


STF: A FOGUEIRA DAS VAIDADES HUMANAS???

$
0
0


Por David da Costa Coelho
Sempre que possível gosto de assistir aos vídeos polêmicos das decisões do STF sobre os assuntos mais complexos que o nosso congresso deixa ao leu, em suas eternas disputas por poder e mais verbas para seus currais eleitorais, que de um jeito ou de outro, nas inúmeras maracutáias do legislativo, chantagem entre elas, acabam sempre obtendo... Como não podem ou não querem [1]legislar sobre determinados assuntos polêmicos ou religiosos, que poderiam impedir sua eterna reeleição, assim, para que o Brasil não pare, elas irão cair no colo dos letrados ministros de grande saber jurídico e ilibada conduta pessoal e social; na ideologia de que são os supremos guardiões da constituição, decidindo pela palavra escrita justa, não por seus apegos sociais, culturais, pessoais, religiosos e financeiros, uma utopia...
Para entendermos o contexto do sonho idílico constitucional, jamais devemos esquecer que as leis são feitas por seres humanos, que representam um determinado grupo de interesses e tempo histórico, e que ao final deveriam excluir-se desses defeitos do ser em si, atendendo todos os cidadãos de forma pura e igualitária. Entretanto, como no livro A [2]Revolução dos Bichos de Autoria de George Orwell, ao final, um grupo que iniciou igual a todos os demais, acaba tendo mais direitos porque são um pouco mais iguais que os abaixo na escala de saber, poder e credos... Portanto, aqueles juízes que julgam os cidadãos do País, bem como todas as pessoas dos Três poderes, por conhecerem minunciosamente a formação do estado, acabam tendo mais direitos do que deveriam, cabendo aos magistrados corrigirem tal discrepância jurídica, de novo, retornamos a utopia...
Mas os nossos juízes não deveriam seguir a lei? Como explicar tal coisa? Bom, o simples fato do STF ter 11 ministros, um número impar, indica que a lei às vezes faz curva, notadamente para quem pode mais, ou fere algum interesse de um dos mais iguais com poder financeiro e politico em excesso... O nobre ministro Gilmar Mendes é um desses casos de uma medida e vários pesos, pois já soltou os mais famosos personagens da mídia em relação a crimes e corrupção, que na opinião acadêmica de letrados do direito, associação de magistrados e procuradores federais; já deveriam estar em suas celas confortáveis de alguns metros quadrados, mas no entendimento jurídico dele, deveriam estar soltos, por isso liberou da prisão.
Alguns desses nobres cidadãos respondem hoje o processo em liberdade, outros, no entanto, como o médico tarado e estuprador [3]Roger Abdelmassih,condenado a 278 anos de prisão por abusos sexuais, com evidencia genéticas comprovadas, e não as inventadas como no processo do Mensalão, na teoria do domínio do fato... Como o referido cidadão tinha por traz de si pessoas da nata jurídica, e um perfil dos mais iguais que os outros, foi libertado pelo ministro e fugiu para  o Líbano, porque tem origem libanesa e o Brasil não tem tratado de extradição com aquele país. Não esquecendo também o banqueiro [4]Daniel Dantas Como dito, há muitas dessas decisões em sua biografia, não esquecendo as homéricas brigas entre colegas, a exemplo de uma notória com Joaquim Barbosa.  Supõe se que pessoas de ilibado saber jurídico e moral a toda prova, estariam fora desta qualidade peculiar humana, mas...
O Ministro Marco Aurélio de Mello, assim como seus pares acima, também não se abstém de fazer o que sua consciência indica no tocante a seus atos como ministro do supremo, claro que algumas delas foram não só enigmáticas, como polêmicas, a exemplo a libertação do banqueiro fraudador do erário publico, Salvatore [5]Alberto Cacciola, que fugiu para Itália, mas foi preso novamente, mas hoje, graças à ‘justiça’, esta livre. Seu crime? Deu um prejuízo de R$ 1,5 bilhão em 1999, aos cofres públicos... Ao cambio de hoje, com juros e correção monetária daria para sustentar a bolsa família de um ano inteiro, e ainda sobraria troco. Bolsa rico neste País não dá escândalo na net... Um juiz é independente em suas decisões e na sua vida pessoal para poder julgar sem conceder beneficio a nenhum lado, além disso, o estatuto da magistratura proíbe uma série de coisas aos juízes, contudo, outra utopia.
Um dos nossos mais famosos e conhecidos, sua excelência, o ministro Joaquim Barbosa já dissertou sobre esse assunto quando seus atos feriram o tal estatuto e foi interrogado por jornalistas: “Não devo satisfação a ninguém.” Pois é exatamente isso, um ministro do STF esta acima de todos nós, porque são parte de uma elite da elite suprema. Um deputado federal em especifico não concorda, e tenta emplacar uma [6]PEC que vem em sentido contrario a estas afirmações, busca entre seus colegas apoio para impedir que o STF continue ao revés da constituição, em muitos casos legislando ao criar jurisprudência em determinados assuntos, o que por lei só cabe ao poder legislativo, se aprovada, colocará o tribunal no seu devido local constitucional, não acima dele. No projeto também há punições a juízes que tomam decisões que não estão na lei e sim na sua interpretação pessoal do que a lei dita. O direito é subjetivo, num certo aspecto parece à teoria da relatividade de Einstein, depende do ponto de visto do advogado e do poder financeiro de seu cliente para contratar os craques do direito.
Saber que um banqueiro desviou bilhões de reais, foi preso, consegue habeas corpus, foge para outro país, é preso novamente e hoje esta livre, com toda aquela fortuna em algum paraíso fiscal carente a lhe aguardar;  ao passo que um zé ninguém, por um motivo fútil, furta um pote de manteiga ou algo similar, será julgado com um rigor e pena que daria escarnio ao banqueiro rico, sendo jogado numa senzala pior do que a dos escravos de séculos atrás, é ter a certeza que George Orwell foi um profeta em suas palavras. Não que isso seja novidade, pois o próprio ministro[7]Joaquim Barbosa afirmou que a Justiça pune de forma desigual ricos e pobres.
O STF, longe de ser um poder que nos orgulharia, representa apenas mais do mesmo no estado democrático de direito dos ricos e super ricos, um minoria, em detrimento a uma maioria pobre e de classe inferior, que ao cair em seus braços por algum agravo contra a lei, recebe todo peso do medievalismo do qual o poder judiciário é herdeiro. Salvo raras exceções, com ministros que literalmente seguem o que diz a constituição, não se importando com a mídia, outro braço armado de tinta, impressoras, rádios e tevês das classes dominantes, para destilar seus interesses e manipular os leigos e incautos; estes utópicos são ainda os últimos a fazer justiça neste mar de lama. 

Se fosse possível investigar e punir juízes das três instâncias, pelos seus mandos e desmandos que atentam contra o direito constitucional de fato, com certeza muitos deles estariam não atrás das grades, como qualquer criminoso em questão, mas aposentados, recebendo integralmente seu salario, livres para advogar e cobrar favores, coisa que ocorre e nos envergonha...
Entretanto, parece que há uma luz tênue no fim do túnel para acabar com essa mamata no futuro, pois a [8]PEC 53, pode decretar o fim da aposentadoria compulsória para magistrados e membros do Ministério Público como forma de punição disciplinar. Se estivesse aprovada, o ex-senador [9]Demóstenes Torres, o espião da Veja e chegado de Carlinhos Cachoeira, não teria se aposentado como procurador do estado de Goiás, recebendo a quantia de 22 mil reais mensais pelos seus bons serviços...  
Por esses e tantos exemplos que ainda faltam descrever no campo do STF, promotores federais e estaduais, e que tornariam esse simples texto elucidativo um livro de umas 300 paginas, não pretendendo mais delongas; entendemos que alguma coisa precisa para acabar com esse paraíso judiciário a quem do direito que caberiam cuidar e representar com afinco e dignidade, e assim como demais poderes, dar satisfação ao povo. Ao contrario do que a maioria dos leigos imagina, o Judiciário deve sim respostas aos demais poderes, da mesma forma que cobra dos outros suas obrigações. No meu entender mudanças simples como estas para o Judiciário e Ministério Público: Todos devem ser eleitos pelo povo em mandatos de quatro anos, fim de mordomias, privilégios e criminalização dos seus erros jurídicos, e ao final do mandato, investigar seu crescimento patrimonial em face do interesse público...
Concluindo, não vivemos num mundo perfeito, e se quisermos um que seja no mínimo aceitável, devemos cobrar as mudanças que farão o futuro menos canalha do que o existente nos dias de hoje...
 




[1] A democracia é um sistema mais hipócrita de governo em relação a todos os demais porque em nenhum momento extingue a luta de classes, ela amplifica esse debate na criação de partidos políticos para dar ao povo excluído a noção de que serão representados por seus eleitos, mas como sabemos, estes – partidos - são dominados pelas elites intelectuais e financeiras do sistema: - TEORIA DAS ELITES – Com o poder do dinheiro e manipulação dos três poderes do estado, perder o poder para a parcela excluída da população é praticamente impossível, salvo num golpe de estado desta maioria silenciosa, em oposição à minoria elitista governante, a revolução russa é um destes exemplos sangrentos. No entanto, depois de algumas décadas, os oligarcas retomam o poder porque demora muito corrigir os descasos da elite, e o povo que elege seus partidos esquerdistas tem pressa demais nos seus anseios, e como estes não chegam a tempo, o poder sempre retoma as elites de sempre...

[2]A Revolução dos Bichos é um livro de extrema importância para entendermos o funcionamento de sociedades comandadas por diferentes tipos de governo, além de mostrar de forma genial a ambição do ser humano, o "sonho do poder".
http://www.coladaweb.com/resumos/a-revolucao-dos-bichos-george-orwell

[3] O Ministro Gilmar Mendes lhe concedeu um habeas corpus e o tirou da cadeia. O médico estava preso, aguardando recurso de sua defesa diante da sentença que o condenou a 278 anos de cadeia por violentar 37 mulheres (suas pacientes, o que agrava os crimes) entre 1995 e 2008. E aguardava preso porque a Polícia Federal informara que ele tentava renovar seu passaporte. A juíza Kenarik Boujikian Felippe determinou que ele fosse preso para evitar sua fuga do país. Seu advogado recorreu. Disse que Roger Abdelmassih não pretendia fugir do país, só estaria renovando o passaporte…

[4] O Supremo Tribunal Federal (STF) mandou soltar, em caráter "imediato", Daniel Dantas, dono do banco Opportunity, sua irmã, Verônica Dantas, e mais nove pessoas ligadas ao banco Opportunity. A decisão, assinada pelo presidente do STF, ministro do Gilmar Mendes, beneficia diretores e executivos do Opportunity presos na terça-feira, 8, durante a Operação Satiagraha da Polícia Federal. Em seu parecer, Gilmar Mendes argumenta que os motivos para decretar as prisões temporárias não justificam as detenções.
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,stf-manda-soltar-daniel-dantas-e-mais-10-presos-da-satiagraha,203333,0.htm

[5] Após a prisão, em 2000, Cacciola conseguiu um habeas-corpus, concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello. Aproveitando-se do benefício, Cacciola fugiu para a Itália, onde tem cidadania. O habeas-corpus foi cassado pelo próprio STF, mas o ex-banqueiro não retornou ao Brasil e passou a ser considerado foragido da Justiça brasileira. Em 2008, Cacciola viajou para o principado de Mônaco, onde foi reconhecido, preso e extraditado para o Brasil, onde cumpriu pena em um presídio de segurança máxima no Complexo de Bangu, no Rio de Janeiro. No início do ano passado, a Justiça do Rio concedeu indulto e extinguiu a pena do ex-banqueiro.
http://noticias.terra.com.br/brasil/justica-pede-extensao-da-extradicao-de-salvatore-cacciola,

[6] A PEC 33/11 Do deputado Nazareno Fonteles, submete ao Congresso algumas decisões do STF, podendo colocar essas decisões revogadas em plebiscito popular.

[7] "As pessoas são tratadas de forma diferente de acordo com seu status, sua cor de pele e o dinheiro que tem. Tudo isso tem um papel enorme no sistema judicial e especialmente na impunidade", disse Barbosa.
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2013/05/03/interna_politica,364242/joaquim-barbosa-diz-que-justica-pune-de-forma-desigual-ricos-e-pobres.shtml

[8]“Nós não veremos mais juízes ou promotores que forem condenados por corrupção continuando com seus vencimentos integrais, como nós víamos antigamente. A partir de agora, qualquer membro do Ministério Público ou da magistratura que for condenado por algum tipo de crime perderá esses vencimentos que ele tinha e cairá no Regime Geral da Previdência Pública, como todo mundo tem hoje, com R$ 3.900 [o teto é R$ 4.157,05]”, explicou Maggi.

[9] Com voto favorável de Roberto Gurgel, Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) considera ex-senador membro vitalício do MP; agora, pena máxima que poderá ser aplicada ao amigo do bicheiro Cachoeira é a aposentadoria compulsória, com benefício de R$ 22 mil; possível demissão do procurador do MP-GO só poderá ocorrer pela via judicial, após o trânsito em julgado e esgotados todos os recursos; contra o voto da relatoria, conselheiros entenderam que a vitaliciedade é garantia da sociedade brasileira, e não prerrogativa do membro individual do MP.

ONDULAÇÕES NO MAR DE DIRAC

$
0
0
Ficheiro:Geoffrey Landis02.jpg
Autor: Geoffrey A. landis
A morte se avizinha como uma enorme vaga, deslizando em minha direção com lenta e inexorável majestade. Tento fugir, mesmo sabendo que é inútil. Parto, e minhas ondulações divergem para o infinito, como ondas apagando as pegadas de viajantes esquecidos.
No dia em que primeiro testamos minha [1]máquina, tomamos muito cuidado para evitar qualquer paradoxo. Fizemos uma cruz de fita isolante no chão de concreto de um laboratório sem janelas, colocamos um relógio despertador nessa marca e trancamos a porta. Uma hora depois retornamos, retiramos o relógio e colocamos a máquina experimental na sala com uma câmara super-8, apoiada nas bobinas. Apontei a câmara para a marca, e um dos meus alunos de pós-graduação programou a máquina para enviar a câmara de volta meia hora, permanecer no passado por cinco minutos e depois retornar. Ela partiu e retornou em um piscar de olhos. Quando revelamos o filme, a hora no [2]relógio era meia hora antes de enviarmos a câmara. Havíamos conseguido abrir a porta para o passado. Celebramos com café e champanha.
Agora que sei muito mais sobre o [3]tempo, compreendo nosso erro. Não havíamos pensado em colocar uma câmara na sala com o relógio para fotografar a máquina quando ela chegasse do futuro. Mas o que era óbvio para mim agora não era óbvio então. Chego, e as ondulações convergem para o instante agora da vastidão do mar infinito. Para São Francisco, 8 de junho de 1965. Uma brisa quente acaricia a grama cheia de dentes-de-leão, enquanto nuvens brancas e fofas compõem formas estranhas e maravilhosas para nosso entretenimento. Mesmo assim, muito poucas pessoas param para apreciar. Elas correm para cá e para lá, com ar preocupado, acreditando que se parecerem bastante ocupadas, acabarão ficando importantes.
— Eles têm tanta pressa! — observo. Por que não podem parar um pouco, relaxar, curtir o dia?
— Estão presos na ilusão do tempo — responde o Dançarino.
Ele está deitado de costas, soprando uma bolha de sabão, os longos cabelos castanhos tocando-lhe os ombros, numa época em que qualquer cabelo abaixo da orelha seria considerado comprido. Um sopro de brisa carrega a bolha colina abaixo até o vaivém de pedestres. Todos, sem exceção, a ignoram.
— Estão presos à crença de que o que fazem é importante para algum objetivo futuro.
A bolha estoura em uma maleta e o Dançarino sopra outra.
— Você e eu, nós sabemos que isso é uma ilusão. Não existe passado, não existe futuro, apenas o agora, eterno.
Ele estava certo, mais certo do que jamais poderia imaginar. Antigamente, eu também me preocupava e me achava importante. Antigamente, eu era brilhante e ambicioso. Tinha vinte e oito anos e havia feito a maior descoberta do mundo...
Do meu esconderijo eu o vi sair do elevador de serviço. Era magro, quase esquelético, um homem nervoso de cabelos louros e oleosos, que usava uma camiseta branca sem mangas. Olhou para os dois lados do saguão, mas não me viu escondido no depósito de material de limpeza. Estava carregando uma lata de dez litros de gasolina debaixo de cada braço e mais outras duas, uma em cada mão. Colocou três delas no chão e virou a última de cabeça para baixo; depois, atravessou o saguão, espalhando um longo rastro de gasolina. Seu rosto não tinha expressão. Quando começou a esvaziar a segunda lata, achei que já era o bastante. Saí do meu esconderijo, dei-lhe uma pancada na cabeça com uma chave inglesa e chamei a segurança do hotel. Depois, voltei ao depósito e deixei as ondulações do tempo convergirem.
Cheguei a um quarto em chamas, que ardiam bem perto de mim, o calor quase insuportável. Tentei respirar (um grande erro) e apressadamente apertei algumas teclas. Uma vez, tentei retroceder vários milhões de anos, até o Cretáceo, para ver os dinossauros. Todos os livros ilustrados sobre o assunto mostram paisagens cheias de dinossauros. Tive que passar três dias vagando por um pântano (com meu terno novo de tweed) para conseguir, se bem que só de relance, dar uma olhada em um dinossauro que não era maior que um cão bassé. O danadinho (um terópode qualquer, não sei exatamente) fugiu rapidamente ao pressentir minha presença. Que decepção!
Meu professor de Matemática Transfinita costumava contar histórias sobre um hotel com um número infinito de quartos. Certo dia todos os quartos estão cheios e chega mais um hóspede. "Não tem problema", diz o gerente do hotel. Ele muda o hóspede do quarto um para o dois, do dois para o três e assim por diante. Pronto! Um quarto vago.
Pouco depois, chega um número infinito de hóspedes. "Não tem problema", repete o inabalável gerente. Muda o hóspede do quarto um para o dois, o do dois para o quatro, o do três para o seis e pronto! Um número infinito de quartos vagos. É exatamente de acordo com esse princípio que funciona minha máquina do tempo.
Mais uma vez retorno a 1965, o ponto fixo, o atrator estranho de minha trajetória caótica. Em anos de peregrinação conheci uma infinidade de pessoas, mas Daniel Ranien — o Dançarino — foi o único com a cabeça no lugar. Tinha um sorriso fácil e gostoso, uma velha guitarra de segunda mão e uma sabedoria que levei cem vidas para igualar. Conheci-o em bons e maus momentos, em dias de verão com um céu azul que, seríamos capazes de jurar, durariam mil anos, em dias de em que a neve se acumulava em grandes montes. Em tempos mais felizes, colocamos rosas em canos de rifles, nos deitamos nas ruas da cidade no meio de tumultos, e não nos machucamos. Eu estava com ele quando morreu, uma, duas, cem vezes.
O Dançarino morreu em 8 de fevereiro de 1969, depois de um mês de reinado de Richard, o Embusteiro, e seu bobo da corte Spiro, um ano antes de Kent State, Altamont e a guerra secreta no Camboja estrangularem lentamente o verão de sonhos. Morreu, e não havia — não há — nada que eu pudesse — que possa — fazer. A última vez que morreu, arrastei-o a um hospital, onde gritei e discuti até convencê-los a admiti-lo para exames, embora não parecesse ter nada de errado. Com o auxílio de radiografias, arteriogramas e contrastes radioativos, descobriram afinal o aneurisma incipiente que tinha no cérebro. Eles o anestesiaram, rasparam seus belos e longos cabelos castanhos e o operaram, removendo o capilar afetado e costurando as pontas com destreza. Quando a anestesia passou, fiquei sentado ao lado dele no quarto do hospital, segurando-lhe a mão. Seus olhos estavam com olheiras enormes. Agarrou minha mão e ficou olhando, quieto, para o vazio. Quando terminou a hora das visitas, não deixei que me pusessem para fora do quarto. Ele não disse mais nada. Pouco antes do amanhecer, quando o dia já estava clareando, suspirou baixinho e morreu. Não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer.
As viagens no tempo estão sujeitas a duas restrições: a energia deve ser conservada e a causalidade, respeitada. A energia necessária para aparecer no passado é apenas tomada emprestada do mar de Dirac; como as ondulações desse mar se propagam no sentido negativo do eixo dos "t", o transporte só pode ser feito para o passado. A energia é conservada no presente, contanto que o objeto transportado retorne no mesmo instante em que partiu. Para que a causalidade seja respeitada, nada que o objeto transportado fizer no passado pode afetar o presente. Por exemplo: que aconteceria se você viajasse ao passado e matasse seu pai? Quem inventaria a máquina do tempo?
Uma vez, tentei suicidar-me assassinando meu pai antes que conhecesse minha mãe, vinte e três anos antes de meu nascimento. Nada mudou, é claro, e mesmo enquanto eu estava fazendo isso sabia que nada iria mudar. Mas a gente tem que tentar assim mesmo. Se não tentar, como vai ter certeza?
Na vez seguinte, experimentamos mandar um rato para o passado. Ele viajou no mar de Dirac e voltou sem problemas. Depois usamos um rato treinado, que havíamos pedido emprestado ao laboratório de psicologia sem explicar nossos motivos. Antes da pequena viagem, tinha sido ensinado a percorrer um labirinto para pegar um pedaço de bacon. Depois da experiência, chegou ao final do labirinto com a mesma facilidade.
Ainda precisávamos tentar com um ser humano. Ofereci-me como voluntário e não permiti que ninguém me dissuadisse. Experimentando em mim mesmo, podia contornar os regulamentos da Universidade a respeito de cobaias humanas.
O mergulho no mar de energia negativa não me causou nenhuma impressão especial. Em um momento, estava no centro do anel de bobinas de Renselz, observado por um técnico e meus dois alunos de pós-graduação; no momento seguinte, estava sozinho e o relógio havia recuado exatamente uma hora. Sozinho em uma sala trancada, com apenas uma câmara e um relógio por companhia, vivia naquele momento o ponto mais alto de minha vida.
O momento em que conheci o Dançarino foi o ponto mais baixo. Eu estava em Berkeley, em um bar chamado Trishia 's, embebedando-me devagar. Era o que mais fazia na ocasião, encurralado como me sentia entre a onipotência e o desespero. O ano era 1967. Frisco, naquela época (o auge da era dos hippies parecia apropriado, por alguma razão).
Havia uma garota sentada em uma mesa com um grupo da universidade. Fui até lá e me convidei a sentar. Contei-lhe que não existia, que nada no mundo existia, que tudo era criado pelo fato de que eu estava olhando e desapareceria no mar da irrealidade no momento em que eu parasse de olhar. Chamava-se Lisa, e tentou discutir comigo. Os amigos, entediados, foram embora. Pouco depois, Lisa percebeu que eu estava bêbado. Jogou uma nota na mesa e saiu para a noite nevoenta.
Eu a segui. Quando viu que eu a estava seguindo, segurou a bolsa com mais força e saiu correndo.
De repente, ele estava lá, debaixo de um poste de luz. Por um segundo, pensei que fosse uma garota. Tinha olhos azuis e cabelos castanhos que chegavam até os ombros. Vestia uma camisa índia bordada, tinha um medalhão azul e prata no pescoço e carregava nas costas um violão. Era magro, quase um fiapo, e tinha os movimentos de um dançarino ou um mestre de caratê. Mas não me ocorreu sentir medo dele.
Olhou-me dos pés à cabeça e disse:
— Isso não vai resolver o seu problema, você sabe.
Senti vergonha de mim mesmo. Não sabia mais ao certo o que tinha em mente ou por que havia seguido a garota. Fazia anos que fugira da morte pela primeira vez e já começava a pensar os outros como se fossem irreais, pois nada que fizesse poderia afetá-los de forma permanente. Sentia a cabeça girar. Apoiei-me na parede e escorreguei até o chão, onde me sentei. Até que ponto havia chegado!
Ele me levou de volta para o bar, ofereceu-me um suco de laranja com biscoitos e me fez falar. Contei-lhe tudo. Por que não, já que eu poderia desdizer tudo que dissesse, desfazer tudo que fizesse? Mas eu não tinha pressa. Ele escutou tudo, sem dizer nada. Ninguém havia escutado antes a história completa. Não sei explicar o efeito que aquilo teve sobre mim. Passar tantos anos sozinho e depois, ainda que apenas por um momento... Aquilo me atingiu com a intensidade de uma dose de LSD. Ainda que apenas por um momento, não estava mais sozinho.
Saímos de braços dados. Meio quarteirão adiante, o Dançarino parou, na entrada de um beco. Estava escuro.
— Há alguma coisa errada ali — disse, em tom preocupado.
Segurei-o.
— Espere. Você não vai querer entrar aí...
Ele se desvencilhou e entrou no beco. Depois de um momento de hesitação, fui atrás. O beco cheirava a cerveja choca, misturada com lixo e vômito. Meus olhos logo se acostumaram à escuridão. Lisa estava encolhida em um canto, atrás de latas de lixo. As roupas dela tinham sido cortadas com uma faca e estavam espalhadas pelo chão. Tinha manchas de sangue nas coxas e em um dos braços. Não parecia nos ver. O Dançarino se agachou ao lado dela e disse alguma coisa baixinho. Ela não respondeu. Ele tirou a camisa e a enrolou na moça. Depois, tomou-a nos braços e levantou-a.
— Ajude-me a levá-la para o meu apartamento.
— Apartamento uma ova! É melhor chamarmos a polícia! — disse eu.
— Chamar os porcos? Está maluco? Quer que eles a estuprem também?
Eu tinha me esquecido de que aqueles eram os anos sessenta. Carregamos a moça até o fusca do Dançarino e fomos ao apartamento dele, na Hashbury. No caminho, ele me explicou em voz baixa o que havia acontecido, um lado negro do verão do amor que eu não conhecia, Tinham sido os greasers, afirmou. Eles apareciam em Berkeley porque ouviam dizer que as garotas hippies davam para qualquer um de graça, e ficavam zangados quando encontravam alguma que pensava diferente.
Os ferimentos de Lisa eram quase todos superficiais. O Dançarino lavou a moça, colocou-a na cama e ficou a noite inteira a seu lado, falando, cantarolando e tentando acalmá-la. Dormi em um dos colchões da sala. De manhã, quando acordei, os dois estavam juntos na cama. Lisa dormia tranquilamente. O Dançarino estava acordado, abraçando-a. Eu estava consciente o bastante para perceber que aquilo era tudo que estava fazendo, abraçá-la, mas mesmo assim senti ciúme, e não sabia bem de qual dos dois.
Uma vez, fui assistir à crucificação. Peguei um jato de Santa Cruz a Tel Aviv e um ônibus de Tel Aviv a Jerusalém. Chegando a uma colina perto da cidade, mergulhei no mar de Dirac. Estava usando meu terno com colete. Não havia como evitar isso, a não ser que quisesse viajar despido. A terra era surpreendentemente verde e fértil, muito mais do que eu esperava. A colina agora fazia parte de uma fazenda; estava coberta de videiras e oliveiras. Escondi as bobinas atrás de umas pedras e desci até a estrada. Não fui muito longe. Depois de andar uns cinco minutos, cruzei com um grupo de pessoas. Tinham cabelos pretos, eram morenos e usavam túnicas brancas, muito limpas. Seriam romanos? Judeus? Egípcios? Como poderia saber?
 Falaram comigo, mas não compreendi uma palavra. Depois, dois deles me agarraram, enquanto um terceiro me revistava. Seriam ladrões atrás de dinheiro? Romanos, em busca de algum documento de identidade? Dei-me conta de quão ingênuo havia sido em pensar que poderia arranjar roupas adequadas e me misturar à multidão. Não encontrando nada, o que havia me revistado me deu uma surra e derrubou-me no chão. Enquanto os outros dois me seguravam, sacou uma adaga e cortou os tendões das minhas pernas. Tive a impressão de que estavam sendo misericordiosos, poupando-me a vida. Foram embora rindo e conversando alguma coisa incompreensível. Minhas pernas não serviam mais para nada. Estava com um braço quebrado. Levei quatro horas para me arrastar de volta à colina, usando o braço bom. As pessoas que passavam faziam questão de me ignorar.
Quando cheguei ao esconderijo, precisei de toda a minha força de vontade para apanhar as bobinas de Renselz e enrolá-las no corpo. No momento em que digitei no teclado a combinação de retorno, estava quase inconsciente. Afinal, consegui completar a combinação. As ondas do mar de Dirac convergiram. E eu estava no meu quarto de hotel em Santa Cruz. O teto tinha começado a cair no lugar onde as vigas haviam queimado. Alarmes contra incêndio estavam tocando, mas eu não tinha para onde correr. O quarto estava cheio de fumaça, acre e densa. Tentando não respirar, digitei um código no teclado, para qualquer tempo, para qualquer lugar que não fosse aquele inferno.
E eu estava no mesmo quarto de hotel, cinco dias antes. Respirei fundo. A mulher na cama gritou e tentou se cobrir. O homem que estava trepando com ela estava muito ocupado para se importar. De qualquer modo, eles não eram reais. Ignorei-os e escolhi com um pouco mais de cuidado o lugar para onde iria em seguida. De volta a 65, pensei. Digitei a combinação e estava de pé em um quarto vazio no trigésimo andar de um hotel em construção. Uma lua cheia banhava as silhuetas dos guindastes silenciosos. Experimentei flexionar as pernas. A lembrança da dor estava começando a desaparecer. Era compreensível, pois aquilo nunca havia acontecido. Viajar no tempo. Não é a imortalidade, mas está bem perto. É impossível mudar o passado, por mais que se tente.
De manhã, explorei o apartamento do Dançarino. Era louquíssimo, um apartamentozinho de terceiro andar a um quarteirão da Haight-Ashbury que havia sido convertido em uma coisa de outro planeta. O chão estava todo coberto de colchões velhos; em cima deles, uma confusão de colchas, travesseiros, cobertores indígenas, animais empalhados. Você tinha que tirar os sapatos antes de entrar; o Dançarino sempre usava sandálias mexicanas de couro, com sola de pneu. Os radiadores de calor, que não funcionavam, tinham sido pintados com tinta fosforescente. As paredes estavam cobertas de cartazes: gravuras de Peter Max, desenhos de Eschers em cores berrantes, poemas de Allen Ginsberg, capas de discos, posters de movimentos pacifistas, um letreiro que dizia "Haight is Love", avisos dos dez mais procurados pelo FBI, arrancados de alguma agência dos Correios, com as fotos de famosos ativistas contra a guerra circuladas com pincel atômico e um enorme símbolo da paz cor-de-rosa. Alguns dos cartazes estavam iluminados com luz negra e brilhavam com cores impossíveis. O ar estava pesado de incenso e do cheiro de palha queimada da maconha. Em um canto, um toca-discos tocava "Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band" interminavelmente. Quando uma cópia do disco ficava muito arranhada, um dos amigos do Dançarino lhe dava outra de presente.
Ele jamais trancava a porta. ("Se alguém estiver a fim de me roubar, tudo bem, provavelmente está mais necessitado do que eu, não é? Tá limpo".) As pessoas apareciam lá a qualquer hora do dia ou da noite. Deixei o cabelo crescer. O Dançarino, Lisa e eu passamos aquele verão juntos, rindo, tocando violão, fazendo amor, escrevendo poemas idiotas e canções mais idiotas ainda, experimentando drogas. Era a época em que o LSD estava no auge, em que as pessoas ainda não temiam o mundo estranho e lindo que fica do outro lado da realidade. Era uma época em que valia a pena viver. Sabia que era o Dançarino que Lisa amava realmente, e não eu, mas naquele tempo o amor livre estava no ar como o perfume das papoulas, de modo que não tinha importância. Pelo menos, não muito.
As ondas do mar de [4]Dirac viajam para trás no tempo. Depois de minha curta expedição, decidimos tentar algo mais ambicioso: mandar alguém para o passado remoto e recolher provas da viagem. Ainda estávamos com medo de modificar o passado, embora os matemáticos assegurassem que o presente não podia ser alterado. Colocamos filme na câmara e escolhemos cuidadosamente nosso destino. Em setembro de 1853, um viajante chamado William Hapland e sua família atravessaram a Serra Nevada para chegar à costa da Califórnia. A filha Sarah registrou em um diário que, ao chegarem ao pico de Parker, avistou pela primeira vez o Oceano Pacífico, no exato instante em que o sol tocava o horizonte, "em uma chama de rubra glória". O diário existe até hoje. Não foi difícil nos escondermos com a câmara atrás de umas rochas e filmar a passagem da carroça puxada por bois que conduzia os cansados viajantes.
Nosso segundo alvo foi o grande terremoto de São Francisco, em 1906. De um armazém abandonado que sobreviveria ao tremor (mas não ao incêndio que se seguiu), observamos e filmamos os edifícios desabando e os bombeiros lutando em vão para apagar as centenas de focos. Voltamos ao presente momento antes de o fogo chegar ao armazém. Os filmes ficaram sensacionais. Estávamos prontos para contar ao mundo. Dali a um mês, haveria uma reunião da Sociedade Americana para o Progresso da Ciência, em Santa Cruz. Liguei para o coordenador e consegui que encaixasse no programa uma palestra para mim, como cientista convidado, sem revelar o que havíamos conseguido. Pretendia mostrar os filmes durante a palestra. Eles nos tornariam instantaneamente famosos.
No dia em que o Dançarino morreu, demos uma festa de despedida, apenas Lisa, ele e eu. O Dançarino sabia que estava para morrer; eu tinha contado a ele e ele havia acreditado, não sei bem por quê. A verdade é que sempre acreditava no que eu dizia. Ficamos a noite inteira acordados, tocando o bandolim de segunda mão do Dançarino, pintando nossos corpos com desenhos psicodélicos, jogando Monopólio, fazendo uma centena de coisas tolas e simples cujo único sentido era o fato de que seria a última vez. Por volta das quatro da manhã, quando começava a clarear, fomos até a baía e, nos abraçando para nos aquecermos, começamos uma viagem. O Dançarino tomou uma dose maior, porque ele não iria mesmo voltar. A última coisa que disse foi que não deixássemos nossos sonhos morrerem; ele queria que continuássemos juntos. Enterramos o Dançarino, por conta da prefeitura, em uma cova de indigente. Eu e Lisa nos separamos três dias depois.
Continuei a manter um contato superficial com Lisa. No final dos anos setenta, ela voltou à universidade, primeiro para um curso de administração de empresas, depois para estudar Direito. Acho que passou algum tempo casada. Todo ano trocávamos cartões de Natal, até que perdi sua pista. Anos mais tarde, recebi uma carta de Lisa. Dizia que finalmente tinha conseguido me perdoar por ter causado a morte de Dan. Era um dia frio e nevoento de fevereiro, mas eu sabia que podia encontrar calor em 1965. As ondas convergiram.
Perguntas que eu esperava da platéia:
P (professor velho e pretensioso): Parece-me que esse salto temporal que você propõe viola a lei de conservação de massa/energia. Por exemplo: quando um objeto é transportado para o passado, uma certa massa parece desaparecer do presente, em uma clara violação da lei de conservação.
R (eu): Como o retorno ocorre no momento exato da partida, a massa permanece constante.
P: Muito bem, mas que me diz da chegada no passado? Ela não viola a lei de conservação?
R: Não. A energia necessária é extraída do mar de Dirac, pelo mecanismo que explico em detalhes no meu artigo para o Physical Review. Quando o objeto retorna ao "futuro", essa energia é devolvida ao mar.
P (jovem físico, em tom interessado): O princípio de incerteza de Heisenberg não limita o tempo que se pode ficar no passado?
R: Boa pergunta. A resposta é sim, mas como tomamos emprestada uma quantidade infinitesimal de energia de um número infinito de partículas, o tempo gasto no passado pode ser arbitrariamente longo. A única limitação é que você deve deixar o passado um instante antes de partir do presente.
Dali a meia hora, iria apresentar o trabalho que colocaria meu nome ao lado do de Newton, Galileu... E Dirac. Eu tinha vinte e dois anos, a mesma idade em que Dirac anunciou sua teoria. Eu era um incendiado, pronto para atear fogo ao mundo. Estava nervoso, ensaiando a palestra no meu quarto de hotel. Tomei um gole de uma garrafa de Coca-Cola que um dos meus alunos tinha deixado em cima da televisão. Os locutores do jornal da noite não paravam de falar, mas eu não estava prestando atenção.
Jamais dei aquela palestra. O hotel já havia começado a pegar fogo; minha morte já tinha sido decretada. Depois de colocar a gravata, dei uma última olhada no espelho e encaminhei-me para a porta. A maçaneta estava quente. Abri a porta e deparei com uma muralha de fogo. As chamas invadiram meu quarto como um dragão furioso. Cambaleei para trás, olhando fascinado para elas.
Em algum lugar do hotel, alguém gritou, fazendo-me voltar à realidade. Estava no trigésimo andar; não havia saída. Lembrei-me da máquina. Corri para o outro lado do quarto e abri a maleta onde estava a máquina do tempo. Com dedos ágeis e seguros, retirei as bobinas de Renselz e as amarrei no corpo. O carpete já estava em chamas, bloqueando a porta. Prendendo a respiração para não me sufocar, digitei um código no teclado e mergulhei no tempo.
Vivo retornando a esse momento. Quando apertei a última tecla, o ar já estava quase irrespirável de tanta fumaça. Eu devia ter menos de trinta segundos de vida. Com o passar dos anos, esse tempo foi reduzido para menos de dez segundos. Vivo de tempo emprestado. Acho que todos nós vivemos assim, talvez. Mas eu sei quando e onde meu débito será saldado.
O Dançarino morreu em 9 de fevereiro de 1969. Era dia frio e nevoento. De manhã, ele se queixou de dor de cabeça. Aquilo era estranho, pois o Dançarino nunca sentia dor de cabeça. Decidimos dar uma volta lá fora, no meio do nevoeiro. Foi bonito. Era como se estivéssemos sozinhos em um mundo estranho e informe. Eu já me havia esquecido completamente da dor de cabeça de Dan quando, olhando para o mar de névoa que se estendia desde o parque até a baía, ele caiu. Estava morto antes de a ambulância chegar. Morreu com um sorriso secreto no rosto. Jamais entendi aquele sorriso. Talvez estivesse sorrindo porque a dor havia desaparecido. Dois dias depois, Lisa se matou.
Vocês, pessoas comuns, podem mudar o futuro. Podem gerar filhos, escrever romances, fazer abaixo-assinados, inventar máquinas novas, frequentar coquetéis, concorrer à presidência. Tudo que vocês fazem afeta o futuro. O que eu faço, não. Para mim, é tarde demais. Minhas ações são escritas em água corrente. Como não tenho nenhuma influência sobre o futuro, também não tenho responsabilidades. Não faz diferença o que eu fizer. Nenhuma diferença.
Quando fui para o passado pela primeira vez, fugindo do fogo, tentei de todas as formas mudar o meu destino. Denunciei o incendiário, discuti com o prefeito, cheguei a ir à minha casa e implorar a mim mesmo que não fosse à conferência.
Entretanto, não é assim que o tempo funciona. Não importa o que eu faça, conversar com um governador ou dinamitar o hotel, quando chego àquele momento crítico (o presente, o meu destino, o momento em que fugi), desapareço do lugar em que estou e volto ao quarto do hotel, com o fogo ainda mais próximo. Restam-me menos de dez segundos. Sempre que mergulho no mar de Dirac, tudo que mudei no passado desaparece. Às vezes faço de conta que as mudanças que provoco no passado podem criar novos futuros, embora saiba que isso é impossível. Quando volto ao presente, todas as mudanças são apagadas pelas ondulações da onda convergente, como quem apaga um quadro-negro depois da aula.
Algum dia vou voltar e enfrentar meu destino. Por enquanto, porém, vivo no passado. É uma boa vida, suponho. Você se acostuma com o fato de que nada que fizer terá qualquer efeito sobre o mundo; isso lhe dá uma certa sensação de liberdade. Estive em lugares onde ninguém esteve, vi coisas que ninguém viu. Abandonei a física, é claro. Nada que eu descobrisse sobreviveria àquela noite fatal em Santa Cruz. Talvez algumas pessoas tivessem continuado pelo puro prazer do conhecimento. A mim, porém, falta motivação.
Por outro lado, existem compensações. Sempre que volto ao quarto do hotel, nada mudou, exceto minhas memórias. Tenho novamente vinte e oito anos, estou usando de novo aquele terno com colete, sinto na boca o gosto indefinido de Coca-Cola choca. Cada vez que retorno, gasto um pouquinho de tempo. Um dia, não me restará mais nada.
O Dançarino não morrerá nunca. Não deixarei que isso aconteça. Cada vez que chego àquela última manhã de fevereiro, ao dia em que ele morreu, volto a 1965, àquele dia perfeito de junho. Ele não me conhece, ele nunca me conhece. Mas nós nos encontramos naquela colina, os únicos dispostos a passar o dia sem fazer nada. Ele está deitado de costas, dedilhando preguiçosamente as cordas do violão, soprando bolhas de sabão e olhando as nuvens brancas no céu azul. Daqui a pouco vou apresentá-lo a Lisa. Ela também não vai nos conhecer, mas não há problema. Temos muito tempo.
— Tempo — digo para o Dançarino, deitado no parque da colina. — Temos muito tempo.
—Todo o tempo que existe — concorda ele.



[1] Ondulações no mar de Dirac, conto de Geoffrey A. Landis que foi publicado no Brasil na Isaac Asimov's Magazine, Volume 5. Prêmio Nébula de 1989. O mar de Dirac é usado como base para uma viagem no tempo.

[2] 1ª NOTA SOBRE A TEORIA E A PRÁTICA DAS VIAGENS NO TEMPO SEGUNDO DIRAC:
1) Só é possível viajar para o passado.
2) O objeto transportado retornará exatamente ao tempo e local de partida.
3) Não é possível transportar objetos do passado para o presente.
4) Ações no passado não podem mudar o presente.

[3] 2ª NOTA PARA UMA PALESTRA SOBRE VIAGENS NO TEMPO DE DIRAC
O início do século XX foi uma época de gigantes do intelecto que talvez jamais venha a ser igualada. Einstein tinha acabado de inventar a teoria a relatividade e Heisenberg e Schrodinger a mecânica quântica, mas ninguém ainda sabia como compatibilizar as duas teorias. Em 1930, outra pessoa abordou o problema. Chamava-se Paul Dirac. Tinha vinte e oito nos de idade. Teve êxito onde os outros haviam falhado. A teoria de Dirac foi de um sucesso sem precedentes, exceto por um pequeno detalhe. De acordo com a teoria, a energia de uma partícula podia ser positiva ou negativa. Que significava uma partícula com energia negativa? Como alguma coisa podia ter energia negativa? E por que as partículas comuns, de energia positiva, não caíam nesses estados de energia negativa, liberando uma grande energia no processo?
Você e eu poderíamos simplesmente ter postulado que era impossível uma partícula de energia positiva sofrer uma transição para um estado de energia negativa. Entretanto, Dirac não era um homem comum. Era um gênio, o maior físico de sua geração, e tinha uma resposta. Se todos os estados possíveis de energia negativa já estivessem ocupados, uma partícula não poderia cair para um estado de energia negativa. Ahá! Assim, Dirac postulou que o universo inteiro está totalmente preenchido por partículas de energia negativa. Elas nos cercam, nos permeiam, no vácuo do espaço sideral, no centro da Terra, em todos os lugares onde uma partícula pode estar. Um "mar" infinitamente denso de partículas de energia negativa, mar de Dirac. A teoria de Dirac tinha falhas, mas isso fica para depois.

[4] 3ª NOTA PARA UMA PALESTRA SOBRE VIAGENS NO TEMPO DEDIRAC:
Depois de postular que todo o espaço estava preenchido por um mar infinitamente denso de partículas de energia negativa, Dirac foi mais além e se perguntou se nós, no universo de energia positiva, poderíamos interagir com esse mar de energia negativa. Que aconteceria, digamos, se você fornecesse energia suficiente a um elétron para retirá-lo do mar de energia negativa? Duas coisas: primeiro, você criaria um elétron aparentemente do nada. Segundo, você deixaria um "buraco" no mar. O buraco, percebeu Dirac, se comportaria como se fosse uma partícula, uma partícula exatamente igual a um elétron, exceto por um detalhe: teria a carga oposta. Mas se o buraco um dia encontrasse um elétron, este cairia de volta no mar de Dirac e tanto o elétron como o buraco desapareceriam em uma grande explosão. O buraco do mar de Dirac foi batizado com o nome de pósitron. Dois anos depois, quando Anderson descobriu o pósitron e confirmou a teoria de Dirac, foi quase um anticlímax.
Durante os cinqüenta anos seguintes, a realidade do mar de Dirac foi quase ignorada pelos físicos. A antimatéria, os buracos do mar, era a parte importante da teoria; o resto não passava de um artifício matemático.
Setenta anos depois, lembrei-me da história que o professor de matemática transfinita me havia contado e combinei-a com a teoria de Dirac. Da mesma forma como seria possível alojar um hóspede a mais em um hotel com um número infinito de quartos, descobri que poderia pedir energia emprestada ao mar de Dirac. Para dizer a mesma coisa de outra forma: aprendi a fazer ondas.

AS GUERRAS EM NOME DA RELIGIÃO, DO BEM E DO MAL!!!?

$
0
0


Por David da Costa Coelho
Milhares de anos atrás o homem descobriu o fogo, daí em diante, à noite, exposta ao medo e a fome dos carnívoros que atacavam nossos longínquos ancestrais, dizimando e aterrorizando todos que viveram sem tal invenção, tornou-se menos tenebrosa porque espantava as feras e fazia a vida em grupo mais segura. Entretanto, o fogo permitiu ao homem outra coisa muito mais importante, e que certamente é o motivo de estarmos aqui hoje. Com a chama sagrada, que em algumas [1]religiões teria sido a dadiva dos deuses, com a chama ele pôde ampliar sua percepção das coisas e ficar mais tempo acordado em atribuições como conversas, pinturas e cuidar de seus amigos e familiares; além disso, passou a ver o mundo, de uma forma mais inquisitiva, dando seguimento ao caminho supremo da racionalidade, buscando algo muito além dele mesmo. Nesse momento o homem, diferente de todos os seres vivos de seu tempo, e de todos os outros que a evolução criou ao longo de bilhões de anos, percebeu que estava vivo, e que um dia iria morrer...
A noite, nas cavernas iluminadas pelo fogo da sabedoria, ele desenhou imagens de seu cotidiano, e aos poucos foi criando divindades com os elementos da na natureza que o cercava, em toda sua plenitude, essa fase se chama [2]animismo, o ancestral de todas as religiões humanas. Justificava dessa forma sua fuga da morte, ganhando a imortalidade, porque sua essência seria preservada nos elementos do cosmo, da mesma forma que funciona a cadeia de alimentação dos seres vivos do reino vegetal, depois consumidos por onívoras, e carnívoros, nós; entre todas as demais por sermos a espécie dominante. A física chama isso de lei de conservação da massa, pois ela nunca se perde e sempre se transforma em algo diferente. Einstein disse a mesma coisa de forma mais complicada com algumas letrinhas E=MC2...
Assim como a evolução biológica, os credos humanos evoluíram para o [3]Politeísmo, o [4]monoteísmo, e a [5]Teocracia. Quando chegamos à eleição de um deus único no ocidente, oriente médio, e parte da Ásia, com o surgimento do cristianismo, há cerca de dois mil anos, e do [6]islamismo há quase mil e quanto centos anos; com o principio do deus único, as guerras humanas, praticadas há milênios, pelas [7]aristocracias, ganharam uma característica especial...  Matar os inimigos era uma coisa que o elevava as graças celestes e perdoava qualquer pecado anterior, estando num local especial destinado por deus caso morresse em batalha. Mas se chegasse a envelhecer, no final da vida, desfrutaria também desse paraíso especialmente criado para seus guerreiros que abdicaram de tudo em nome da fé...
Quando surge a revolução industrial, a primeira necessidade básica era a busca de matéria prima, a segunda era produzir em escala e barato – por isso exploravam os trabalhadores de forma brutal, levando a movimentos como [8]ludismo, [9]cartismo e a criação de [10]sindicatos, ao contrario do que se poderia esperar, ainda sobre a visão [11]medieval da igreja, esta não apoiava os trabalhadores, ao contrário, continuava em sua cantilena de que as classes sociais existiam como tal por desígnio divino. A terceira fase da revolução industrial obrigou os países industriais a irem ao encontro de outros continentes em busca de consumidores, matéria prima para o eterno crescimento de seus lucros. Mas havia uma desculpa biológica e religiosa para o assassinato e extermínio de milhões de pessoas que se seguiria, a superioridade religiosa dos brancos, bem como cientifica e social, cabendo-lhes levar para os povos dominados a verdadeira fé, a cultura superior branca e o desenvolvimento social e capitalista a povos bárbaros, primitivos e sem religião.
 Só na Índia, a Inglaterra matou 30 milhões de pessoas de fome. Isso se deveu a uma coisa bem simples, ao invés de plantarem alimentos, eles eram obrigados a cultivar algodão e demais plantas necessárias à revolução [12]industrial inglesa, além disso, para receberem ajuda, deveria conseguir vir, famintos e sedentos, caminhando de suas terras, até os centros de ajuda. Dessa forma o que se via eram as estradas lotadas de cadáveres secando ao sol. Um daqueles inúmeros crimes que os ingleses costumam ocultar em sua ‘cultura superior’. Não devemos esquecer que eles, a exemplo de Portugal no século XVI para sua colônia brasileira, também deportaram prostitutas, ladrões, pobres indesejados e órfãos para suas colônias na América, África e Oceania, e até mesmo para o Brasil, que aceitou de bom grado, porque queria embranquecer nossa população no século XIX.  O holocausto judeus, com 6 milhões de pessoas mortal pelos nazistas, havendo contestação desse numero, por algumas correntes de pesquisadores, tornou-se um crime modico com a sanha eugenista inglesa, ou os 10 milhões de pessoas mortas no congo, pelo rei da Bélgica.
Podemos nos perguntar onde se encontra a tal guerra religiosa descrita no iniciado nestas questões, mas as pessoas devem lembrar que a guerra não se resume apenas em armas de fogo destruindo o corpo de inimigos, ela se ampara em várias facetas ideológicas, e a religião é de longe seu maior expoente. Lembrando que todas as nações europeias eram católicas ou protestantes. Mas já que se faz necessário chegar às balas e canhões, basta lembras a 1ª e a 2ª Guerra Mundial, as guerras imperialistas dos EUA desde sua independência até os dias de hoje, lembrando sempre da frase final de todos os presidentes americanos em seus discursos: ‘Deus abençoe a América.’  Claro que nações que se declararam estados ateus também fizeram guerras, matando milhões de pessoas. Mas cabe uma questão simples, quem foi que lhes deu o dinheiro para terem armas e munições?
Essa resposta é muito simples, os capitalistas religiosos não só financiaram esses estados ateus, como também direcionaram as politicas de extermínio. O bicho papão da 2ª guerra mundial, Adolf Hitler, foi bancado integralmente em suas politicas genocidas por corporações dos [13]EUA, e nobres ingleses. A união soviética recebeu fundos do mesmo jeito, antes da crise de 1929, e em todos os períodos da 2ª guerra, bem como durante todo período do imperialismo, esse montante foi elevado com o fim da [14]guerra fria, e a inserção da Rússia no sistema [15]capitalista neoliberal, o que fez com que surgisse ali uma elite oligárquica de bilionários; criminalidade e a famosa máfia russa. Quando se trata de auxiliar os lucros, o que importa a sua religião ou ausência dela, nada mais importante que dinheiro em banco, bem como ouro, diamante, e demais minerais cobiçados.
Os islâmicos do Oriente Médio, foram agraciados por Allah – segundo sua crença – com um oceano de petróleo, do qual os hereges e infiéis que não acreditam nas palavras sagradas do profeta, necessitam, portanto de uma forma ou de outra sofreriam as consequências de sua incredulidade. Mas como o ocidente tem uma tecnologia bélica e ideológica desenvolvida há mais tempo, essa luta nunca foi igual, pois num primeiro momento o petróleo foi entregue aos ocidentais em trocas de quinquilharias e somas irrisórias. Algo como um centavo de dólar para cada mil litros de combustível. Não bastando tal exploração, os infiéis ocidentais ainda permitiram que os judeus, que muitos não desejam na Europa e URSS, criassem o [16]estado de Israel. Com esses ingredientes idílicos e religiosos, o oriente médio tornou-se o palco principal de guerras por petróleo, território, e ideologias religiosas. Mas ao contrario do que se poderia esperar se alguma nação que não tivesse bombas atômicas atacasse a Arábia Saudita, protegidos pelos EUA em acordo escuso de dólar- petróleo, Israel venceu os árabes por explorar politicamente a guerra fria, e depois por construir um dos maiores arsenais atômicos do planeta.
Para piorar a questão, a imigração islâmica na Europa e América, ameaçava a cultura ocidental e a própria fé cristã. Entrou em jogo a cruzada contra o terror, escolhendo como inimigos países islâmicos fundamentalistas, apoiadores do talibã e da Al-Qaeda, criada, treinada e armada pelos EUA, durante a guerra fria, para eliminarem os soviéticos que haviam invadido o Afeganistão na clássica luta de capitalismo contra comunismo. Os americanos com a desculpa da guerra ao terror, invadiram, detonaram os rebeldes, e ainda hoje possuem tropas e agentes secretos para algo mais nobre... Eles possuem a maior plantação de papoula do mundo, para a produção modica de drogas que a [17]CIA vende e faz caixa para suas maquinações mundiais. Fizeram o mesmo na América central patrocinando os carteis de drogas, afinal, cocaína é um negocio da china, e como no seriado que sou apaixonado, [18]Breaking Bad, utilizam essas drogas, bem como as sintéticas, para desestabilizar nações e impor seu domínio global através de outra frente de batalha, as drogas. Como dito anteriormente, a guerra tem mil faces e utilidades mórbidas...
Ainda hoje o islamismo, suas interpretações radicais de facções distintas, causam inúmeras mortes diariamente, mas eles são mais inventivos, pois o menu da morte inclui carro bomba, homem bomba, mulher bomba; e até mesmo crianças bomba. Uma vez capturado, tu é um infiel, portanto sua cabeça com certeza será decapitada, filmada e colocada na internet com os ditames sagrados: Allahu Akbar (Deus é Grande). Não devemos esquecer os castigos tribais de apedrejar mulheres, enforcar gays, cortar as mãos de ladrões, lembrando que o cristianismo fez escola nessa matéria com a inquisição católica e protestante.
Em nome das divindades supremas, o homem vem se matando há milhares de anos. Faziam isso por diferenças religiosas, hoje se acrescentou o imperialismo renomeado de globalização, auxiliar as nações primitivas a implantar o ápice da governança mundial, a democracia ao estilo EUA, ou seja, na base do porrete, misseis, corporações, bases militares, e embaixadas que auxiliam seu povo saber que tudo que for bom para a América, será ótimo para as elites golpistas de sua nação... Portanto, que fique claro, não se deixe dominar por coisas que nada acrescentam a sua vida. Mas se indigne com as mentiras que o sistema lhe entrega de bandeja, para despejar através de seus amigos, familiares e internet. Não acredite em nada que não foi refutado e pesquisado por varias fontes seguras, até mesmo desta pagina, porque não existe nada que foi escrito que não sofreu influencia de alguém por qualquer motivo. O meu é simples, informar porque faz parte do que acredito...
  




[1] De acordo com a mitologia grega, Prometeu, é o criador dos homens e doador do fogo à humanidade, mas le sabia que os humanos estavam presos dentro de uma caverna de ignorância, vendo apenas as sombras do mundo de fora; portanto o Titã Prometeu achou que eles deveriam saber a verdade ao invés de continuar vivendo na ilusão. Então foi até o Olimpo, lar dos deuses, e pegou a tocha com a chama sagrada da sabedoria de Atena, deusa do conhecimento e da arte da guerra; à tocha foi entregue aos homens da caverna, iluminando-a, dissipando as sombras, revelando à humanidade o conhecimento supremo que, é claro, ficou surpresa e curiosa. A humanidade ficou em duvida, alguns ficaram na segurança da caverna, outros saíram e conheceram o mundo verdadeiro.
 Ao saber do furto da tocha e da ação que Prometeu havia feito, Zeus ficou irado, e como castigo lhe mandou a primeira mulher humana para ser sua esposa: Pandora. Como presente de casamento, os deuses deram à Pandora uma caixa, que continha todo o bem ou todo o mal do mundo. Pandora, curiosa, abriu-a, e o que continha na caixa, bom ou não, se espalhou pelo mundo, deixando para ela apenas a esperança.
 Zeus ainda não estava satisfeito, e Prometeu é novamente castigado, dessa vez, crucificaram-no em uma cruz de ponta cabeça. Em outra versão, Zeus acabou punindo-o pelo crime contra os deuses do olimpo, deixando-o acorrentado por 30 mil anos, com uma águia a lhe comer o fígado diariamente, mas foi libertado por Héracles, que substituiu o prisioneiro por Quíron, o centauro. Por causa de elementos como a tocha da Sabedoria de Atena, a cruz invertida e o fato de Prometeu ter iluminado à humanidade contra a vontade dos deuses, ele é frequentemente comparado tanto a Jesus quanto à Lúcifer, podendo inclusive ter inspirado esses dois personagens, principalmente o ultimo, que também foi contra os deuses em relação à sua ideologia sobre a humanidade.

[2] Animismo é a manifestação religiosa imanente a todos os elementos do Cosmos (Sol, Lua, estrelas), da natureza (rio, oceano, montanha, floresta, rocha), dos seres vivos (animais, fungos, vegetais) e a todos os fenômenos naturais (chuva, vento, dia, noite); é um princípio vital e pessoal, chamado de ânima, o qual apresenta significados variados: Cosmocêntricasignifica energia; Antropocêntrica significa espírito; Teocêntricasignifica alma; Consequentemente, todos esses elementos são passíveis de possuírem sentimentos, emoções, vontades ou desejos e até mesmo inteligência. Resumidamente, os cultos animistas alegam que: "Todas as coisas são vivas, conscientes e têm ânima". O Animismo possui três simples regras: Tudo no Cosmo tem ânima; Todo o ânima é transferível; Tudo ou todo que transfere ânima não perde a totalidade de seu ânima, mas quem ou que o recebe perde parte ou a totalidade de seu ânima, o qual será tomado pelo ânima doador.

[3] Politeísmo: consiste na crença em mais do que uma divindade de gênero masculino, feminino ou indefinido, sendo que cada uma é considerada uma entidade individual e independente com uma personalidade e vontade próprias, governando sobre diversas atividades, áreas, objetos, instituições, elementos naturais e mesmo relações humanas. O reconhecimento da existência de múltiplos deuses e deusas, no entanto, não equivale necessariamente à adoração de todas as divindades de um ou mais panteões, pois o crente tanto pode adorá-las no seu conjunto, como pode concentrar-se apenas num grupo específico de deidades, determinado por diversas condicionantes como a ocupação do crente, os seus gostos, a experiência pessoal, tradição familiar, etc.

[4] O monoteísmo: ("deus": único deus) é a crença na existência de apenas um só Deus. Diferente do politeísmo que conceitua a natureza de vários deuses, como também se diferencia do enoteísmo: por ser este a crença preferencial em um deus reconhecido entre muitos.

[5] Teocracia: É o sistema de governo em que as ações políticas, jurídicas e policiais são submetidas às normas de alguma religião.

[6] O Islamismo é um sistema religioso fundado no início do século 7 por Maomé. Os muçulmanos seguem os ensinamentos do Corão e tentam seguir os Cinco Pilares. No sétimo século, Maomé clamou ter recebido uma visita do anjo Gabriel. Durante essas visitas do anjo, as quais continuaram por cerca de 23 anos até a morte de Maomé, o anjo aparentemente revelou a Maomé as palavras de Alá (a palavra árabe usada pelos muçulmanos para “Deus”). Essas revelações ditadas formam o que hoje conhecemos de Corão ou Alcorão, o livro sagrado do Islamismo. Islã significa "submissão", derivando de uma raiz que significa "paz". A palavra muçulmano significa "aquele que se submete a Alá".
Os muçulmanos resumem a sua doutrina em seis artigos de fé: Crença em um Deus: os muçulmanos acreditam que Alá seja o único, eterno, criador e soberano; A crença nos anjos; A crença nos profetas: os profetas são os profetas bíblicos, mas termina com Maomé como o último profeta de Alá; A crença nas revelações de Deus: os muçulmanos aceitam certas partes da Bíblia, como a Torá e os Evangelhos. Eles acreditam que o Alcorão seja a perfeita a preexistente palavra de Deus. Crença no último dia de julgamento e na vida futura: todos serão ressuscitados para julgamento no paraíso ou inferno. Crença na predestinação: os muçulmanos acreditam que Alá decretou tudo o que vai acontecer. Os muçulmanos atestam a soberania de Deus com sua frase frequente, inshallah, ou seja, "se Deus quiser".
Os Cinco Pilares do compõem o quadro de obediência para os muçulmanos: O testemunho de fé (shahada): "la ilaha illa allah. Muhammad Rasul Allah." Isto significa: "Não há outra divindade senão Alá. Maomé é o mensageiro de Alá." Uma pessoa pode se converter ao Islamismo apenas por afirmar este credo. A shahada mostra que um muçulmano acredita apenas em Alá como divindade, o qual é revelado por Maomé; As orações (salat): cinco orações precisam ser feitas todos os dias; Pagar dádivas rituais (zakat): esta esmola é uma certa percentagem administrada uma vez por ano; Jejum (sawm): os muçulmanos jejuam durante o Ramadã no nono mês do calendário islâmico. Eles não devem comer ou beber desde o amanhecer até o entardecer; Peregrinação (hajj): se fisicamente e financeiramente possível, um muçulmano deve fazer a peregrinação a Meca, na Arábia Saudita, pelo menos uma vez. O hajj é realizado no décimo segundo mês do calendário islâmico; A entrada de um muçulmano no paraíso depende da obediência a esses Cinco Pilares. Ainda assim, Deus pode rejeitá-los. Nem mesmo Maomé sabia ao certo se Alá iria admiti-lo ao paraíso (Surata 46:9; Hadith 5,266).

[7] Aristocracia: Literalmente poder dos melhores, é uma forma de governo na qual o poder político é dominado por um grupo elitista. Normalmente, as pessoas desse grupo são da classe dominante, como grandes proprietários de terra (latifundiários), militares, sacerdotes, etc. Um exemplo de estado governado pela aristocracia é a antiga cidade-estado de Esparta que, durante toda a sua história, foi governada pela aristocracia latifundiária guerreira.

[8] Ludismo: O crescimento do operariado, a sua concentração nos centros urbanos, as constantes revoltas por melhores condições de vida e de trabalho fizeram com que a classe operária aos poucos aprendesse a se organizar, dando origem aos primeiros movimentos e associações de operários. Na Inglaterra, onde o emprego da máquina era mais generalizado, surgiu o Ludismo, movimento que recebeu o nome de seu líder, Ned Ludd. O sentimento de insegurança e os terrores da miséria convenceram Ludd e seus seguidores da maledicência da máquina, considerada a inimiga principal. Assim, nas primeiras décadas do século XIX, na Inglaterra, na França, na Bélgica, na Renânia e até na Suíça, trabalhadores destruíram equipamentos, aos gritos de "Quebrai as máquinas!" Instintivamente, o homem que para viver só contava com seu trabalho pessoal, transferia a culpa de seus males para a máquina, que ele denunciava como uma competidora, responsável pelo desemprego e pelos baixos salários.

[9] Cartismo: Em 1832, o Parlamento inglês aprovou o "Reform Act" (lei eleitoral que privou os operários do direito ao voto). Os trabalhadores reagiram e formularam suas reivindicações na "Carta do Povo", fundando o primeiro movimento nacional operário do nosso tempo. Omovimento cartista ajudou os operários ingleses a melhorarem suas condições de vida e deu-lhes experiência de luta política. Assim, em 1833, surgiu a primeira lei limitando a 8 horas de trabalho a jornada das crianças operárias. Em 1842 proibiu-se o trabalho de mulheres em minas, Em 1847, houve a redução da jornada de trabalho para 10 horas. O "cartismo" extinguiu-se por volta de 1848, mas foi uma etapa importante do aprendizado e da conscientização política dos trabalhadores, não só ingleses como de toda a Europa. Mostrou que a miséria do operariado devia-se não à máquina ou a mesquinhez pessoal dos empresários, mas à própria estrutura do sistema capitalista.

[10] Sindicato é uma agremiação fundada para a defesa comum dos interesses de seus membros. O sindicalismo tem origem nas corporações de ofício na Europa medieval. No século XVIII, durante a revolução industrial na Inglaterra, os trabalhadores, oriundos das indústrias têxteis, doentes e desempregados juntavam-se nas sociedades de socorro mútuos. Para atender os casos de acidentes de trabalho, doenças ou mesmo de desemprego, os operários criaram as primeiras associações de auxílio mútuo, que funcionavam por meio de cotizações. Dessas associações surgiram os sindicatos de trabalhadores, reunindo operários de um mesmo ofício. Através de seus representantes, os sindicatos conseguiam obter dos patrões melhores salários e horários de trabalho, Essas conquistas foram fruto de muitas lutas porque durante muito tempo os parlamentos dos diversos países procuraram dificultar a organização dos trabalhadores proibindo o funcionamento dos sindicatos.

[11] Na Idade Média, a Igreja Católica dominava o cenário religioso. Detentora do poder espiritual, a Igreja influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de comportamento na Idade Média. A igreja também tinha grande poder econômico, pois possuía terras em grande quantidade e até mesmo servos trabalhando. Os monges viviam em mosteiros e eram responsáveis pela proteção espiritual da sociedade. Passavam grande parte do tempo rezando e copiando livros e a bíblia.

[12] Como construção ideológica, a ideia de raça impulsionou guerras, influenciou a política e definiu a economia mundial por séculos. A série de vídeos Imperialismo, Racismo & Extermínio aborda as teorias raciais desenvolvidas na era vitoriana, a eugenia, o darwinismo social e o racismo científico, desenvolvendo a narrativa a partir da descoberta dos restos mortais encontrados no deserto da Namíbia pertencentes às primeiras vítimas do que ficaria conhecido como campo de concentração, 30 anos antes de o nazismo chegar ao poder na Alemanha. Tais teorias levaram ao desenvolvimento da Eugenia e das políticas raciais colonialistas e nazistas. O documentário sustenta que os genocídios coloniais, 10 milhões de pessoas mortas no congo, pelo rei da Bélgica, o campo de morte da ilha de Shark, a destruição dos aborígenes tasmanianos e os 30 milhões de indianos vítimas da fome, foram apagados da história da Europa, e que a perda desta memória encoraja a crença de que a violência nazista foi uma aberração na história daquele continente. Mas que, assim como os ossos ressurgidos no deserto da Namíbia, esta história se recusa a ficar enterrada para sempre.
[13] No início do século XX, pensadores influentes, cientistas reconhecidos e outros grandes nomes ligados às mais poderosas forças financeiras dos Estados Unidos – entre eles os gigantes do aço e das ferrovias – criaram uma frente científica chamada eugenia. O objetivo seria criar uma raça seleta de seres humanos para que o mundo passasse a contar apenas com exemplares de uma pretensa raça superior. Essas ideias pseudocientíficas, que surgiram nos EUA e se estenderam a outros países, incluindo a Alemanha nazista, são desvendadas pelo autor Edwin Black em A guerra contra os fracos. Mais de 60 mil norte-americanos foram castrados pelo movimento, que surgiu em 1904, quando um grupo de cientistas e intelectuais conseguiu o patrocínio e o apoio de grandes corporações. Em 1927 a eugenia foi sancionada pela Suprema Corte e 27 estados americanos passaram a promulgar leis que envolviam esterilização e eutanásia. Negros, brancos pobres, mexicanos, judeus, índios, entre outros seres humanos considerados distantes do ideal foram internados e esterilizados ou mortos. Edwin Black contou com mais de 50 pesquisadores, em quatro continentes, para juntar os milhares de documentos que revelam como nasceu o que daria origem a Auschwitz – e que hoje, segundo o autor, pode estar renascendo com a evolução da engenharia genética.

[14] A guerra fria é a designação dada ao conflito político-ideológico entre os Estados Unidos (EUA), defensores do capitalismo, e a União Soviética (URSS), defensora de uma forma de socialismo, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial e a extinção da União Soviética. É chamada de "fria" porque não houve qualquer combate físico, embora o mundo todo temesse a vinda de um novo combate mundial, por se tratarem de duas potências com grande arsenal de armas nucleares. Norte-americanos e soviéticos travaram uma luta ideológica, política e econômica durante esse período. Se um governo socialista era implantado em algum país do Terceiro Mundo, o governo norte-americano logo via aí uma ameaça a seus interesses; se um movimento popular combatesse uma ditadura militar apoiada pelos EUA, logo receberia apoio soviético.

[15] Em 1985, Mikhail Gorbachev, o novo dirigente comunista, procurou combater a crise do socialismo, promovendo uma política de reformas modernizadoras com a Perestroika (restruturação econômica): visava reduzir os monopólios do Estado, descentralizar as decisões empresariais e criar setores comerciais, industriais e de serviços nas mãos de proprietários privados nacionais ou estrangeiros. O Estado continuava sendo o principal proprietário, mas a propriedade privada era permitida em setores secundários da produção. A retomada do crescimento era projetada por meio da transformação de indústrias militares em civis, voltadas para a produção de bens de consumo e de investimentos estrangeiros.
Glasnost (transparência): visava fazer com que as decisões dos altos chefes do partido se tornassem transparentes, para que o povo soviético tivesse uma participação mais eficiente e democrática na vigilância do governo. O principal fundamento da glasnost era que o povo passaria a ter a possibilidade de fazer críticas ao governo e ao sistema. De certa forma essas duas medidas introduzidas por Gorbachev contribuíram para a dissolução da União Soviética, pois possibilitaram a eclosão de movimentos de independência em outros países que faziam parte da URSS.

[16] No século XIX, a maioria dos judeus concentrava-se no Leste Europeu. Nesta época, conseguiram muitas vitórias, desenvolveram ideias sionistas (de Sion, colina da antiga Jerusalém e que deu início ao movimento para a construção de uma nação judaica), dedicavam-se ao comércio e ao empréstimo de dinheiro a juros. O jornalista judeu Theodor Herzl, em 1896, criou o movimento sionista, cujo objetivo era estabelecer um lar judeu na Palestina. O povo, então, deu início à colonização do país e, em 1897, fundou a Organização Sionista Mundial. Depois da 1ª Guerra Mundial, os países europeus, de olho no petróleo e na posição estratégica da região, passaram a dominar a área. Em 1918, a Inglaterra ficou responsável pela Palestina. Um ano antes, o ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Lord Balfour, apoiou a fundação de uma pátria nacional judaica na Palestina. Isto aconteceu ao mesmo tempo em que os ingleses haviam prometido aos árabes a independência em troca de apoio para ajudar a expulsar os turcos da região.
Com a Revolução Industrial e o desenvolvimento das burguesias europeias, os judeus acabaram sendo responsabilizados pelo alto índice de desemprego e pela concorrência com as classes dominantes. Com isso, nos países em que viviam, os judeus foram confinados a guetos, sofreram várias perseguições e massacres. O resultado destes fatos acarretou ainda mais a migração para a Europa Ocidental e Palestina. Esta volta para a Palestina ocorreu através da criação de Kibutz (fazendas coletivas) e cidades; além de lançar a luta pela independência política; neste período, começaram os choques entre judeus e árabes, que assistiam aos judeus conquistarem significativa parte das terras boas para o cultivo, fatos que desencadearam os conflitos entre árabes e judeus. Os judeus criaram um exército clandestino (Haganah) para proteger suas terras e, à medida que crescia a emigração judaica para a Palestina, aumentavam os conflitos. Durante a 2ª Guerra Mundial - em função da perseguição alemã -, a emigração judaica para a região aumentou vertiginosamente e a tensão chegou a níveis insuportáveis: os britânicos, na época, tomaram partido dos Aliados e os árabes, do Eixo. Em 1936, quando os judeus já constituíam 34% da população na Palestina, estourou a primeira revolta árabe. Bases e instalações inglesas foram atacadas e judeus foram assassinados. A Inglaterra esmagou a rebelião e armou 14 mil colonos judeus para que pudessem defender suas colônias. Pouco tempo depois, a Grã-Bretanha tentou controlar a emigração judaica para a área e, desta vez, os judeus atacaram os ingleses. Em 1946, o quartel-general dos britânicos foi dinamitado e 91 pessoas morreram. Apesar destes ataques, os judeus conseguiram apoio internacional devido ao Holocausto, que exterminou mais de 6 milhões de judeus. Desde então, os Estados Unidos passaram a pressionar a Inglaterra para liberar a imigração judaica para a Palestina.
Em 1948, os ingleses deixaram a administração da região para a Organização das Nações Unidas que, sob o comando do presidente norte-americano Harry Truman, determinou a divisão da Palestina em duas metades. Os palestinos, que somavam 1.300.00 habitantes, ficaram com 11.500 km2 e os judeus, que eram 700.000, ficaram com um território maior (14.500 km2), apesar de serem em número menor. Os judeus transformaram suas terras áridas em produtivas, já que era uma sociedade moderna e ligada ao Ocidente, aumentando ainda mais as diferenças econômicas entre judeus e árabes, que sempre tiveram uma filosofia fundamentalista e totalmente contrária ao Ocidente. Neste mesmo ano, o líder sionista David Bem Gurion proclamou a criação do Estado de Israel. Os palestinos reagiram atacando Jerusalém que, segundo a ONU, deveria ser uma área livre. Desde então, o Oriente Médio se tornou palco de conflitos entre israelenses e palestinos. O motivo da guerra está muito além das diferenças religiosas, passa pelo controle de fronteiras, de terras e pelo domínio de regiões petrolíferas.

[17] Heroína: A Droga Branca do Afeganistão

[18] A história de Walter White, o professor de química americano, que se tornou o rei das metanfetaminas, uma droga estimulante do sistema nervoso central, muito potente e altamente viciante, cujos efeitos se manifestam no sistema nervoso central e periférico. A metanfetamina tem-se vulgarizado como droga de abuso devido aos seus efeitos agradáveis intensos tais como a euforia, aumento do estado de alerta, da autoestima, do apetite sexual, da percepção das sensações e pela intensificação de emoções. Por outro lado, diminui o apetite, a fadiga e a necessidade de dormir. Existem algumas indicações terapêuticas para a MA, nomeadamente narcolepsia, déficit de atenção hiperativa em crianças, obesidade mórbida e descongestionante nasal (l-metanfetamina). Contudo, esta droga manifesta um grande potencial de dependência, e a sua utilização crônica pode conduzir ao aparecimento de comportamentos psicóticos e violentos, em consequência dos danos que pode causar ao sistema nervoso central.



MÉDICO BRASILEIRO DELATA MÍDIA GOLPISTA SOBRE MÉDICOS CUBANOS...

$
0
0


 

O texto que lerão abaixo é de um Médico brasileiro trabalhando na Europa, respondendo as questões sobre a vinda de médicos estrangeiros ao brasil. Detalha o que irão encontrar no sentido de não saberem a língua, os costumes, as carências do sistema em todo País. Aponta exemplos destes mesmos profissionais em nações que necessitavam de aumento de contingente e os contrataram, e de suas contribuições à população carente que não podia aguardar as contendas legais e acadêmicas enquanto filhos e familiares morriam.
É de minha opinião como criador e editor desta página, que tal coisa deveria ser desnecessária, pois os governantes deveriam propiciar todas as necessidades dos cidadãos brasileiros, diante dos impostos de 1º mundo que nos cobram. No entanto, por ser professor de História, sei que isso no momento é impossível devido a divida total do Brasil com banqueiros nacionais e internacionais na casa de 2 Trilhões de reais,  pagando anualmente 180 bilhões de juros para que ela não cresça, mas continua crescendo, é só uma auditoria da mesma pode exterminar esse crime contra esta nação, bem como pedir uma constituinte e nova constituição.
Enquanto esta utopia não vem, devemos lembrar que há gargalos a serem preenchidos, o maior de todos eles é a educação porque é a mesma que formam os Médicos que deveriam atuar no Brasil inteiro, depois testar seu conhecimento, e que ao final acabem servindo a povo que necessita. Mas de novo retomamos ao sonho porque as desigualdades sociais, culturais e religiosas, aliadas ao gigantismo desta nação, torna a medicina uma cadeira que privilegiará áreas superpovoadas, onde o Médico pode compor um salario razoável se matando em vários hospitais e clinicas; estando próximo a seus amigos e familiares, contando com uma estrutura muito a quem de suas premissas acadêmicas, mas que graças a mídia próxima, e demais instituições sindicais, podem gritar aos quatro ventos sobre o que passa para atender os doentes.
Já nos extremos do Brasil ou no interior, corre o risco de ser um açougueiro e não Médico, porque se as condições em cidades populosas já são um lixo, imagina num fim de mundo na Amazônia, ou no interior do nordeste? O Médico que escreveu o texto que lerão em seguida apontou suas soluções, eu também não posso me eximir de dar a minha. Sou professor, quando me formei, sabia que meu salario seria um lixo, que teria que dar aulas em prefeituras, estado, e em escolas particulares que também te exploram para que seus donos enriqueçam. Conhecia o destino que me aguardava.
 Os Médicos vivem destino semelhante. Acredito que eles tenham todos os direitos de exigirem melhorias na sua profissão, criminalização dos maus profissionais e políticos criminosos que desviam as verbas da saúde para seus bolsos, amigos e familiares. Pessoalmente acredito que uma bala na nuca para corruptos, como fazem na China, seria a solução médica deste problema. Mas como não terceirizamos a politica para os chineses, devemos encarar nossa triste rotina. As pessoas não podem esperara a educação melhorar, ou o Médico atender no interior, por isso apoio a medida paliativa da presidenta, concordo com as propostas do Médico, e aceito as criticas de todos que se queixarem na página de comentários. Mas no meu entender, pois também sou terapeuta, é deixar que a pessoa que reclama de tal proposição, se coloque no lugar de uma pessoa carente em algum lugar do Brasil com um familiar doente, às portas da morte, desesperada por um médico. Será que ela se importará com a língua do medico, ou com o socorro imediato de seu familiar?
David da Costa Coelho


Carta do médico PEDRO SARAIVA, enviada para o jornalista Luis Nassife inicialmente reproduzida em seu blog esclarece diversos pontos sobre a vinda dos médicos cubanos ao Brasil.
“Acho estranho o governo ter falado em atrair médicos cubanos, portugueses e espanhóis, e a gritaria ser somente em relação aos médicos cubanos. Será que somente os médicos cubanos precisam revalidar diploma?”
Por Pedro Saraiva
Olá Nassif, sou médico e gostaria de opinar sobre a gritaria em relação à vinda dos médicos cubanos ao Brasil. Bom, como opinião inteligente se constrói com o contraditório, vou tentar levantar aqui algumas informações sobre a vinda de médicos cubanos para regiões pobres do Brasil que ainda não vi serem abordadas. Médicos cubanos no Haiti atendem mais de 15 milhões de miseráveis - O principal motivo de reclamação dos médicos, da imprensa e do CFM seria uma suposta validação automática dos diplomas destes médicos cubanos, coisa que em momento algum foi afirmado por qualquer membro do governo. Pelo contrário, o próprio ministro da saúde, Alexandre Padilha, já disse que concorda que a contratação de médicos estrangeiros deve seguir critérios de qualidade e responsabilidade profissional. Portanto, o governo não anunciou que trará médicos cubanos indiscriminadamente para o país. Isto é uma interpretação desonesta.
- Acho estranho o governo ter falado em atrair médicos cubanos, portugueses e espanhóis, e a gritaria ser somente em relação aos médicos cubanos. Será que somente os médicos cubanos precisam revalidar diploma? Sou médico e vivo em Portugal, posso garantir que nos últimos anos conheci médicos portugueses e espanhóis que tinham nível técnico de sofrível para terrível. E olha que segundo a OMS, Espanha e Portugal têm, respectivamente, o 6º e o 11º melhores sistemas de saúde do mundo (não tarda a Troika dar um jeito nesse excesso de qualidade). Profissional ruim há em todos os lugares e profissões. Do jeito que o discurso está focado nos médicos de Cuba, parece que o problema real não é bem a revalidação do diploma, mas sim puro preconceito.
- Portugal já importa médicos cubanos desde 2009. Aqui também há dificuldade de convencer os médicos a ir trabalhar em regiões mais longínquos, afastadas dos grandes centros. Os cubanos vieram estimulados pelo governo, fizeram prova e foram aprovados em grande maioria (mais à frente vou dar maiores detalhes deste fato). A população aprovou a vinda dos cubanos, e em 2012, sob pressão popular, o governo português renovou a parceria, com amplo apoio dos pacientes. Portanto, um dos países com melhores resultados na área de saúde do mundo importa médicos cubanos e a população aprova o seu trabalho.
- Acho que é ponto pacífico para todos que médicos estrangeiros tenham que ser submetidos a provas aí no Brasil. Não faz sentido importar profissionais de baixa qualidade. Como já disse, o próprio ministro da saúde diz concordar com isso. Eu mesmo fui submetido a 5 provas aqui em Portugal para poder validar meu título de especialista. As minhas provas foram voltadas a testar meus conhecimentos na área em que iria atuar, que no caso é Nefrologia. Os cubanos que vieram trabalhar em Medicina de família também foram submetidos a provas, para que o governo tivesse o mínimo de controle sobre a sua qualidade.
Pois bem, na última leva, 60 médicos cubanos prestaram exame e 44 foram aprovados (73,3%). Fui procurar dados sobre o Revalida, exame brasileiro para médicos estrangeiros e descobri que no ano de 2012, de 182 médicos cubanos inscritos, apenas 20 foram aprovados (10,9%). Há algo de estranho em tamanha dissociação. Será que estamos avaliando corretamente os médicos estrangeiros?
Seria bem interessante que nossos médicos se submetessem a este exame ao final do curso de medicina. Não seria justo que os médicos brasileiros também só fossem autorizados a exercer medicina se passassem no Valida? Se a preocupação é com a qualidade do profissional que vai ser lançado no mercado de trabalho, o que importa se ele foi formado no Brasil, em Cuba ou China? O CFM se diz tão preocupado com a qualidade do médico cubano, mas não faz nada contra o grande negócio que se tornaram as faculdades caça-níqueis de Medicina. No Brasil existe um exército de médicos de qualidade pavorosa. Gente que não sabe a diferença entre esôfago e traqueia, como eu já pude bem atestar. Porque tanto temor em relação à qualidade dos estrangeiros e tanta complacência com os brasileiros?
REVALIDA
- Em relação este exame de validação do diploma para estrangeiros abro um parêntesis para contar uma situação que presenciei quando ainda era acadêmico de medicina, lá no Hospital do Fundão da UFRJ.
Um rapaz, se não me engano brasileiro, tinha feito seu curso de medicina na Bolívia e havia retornado ao país para exercer sua profissão. Como era de se esperar, o rapaz foi submetido a um exame, que eu acredito ser o Revalida (na época realmente não procurei me informar). O fato é que a prova prática foi na enfermaria que eu estava estagiando e por isso pude acompanhar parte da avaliação. Dois fatos me chamaram a atenção, o primeiro é a grande má vontade dos componentes da banca com o candidato. Não tenho dúvidas que ele já havia sido prejulgado antes da prova ter sido iniciada. Outro fato foi o tipo de perguntas que fizeram. Lembro bem que as perguntas feitas para o rapaz eram bem mais difíceis que aquelas que nos faziam nas nossas provam. Lembro-me deles terem pedidos informações sobre detalhes anatômicos do pescoço que só interessam a cirurgiões de cabeça e pescoço. O sujeito que vai ser médico de família, não tem que saber todos os nervos e vasos que passam ao lado da laringe e da tireoide. O cara tem que saber tratar diarreia, verminose, hipertensão, diabetes e colesterol alto. Soube dias depois que o rapaz tinha sido reprovado.
Não sei se todas as provas do Revalida são assim, pois só assisti a uma, e mesmo assim parcialmente. Mas é muito estranho os médicos cubanos terem alta taxa de aprovação em Portugal e pouquíssimos passarem no Brasil. Outro número que chama a atenção é o fato de mais de 10% dos médicos em atividade em Portugal serem estrangeiros. Na Inglaterra são 40%. No Brasil esse número é menor que 1%. E vou logo avisando, meu salário aqui não é maior do que dos meus colegas que ficaram no Brasil.
- Até agora não vi nem o CFM nem a imprensa irem lá às áreas mais carentes do Brasil perguntar o que a população sem acesso à saúde acha de virem 6000 médicos cubanos para atendê-los. Será que é melhor ficar sem médico do que ter médicos cubanos? É o óbvio ululante que o ideal seria criar condições para que médicos brasileiros se sentissem estimulados a ir trabalhar no interior. Mas em um país das dimensões do Brasil e com a responsabilidade de tocar a medicina básica pulverizada nas mãos de centenas de prefeitos, isso não vai ocorrer de uma hora para outra. Na verdade, o governo até lançou nos últimos anos o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab), que oferece salários mensais de R$ 8 mil e pontos na progressão de carreira para os médicos que vão para as periferias. O problema é que até hoje só 4 mil médicos aceitaram participar do programa. Não é só salário, faltam condições de trabalho. O que fazemos então? Vamos pedir para os mais pobres aguentar mais alguns anos até alguém conseguir transformar o SUS naquilo que todos desejam? Vira lá para a criança com diarreia ou para a mãe grávida sem pré-natal e diz para ela segurar as pontas sem médico, porque os médicos do sul e sudeste do Brasil, que não querem ir para o interior, acham que essa história de trazer médico cubano vai desvalorizar a medicina do Brasil.
- É bom lembrar que Cuba exporta médicos para mais de 70 países. Os cubanos estão acostumados e aceitam trabalhar em condições muito inferiores. Aliás, é nisso que eles são bons. Eles fazem medicina preventiva em massa, que é muito mais barata, e com grandes resultados. Durante o terremoto do Haiti, quem evitou uma catástrofe ainda maior foram os médicos cubanos. Em poucas semanas os médicos dos países ricos deram no pé e deixaram centenas de milhares de pessoas sem auxílio médico. Se não fosse Cuba e seus médicos, haveria uma tragédia humanitária de proporções dantescas. Até o New England Journal of Medicine, a revista mais respeitada de medicina do mundo, fez há poucos meses um artigo sobre a medicina em Cuba. O destaque vai exatamente para a capacidade do país em fazer medicina de qualidade com recursos baixíssimos (http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMp1215226).
- Com muito menos recursos, a medicina de Cuba dá um banho em resultados na medicina brasileira. É no mínimo uma grande arrogância achar que os médicos cubanos não estão preparados para praticar medicina básica aqui no Brasil. O CFM diz que a medicina de Cuba é de má qualidade, mas não explica por que a saúde dos cubanos, como muito menos recursos tecnológicos e com uma suposta inferioridade qualitativa, tem índices de saúde infinitamente melhores que a do Brasil e semelhantes à avançada medicina americana (dados da OMS).
- Agora, ninguém tem que ir cobrar do médico cubano que ele saiba fazer cirurgia de válvula cardíaca ou que seja mestre em dar laudos de ressonância magnética. Eles não vêm para cá para trabalhar em medicina nuclear ou para fazer hemodiálises nos pacientes. Medicina altamente tecnológica e ultra especializada não diminui mortalidade infantil, não diminui mortalidade materna, não previne verminose, não conscientiza a população em relação a cuidados de saúde, não trata diarreia de criança, não aumenta cobertura vacinal, nem atua na área de prevenção. É isso que parece não entrar na cabeça de médicos que são formados para serem superespecialistas, de forma a suprir a necessidade uma medicina privada e altamente tecnológica. Atenção! O governo que trazer médicos para tratar diarreia e desidratação! Não é preciso grande estrutura para fazer o mínimo. Essa população mais pobre não tem o mínimo!
Que venham os médicos cubanos, que eles façam o Revalida, mas que eles sejam avaliados em relação àquilo que se espera deles. Se os médicos ricos do sul maravilha não querem ir para o interior, que continuem lutando por melhores condições de trabalho, que cobrem dos governos em todas as esferas, não só da Federal, melhores condições de carreira, mas que ao menos se sensibilizem com aqueles que não podem esperar anos pela mudança do sistema, e aceitem de bom grado os colegas estrangeiros que se dispõe a vir aqui salvar vidas.
Infelizmente até a classe médica aderiu ao ativismo de Facebook. O cara lê a Veja ou O Globo, se revolta com o governo, vai no Facebook, repete meia dúzia de clichês ou frases feitas e sente que já exerceu sua cidadania. Enquanto isso, a população carente, que nem sabe o que é Facebook morre à mingua, sem atendimento médico brasileiro ou cubano.
.
[]
Cuba contra-ataca: DO NOVO JORNAL 3/7/2013

O debate sobre a vinda de médicos ibero-americanos para o Brasil extrapolou a atuação profissional. Embora o governo federal trate de forma igualitária a possibilidade de importação de espanhóis, portugueses e cubanos, as críticas são endereçadas diretamente aos especialistas da ilha caribenha. O potiguar Alberto Campos Ferreira, 37, é dermatologista formado pela Faculdade Latino-americano de Medicina em Cuba. Mora e trabalha na cidade de Matanzas, próximo a Havana, há 13 anos. No terremoto que varreu o Haiti em 2010, Ferreira chefiou um dos quatro hospitais de campana instalados em Porto Príncipe, capital do país. Ele era da brigada Henry, criada desde 2005 em Cuba para socorrer as vítimas do furacão Katrina, que devastou o sul dos EUA naquele ano.
Entre o recolhimento dos mortos e o amparo aos feridos, Alberto coordenou, com colegas cubanos e de outros países, uma das equipes médicas que atuou na contenção da epidemia de dengue na região. Natalense, ele conhece desde pequeno o sistema de saúde pública de Cuba. Alberto é filho do médico Leônidas Ferreira, ex-secretário estadual de Saúde nos governos de Lavoisier Maia e José Agripino Maia. O pai dele foi responsável pela implantação, em Natal, da primeira campanha de vacinação em massa da América Latina.
Leônidas assumiu o cargo com a missão de colocar um médico em cada município potiguar. Já no governo de José Agripino, voltou de Havana trazendo o modelo cubano, pioneiro na América do Sul, de médicos atuando junto às famílias carentes no interior do estado.
O NOVO JORNAL entrou em contato com o médico Alberto Ferreira por e-mail esta semana para saber o que os médicos de Cuba estão achando da polêmica envolvendo a importação dos especialistas da ilha para o Brasil. Para ele, a contribuição seria inegável, pois abriria possibilidade, com a presença de médicos onde antes nunca foi possível, de realizarem análise da situação de saúde em grande escala. Com isso, de acordo com o potiguar radicado em Cuba, seriam identificados os principais problemas e uma estratégia de ação seria montada com a participação da comunidade para promover saúde, prevenir a aparição de doenças e garantir um diagnóstico precoce e oportuno para favorecer um rápido restabelecimento”, afirmou.
“Seria mais plausível e coerente dar alternativas para solucionar esta situação de desamparo (na saúde pública) que está submetida a população mais carente ao invés de criticar a boa intenção do governo brasileiro”, afirmou.
O médico potiguar radicado e formado em Cuba é duro nas críticas endereçadas às entidades de classe do Brasil. Ao Conselho Nacional de Medicina, que aponta a falta de competência nos profissionais formados na ilha, Ferreira rebate lembrando que a maioria das doenças endêmicas no Brasil já foi solucionada pelo sistema de saúde eficaz da ilha.
“Pode ser que os médicos cubanos não contem com prática médica em algumas doenças endêmicas do Brasil, que é facilmente explicável quando se sabe que doenças como malária, sarampo, difteria, tétano, coqueluche, lepra, VIH-sida, febre tifóide, entre outras, deixaram de ser um problema em Cuba ou foram totalmente erradicadas. James Linden disse: ‘Eu não proporei nada ditado meramente pela teoria, mas confirmarei tudo através da experiência e dos fatos, os guias mais confiáveis e infalíveis’”, rebateu.
Aos que classificam as opiniões dele como “parciais e subjetivas”, Alberto pede que chequem as estatísticas da saúde cubana junto aos boletins anuais da Organização Panamericana de Saúde. A expectativa de vida das pessoas que nascem em Cuba, por exemplo, é de 78 anos de idade. Já a mortalidade infantil é de 4,6 por cada mil cubanos nascidos vivos no país. Os números são comparados aos dados do Canadá.
O dermatologista está convencido de que os médicos cubanos podem iniciar uma revolução na saúde pública brasileira. Mas alerta para os perigos. “Estou plenamente seguro. Só não podem cometer a mesma falta de ética dos que representam os médicos brasileiros. Não podem dizer que no Brasil não existe médicos capazes, como se refere o Conselho Nacional de Medicina a respeito dos médicos cubanos e dos graduados nas universidades particulares brasileiras. Os médicos cubanos têm que demonstrar as evidências com o trabalho já realizado em países como Venezuela, Bolívia, Equador, Haiti e muitos do continente africano que com a presença dos cubanos revolucionou os indicadores sociais e de saúde destes respectivos países”, afirmou.
Ferreira questiona a motivação da polêmica criada pelas entidades de medicina brasileira. Para ele, não está claro se a principal causa é a suposta incompetência cubana ou a afetações dos interesses corporativos da categoria. “Seria importante lembrar que os lugares aonde vão trabalhar os médicos cubanos são apartados de precárias condições de vida. Lá moram pessoas despossuídas que jamais poderiam pagar um plano de saúde ou uma consulta médica. Por que negar esta oportunidade?”, encerra indagando.
fontes:

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/05/medico-brasileiro-comenta-gritaria-da-midia-sobre-medicos-cubanos.html

MENTIRAS RELATIVAS À HISTÓRIA DA UNIÃO SOVIÉTICA

$
0
0




  Através de sua pesquisa científica histórica ele viu o contexto maior de como os grupos secretos dos EUA (em grande parte operando através da sociedade Skull & Bones) usa a dialética hegeliana (criar tese e antítese criar para controlar a síntese) para criar, gerenciar e perpetuar o conflito.
_____
Uma entrevista clássica pelo Professor Anthony Sutton, que lecionou Economia na Califórnia State University e foi um pesquisador na Hoover Institution da Universidade de Stanford.

Nessa entrevista, o Prof. Sutton entra em sua pesquisa impecável de como um grupo coeso de financistas e magnatas da industria ocidentais (centrada em torno de Morgan e Rockefeller nos EUA, e em torno de Milner e financistas da "City of London", no Reino Unido) criaram e mantiveram seu três supostos inimigos desde o início: Rússia Soviética, a Alemanha nazista, e o Socialismo Fabiano de F.D. Roosevelt.
Particularmente, ele explica como os financistas de Wall Street/City of London usaram suas instituições bancárias e empresas industriais para:

1- Ajudar a financiar e sustentar a Revolução Bolchevique na Russia.
Estruturar a indústria soviética durante os planos quinquenais de Lênin, através de financiamento, tecnologia / transferências industriais e assistência técnica. Continuar a construir os soviéticos durante toda a Guerra Fria, através dos mesmos tipos de negócios. Isto incluiu as Guerras da Coréia e do Vietnã, durante o qual as tropas americanas estavam sendo mortas por ... armamentos soviéticos feitos com tecnologia ocidental.

2- Construir a Alemanha Nazista, tanto financeira como industrialmente;

3- Colocar Franklin D. Rosevelt (FDR) no poder nos EUA como o seu homem, e até mesmo elaborar as políticas do New Deal de Roosevelt, especialmente o National Recovery Act (Ato de Recuperação Nacional) - desenvolvido por Gerard Swopes da Gen. Electric e profundamente bem recebido pelo poder de Wall Street; Morgan, Warburg e Rockefeller.

Sutton não era um especulador selvagem. Ele era um pesquisador acadêmico distinto que documentou suas conclusões impecavelmente em suas diversas obras. Incapaz de contrariar suas pesquisas, o poder vigente (incluindo universidades) simplesmente tenta ignorar seu trabalho, fazer de conta que não existe.

O objetivo dessas políticas de Wall Street era muito simples: criar e globalizar o que Sutton chama de Socialismo Corporativo.
Um sistema em que tudo na sociedade é regido pelo Estado, e o Estado, por sua vez, é controlado por financistas que, portanto, acabam governando e administrando a sociedade, a seu gosto.
Em outras palavras, fazer a sociedade trabalhar para os financistas, utilizando-se um Estado socialista como seu intermediário. Isto é o que hoje conhecemos como o modelo de globalização econômica.
Como resultado de todos os conflitos do século 20, sobretudo da 2a. Guerra Mundial e da Guerra Fria, travada entre poderes (USA e URSS) manipulados e controlados por esses grupos de mega banqueiros, o mundo foi "globalizado".

Isso significa que o mundo foi totalmente tomado por esses financistas, e está cada vez mais perto de ser completamente governado por eles, através não só das Nações e seus Bancos Centrais, mas principalmente através de agências supranacionais e instituições.

A História do Racismo  
 http://www.youtube.com/watch?v=X8eY8Z70Big

Mário Sousa

(Membro do Partido Comunista dos Revolucionários Marxistas-Leninistas da Suécia KPML-r)


  Para nuestro Plato Fuerte El Sr Gaviño y Ajonimus nos hablan sobre el control de nuestras comuni cación y también por medio de nuestros usos en internet y tarjetas bancarias, el gobierno sabe que hacemos y con software más evolucionado a nosotros, están decifrando y siguiendo terroristas a usted que lo pueden considerar el enemigo público número uno. Echelon el organismo de la NSA que a través de Diccionario interpreta nuestras conversaciones vocales o gráficas

http://www.youtube.com/watch?v=-JpBNk422aw

De Hitler a Hearst, de Conquest a Soljenitsin



    A mentirosa história dos milhões de pessoas que, supostamente, foram encarceradas e morreram nos campos de trabalhos forçados da União Soviética e como resultado da fome durante os tempos de Stálin.


Neste mundo em que vivemos, quem não ouve as terríveis histórias de possíveis mortes e assassinatos nos campos de trabalhos forçados do “gulag” da União Soviética?  Quem não ouve histórias dos milhões que morreram de fome e dos milhões de oposicionistas executados na União Soviética na época de Stálin?  No mundo capitalista, essas histórias são repetidas inúmeras vezes nos livros, jornais, no rádio e na televisão, e nos filmes, e os números míticos dos milhões de vítimas do socialismo aumentaram, aos saltos, nos últimos 50 anos.

Mas, na realidade, de onde vêm essas histórias e essas cifras?  Quem está por trás de tudo isso?

Uma outra pergunta:  o que há de verdade nessas histórias?  E que informações se encontram nos arquivos da União Soviética, anteriormente secretos, mas abertos à pesquisa histórica por Gorbachov em 1989?  Os autores dos mitos sempre disseram que todas as suas histórias dos milhões que morreram na União Soviética de Stálin seriam confirmadas no dia em que os arquivos fossem abertos.  E foi isso que aconteceu?  Elas foram confirmadas de fato?

O seguinte artigo nos mostra de onde se originaram essas histórias de milhões de mortes pela fome e nos campos de trabalhos forçados e quem está por trás delas.

O presente autor, após ter estudado os relatórios da pesquisa feita nos arquivos da União Soviética, pode dar informações, na forma de dados concretos, sobre o número real de prisioneiros, os anos que passaram na prisão e o número verdadeiro daqueles que morreram e daqueles que foram condenados à morte na União Soviética de Stálin.  A verdade é bem diferente do mito.

Existe um elo histórico direto ligando Hitler a Hearst, a Conquest, a Soljenitsin.  Em 1933, ocorreu uma mudança política na Alemanha que iria deixar sua marca na história do mundo por décadas a fora.  Em 30 de janeiro de 1933, Hitler tornou-se primeiro-ministro e uma nova forma de governo, envolvendo violência e desrespeito para com a lei, começou a tomar forma.  A fim de consolidar o seu controle sobre o poder, os nazistas convocaram novas eleições para 5 de março, empregando todos os meios de propaganda ao seu alcance para garantir sua vitória.   Uma semana antes das eleições, em 27 de fevereiro, os nazistas incendiaram o parlamento e acusaram os comunistas de serem os responsáveis.  Nas eleições que se seguiram, os nazistas obtiveram 17,3 milhões de votos e 288 deputados, cerca de 48% do eleitorado (em novembro, eles haviam recebido 11,7 milhões de votos e 196 deputados).  Banido o Partido Comunista, os nazistas começaram a perseguir os social-democratas e o movimento sindicalista, e os primeiros campos de concentração começaram a se encher com todos os homens e mulheres esquerdistas.   Entrementes, o poder de Hitler no parlamento continuou a crescer, com a ajuda da ala de direita.  Em 24 de março, Hitler conseguiu que o parlamento aprovasse uma lei que lhe concedia poder absoluto para governar o país por quatro anos sem consultar o parlamento.  A partir de então, começou a perseguição aberta aos judeus, os primeiros dos quais começaram a ser enviados para os campos de concentração,  onde os comunistas e social-democratas já se encontravam detidos.  Hitler continuou a pressionar no sentido de obter o poder absoluto, denunciando os acordos internacionais de 1918, que haviam imposto restrições ao armamento e militarização da Alemanha.  O rearmamento da Alemanha foi realizado a uma grande velocidade.  Esta era a situação na arena política internacional quando começaram a ser montados os mitos relativos àqueles que morreram na União Soviética.

A Ucrânia como um território alemão

Ao lado de Hitler, na liderança alemã encontrava-se Goebbels, o Ministro da Propaganda,  o homem responsável pela tarefa de inculcar o sonho nazista no povo alemão.  Este era um sonho de um povo racialmente puro vivendo em uma Grande Alemanha, um país com um amplo “Lebensraum”  (espaço vital) para viver.   Uma parte desse “Lebensraum”, uma área a leste da Alemanha que era, na realidade, bem maior do que a própria Alemanha, ainda tinha que ser conquistada e incorporada à nação alemã.  Em 1925, em seu livro Mein Kampf (Minha Luta), Hitler já havia indicado a Ucrânia como uma parte essencial do referido espaço vital alemão. A Ucrânia e outras regiões da Europa Oriental precisavam pertencer à nação alemã para serem utilizadas de uma maneira “apropriada”.   Segundo a propaganda nazista, a espada nazista liberaria tais regiões a fim de proporcionar espaço para a raça alemã.   Com a tecnologia e empresas alemãs, a  Ucrânia seria transformada em uma área que produziria cereais para a Alemanha.  Mas, primeiramente, os alemães tinham que livrar a Ucrânia de sua população de “seres inferiores” que, de acordo com a propaganda nazista, seriam postos a trabalhar como uma força de trabalho escravo em lares, fábricas e campos alemães – onde quer que fossem requeridos pela economia alemã. 

A conquista da Ucrânia e de outras áreas da União Soviética impunha a necessidade de guerra contra a União Soviética, e essa guerra tinha que ser preparada com grande antecedência.  Para tal finalidade, o ministério da propaganda nazista, dirigido por Goebbels, deu início a uma campanha denunciando um suposto genocídio cometido pelos bolcheviques na Ucrânia, um terrível período de fome deliberadamente provocado por Stálin a fim de forçar os camponeses a aceitarem a política socialista. O propósito da campanha nazista era preparar a opinião pública mundial para a “liberação” da Ucrânia pelas tropas alemãs.   Apesar dos enormes esforços e a despeito de alguns dos textos de propaganda alemã terem sido publicados na imprensa inglesa, a campanha nazista em torno do suposto “genocídio” na Ucrânia não teve grande sucesso mundial.  Estava claro que Hitler e Goebbels precisavam de ajuda para espalhar seus rumores difamatórios a respeito da União Soviética.  Essa ajuda eles encontraram nos EUA.

William Hearst, amigo de Hitler

William Randolph Hearst é o nome de um multimilionário que procurou ajudar os nazistas em sua guerra psicológica contra a União Soviética. Hearst era um famoso proprietário de jornal norte-americano, conhecido como o “pai” da assim-chamada “imprensa marrom”, isto é, a imprensa sensacionalista.  William Hearst começou sua carreira como editor de jornal em 1885, quando seu pai, George Hearst, um industrial de mineração milionário, senador e proprietário de jornal, colocou-o na direção do  San Francisco Daily Examiner.

Isto também foi o início do império jornalístico de Hearst, império que teve uma enorme influência sobre as vidas e o pensamento dos norte-americanos.  Após a morte de seu pai, William Hearst vendeu todas as ações da indústria de mineração que herdara e começou a investir capital no mundo do jornalismo.  Sua primeira compra foi a do New York Morning Journal, um jornal tradicional que Hearst transformou, completamente, em um jornal sensacionalista.   Ele comprava suas reportagens por qualquer preço e, quando não havia nenhuma atrocidade ou crime para relatar, ordenava a seus repórteres e fotógrafos que “fabricassem” matérias.  Na realidade, isto é o que caracteriza a “imprensa marrom”: mentiras e atrocidades “fabricadas” divulgadas como verdade.

Essas mentiras de Hearst o tornaram milionário e uma personalidade muito importante no mundo jornalístico.   Em 1935,  era um dos homens mais ricos do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 200 milhões.  Após a compra do  Morning Journal, Hearst continuou a comprar e estabelecer jornais diários e semanais em todos os EUA.   Na década de 1940, William Hearst possuía 25 jornais diários, 24 semanários, 12 estações de rádio, 2 serviços de notícias internacionais, uma empresa que fornecia notícias para filmes, a companhia cinematográfica “Cosmopolitan”, e muitas outras empresas.  Em 1948, ele comprou uma das primeiras estações de TV, a  BWAL, em Baltimore.   Os jornais de Hearst vendiam 13 milhões de exemplares por dia e tinham cerca de 40 milhões de leitores. Quase um terço da população adulta dos EUA lia os jornais de Hearst todos os dias.  Além disso, muitos milhões de pessoas, em todo o mundo, recebiam informações da imprensa de Hearst através de seus serviços de notícias, filmes e uma série de jornais que eram traduzidos e publicados em grandes tiragens, em todo o mundo.  As cifras mencionadas acima demonstram como o império de Hearst foi capaz de exercer influência sobre a política norte-americana e, de fato, sobre a política mundial, durante muitos anos – sobre questões que incluíam a oposição à entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial, ao lado da União Soviética, e o apoio à caça às bruxas anticomunista macarthista  da década de 1950.

A visão de William Hearst era ultraconservadora, nacionalista e anticomunista.  Sua política era a política da extrema direita.  Em 1934, ele viajou à Alemanha, onde foi recebido por Hitler como convidado e amigo.  Após essa viagem, os jornais de Hearst tornaram-se ainda mais reacionários, sempre apresentando artigos contra o socialismo, contra a União Soviética e, especialmente, contra Stálin.  Hearst também tentou usar seus jornais para fins de propaganda nazista aberta, publicando uma série de artigos escritos por Goering, o braço direito de Hitler.  Mas os protestos de muitos leitores o forçaram a parar de publicar tais artigos e a retirá-los de circulação.

Após sua visita a Hitler, seus jornais sensacionalistas se encheram de “revelações” sobre os terríveis acontecimentos na União Soviética – assassinatos, genocídio, escravidão, luxo para os governantes e fome para o povo, que constituíam as grandes notícias quase todos os dias.  O material era fornecido a Hearst pela Gestapo, a polícia política da Alemanha nazista. Nas primeiras páginas dos jornais apareciam, freqüentemente, caricaturas e fotos falsificadas da União Soviética, com Stálin apresentado como um assassino segurando na mão um punhal.  Não devemos nos esquecer de que tais artigos eram lidos, todos os dias, por 40 milhões de pessoas nos EUA e milhões de outras em todo o mundo!



O mito da fome na Ucrânia

Uma das primeiras campanhas da imprensa de Hearst contra a União Soviética girou em torno da questão dos milhões que, com base em alegações, teriam morrido como resultado da fome na Ucrânia.   Essa campanha começou em 18 de fevereiro de 1935 com uma manchete de primeira página no Chicago American: “Seis milhões de pessoas morrem de fome na União Soviética”.  Usando material fornecido pela Alemanha nazista, William Hearst, o barão da imprensa e simpatizante do nazismo, começou a publicar reportagens fabricadas sobre um genocídio que teria sido deliberadamente perpetrado pelos bolcheviques e causado a morte, por fome, de vários milhões de pessoas na Ucrânia.  A verdade era totalmente diferente.  Na realidade, o que ocorreu na União Soviética no início da década de 1930 foi uma grande luta de classes na qual pobres camponeses sem terra haviam se levantado contra os ricos proprietários de terra, os “kulaks”, e iniciado uma luta pela coletivização, uma luta para formar os colcoses (fazendas coletivas).

Essa grande luta de classes, envolvendo, direta ou indiretamente, uns 120 milhões de camponeses, deu origem à instabilidade na produção agrícola e à falta de alimentos em algumas regiões.  De fato, a falta de alimentos enfraquecia as pessoas, o que, por sua vez, levava a um aumento no número daqueles que se tornavam vítimas de doenças epidêmicas.  Naquela época, infelizmente, tais doenças eram comuns em todo o mundo.  Entre 1918 e 1920, uma epidemia de gripe espanhola causou a morte de 20 milhões de pessoas nos EUA e Europa, mas ninguém acusou os governos desses países de terem matado seus próprios cidadãos.  O fato é que não havia nada que esses governos pudessem fazer diante de epidemias desse tipo.  Só com o desenvolvimento da penicilina, em fins da década de 30, é que se tornou possível conter, eficazmente, tais epidemias. 

Os artigos da imprensa de Hearst afirmando que milhões morriam de fome na Ucrânia – uma fome supostamente provocada, deliberadamente, pelos comunistas – continham gráficos e detalhes sombrios.  A imprensa de Hearst se valia de todos os meios possíveis para fazer com que suas mentiras se parecessem com a verdade e conseguia que a opinião pública nos países capitalistas se voltasse violentamente contra a União Soviética.  Essa foi a origem do primeiro gigantesco mito fabricado, que alegava que milhões estavam morrendo na União Soviética.   Na onda de protestos contra a fome supostamente provocada pelos comunistas que a imprensa ocidental desencadeou, ninguém teve interesse em ouvir as negativas da União Soviética e no desmascaramento completo das mentiras da imprensa de Hearst, uma situação que prevaleceu de 1934 a 1987!   Por mais de 50 anos, várias gerações de pessoas em todo o mundo foram educadas à base de uma “dieta” dessas calúnias para que tivessem uma visão negativa do socialismo na União Soviética.

O império da mídia de massa de Hearst em 1998

William Hearst  morreu em 1951 em sua casa em Beverly Hills, Califórnia.   Deixou atrás de si um império de mídia de massa que, até hoje, continua a espalhar sua mensagem reacionária em todo o mundo.  A Hearst Corporation é uma das maiores empresas do planeta, englobando mais de 100 companhias e empregando 15.000 pessoas.  Atualmente, o império de Hearst compreende jornais, revistas, livros, rádio, TV, TV a cabo, agências de notícias e multimídia. 

52 anos antes da verdade emergir

A campanha de desinformação nazista a respeito da Ucrânia não morreu com a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.  As mentiras nazistas foram assumidas pela CIA e pelo M-15 e sempre tiveram um lugar proeminente garantido na guerra de propaganda contra a União Soviética.  A perseguição anticomunista macarthista após a Segunda Guerra Mundial também se alimentou com os contos dos milhões que morreram de fome na Ucrânia.   Em 1953, um livro sobre o assunto foi publicado nos EUA.  Intitulado  “Black Deeds of the Kremlin”  (Os Atos Negros do Kremlin), sua publicação foi financiada pelos refugiados ucranianos nos EUA, pessoas que haviam colaborado com os nazistas na Segunda Guerra Mundial e a quem o governo norte-americano deu asilo político, apresentando-os ao mundo como “democratas”.

Quando Ronald Reagan foi eleito presidente dos EUA e começou sua cruzada anticomunista da década de 1980, a propaganda sobre os milhões que morreram na Ucrânia foi renovada.  Em 1984, um professor da Harvard publicou o livro  “Human Life in Russia” (A Vida Humana na Rússia), que repetia todas as falsas informações produzidas pela imprensa de Hearst em 1934.  Em 1984, então,  deparamos o renascimento das mentiras e falsificações nazistas produzidas na década de 1930, mas, dessa vez, sob o manto “respeitável” de uma universidade norte-americana.  Mas a campanha anticomunista não parou aí.  Em 1986, apareceu um outro livro sobre o assunto, intitulado "Harvest of Sorrow” (A Colheita de Sofrimento), escrito por um ex-membro do serviço secreto britânico, Robert Conquest, na época professor da Universidade Stamford, na Califórnia.  Por seu “trabalho” no livro, Conquest recebeu US$80 mil da Organização Nacional da Ucrânia.  Essa mesma organização também pagou por um filme feito em 1986 denominado “Harvest of Despair” (A Colheita do Desespero), no qual, entre outras coisas, foi utilizado material do livro de Conquest.  A essa altura, o número de pessoas que, segundo informações disseminadas nos EUA, haviam morrido de fome na Ucrânia, havia saltado para 15 milhões!

Entretanto, as afirmações de que milhões haviam morrido de fome na Ucrânia segundo a imprensa de Hearst na América do Norte, “papagueada” em livros e filmes, constituíam informações absolutamente falsas.  O jornalista canadense Douglas Tottle desmascarou, meticulosamente, as falsificações em seu livro “Fraud, Famine and Fascism – the Ukrainian Genocide Myth from Hitler to Harvard” (Fraude, Fome e Fascismo – o Mito do Genocídio Ucraniano de Hitler a Harvard), publicado em Toronto em 1987.  Entre outras coisas, Tottle provou que o material fotográfico empregado, fotografias horripilantes de crianças morrendo de fome, havia sido tirado de publicações de 1922, em uma ocasião na qual milhões de pessoas de fato morreram de fome e devido a condições de guerra, uma vez que oito exércitos estrangeiros haviam invadido a União Soviética durante a Guerra Civil de 1918-1921.  Douglas Tottle apresenta os fatos concernentes às alegações relativas à fome de 1934 e desmascara as diversas mentiras publicadas na imprensa de Hearst.  Um jornalista que, durante um longo tempo, enviou relatórios e fotografias de supostas áreas de fome era Thomas Walter, um homem que jamais havia posto o pé na Ucrânia e, mesmo em Moscou, permanecera apenas cinco dias.  

Esse fato foi revelado pelo jornalista Louis Fisher, correspondente em Moscou do The Nation, um jornal norte-americano.  Fisher também revelou que o jornalista M. Parrott, o verdadeiro correspondente da imprensa de Hearst em Moscou, havia enviado a Hearst relatórios, nunca publicados, sobre a excelente safra conseguida pela União Soviética em 1933 e sobre o progresso alcançado pela Ucrânia.  Tottle prova também que o jornalista que escreveu os relatórios sobre a alegada fome ucraniana, “Thomas Walker”, era, na realidade, Robert Green, um condenado que havia escapado de uma prisão do Estado do Colorado!  Esse Walker, ou Green, foi preso ao retornar aos EUA e, quando compareceu ao tribunal, admitiu que jamais havia estado na Ucrânia.  Todas as mentiras sobre os milhões que morreram de fome na Ucrânia na década de 1930, uma fome supostamente engendrada por Stálin, só foram desmascaradas em 1987!  O nazista Hearst, o agente de polícia Conquest e outros haviam tapeado milhões de pessoas com suas mentiras e relatórios fabricados.  Mesmo hoje, as histórias do nazista Hearst ainda estão sendo repetidas em livros recém-publicados, escritos por autores financiados por grupos de direita.

A imprensa de Hearst, que ocupa uma posição monopolista em muitos estados da América do Norte e tem agências de notícias em todo o mundo, constituiu o grande megafone da Gestapo (Geheime Staatspolizei, Polícia Secreta do Estado na Alemanha Nazista).  Em um mundo dominado pelo capital monopolista, foi possível para a imprensa de Hearst transformar as mentiras da Gestapo em “verdades” que foram transmitidas através de dezenas de jornais, estações de rádio e, mais tarde, canais de TV, em todo o mundo.  Quando a Gestapo desapareceu, essa guerra suja de propaganda contra o socialismo na União Soviética continuou, mas com a CIA como seu novo patrono.  As campanhas anticomunistas da imprensa norte-americana não sofreram a mais leve redução.  Elas foram realizadas, primeiramente, sob as ordens da Gestapo e, depois, sob as ordens da CIA. 

Robert Conquest no coração dos mitos

Esse homem, que é citado tão amplamente na imprensa burguesa, esse verdadeiro oráculo da burguesia, merece alguma atenção específica quanto a este ponto.  Robert Conquest é um dos dois autores que mais escreveram sobre os milhões que morreram na União Soviética.  Ele é, na verdade, o criador de todos os mitos e mentiras relativos à União Soviética que têm sido espalhados desde a Segunda Guerra Mundial.  Conquest escreve sobre os milhões que morreram de fome na Ucrânia, nos campos de trabalhos forçados do “gulag” e durante os Julgamentos de 1936-38, utilizando, como suas fontes de informação, ucranianos exilados nos EUA e pertencentes a partidos de direita, pessoas que colaboraram com os nazistas na Segunda Guerra Mundial.  Muitos dos heróis de Conquest eram conhecidos como tendo sido criminosos de guerra que dirigiram e participaram do genocídio da população judaica da Ucrânia em 1942.   Uma dessas pessoas era Mykola Lebed, condenado como criminoso de guerra após a Segunda Guerra Mundial.  Lebed havia sido chefe de segurança em Lvov durante a ocupação nazista e presidiu as terríveis perseguições dos judeus que ocorreram em 1942.  Em 1942 a CIA levou-o para os Estados Unidos, onde ele trabalhou como uma fonte de desinformação.

O estilo dos livros de Conquest é de um anticomunismo violento e fanático.  Em seu livro de 1969, Conquest nos conta que os que morreram de fome na União Soviética entre 1932-1933 alcançaram um total entre 5 e 6 milhões de pessoas, metade delas na Ucrânia.  Mas, em 1983, durante a cruzada anticomunista do presidente Reagan, Conquest estendeu o período da fome até 1937 e aumentou o número de vítimas para 14 milhões!  Tais afirmações foram altamente compensadoras:  em 1986, ele foi contratado por Reagan para escrever material para sua campanha presidencial visando à preparação do povo norte-americano para uma invasão soviética. O texto em questão foi denominado “O que fazer quando os russos vierem – um ‘manual  para sobrevivência”!  Estranhas palavras vindas de um professor de história!

O fato é que não há, em absoluto, nada de estranho em tais palavras, vindas de um homem que passou toda sua vida vivendo de mentiras e fabricações a respeito da União Soviética e de Stálin – primeiro, como agente do serviço secreto britânico e, em seguida, como escritor e professor na Universidade Stamford, na Califórnia.  O passado de Conquest foi revelado no Guardian de 27 de janeiro de 1978, em um artigo que o identificou como um ex-agente no departamento de desinformação do Serviço Secreto Britânico, isto é, o Departamento de Pesquisa de Informações (IRD).  O IRD foi uma seção criada em 1947 (originalmente denominada “Escritório de Informações sobre Comunistas”), cuja principal tarefa era combater a influência comunista em todo o mundo mediante a fabricação de artigos entre políticos, jornalistas e outros que estivessem em posição de influenciar na opinião pública.  As atividades do IRD tinham um alcance muito amplo, tanto na Grã-Bretanha como no exterior.  Quando o IRD teve que ser formalmente fechado em 1977, em conseqüência da denúncia do seu envolvimento com a extrema direita, foi descoberto que, só na Grã-Bretanha, mais de 100 dos jornalistas mais conhecidos tinham um contato no IRD que lhes fornecia, regularmente, materiais para os artigos.   Esta era a rotina em diversos jornais britânicos importantes, tais como o Financial Times, The Times, The Economist, Daily Mail, Daily Mirror, The Express, The Guardian e outros.  Os fatos denunciados pelo Guardian, portanto, nos dá uma medida de como os serviços secretos eram capazes de manipular as notícias que alcançavam o público em geral.

Robert Conquest trabalhou para o IRD desde quando ele foi criado até 1956.  O “trabalho” de Conquest era contribuir para a chamada “história negra” das reportagens fabricadas sobre a União Soviética, publicadas como fatos e distribuídas entre os jornalistas e outras pessoas capazes de influenciar a opinião pública.   Após ter deixado o IRD formalmente, Conquest continuou a escrever os livros sugeridos pelo IRD, com o apoio do serviço secreto.  Seu livro “O Grande Terror”, um texto básico da direita sobre o assunto da luta pelo poder que ocorreu na União Soviética em 1937, era, na realidade,  uma recompilação do texto que ele havia escrito quando trabalhava para os serviços secretos.  O livro foi concluído e publicado com a ajuda do IRD.  Um terço da publicação foi comprado pela imprensa de Praeger, normalmente associada à publicação de literatura originária das fontes da CIA.   A intenção era que o livro de Conquest fosse apresentado aos “tolos úteis”, tais como professores universitários e pessoas que trabalhavam na imprensa, rádio e TV, a fim de assegurar que as mentiras de Conquest e da extrema direita continuassem a ser difundidas amplamente entre grandes setores da população.  Até os dias de hoje, Conquest permanece para os historiadores da direita como uma das importantes fontes de material sobre a União Soviética.

Alexander Soljenitsin

Uma outra pessoa que está sempre associada aos livros e artigos sobre os supostos milhões que perderam suas vidas ou a liberdade na União Soviética é o autor russo Alexander Soljenitsin.   Soljenitsin tornou-se famoso em todo o mundo capitalista no final da década de 1960 com o seu livro  The Gulag Archipelago.  Ele próprio havia sido condenado, em 1946, a oito anos em um campo de trabalhos forçados por atividade contra-revolucionária na forma de distribuição de propaganda anti-soviética. Segundo ele, a luta contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial poderia ter sido evitada se o governo soviético tivesse chegado a uma solução de compromisso com Hitler.  Também acusava o governo soviético de Stálin de ser até mesmo pior do que Hitler, do ponto de vista, segundo ele, dos efeitos terríveis da guerra sobre o povo da União Soviética.  Soljenitsin não escondia suas simpatias pelo nazismo.  Foi condenado como traidor.

Em 1962, começou a publicar livros na União Soviética com o consentimento e ajuda de Nikita Kruchov.  O primeiro livro que ele publicou foi A Day in the Life of Ivan Denisovich  (Um Dia na Vida de Ivan Denisovitch), cujo tema diz respeito à vida de um prisioneiro.  Kruchov utilizou os textos de Soljenitsin para combater o legado socialista de Stálin.  Em 1970, Soljenitsin recebeu o Prêmio Nobel para literatura com o seu livro The Gulag Archipelago.  Seus livros começaram, então, a ser publicados em grande escala nos países capitalistas, e ele tornou-se um dos mais valiosos instrumentos do imperialismo no combate ao socialismo da União Soviética.  Seus textos sobre os campos de trabalhos forçados foram acrescentados à propaganda sobre os milhões que, supostamente, teriam morrido na União Soviética e foram apresentados pela mídia de massa capitalista como se fossem verdadeiros.   Em 1974, Soljenitsin renunciou à cidadania soviética e emigrou para a Suíça e, em seguida, para os EUA.   Na ocasião, foi considerado pela imprensa capitalista como o maior combatente pela liberdade e democracia.  Suas simpatias pelo nazismo foram enterradas para que não interferissem em sua guerra de propaganda contra o socialismo.

Nos EUA, Soljenitsin era freqüentemente convidado a falar em reuniões importantes.  Foi, por exemplo, o principal orador no congresso sindical da AFL-CIO em 1975 e, em 15 de julho de 1975, foi convidado a dar uma palestra no senado norte-americano sobre a situação mundial!  Suas palestras constituíam, na realidade, uma agitação violenta e provocativa e a defesa e propaganda das posições mais reacionárias.  Entre outras coisas, ele clamava para que o Vietnã fosse novamente atacado após sua vitória sobre os EUA.  E mais ainda:  depois de 40 anos de fascismo em Portugal, quando oficiais da ala esquerda do exército tomaram o poder na revolução popular de 1974, Soljenitsin começou a fazer propaganda em favor da intervenção militar dos Estados Unidos em Portugal, que, segundo ele, entraria para o Pacto de Varsóvia se os norte-americanos não interviessem!  Em suas palestras, sempre lamentava a libertação das colônias africanas de Portugal.

Está claro, porém, que o principal objetivo dos seus discursos sempre foi a guerra suja contra o socialismo – desde a alegada execução de vários milhões de pessoas na União Soviética até as dezenas de milhares de norte-americanos aprisionados e escravizados, segundo ele, no Vietnã do Norte!  Essa sua idéia  de que o Vietnã do Norte usava norte-americanos como mão-de-obra deu origem aos filmes de Rambo sobre a Guerra do Vietnã.  Os jornalistas norte-americanos que ousavam escrever em favor da paz entre os EUA e a União Soviética eram acusados por ele, em seus discursos, de serem traidores em potencial.  Ele também fazia propaganda em favor do aumento da capacidade militar dos EUA contra a União Soviética, que, segundo dizia, era “cinco a sete vezes mais poderosa em tanques e aviões e duas, três ou mesmo cinco vezes  mais poderosa em armas atômicas do que os Estados Unidos”.  Suas palestras sobre a União Soviética representavam a voz da extrema direita.  Todavia, ele próprio se posicionava ainda mais à direita em seu apoio público ao fascismo.

Apoio ao fascismo de Franco

Após a morte de Franco, em 1975, o regime fascista espanhol começou a perder o controle da situação política e, no início de 1976, os acontecimentos na Espanha ganharam a atenção pública mundial.  Houve greves e manifestações exigindo democracia e liberdade e, então, o herdeiro de Franco, o Rei Juan Carlos, foi compelido a introduzir, de maneira muito cautelosa, alguma liberalização a fim de acalmar a agitação social.

Naquele momento extremamente importante na história política da Espanha, Alexander Soljenitsin aparece em Madri e dá uma entrevista ao programa Directísimona noite de sábado, 20 de março, no horário de audiência máxima (ver os jornais espanhóis ABC e Ya de 21 de março de 1976).  Soljenitsin, que havia recebido as perguntas antecipadamente, aproveitou a ocasião para fazer todos os tipos de declarações reacionárias.  Sua intenção não era apoiar as medidas da  assim-chamada liberalização do rei.  Pelo contrário, fez advertências contra a reforma democrática.  Em sua entrevista na televisão, declarou que 110 milhões de russos haviam morrido como vítimas do socialismo e fez comparações entre “a escravidão à qual o povo soviético estava submetido e a  liberdade existente na Espanha”.  Também acusou os “círculos progressistas” de “utópicos”, por considerarem a Espanha uma ditadura.  Para ele, “progressistas” eram quaisquer pessoas da oposição democrática – fossem elas liberais, social-democratas ou comunistas.  “No último verão”,  dizia,  “a opinião pública mundial se preocupou com o destino dos terroristas espanhóis [isto é, antifascistas espanhóis sentenciados à morte pelo regime de Franco].  A opinião pública progressista sempre exige reforma política democrática e, ao mesmo tempo, apóia os atos de terrorismo”. 

“Aqueles que buscam uma rápida reforma democrática não percebem o que acontecerá amanhã ou depois?  Na Espanha poderá haver democracia amanhã, mas, depois de amanhã, poderão eles evitar cair da democracia no totalitarismo?” Quando os jornalistas perguntaram, cuidadosamente, se tais declarações não poderiam ser vistas como apoio a regimes em países onde não havia nenhuma liberdade, Soljenitsin respondeu:  “Conheço apenas um lugar onde não há nenhuma liberdade, e esse lugar é a Rússia.”  Suas declarações na televisão espanhola constituíam um apoio direto ao fascismo espanhol, uma ideologia que ele defende até hoje.  Essa é uma das razões porque Soljenitsin começou a desaparecer do cenário público em seus 18 anos de exílio nos EUA e uma das razões por que ele começou a receber menos apoio total dos governos capitalistas. Para os capitalistas, foi um presente dos céus poder usar um homem como ele em sua guerra suja contra o socialismo, mas tudo tem seus limites.  Na nova Rússia capitalista, o que determina o apoio do Ocidente a  grupos políticos é, pura e simplesmente, a capacidade de se realizarem negócios altamente lucrativos com a conivência de tais grupos.   O fascismo como regime político alternativo para a Rússia não é considerado bom para os negócios.  Por essa razão, os planos políticos de Soljenitsin para a Rússia estão mortos no que diz respeito ao apoio ocidental.  O que ele deseja como futuro político para a Rússia é o retorno ao regime autoritário dos czares, de mãos dadas com a Igreja Ortodoxa Russa tradicional!  Até os imperialistas mais arrogantes não estão interessados em apoiar uma estupidez política dessa magnitude.   Para se encontrar alguém que apóie Soljenitsin no Ocidente é preciso procurar entre os idiotas da extrema direita.

Os nazistas, a polícia e os fascistas

Assim, esses são os propagandistas mais valiosos dos mitos burgueses concernentes aos milhões que supostamente morreram e foram aprisionados na União Soviética:  o nazista William Hearst, o agente secreto Robert Conquest e o fascista Alexander Soljenitsin.  Conquest desempenhou o papel principal, uma vez que suas informações foram utilizadas pelos meios de comunicação de massa capitalistas em todo o mundo e foram até mesmo a base para a criação de faculdades em certas universidades.  A obra de Conquest constitui, sem dúvida, um trabalho de desinformação política de primeira classe. Na década de 1970,  ele recebeu uma grande ajuda de Soljenitsin e de indivíduos secundários, tais como Andrei Sakarov e Roy Medvedev.    Além desses, surgiram em todo o mundo pessoas que se dedicaram a especular a respeito do número de mortos e encarcerados e que sempre foram regiamente pagas pela imprensa burguesa.  A verdade, porém, finalmente veio à tona e revelou a verdadeira face desses falsificadores da história.   As ordens de Gorbachov para a abertura dos arquivos secretos do partido à investigação histórica tiveram conseqüências que ninguém poderia ter previsto.

Os arquivos demonstram que a propaganda mente

A especulação sobre os milhões que morreram na União Soviética faz parte da guerra suja de propaganda contra a União Soviética e, por esta razão, as negativas e explicações dadas por ela jamais foram levadas a sério e nunca encontraram espaço na imprensa capitalista.  Ao contrário, foram desprezadas, enquanto aos “especialistas” comprados pelo capital se deu tanto espaço quanto necessário para espalhar suas ficções.   E que ficções!  O que os milhões de mortos e prisioneiros reivindicados por Conquest e outros “críticos” tinham em comum era o fato de serem o resultado de aproximações estatísticas falsas e de métodos de avaliação sem nenhuma base científica.



Métodos fraudulentos deram origem a milhões de mortos

Conquest, Soljenitsin, Medvedev e outros utilizaram estatísticas publicadas pela União Soviética como, por exemplo, os censos nacionais de população, aos quais eles acrescentaram um suposto aumento de população sem levar em conta a situação no país.  Dessa forma, chegaram às suas falsas conclusões sobre o número de pessoas que deveria haver no país ao fim de certo período. As pessoas que faltavam foram consideradas como mortas ou encarceradas por causa do socialismo.   O método é simples, mas também totalmente fraudulento.  Este tipo de “revelação” de eventos políticos tão importantes jamais teria sido aceito se a “revelação” em questão se referisse ao mundo ocidental.  Em tal caso, certamente, professores e historiadores teriam protestado contra tais manipulações.  Mas, como o objeto dessas manipulações era a União Soviética, elas eram aceitáveis.  Uma das razões, com certeza, seria o fato de que os professores e historiadores colocavam o seu nível profissional bem aquém de sua integridade profissional. 

Em números, quais eram as conclusões finais dos “críticos”?  Segundo Robert Conquest (numa estimativa que ele fez em 1961), 6 milhões de pessoas morreram de fome na União Soviética no início da década de 1930.  Este número, Conquest aumentou para 14 milhões em 1986.  Quanto ao que ele diz sobre os campos de trabalhos forçados do “gulag”, 5 milhões de prisioneiros neles encontravam-se detidos em 1937, antes do início dos expurgos do partido, do exército e do aparelho do estado.  Segundo ele, depois de iniciados os expurgos, durante 1937-38, teria havido mais 7 milhões de prisioneiros, perfazendo o total de 12 milhões de prisioneiros nos campos de trabalhos forçados, em 1939!  E esses 12 milhões de Conquest teriam sido apenas prisioneiros políticos!  Nos campos de trabalhos forçados, também havia criminosos comuns, que, segundo Conquest, atingiam um número bem maior  que o dos prisioneiros políticos.  Isto significa, de acordo com Conquest, que teria havido de 25 a 30 milhões de prisioneiros nos campos de trabalhos forçados da União Soviética.

Novamente, segundo Conquest, um milhão de prisioneiros políticos foram executados entre 1937 e 1939 e outros 2 milhões morreram de fome.  O cálculo final resultante dos expurgos de 1937-1939, ainda segundo ele, era então de 9 milhões, dos quais 3 milhões teriam morrido na prisão.  Tais cifras foram imediatamente por ele submetidas a um “ajuste estatístico”, de modo a permitir-lhe chegar à conclusão de que os bolcheviques haviam matado não menos que 12 milhões de prisioneiros políticos entre 1930 e 1953.  Somando essas cifras aos números de pessoas que supostamente teriam morrido de fome na década de 1930, chegou à conclusão de que os bolcheviques mataram 26 milhões de pessoas.    Em uma de suas últimas manipulações estatísticas, afirmou que, em 1950, havia 12 milhões de prisioneiros políticos na União Soviética.

Alexander Soljenitsin empregou mais ou menos os mesmos métodos estatísticos de Conquest.  Mas, ao utilizar tais métodos pseudo-científicos com base em diferentes premissas, chegou a conclusões até mais extremas.   Soljenitsin aceitava as estimativas de Conquest das 6 milhões de mortes causadas pela fome de 1932-1933.   Entretanto, no que se referia aos expurgos de 1936-39,  acreditava que, pelo menos, um milhão de pessoas morreram a cada ano.  Resumindo sua avaliação, Soljenitsin afirma que, desde a coletivização da agricultura até a morte de Stalin, em 1953, os comunistas mataram 66 milhões de pessoas na União Soviética.  Além disso, sustenta que o governo soviético foi responsável pela morte de 44 milhões de russos que, ele diz, foram mortos na Segunda Guerra Mundial.   Sua conclusão é que “110 milhões de russos morreram, vítimas do socialismo”.  No que se refere aos prisioneiros, diz que o número de pessoas nos campos de trabalhos forçados era, em 1953, de 25 milhões.


Gorbachov abre os arquivos

A coleção das cifras fantasiosas apresentadas acima, produto de forjicação extremamente bem pago, apareceu na imprensa burguesa na década de 1960, sempre apresentada como se se tratasse de fatos verdadeiros, apurados mediante a aplicação de métodos científicos.

Por trás dessas manipulações estavam os serviços secretos ocidentais, principalmente a CIA e o M-15.  O impacto dos meios de comunicação de massa sobre a opinião pública é tão grande que, até hoje, as referidas cifras são consideradas verdadeiras por grandes parcelas da população dos países ocidentais.

Esta situação vergonhosa agravou-se. Na própria União Soviética, onde Soljenitsin e outros “críticos” bem conhecidos –tais como Andrei Sakharov e Roy Medvedev– não conseguiram encontrar ninguém para apoiar suas inúmeras forjicações, uma mudança significativa ocorreu em 1990.  Na nova “imprensa livre” aberta sob Mikhail Gorbachov, tudo o que fosse contrário ao socialismo foi saudado como positivo, com resultados desastrosos.  Uma inflação especulativa sem precedentes começou a ocorrer nos números daqueles que supostamente morreram ou foram aprisionados sob o socialismo, agora tudo misturado em um só grupo de dezenas de milhões de “vítimas” dos comunistas. 

A histeria da nova imprensa livre de Gorbachov trouxe à tona as mentiras de Conquest e Soljenitsin. Ao mesmo tempo, Gorbachov abriu os arquivos do Comitê Central do Partido Comunista à pesquisa histórica, uma exigência da imprensa livre.  A abertura dos arquivos é, realmente, a questão central nessa história emaranhada, por duas razões: em parte porque nos arquivos é possível encontrar os fatos que podem lançar luz sobre a verdade; contudo, ainda mais importante é o fato de todos aqueles que especularam freneticamente sobre o número de mortos e prisioneiros na União Soviética  afirmarem, por anos a fio, que, no dia em que os arquivos fossem abertos, os números citados por eles seriam confirmados.  Cada um desses especuladores afirmava que isso ocorreria:  Conquest, Sakharov, Medvedev e todo o resto.  Entretanto, quando os arquivos foram abertos e os relatórios das pesquisas baseados nos documentos reais começaram a ser publicados, algo muito estranho aconteceu.  Repentinamente, tanto a imprensa livre de Gorbachov como os especuladores perderam, completamente, o interesse nos arquivos.

O resultado das pesquisas realizadas nos arquivos do Comitê Central pelos historiadores russos Zemskov, Dougin e Xlevnjuk, que começaram a aparecer nas revistas científicas em 1990, passou inteiramente despercebido. Os relatórios contendo o resultado dessa pesquisa histórica foram completamente contrários à corrente inflacionária relativa ao número dos que, segundo a “imprensa livre”, morreram ou foram encarcerados.  Portanto, seu conteúdo permaneceu sem divulgação.  Os relatórios foram publicados em revistas científicas de pequena circulação, praticamente desconhecidas do público em geral.  Os relatórios dos resultados da pesquisa científica dificilmente poderiam competir com a histeria da imprensa, de modo que as mentiras de Conquest e Soljenitsin continuaram a ter o apoio de muitos setores da população da ex-União Soviética.  Também no Ocidente, os relatórios dos pesquisadores russos sobre o sistema penal sob o governo de Stálin foram totalmente desconsiderados nas primeiras páginas dos jornais e nos noticiários da TV. Por quê?






O que a pesquisa russa mostra

A pesquisa sobre o sistema penal soviético é apresentada em um relatório de quase 9.000 páginas.  Os autores desse relatório são muitos, mas os mais conhecidos deles são os historiadores russos V. N. Zemskov, A.N. Dougin e O. V. Xlevjnik.  Seu trabalho começou a ser publicado em 1990 e em 1993 já estava quase concluído e publicado em quase toda sua totalidade. Os relatórios chegaram ao conhecimento do Ocidente como resultado da colaboração entre pesquisadores de diferentes países ocidentais.  Os dois trabalhos com os quais este autor está familiarizado são um que apareceu na revista francesa  L’Histoire em setembro de 1993, escrito por Nicholas Werth,  pesquisador-chefe do Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS),  e o trabalho publicado na revista norte-americana American Historical Review  por J. Arch. Getty, professor de história na Universidade da Califórnia, Riverside, em colaboração com G.T. Rettersporn, pesquisador do CNRS, e com o pesquisador russo V. N. Zemskov, do Instituto de História Russa (faz parte da Academia Russa de Ciências).  Atualmente, livros sobre o assunto apareceram, escritos pelos pesquisadores mencionados acima e por outros da mesma equipe de pesquisa.

Antes de prosseguir, desejo deixar claro, para que não venha ocorrer nenhuma confusão no futuro, que nenhum dos cientistas envolvidos nessa pesquisa tem uma visão socialista do mundo.  Ao contrário, sua visão é burguesa e anti-socialista.  Na realidade, muitos deles são bastante reacionários.  Isto é dito para que o leitor não venha imaginar que o que é apresentado a seguir é produto de alguma “conspiração comunista”.  O que se deu foi que os pesquisadores mencionados acima desmascararam integralmente as mentiras de Conquest, Soljenitsin, Medvedev e outros, o que fizeram puramente pelo fato de que colocam sua integridade profissional em primeiro lugar e não se deixam comprar para fins de propaganda.

Os resultados da pesquisa russa respondem a um número muito grande de questões sobre o sistema penal soviético.  Para nós, a era de Stálin é questão de maior interesse, e nela encontramos razões para debate.   Apresentaremos algumas questões muito específicas e buscaremos nossas respostas nas revistas  L’Histoiree American Historical Review.  Esta será a melhor maneira de trazer para o debate alguns dos aspectos mais importantes do sistema penal soviético.  As questões são as seguintes:

1.         De que consistia o sistema penal soviético?
2.         Quantos prisioneiros havia lá – tanto políticos como não-políticos?
3.         Quantas pessoas morreram nos campos de trabalhos forçados?
4.         Quantas pessoas foram condenadas à morte nos anos anteriores a 1953, especialmente        nos expurgos de 1937/38?
5.         Quão longas eram, em média, as sentenças?

Depois de responder a essas cinco questões, discutiremos as punições impostas aos dois grupos mais freqüentemente mencionados em conexão com prisioneiros e mortes na União Soviética, ou seja, os “kulaks” condenados em 1930 e os contra-revolucionários condenados em 1936-38.

Campos de trabalhos forçados no sistema penal

Comecemos com a questão da natureza do sistema penal soviético.  Depois de 1930, o sistema penal soviético compreendia prisões, campos de trabalhos forçados, as colônias de trabalho forçado do “gulag”, zonas abertas e obrigação de pagar multas.  Quem quer que fosse detido sob custódia era, geralmente, enviado a uma prisão normal, enquanto investigações eram realizadas para estabelecer se o detido era inocente (e, assim, devesse ser libertado) ou se  deveria ir a julgamento.  Uma pessoa acusada em tribunal poderia ser considerada inocente (e ser solta) ou culpada.  Se considerada culpada, poderia ser condenada a pagar uma multa, a cumprir um período de prisão ou, o que era menos comum, à morte.  A multa poderia ser uma dada percentagem de seu salário, por um dado período de tempo.  Aqueles condenados à prisão poderiam ser colocados em diferentes tipos de cadeia, dependendo do tipo de crime cometido.
Aos campos de trabalhos forçados do “gulag” eram enviados aqueles que cometessem crimes graves (homicídio, roubo, estupro, crimes econômicos etc.), bem como um grande número daqueles condenados por atividades contra-revolucionárias.  Outros criminosos condenados a mais de 3 anos de prisão também poderiam ser enviados a campos de trabalhos forçados.  Depois de passar algum tempo em um campo de trabalhos forçados, um prisioneiro poderia ser transferido para uma colônia de trabalhos forçados ou para uma zona aberta especial.

Os campos de trabalhos forçados eram áreas muito grandes onde os prisioneiros viviam e trabalhavam sob supervisão rigorosa.  Que eles trabalhassem e não constituíssem uma carga sobre a sociedade era, obviamente, necessário.   Nenhuma pessoa saudável passaria sem trabalhar.   O número de campos de trabalhos forçados existentes em 1940 era de 53. 

Havia 425 colônias de trabalhos forçados de “gulag”. Essas colônias eram unidades muito menores que os campos de trabalhos forçados, com um regime mais livre e supervisão menor.  A essas colônias eram enviados prisioneiros com sentenças menores – pessoas que haviam cometido transgressões criminosas ou políticas menos graves.  Elas trabalhavam em liberdade, em fábricas ou no campo, e faziam parte da sociedade civil.  Na maioria dos casos, o total de salários obtidos de seu trabalho nessas colônias pertenciam ao prisioneiro, que, nesse sentido, era tratado da mesma forma que qualquer outro trabalhador.

As zonas abertas especiais eram, em geral, áreas agrícolas para aqueles que haviam sido exilados, tais como os “kulaks” que haviam sido expropriados durante a coletivização.  Outras pessoas condenadas por transgressões criminosas ou políticas menores também poderiam cumprir suas penas nessas áreas. 


454.000 não são 9 milhões

A segunda questão dizia respeito a quantos prisioneiros políticos e quantos criminosos comuns havia.   Esta questão se refere àqueles presos em campos de trabalhos forçados, colônias tipo “gulag” e nas prisões (embora deva ser lembrado que nas colônias de trabalho forçado havia, na maioria dos casos, apenas perda parcial da liberdade).  A tabela apresentada em anexo seguir apresenta os dados que apareceram na revista American Historical Review, dados que abrangem o período de 20 anos, com início em 1934, quando o sistema penal estava unificado sob uma administração central, até 1953, o ano em que Stálin morreu.



Para começar, podemos comparar seus dados com aqueles apresentados por Robert Conquest.  Conquest afirma que, em 1939, havia 9 milhões de prisioneiros políticos nos campos de trabalhos forçados e que outros 3 milhões morreram no período 1937-1939.  O leitor não deve se esquecer de que Conquest está falando aqui apenas de prisioneiros políticos!  Além desses, ele diz, também havia criminosos comuns que, afirma, eram em número bem maior do que os prisioneiros políticos.  Em 1950 havia, segundo ele, 12 milhões de prisioneiros políticos!  Armados com os fatos verdadeiros, podemos, ver prontamente, como Conquest é um trapaceiro.

Nenhuma de suas cifras corresponde, mesmo que remotamente, à verdade.   Em 1939, havia um total, em todos os campos, colônias e prisões, de quase 2 milhões de prisioneiros.  Desses prisioneiros, 454.000 haviam cometido crimes políticos, e não 9 milhões, como afirma Conquest. Aqueles que morreram em campos de trabalhos forçados entre 1937 e 1939 foram 160.000, e não 3 milhões, segundo ele.  Em 1950 havia 578.000 prisioneiros políticos nos campos de trabalhos forçados, e não 12 milhões.  O leitor não deve se esquecer de que, até os dias de hoje, Robert Conquest permanece como uma das principais fontes para a propaganda da direita contra o comunismo.   Entre os pseudo-intelectuais da direita, Conquest é considerado um deus.  Quanto aos números citados por Alexander Soljenitsin – 60 milhões morreram em campos de trabalhos forçados – não há necessidade de comentários.  O absurdo de tal alegação é evidente.  Só uma mente doentia poderia promover tais juízos falsos.

Deixemos agora esses falsificadores e passemos, nós mesmos, a analisar concretamente a estatística relativa ao “gulag”.  A primeira pergunta a ser feita é como devemos encarar a quantidade não adulterada de pessoas apanhadas no sistema penal.   Qual é o significado da cifra de 2,5 milhões?  Toda pessoa que é metida na prisão constitui prova viva de que a sociedade ainda se encontra insuficientemente desenvolvida para dar a todo cidadão tudo o de que ele precisa para uma vida plena.  Desse ponto de vista, os 2,5 milhões representam, de fato, uma crítica da sociedade.

A ameaça interna e externa

O número de pessoas atingidas pelo sistema penal deve ser explicado corretamente.  A União Soviética era um país que apenas recentemente havia derrubado o feudalismo, e sua herança social em termos de direitos humanos constituía um peso para a sociedade.  Em um sistema antiquado como o czarismo, os trabalhadores estavam condenados a viver em profunda miséria e a vida humana tinha pouco valor.   O roubo e o crime violento eram punidos com violência sem restrições.  As revoltas contra a monarquia geralmente terminavam em massacres, sentenças de morte e sentenças de prisão extremamente longas.  Essas relações sociais e os hábitos espirituais a elas associados levam um longo tempo para mudar, fato que influenciou no desenvolvimento da sociedade na União Soviética e nas atitudes para com os criminosos.

Um outro fator a ser levado em conta é que a União Soviética, país que, na década de 1930, tinha entre 160 e 170 milhões de habitantes, estava seriamente ameaçada pelas potências estrangeiras.  Como resultado das grandes mudanças políticas que ocorreram na Europa na década de 1930, havia uma grande ameaça de guerra por parte da Alemanha nazista, uma ameaça à sobrevivência do povo eslavo, além do que o bloco ocidental também nutria ambições intervencionistas.  Esta situação foi resumida por Stálin em 1931 com as seguintes palavras:  “Estamos de 50 a 100 anos atrás dos países adiantados.  Temos que cobrir essa lacuna em 10 anos.  Ou fazemos isto ou seremos aniquilados”.   Dez anos mais tarde, em 22 de junho de 1941, a União Soviética foi invadida pela Alemanha nazista e seus aliados.  A sociedade soviética foi forçada a fazer grandes esforços na década de 1930-1940, quando grande parte de seus recursos foi dedicada às suas preparações de defesa para a guerra que se avizinhava contra os nazistas.  Por isso o povo trabalhava duro e produzia pouco em termos de benefícios pessoais.  A introdução da jornada de sete horas foi retirada em 1937 e, em 1939, praticamente todo domingo passou a ser dia de trabalho.  Em um período difícil como esse, com uma grande guerra ameaçando o desenvolvimento da sociedade por duas décadas (1930 e 1940), guerra que custaria à União Soviética 25 milhões de vidas, com a metade do país queimada até ficar em brasa, o crime realmente tendeu a aumentar, uma vez que o povo tentava ajudar-se a si mesmo no sentido de obter aquilo que a vida não poderia de outro modo oferecer-lhe.   Durante aqueles tempos muito difíceis, a União Soviética tinha o número máximo de 2,5 milhões de pessoas em seu sistema de prisão, isto é, 2,4% da população adulta.  Como podemos avaliar esta cifra?  Significa muito ou pouco?   Comparemos.

Mais prisioneiros nos EUA

Nos Estados Unidos da América, por exemplo, uma nação com 252 milhões de habitantes (em 1996), o país mais rico do mundo, que consome 60% dos recursos do planeta, quantas pessoas estão na prisão?   Qual a situação nos EUA, um país que não está ameaçado por nenhuma guerra e onde não estão ocorrendo quaisquer mudanças sociais profundas que afetem a estabilidade econômica?

Uma notícia apareceu nos jornais de agosto de 1997, em que a agência de notícias FLT-AP informava que nos EUA jamais houve tantas pessoas nas prisões como em 1996 – um total de 5,5 milhões.  Isso representava um aumento de 200.000 pessoas desde 1995 e significava que o número de criminosos nos EUA equivalia a 2,8% da população adulta.  Esses dados encontram-se disponíveis a todos aqueles que fazem parte do Departamento de Justiça norte-americano.  O número de condenados nos EUA, atualmente, é 3 milhões mais elevado do que o número máximo que já houve na União Soviética!  Na União Soviética havia um máximo de 2,4% da população adulta na prisão por seus crimes – e nos EUA a cifra é de 2,8% e está em ascensão!  De acordo com um comunicado à imprensa divulgado pelo Departamento de Justiça dos EUA em 18 de janeiro de 1998, o número de condenados nos EUA em 1997 aumentou em 96.000.

No que diz respeito aos campos de trabalhos forçados soviéticos, é verdade que o regime era duro e difícil para os prisioneiros, mas qual é a situação atual nas prisões dos EUA, que estão cheias de violência, drogas, prostituição, escravidão sexual (nelas são registrados 290.000 estupros por ano).  Ninguém se sente seguro nas prisões norte-americanas!  E isso hoje, e numa sociedade tão rica como jamais o foi antes!

Um fator importante: a falta de remédios

Passemos agora a responder à terceira questão.  Quantos morreram nos campos de trabalhos forçados?    O número variou de ano para ano, de 5,2% em 1934 a 0,3% em 1953.  As mortes nesses campos eram causadas pela falta de recursos na sociedade como um todo e, em particular,  de remédios necessários para combater as epidemias.  Esse problema não estava confinado aos campos de trabalhos forçados, mas se encontrava presente em toda a sociedade, bem como na grande maioria dos países do mundo.  Assim que os antibióticos foram descobertos, ganhando uso geral depois da Segunda Guerra Mundial, a situação mudou radicalmente.  Na realidade, os piores anos foram os anos de guerra, quando os bárbaros nazistas impuseram condições de vida muito severas a todos os cidadãos soviéticos.  Durante aqueles quatro anos, mais de meio milhão de pessoas morreram nos campos de trabalhos forçados – metade do número total que morreu em todo o período de 20 anos em questão.   Não nos esqueçamos de que naquele mesmo período, os anos de guerra, 25 milhões de pessoas morreram entre aqueles que estavam livres.  Em 1950, quando as condições na União Soviética haviam melhorado e os antibióticos haviam sido introduzidos, o número de pessoas que morreram na prisão caiu para 0,3%. 


Entretanto, os documentos que agora estão emergindo dos arquivos soviéticos contam uma história diferente.  É necessário mencionar aqui, para começar, que os números daqueles condenados à morte tiveram que ser juntados aos poucos, de diferentes arquivos, e que os pesquisadores, a fim de chegar a uma cifra aproximada, tiveram que coletar dados desses diversos arquivos de uma forma que dá origem ao risco de contagem dupla e, assim, ao risco de produzir estimativas mais elevadas do que a realidade.  Segundo Dimitri Volkogonov,  designado por Boris Yeltsin como responsável pelos velhos arquivos soviéticos, houve 30.514 pessoas condenadas à morte pelos tribunais militares entre 1o  de outubro de 1936 e 30 de setembro de 1938.  Uma outra informação vem da KGB: de acordo com informações fornecidas à imprensa em fevereiro de 1990, houve 786.098 condenados à morte por crimes contra a revolução durante os 23 anos entre 1930 a 1953.  Daqueles condenados, segundo a KGB, 681.692 receberam suas penas entre 1937 e 1938.  Não é possível verificar as cifras da KGB, mas essa última informação está aberta à dúvida.   Seria muito estranho que um número tão grande de pessoas tivesse sido condenado em apenas dois anos.  É possível que a KGB pró-capitalismo dos tempos atuais nos desse informações corretas da KGB pró-socialismo?  Seja como for, falta verificar se as estatísticas que servem de base às informações da KGB compreendem, entre aqueles supostamente condenados à morte durante os 23 anos em questão, os criminosos comuns, bem como os contra-revolucionários, e não apenas os contra-revolucionários como a KGB pró-capitalismo alegou em um comunicado à imprensa de fevereiro de 1990.  Os arquivos também tendem à conclusão de que o número de criminosos comuns e o número de contra-revolucionários condenados à morte eram aproximadamente os mesmos. 

A conclusão que podemos tirar disso é que o número dos condenados à morte em 1937-38 era de quase 100.000, e não vários milhões, conforme sustentado pela propaganda ocidental.

Também é necessário ter em mente que nem todos os condenados à morte na União Soviética foram realmente executados. Muitas sentenças de morte eram comutadas para sentenças de encarceramento em campos de trabalhos forçados. Também é importante distinguir entre criminosos comuns e contra-revolucionários.  Muitos dos condenados à morte haviam cometido crimes violentos, tais como assassinato ou estupro.  Sessenta anos atrás, esse tipo de crime era castigado com a morte em um grande número de países.

Questão 5:  Que duração tinham, em média, as penas?  A duração das penas de prisão tem sido objeto dos boatos mais vis na propaganda ocidental.  A insinuação mais comum é que ser um condenado na União Soviética significava passar anos sem fim na prisão – quem quer que entrasse jamais saía.  Isso é totalmente falso.  A grande maioria dos que iam para a prisão na época de Stálin eram, na realidade, condenados a um período de cinco anos, no máximo.

As estatísticas reproduzidas na American Historical Review  mostram os fatos reais.  Os criminosos comuns na Federação Russa em 1936 receberam as seguintes sentenças:  até 5 anos, 82,4%;  entre 5 e 10 anos,  17,6%.   Dez anos era a sentença de prisão máxima possível antes de 1937.  Os prisioneiros políticos condenados nos tribunais civis da União Soviética em 1936 receberam as seguintes sentenças:  até 5 anos,  44,2%;  entre 5 e 10 anos,  50,7%.  Quanto àqueles condenados aos campos de trabalhos forçados do “gulag”, onde as sentenças mais longas eram cumpridas, a estatística de 1940 mostra que aqueles que cumpriram até 5 anos de prisão representavam 56,8% e aqueles cumpriram entre 5 e 10 anos, 42,2%. Somente 1% foi condenado a mais de 10 anos.

Para 1939, temos as estatísticas produzidas pelos tribunais soviéticos.  A distribuição das sentenças de prisão é a seguinte:  até 5 anos,  95,9%;  de 5 a 10 anos,  4%;  acima de 10 anos,  0,1%.

Como se pode ver, a suposta eternidade das sentenças de prisão na União Soviética constitui um outro mito espalhado no ocidente para combater o socialismo. 





As mentiras sobre a União Soviética
(Uma breve discussão a respeito dos relatórios da pesquisa)

A pesquisa conduzida pelos historiadores russos mostra uma realidade totalmente diferente daquela ensinada nas escolas e universidades do mundo capitalista nos últimos 50 anos.  Durante esse meio século de guerra fria, várias gerações aprenderam apenas mentiras sobre a União Soviética, mentiras que deixaram uma profunda impressão em muita gente.  Este fato também é evidenciado nos relatórios feitos a partir das pesquisas francesas e norte-americanas.  Nesses relatórios são reproduzidos dados, cifras e tabelas que enumeram as pessoas que foram condenadas e aquelas que morreram, cifras que são objeto de intensa discussão.  No entanto a coisa mais importante a se observar é que os crimes cometidos pelo que foram condenados jamais são alvo de qualquer interesse.  A propaganda política capitalista sempre apresentou os prisioneiros soviéticos como vítimas inocentes e os pesquisadores aceitaram essa suposição sem questioná-la.  Quando os pesquisadores passam de suas colunas de estatística para seus comentários sobre os eventos, sua ideologia burguesa aflora – algumas vezes com resultados macabros. Os condenados sob o sistema penal soviético são tratados como vítimas inocentes, mas o fato fundamental é que a maioria deles era constituída de ladrões, assassinos, estupradores etc.  Criminosos desse tipo jamais seriam considerados vítimas inocentes pela imprensa se seus crimes fossem cometidos na Europa ou nos Estados Unidos.  Mas como foram praticados na União Soviética, a avaliação é diferente.  Chamar  de inocente um assassino ou uma pessoa que estuprou mais de uma vez é jogar um jogo muito sujo.  É preciso mostrar, pelo menos, algum senso comum ao se comentar sobre a justiça soviética, pelo menos em relação aos criminosos condenados por crimes violentos e à propriedade de se condenarem pessoas que cometeram crime desse tipo.

Os “kulaks” e a contra-revolução

No caso dos contra-revolucionários, também é necessário considerar os crimes dos quais eles foram acusados.  Eis dois exemplos para mostrar a importância dessa questão: o primeiro exemplo diz respeito aos “kulaks” condenados no início da década de 1930 e o segundo se refere aos contra-revolucionários condenados entre 1936 e 1938.

Segundo os relatórios da pesquisa, no que diz respeito aos “kulaks”, os camponeses ricos, havia 381.000 famílias, isto é, 1,8 milhão de pessoas enviadas ao exílio.  Um pequeno número dessas pessoas foi condenado a cumprir sentenças em campos ou colônias de trabalhos forçados.   Mas o que deu origem a essas punições?

Os camponeses russos ricos, os “kulaks”, haviam submetido os camponeses pobres, por centenas de anos, a uma opressão e exploração sem limites.  Dos 120 milhões de camponeses em 1927, os 10 milhões de “kulaks” viviam em meio ao luxo enquanto os restantes 110 milhões viviam na miséria.  Antes da revolução, esses últimos tinham vivido na mais abjeta pobreza.  Os “kulaks” obtinham sua opulência pagando mal pelo trabalho dos camponeses pobres e, quando estes começaram a se agrupar em fazendas coletivas, sua principal fonte de riqueza desapareceu.  Mas os “kulaks” não desistiram, e tentaram restaurar a exploração através da fome.  Grupos de “kulaks” armados atacavam as fazendas coletivas, matavam os camponeses pobres e trabalhadores do partido, ateavam fogo aos campos e matavam os animais de trabalho.  Provocando a fome entre os pobres, os “kulaks” procuravam garantir a perpetuação da pobreza e suas próprias posições de poder.  Os eventos que se seguiram não foram aqueles esperados por aqueles assassinos: agora, os camponeses pobres tinham o apoio da revolução e provaram ser mais fortes do que os “kulaks”, que foram derrotados, aprisionados e enviados ao exílio ou condenados a cumprir pena em campos de trabalhos forçados.

Dos 10 milhões de “kulaks”, 1,8 milhão foi exilado ou condenado.  Pode ter havido injustiças perpetradas no curso dessa luta de classes colossal no campo soviético, uma luta envolvendo 120 milhões de habitantes.  Mas podemos culpar os pobres e oprimidos, em sua luta por uma vida que merecesse ser vivida, em sua luta para garantir que seus filhos não morressem de fome ou crescessem analfabetos, por não serem suficientemente “civilizados” ou por não mostrarem clemência em seus tribunais?  Poderia alguém acusar pessoas que, por centenas de anos, não tiveram nenhum acesso aos progressos feitos pela civilização, por não serem civilizados?  E, digam-nos, quando é que o explorador "kulak" foi civilizado ou clemente em suas relações com os camponeses pobres durante anos e anos de exploração sem fim?

Os expurgos de 1937

Nosso segundo exemplo, relativo aos contra-revolucionários condenados nos julgamentos de 1936-38 que se seguiram aos expurgos do partido, do exército e do aparelho do estado, tem suas raízes na história do movimento revolucionário na Rússia.  Milhões de pessoas participaram da luta vitoriosa contra o czar e a burguesia russa, e muitos entraram para o Partido Comunista Russo.  Entre  esses havia, infelizmente, alguns que entraram para o partido por razões que não eram a luta pelo proletariado  e pelo socialismo.   Mas a luta de classes era tal que, com freqüência, não havia tempo nem oportunidade para testar os novos militantes do partido.  Até mesmo militantes de outros partidos que se diziam socialistas e haviam lutado contra o partido bolchevique foram admitidos no Partido Comunista.  A alguns desses novos ativistas foram entregues cargos importantes no Partido Bolchevique, no estado e nas forças armadas, dependendo de sua capacidade individual para conduzir a luta de classes.  Foram tempos muito difíceis para o jovem estado soviético, e a grande falta de quadros – ou mesmo de pessoas que pudessem ler – forçou o partido a fazer poucas exigências quanto à qualidade dos novos ativistas e quadros.  Por causa desses problemas surgiu, com o tempo, uma contradição que fendeu o partido em dois campos – de um lado, aqueles que pressionavam para que a luta avançasse no sentido de construir uma sociedade socialista e, do outro, aqueles que pensavam que as condições ainda não estavam maduras para a construção do socialismo e que promoviam a social-democracia.  A origem dessas idéias está em Trotski, que havia entrado para o partido em julho de 1917.  Trotski conseguiu, com o tempo, assegurar o apoio de alguns dos bolcheviques mais conhecidos.  Essa oposição unificada contra o plano bolchevique original proporcionou uma das opções políticas que foi objeto de uma votação em 27 de dezembro de 1927.  Antes de essa votação ser realizada, um grande debate se desenrolou por muitos anos e seu resultado em ninguém deixou alguma dúvida: dos 725.000 votos apurados, a oposição obteve 6.000, isto é, a oposição unificada era apoiada por menos de 1% dos ativistas do partido.

Como conseqüência da referida votação e quando a oposição começou a trabalhar por uma política contrária àquela do partido, o Comitê Central do Partido Comunista decidiu expulsar do partido os principais líderes da oposição unificada.  A figura central da oposição, Trotski, foi expulso da União Soviética.  Mas a história dessa oposição não terminou ali.  Mais tarde, Zinoviev, Kamenev e Zvdokine, bem como vários trotskistas importantes, tais como Pyatakov, Radek, Preobrazhinsky e Smirnov  fizeram sua autocrítica.  Todos eles foram novamente aceitos no partido como ativistas e assumiram, mais uma vez, seus cargos no partido e no estado.  No decorrer do tempo, tornou-se claro que a autocrítica feita pela oposição não tinha sido genuína, uma vez que os líderes oposicionistas se uniam do lado da contra-revolução toda vez que a luta de classes se acentuava na União Soviética.  A maioria dos oposicionistas foi expulsa e readmitida outras vezes antes que a situação se aclarasse completamente em 1937-38.




Sabotagem industrial

O assassinato, em dezembro de 1934, de Kirov, presidente do partido de Leningrado e uma das pessoas mais importantes do Comitê Central, deu origem à investigação que levaria à descoberta de uma organização secreta engajada na preparação de uma conspiração para assumir a liderança do partido e do governo do país por meios violentos.  Os conspiradores, que haviam perdido a luta política em 1927, esperavam agora ganhá-la por meio da violência organizada contra o estado.  Suas armas principais eram a sabotagem industrial, o terrorismo e a corrupção.  Trotski, a principal inspiração da oposição, dirigia suas atividades do exterior.  A sabotagem industrial causou prejuízos terríveis ao estado soviético. Por exemplo, máquinas importantes foram danificadas sem possibilidade de reparo e houve uma enorme queda de produção nas minas e fábricas. 

Quem, em 1934, descreveu o problema foi o engenheiro norte-americano John Littlepage, um dos especialistas estrangeiros contratados para trabalhar na União Soviética. Littlepage passou 10 anos trabalhando na indústria de mineração soviética – de 1927 a 1937, principalmente em minas de ouro.   Em seu livro  In Search of Soviet Gold  (Em Busca do Ouro Soviético), ele escreve:

“Nunca tive nenhum interesse nas sutilezas das manobras políticas na Rússia, na medida em que podia evitá-las;  mas  tinha que estudar o que estava acontecendo na indústria soviética a fim de fazer o meu trabalho.  E estou firmemente convencido de que Stálin e seus colaboradores levaram um longo tempo para descobrir que os comunistas revolucionários descontentes eram seus piores inimigos”.

Littlepage também escreveu que sua experiência pessoal confirmou a declaração oficial de que a grande conspiração dirigida do exterior estava empregando uma intensa sabotagem industrial como parte de seus planos para forçar o governo a cair.  Em 1931, ele já tinha se sentido obrigado a registrar isso, enquanto trabalhava nas minas de cobre e bronze nos Urais e no Cazaquistão.  As minas eram parte de um grande complexo de cobre e bronze sob a direção geral de Pyatakov, o vice-comissário do povo para a indústria pesada.  As minas estavam em um estado catastrófico em termos de produção e bem-estar de seus trabalhadores.  Littlepage chegou à conclusão de que estava em curso uma sabotagem organizada, que vinha da administração superior do complexo de cobre e bronze.

O livro de Littlepage também nos diz de onde a oposição trotskista recebia o dinheiro necessário para pagar por essa atividade contra-revolucionária.  Muitos membros da oposição secreta utilizaram seus cargos para aprovar a compra de máquinas de certas fábricas no exterior.  Os produtos aprovados eram de qualidade muito inferior à qualidade dos produtos pelos quais o governo soviético havia realmente pago.  Os produtores estrangeiros davam à organização de Trotski o excedente de tais transações e, como resultado disso, ele e seus co-conspiradores na União Soviética continuavam a fazer encomendas junto a esses fabricantes.

Roubo e corrupção

Este procedimento foi observado por Littlepage em Berlim, na primavera de 1931, ao comprar elevadores industriais para minas.  A delegação soviética era chefiada por Pyatakov, com Littlepage como o especialista encarregado de verificar a qualidade dos elevadores e da aprovação da compra.  Littlepage descobriu uma fraude envolvendo elevadores de baixa qualidade, inúteis para as finalidades soviéticas, mas, quando informou Pyatakov e os outros membros da delegação soviética sobre esse fato, eles reagiram com frieza, como se quisessem desconsiderá-lo, e insistiram para que ele aprovasse a compra dos elevadores.  Littlepage não queria fazer isso.  Na ocasião, pensou que o que estava acontecendo envolvia corrupção pessoal e que os membros da delegação haviam sido subornados pelos fabricantes dos elevadores.  Mas, depois que Pyatakov, no julgamento de 1937, confessou suas ligações com a oposição trotskista, Littlepage chegou à conclusão de que o que ele havia testemunhado em Berlim era muito mais do que corrupção em nível pessoal.  O dinheiro envolvido era destinado a pagar pelas atividades da oposição secreta na União Soviética, atividades que compreendiam sabotagem, terrorismo, suborno e propaganda. 

Zinoviev, Kamenev, Pyatakov, Radek, Tomsky, Bukharin e outros, muito amados pela imprensa burguesa, usavam os postos recebidos do povo soviético e do partido para roubar dinheiro do estado a fim de permitir que os inimigos do socialismo o utilizassem para fins de sabotagem e em sua luta contra a sociedade socialista na União Soviética.


Planos para um golpe

Roubo, sabotagem e corrupção são crimes graves em si mesmos, mas as atividades da oposição foram mais além.  Uma conspiração contra-revolucionária estava sendo preparada visando à tomada do poder de estado por meio de um golpe no qual toda a liderança soviética seria eliminada, começando com o assassinato dos membros mais importantes do Comitê Central do Partido Comunista.   As ações militares do golpe seriam realizadas por um grupo de generais chefiados pelo marechal Tukachevski.

Segundo Isaac Deutscher (ele próprio trotskista), que escreveu vários livros contra Stálin e a União Soviética, o golpe devia ser iniciado por uma operação militar contra o Kremlin e as tropas mais importantes nas grandes cidades, tais como Moscou e Leningrado.  A conspiração era, de acordo com Deutscher, liderada por Tukachevski, juntamente com Gamarnik,  chefe do Comissariado Político do Exército, o general Yakir, o comandante de Leningrado,  general Uborevich, o comandante da Academia Militar de Moscou, e o general Primakov, comandante da Cavalaria.

O marechal Tukachevski tinha sido oficial no antigo exército czarista e, depois da revolução, passou para o Exército Vermelho.  Em 1930, quase 10% dos oficiais (perto de 4.500) eram ex-oficiais czaristas.  Muitos deles jamais abandonaram sua ideologia burguesa e estavam só esperando uma oportunidade para lutar por ela.  Essa oportunidade surgiu quando a oposição começou a preparar o seu golpe.

Os bolcheviques eram fortes, mas os conspiradores civis e militares não mediam esforços para reunir amigos poderosos a seu favor.  De acordo com a confissão de Bukharin, em seu julgamento público em 1938, um acordo foi feito entre a oposição trotskista e a Alemanha nazista, segundo o qual grandes territórios, inclusive a Ucrânia, seriam cedidos aos nazistas em seguida ao golpe contra-revolucionário na União Soviética.  Esse era o preço exigido pela Alemanha por sua promessa de apoio aos contra-revolucionários.  Bukharin tinha sido informado sobre esse acordo por Radek, que havia recebido uma ordem de Trotski nesse sentido.  Todos esses conspiradores, que haviam sido escolhidos para altos cargos para liderar, administrar e defender a sociedade socialista, estavam, na realidade, trabalhando para destruir o socialismo.  Acima de tudo, é necessário lembrar que tudo isso estava acontecendo na década de 1930, quando o perigo nazista crescia sempre e os exércitos nazistas estavam incendiando a Europa e se preparando para invadir a União Soviética.

Os conspiradores foram condenados à morte como traidores, após um julgamento público.  Aqueles julgados culpados de sabotagem, terrorismo, corrupção, tentativa de assassinato e que haviam desejado ceder parte do país aos nazistas não podiam esperar outra coisa.  Chamá-los de vítimas inocentes constitui um erro completo.


Mais inúmeras mentiras

É interessante ver como a propaganda ocidental, através de Robert Conquest, tem mentido a respeito dos expurgos do Exército Vermelho.  Conquest diz, em seu livro The Great Terror (O Grande Terror), que em 1937 havia 70.000 oficiais e comissários políticos no Exército Vermelho e que 50% deles (isto é, 15.000 oficiais e 20.000 comissários) foram presos pela polícia política e foram ou executados ou condenados à prisão perpétua nos campos de trabalhos forçados.  Nessa alegação de Conquest, como em todo o seu livro, não há uma palavra de verdade.  O historiador Roger Reese, em seu livro The Red Army and the Great Purges (O Exército Vermelho e os Grandes Expurgos) expõe os fatos que mostram o real significado dos expurgos de 1937-38.  O número de pessoas na liderança do Exército Vermelho e força aérea, isto é, oficiais e comissários políticos, era de 144.300 em 1937, tendo aumentado para 282.300 até 1939.  Durante os expurgos de 1937-38, 34.300 oficiais e comissários políticos foram expulsos por razões políticas.  Entretanto, até maio de 1940, 11.596 já haviam sido reabilitados e reconduzidos a seus postos.  Isto significa que, durante aqueles expurgos, 22.705 oficiais e comissários políticos foram demitidos (cerca de 13.000 oficiais do exército, 4.700 oficiais da força aérea e 5.000 comissários políticos), o que representa 7,7% de todos os oficiais e comissários – e não 50%, como alega Conquest.  Desses 7,7%, alguns foram condenados como traidores, mas, em sua grande maioria, pelo que se depreende do material histórico disponível, simplesmente retornaram à vida civil.

Uma última questão.  Os julgamentos de 1937-38 foram justos com os acusados?  Examinemos, por exemplo, o julgamento de Bukharin, o mais alto funcionário do partido, que trabalhava para a oposição secreta.  De acordo com o embaixador norte-americano em Moscou na época,  um advogado de renome chamado Joseph Davies, que assistiu a todo o julgamento, Bukharin teve permissão para falar livremente durante todo o julgamento e expor seu caso sem nenhum tipo de impedimento.  Joseph Davies escreveu a Washington relatando que, durante o julgamento, ficou provado que os réus eram culpados dos crimes de que eram acusados e que a opinião geral entre os diplomatas que assistiam ao processo era que a existência de uma conspiração muito grave havia sido provada.


Aprendamos com a história

A discussão do sistema penal soviético durante a época de Stálin, sobre o qual milhares de artigos e livros mentirosos foram escritos e centenas de filmes foram feitos transmitindo falsas impressões, leva a lições importantes.  Os fatos provam, novamente, que são falsos os artigos e reportagens publicados na imprensa burguesa a respeito do socialismo.  A direita pode, por intermédio da imprensa, rádio e TV, que ela domina, causar confusão, distorcer a verdade e levar muitas pessoas a acreditar nas mentiras.  Isso é particularmente verdadeiro quanto se trata de questões históricas.  Quaisquer novas matérias jornalísticas apresentadas pela direita devem ser consideradas falsas até que o contrário seja provado.  Essa abordagem cautelosa é justificada.  O fato é que, mesmo sabendo a respeito dos relatórios da pesquisa histórica russa, a direita continua a reproduzir as mentiras ensinadas nos últimos 50 anos, embora tais mentiras tenham sido completamente desmascaradas.  A direita continua com sua herança histórica:  uma mentira repetida muitas vezes acaba sendo aceita como verdade.  Após os relatórios da pesquisa histórica russa terem sido publicados no Ocidente, alguns livros começaram a aparecer em diferentes países com o único propósito de chamar a atenção sobre a pesquisa e permitir que velhas mentiras sejam apresentadas ao público como novas verdades.  Esses livros são bem apresentados e recheados, de capa a capa, de mentiras sobre o comunismo e o socialismo.

As mentiras da direita são repetidas a fim de combater os comunistas atuais.  São repetidas de modo que os trabalhadores não encontrem nenhuma alternativa ao capitalismo e ao neoliberalismo.  Fazem parte da guerra suja contra os comunistas, os quais são os únicos que têm uma alternativa a oferecer para o futuro, isto é, a sociedade socialista.  Esta é a razão para o aparecimento de todos esses novos livros contendo velhas mentiras.

Tudo isso propõe uma obrigação a todo aquele que tenha uma visão socialista da história: devemos assumir a responsabilidade de trabalhar para transformar os jornais comunistas em autênticos jornais das classes trabalhadoras, a fim de combater as mentiras burguesas!  Esta é, sem dúvida, uma importante missão na atual luta de classes, que, no futuro próximo, irromperá novamente com força renovada.


(Extraído da revista North Star Compass– 280 Queen St. W., Toronto, Ontário, Canadá, M5V 2A1
Publicado pela Comissão Organizadora para o Conselho Internacional de Amizade e Solidariedade com o Povo Soviético de junho de 1998)

FONTE: http://pcrbrasil.org/mentiras-relativas-a-urss/

O SEXO E A FILOSOFIA: EM VIDEOS COM FILÓSOFOS...

$
0
0


O programa "O Mito do Sexo" recebe a filósofa Márcia Tiburi para falar de como o sexo acabou por se tornar um mito moderno. Segundo Michael Foucault, o sexo converteu-se na nossa própria essência. A própria filosofia ainda não investigou a fundo esse mito, pois ela mesma sofre das diferenças entre os gêneros. Tiburi aborda os principais momentos da história da filosofia e mostra que em sua quase totalidade discutir ideias foi atividade masculina. Isso só foi quebrado com Freud e a psicanálise, que passou a ouvir a voz das mulheres. Daí descobriu-se um novo gênero de pensar: o dizer o que não podia ser dito. Márcia Tiburi: filósofa e escritora, pesquisadora de questões de filosofia associadas a mulheres e psicanálise, ética e estética. O programa Café Filosófico é uma produção da TV Cultura em parceria com a CPFL Energia

O programa enfoca uma questão fundamental em nossa natureza, que ocupa os que estudaram a psique, a partir de Freud, passando por Jacques Lacan e Maud Mannoni:
“O que é o desejo?”. Capellato trata o ser humano como um ser de anseios, pois é da nossa natureza buscar sempre um objeto que preencha uma ausência primordial. Mas quando este objeto é conquistado, o desejo perde o significado. E, assim, seguimos como o rei Sísifo na mitologia, condenado a empurrar uma pedra para o alto de uma montanha, para vê-la descer tão logo chegue lá e, então, começar a tarefa mais uma vez.

O SUICÍDIO DE UM GRANDE AMIGO

$
0
0

Por David da Costa Coelho

Recebi hoje a noticia de que um amigo de longa data havia cometido [1]suicídio. Pode parecer premonição, mas tempos atrás escrevi um texto sobre esse tema, abordando não só as diversas formas, como também as linhas de pensamento históricas, sociais, culturais e religiosas que justificam tal coisa, bem como as criticam; dentro de cada contexto. Analisei sua vida, suas realizações familiares, religiosas e também de trabalho, na intenção de entender seus motivos. Tecnicamente ele era uma pessoa feliz e realizada, tinha só um filho, cursando direito na UFF, esposa enfermeira e bonita aos 42 anos, ele com 49 e policial civil, quase em vias de se aposentar, uma situação econômica e profissional estável; Sem nada que pudesse levar a essa decisão conflitante.
 No entanto, foi o que ocorreu, mas não com sua pistola do serviço, acredito que mesmo se matando, não queria que a esposa e filho vissem seu rosto destruído, foi com remédios, se entupiu de um determinado comprimido que obteve de alguma forma, teve uma parada cardíaca sozinho em casa, a esposa o encontrou no chão, o frasco de remédio tarja preta estava no banheiro, completamente vazio. Como enfermeira, ela conhecia o poder daqueles comprimidos, e sabia que o marido não tinha receita para aquilo e nem usava tal coisa, o único remédio que ele tomava era um sonífero devido aos longos anos de plantão louco na policia. Quando estava em casa, às vezes não conseguia dormir e fazia uso deles para uma noite de sono, geralmente quando a mulher estava em plantão no hospital e ficava só em sua residência.
A esposa e ele eram católicos, casaram numa igreja de Niterói, bem antiga e famosa, mas acredito que ele fez isso mais pelo amor que tinha a esposa, pois nas muitas vezes que conversamos ao longo de anos, creio que via a religião um pouco diferente dela. Talvez por força de sua profissão e os inúmeros crimes que presenciou em suas diligencias na policia civil. Quanto mais me pergunto seus motivos, mais obscuros eles se tornam. Talvez a resposta esteja na [2]zona de conforto humana, aquela sensação que temos de que realizamos tudo que devíamos, não faltando desafios que nos estimule a continuar vivendo o personagem desta encarnação. Muitas vezes me senti nessa mesma zona, mas o fato de escrever, dar aulas, ser terapeuta reencarnacionista, ter inúmeras rotinas durante toda semana, me coloca em situações pelas quais eu necessite do oposto, me isolar numa ilha deserta por uns dias para ter sossego...
Nesta teria da zona do conforto, muito usada em países escandinavos, com altas taxas de suicídio, tendo em vista o alto padrão intelectual e financeiro de seu povo, uma sociedade praticamente igualitária, as pessoas se matam porque não há desafios em suas vidas, ou são incapazes de fazer isso, indo à busca das mudanças que os estimule a continuar vivendo. Contudo, novos dados apontam para outro provável culpado, ou seja, o sol. Descobriu-se que o suicídio é comum em países que tenham invernos longos e rigorosos, já que o sol é um importante antidepressivo natural, produz também a vitamina D em nosso corpo, além disso, estimulando a produção de serotonina, hormônio de bem estar, em sua ausência, o cérebro ficaria mais depressivo e as pessoas podem cometer tal ato final.
No caso de meu amigo, creio numa conjunção de fatores, mas principalmente acredito que sua vida era certinha demais. Trabalho, família, filho independente, uma esposa carinhosa e fiel, e ele alguém que jamais pulou a cerca – falamos sobre isso muitas vezes e ele era franco nesse assunto – os homens, diferentes das mulheres, salvo raras exceções femininas - não nasceram para aceitar uma vida cômoda e perfeita, temos o espirito ancestral de caçador em nós. Precisamos de desafios, conflitos e brigas. Um dos motivos de apreciarmos jogos e lutas se encontra nessa fase bárbara que extravasamos em torcer e gritar por esses instantes mágicos que nos afastam da mesmice diária. No passado, morrer em batalha ou briga por honra era o que nos motiva, hoje, temos como destino praticamente certo uma velhice longa, nos sentido vazios, inúteis. Meu amigo, em sua ânsia por questões que não puderam ser ditas a ninguém, decidiu terminar seus dias aqui na terra antes dessa hora chegar...
Não cabe a nós julgar ou criticar sua atitude, sei que sua família esta passando por maus momentos nessa hora, e sua esposa e filho, auxiliados por outros amigos e parentes, com certeza estão buscando em seus credos a resposta a tal coisa, inclusive temendo por sua alma, já que suicidas, segundo a liturgia católica estão condenados e nem se quer podem ser enterrados em solo sagrado cristão. Para sorte dele, tal coisa não será necessária, pois tinha um plano funerário, com o crematório sendo sua escolha de descanso eterno. A morte, nesse sentido, é uma libertação porque ele esta além desses lamentos religiosos e criticas de para aonde vai seu espirito. Ele, ao tomar os remédios, não se preocupou com os locais terríveis que as inúmeras religiões criaram para quem tira sua própria vida, acho que no final ele via a religião como mais uma desculpa para quem tem medo do ato extremo.
Como seu amigo, eu deveria estar triste por ele ter feito isso,mas não estou me sentindo nem um pouco dessa forma porque acredito em algo diferente. Sou mais um neste planeta que tem uma religião e aceita seus dogmas. No caso da minha, ele ira reencarnar em novo corpo para cumprir o tempo que lhe restava na terra. Como tal, sei que a vida aqui é apenas um instante, e tudo que vivemos, amamos e perdemos, diante de um tempo infinitamente grande, com outros corpos que viveremos não me permite tal lamuria.  Aceitar as perdas é antes de tudo um ato de libertação de nós mesmos, diante de um passado sem volta que não permite mudanças. No meu entender reencarnacionista, ficar em lamurias, luto eterno e chorando a todo instante, reflete em nós a necessidade de manter um vinculo que não tem mais sentido algum.
Eu agradeço os bons e eternos instantes que desfrutamos, as longas conversas que tivemos sobre rotina policial, e as inúmeras vezes que me atendeu e tirou duvidas quando estava escrevendo Carrascos sem Distintivos; livro sobre uma equipe especial de policiais militares corruptos, e um delegado de policia civil, que espero um dia virar filme. De certa forma ele não morreu porque suas palavras auxiliaram na composição dos diversos personagens, assim como outro amigo policial militar, que auxiliou nas rotinas dos policiais de quartel. No final é isso o que a vida é, um filme com prazo para terminar, sendo que alguns definem a hora e lugar.
Só posso te desejar uma coisa, que vá em paz, sem que nenhuma reprimenda venha de mim, respeito o que fez, porque tirar a própria vida é um ato interpretado diferentemente em várias culturas. Se a nossa enxerga de forma oposta, apenas questão de geografia não mudará o que me contribuiu em vida, no sentido da amizade e experiência. Sei também que nós nos reencontraremos em alguma das reencarnações que me esperam, mas se isso também não ocorrer, valeu cada segundo que convivemos, até a próxima querido amigo...  




[1] Pra finalizar, eu não poderia deixar de citar uma serie dos anos 1980, onde não havia recursos para manter o ultimo bastião da civilização em meio aos escombros da 3ª Guerra Mundial. Ali as pessoas viviam de forma intensa até os 30 anos, aos 31 eram levados para maquinas de extermínio... Em um dos episódios maravilhosos de Jornada nas Estrelas Nova Geração, encontraram uma civilização extremamente avançada e com um conceito de vida completamente diferente da humanidade, ao chegarem a idade de 60 anos, mesmo tendo tecnologia para viver milhares de anos, entravam em câmaras de extermínio pelo simples fato de estimular seus jovens a não se tolherem de nada enquanto não fosse a hora deles morrerem aos 60 anos, em seu aniversario, e comemorados por todos... Num certo sentido, diferente daquele povo da ficção, dos esquimós, aborígenes, e até dos suicidas, nos somos os verdadeiros seres que se matam, porque mantemos vidas sem ousadia, tememos decisões por motivos diversos, e ao final vimemos de elogiar ou criticar quem fez escolhas diferentes das nossas, mesmo em relação a exterminar sua própria vida.
http://oportaldoinfinito.blogspot.com.br/2013/01/as-razoes-emocionais-do-suicidio.html

[2] A zona de conforto é o conceito base de qualquer aprendizagem, evolução ou transformação. A zona de conforto define-se por tudo aquilo que estamos acostumados a fazer, pensar ou sentir. É o habitual e conhecido para nós próprios. Incluí experiências positivas e negativas, comportamentos construtivos e destrutivos. Se quisermos aprender ou mudar qualquer coisa, necessitamos de sair do conhecido e aventurarmo-nos no desconhecido. Isto comporta um risco: todavia não sabemos o que se passará ou se seremos capazes de controlar a situação. Por isso a tendência natural é refugiarmo-nos naquilo que controlamos, a nossa experiência até à data, que assim se converte, por sua vez, no nosso refúgio e limitação. De fato, quanto mais experiências acumulamos, mais razões teremos para nos mantermos na nossa já “ampla” zona de conforto.

O ANTI CRISTO

$
0
0
Friedrich Nietzsche

.

Prefácio

Este livro pertence aos homens mais raros. Talvez nenhum deles sequer esteja vivo. É possível que se encontrem entre aqueles que compreendem o meu “Zaratustra”: como eu poderia misturar-me àqueles aos quais se presta ouvidos atualmente? – Somente os dias vindouros me pertencem. Alguns homens nascem póstumos.

.

As condições sob as quais sou compreendido, sob as quais sou necessariamente compreendido – conheço-as muito bem. Para suportar minha seriedade, minha paixão, é necessário possuir uma integridade intelectual levada aos limites extremos. Estar acostumado a viver no cimo das montanhas – e ver a imundície política e o nacionalismo abaixo de si. Ter se tornado indiferente; nunca perguntar se a verdade será útil ou prejudicial...

.

Possuir uma inclinação – nascida da força – para questões que ninguém possui coragem de enfrentar; ousadia para o proibido; predestinação para o labirinto. Uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas. E um desejo de economia em grande estilo – acumular sua força, seu entusiasmo... Auto-reverência, amor-próprio, absoluta liberdade para consigo...

Muito bem! Apenas esses são meus leitores, meus verdadeiros leitores, meus leitores predestinados: que importância tem o resto? – O resto é somente a humanidade. – É preciso tornar-se superior à humanidade em poder, em grandeza de alma – em desprezo...

.

Friedrich Nietzsche

I

– Olhemo-nos face a face. Somos hiperbóreos(1) – sabemos muito bem quão remota é nossa morada. “Nem por terra nem por mar encontrarás o caminho aos hiperbóreos”: mesmo Píndaro, em seus dias, sabia tanto sobre nós. Além do Norte, além do gelo, além da morte – nossa vida, nossa felicidade... Nós descobrimos essa felicidade; nós conhecemos o caminho; retiramos essa sabedoria dos milhares de anos no labirinto. Quem mais a descobriu? – O homem moderno? – “Eu não conheço nem a saída nem a entrada; sou tudo aquilo que não sabe nem sair nem entrar” – assim suspira o homem moderno... Esse é o tipo de modernidade que nos adoeceu – a paz indolente, o compromisso covarde, toda a virtuosa sujidade do moderno Sim e Não. Essa tolerância e largeur(2) de coração que tudo “perdoa” porque tudo “compreende” é um siroco(3)para nós. Antes viver no meio do gelo que entre virtudes modernas e outros ventos do sul!... Fomos bastante corajosos; não poupamos a nós mesmos nem os outros; mas levamos um longo tempo para descobrir aonde direcionar nossa coragem. Tornamo-nos tristes; nos chamaram de fatalistas. Nosso destino – ele era a plenitude, a tensão, o acumular de forças. Tínhamos sede de relâmpagos e grandes feitos; mantivemo-nos o mais longe possível da felicidade dos fracos, da “resignação”... Nosso ar era tempestuoso; nossa própria natureza tornou-se sombria – pois ainda não havíamos encontrado o caminho. A fórmula de nossa felicidade: um Sim, um Não, uma linha reta, uma meta...

1 – Os Gregos acreditavam que no extremo Norte da Terra vivia um povo que gozava de felicidade eterna, os hiperbóreos, que nunca guerreavam, adoeciam ou envelheciam. Sem a ajuda dos Deuses, seu território era inalcançável. (N. do T.)

2 – Grandeza.

3 – Vento asfixiante, quente e empoeirado originário de desertos. (N. do T.)

II

O que é bom? – Tudo que aumenta, no homem, a sensação de poder, a vontade de poder, o próprio poder.

O que é mau? – Tudo que se origina da fraqueza.

O que é felicidade? – A sensação de que o poder aumenta – de que uma resistência foi superada.

Não o contentamento, mas mais poder; não a paz a qualquer custo, mas a guerra; não a virtude, mas a eficiência (virtude no sentido da Renascença, virtu(1), virtude desvinculada de moralismos).

Os fracos e os malogrados devem perecer: primeiro princípio de nossa caridade. E realmente deve-se ajudá-los nisso.

O que é mais nocivo que qualquer vício? – A compaixão posta em prática em nome dos malogrados e dos fracos – o cristianismo...

1 – “Vir”, em latim, significa “varão”, “homem”. Ou seja, “virtu”, neste “sentido da Renascença”, designa qualidades viris como força, bravura, vigor, coragem, e não humildade, compaixão, etc. (N. do T.)

III

O problema que aqui apresento não consiste em rediscutir o lugar humanidade na escala dos seres viventes (– o homem é um fim –): mas que tipo de homem deve ser criado, que tipo deve ser pretendido como sendo o mais valioso, o mais digno de viver, a garantia mais segura do futuro.

Este tipo mais valioso já existiu bastantes vezes no passado: mas sempre como um afortunado acidente, como uma exceção, nunca como algo deliberadamente desejado. Com muita freqüência esse foi precisamente o tipo mais temido; até ao presente foi considerado praticamente o terror dos terrores; – e devido a esse terror, o tipo contrário foi desejado, cultivado e atingido: o animal doméstico, o animal de rebanho, a doentia besta humana: o cristão...

IV

Pelo que aqui se entende como progresso, a humanidade certamente não representa uma evolução em direção a algo melhor, mais forte ou mais elevado. Este “progresso” é apenas uma idéia moderna, ou seja, uma idéia falsa. O Europeu de hoje, em sua essência, possui muito menos valor que o Europeu da Renascença; o processo da evolução não significa necessariamente elevação, melhora, fortalecimento.

É bem verdade que ela tem sucesso em casos isolados e individuais em várias partes da Terra e sob as mais variadas culturas, e nesses casos certamente se manifesta um tipo superior; um tipo que, comparado ao resto da humanidade, parece uma espécie de super-homem. Tais golpes de sorte sempre foram possíveis e, talvez, sempre serão. Até mesmo raças inteiras, tribos e nações podem ocasionalmente representar tais ditosos acidentes.

V

Não devemos enfeitar nem embelezar o cristianismo: ele travou uma guerra de morte contra este tipo de homem superior, anatematizou todos os instintos mais profundos desse tipo, destilou seus conceitos de mal e de maldade personificada a partir desses instintos – o homem forte como um réprobo, como “degredado entre os homens”. O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, baixo e fracassado; forjou seu ideal a partir da oposição a todos os instintos de preservação da vida saudável; corrompeu até mesmo as faculdades daquelas naturezas intelectualmente mais vigorosas, ensinando que os valores intelectuais elevados são apenas pecados, descaminhos, tentações. O exemplo mais lamentável: o corrompimento de Pascal, o qual acreditava que seu intelecto havia sido destruído pelo pecado original, quando na verdade tinha sido destruído pelo cristianismo! –

VI

Um doloroso e trágico espetáculo surge diante de mim: retirei a cortina da corrupção do homem. Essa palavra, em minha boca, é isenta de pelo menos uma suspeita: a de que envolve uma acusação moral

contra a humanidade. A entendo – e desejo enfatizar novamente – livre de qualquer valor moral: e isso é tão verdade que a corrupção de que falo é mais aparente para mim precisamente onde esteve, até agora, a maior parte da aspiração à “virtude” e à “divindade”. Como se presume, entendo essa corrupção no sentido de decadência: meu argumento é que todos os valores nos quais a humanidade apóia seus anseios mais sublimes são valores de decadência.

Denomino corrompido um animal, uma espécie, um indivíduo, quando perde seus instintos, quando escolhe, quando prefere o que lhe é nocivo. Uma história dos “sentimentos elevados”, dos “ideais da humanidade” – e é possível que tenha de escrevê-la – praticamente explicaria por que o homem é tão degenerado. A própria vida apresenta-se a mim como um instinto para o crescimento, para a sobrevivência, para a acumulação de forças, para o poder: sempre que falta a vontade de poder ocorre o desastre. Afirmo que todos os valores mais elevados da humanidade carecem dessa vontade – que os valores de decadência, de niilismo, agora prevalecem sob os mais sagrados nomes.

VII

Chama-se cristianismo a religião da compaixão. – A compaixão está em oposição a todas as paixões tônicas que aumentam a intensidade do sentimento vital: tem ação depressora. O homem perde poder quando se compadece. Através da perda de força causada pela compaixão o sofrimento acaba por multiplicar-se. O sofrimento torna-se contagioso através da compaixão; sob certas circunstancias pode levar a um total sacrifício da vida e da energia vital – uma perda totalmente desproporcional à magnitude da causa (– o caso da morte de Nazareno). Essa é uma primeira perspectiva; há, entretanto, outra mais importante. Medindo os efeitos da compaixão através da intensidade das reações que produz, sua periculosidade à vida mostra-se sob uma luz muito mais clara. A compaixão contraria inteiramente lei da evolução, que é a lei da seleção natural. Preserva tudo que está maduro para perecer; luta em prol dos desterrados e condenados da vida; e mantendo vivos malogrados de todos os tipos, dá à própria vida um aspecto sombrio e dúbio. A humanidade ousou denominar a compaixão uma virtude (– em todo sistema de moral superior ela aparece como uma fraqueza –); indo mais adiante, chamaram-na a virtude, a origem e fundamento de todas as outras virtudes – mas sempre mantenhamos em mente que esse era o ponto de vista de uma filosofia niilista, em cujo escudo há a inscrição negação da vida. Schopenhauer estava certo nisto: através a compaixão a vida é negada, e tornada digna de negação – a compaixão é uma técnica de niilismo. Permita-me repeti-lo: esse instinto depressor e contagioso opõe-se a todos os instintos que se empenham na preservação e aperfeiçoamento da vida: no papel de defensor dos miseráveis, é um agente primário na promoção da decadência – compaixão persuade à extinção... É claro, ninguém diz “extinção”: dizem “o outro mundo”, “Deus”, “a verdadeira vida”, Nirvana, salvação, bem-aventurança... Essa inocente retórica do reino da idiossincrasia moral-religiosa mostra-se muito menos inocente quando se percebe a tendência que oculta sob palavras sublimes: a tendência à destruição da vida. Schopenhauer era

hostil à vida: esse foi o porquê de a compaixão, para ele, ser uma virtude... Aristóteles, como todos sabem, via na compaixão um estado mental mórbido e perigoso, cujo remédio era um purgativo ocasional: considerava a tragédia como sendo esse purgativo. O instinto vital deveria nos incitar a buscar meios de alfinetar quaisquer acúmulos patológicos e perigosos de compaixão, como os presentes no caso de Schopenhauer (e também, lamentavelmente, em toda a nossa décadence literária, de St. Petersburgo a Paris, de Tolstoi a Wagner), para que ele estoure e se dissipe... Nada é mais insalubre, em toda nossa insalubre modernidade, que a compaixão cristã. Sermos os médicos aqui, sermos impiedosos aqui, manejarmos a faca aqui – tudo isso é o nosso serviço, é o nosso tipo de humanidade, é isso que nos torna filósofos, nós, hiperbóreos! –

VIII

É necessário dizer quem consideramos nossos adversários: os teólogos e tudo que tem sangue teológico correndo em suas veias – essa é toda a nossa filosofia... É necessário ter visto essa ameaça de perto, melhor ainda, é preciso tê-la vivido e quase sucumbido por ela, para compreender que isso não é qualquer brincadeira (– o alegado livre-pensamento de nossos naturalistas e fisiologistas me parece uma brincadeira – não possuem a paixão nessas coisas; não sofreram –). Este envenenamento vai muito mais longe do que a maioria imagina: encontro o arrogante hábito de teólogo entre todos aqueles que se consideram “idealistas”, entre todos que, em virtude uma origem superior, reivindicam o direito de se colocarem acima da realidade, e olhá-la com suspeita... O idealista, assim como o eclesiástico, carrega todos os grandes conceitos em sua mão (– e não apenas em sua mão!); os lança com um benevolente desprezo contra o “entendimento”, os “sentidos”, a “honra”, o “bem viver”, a “ciência”; vê tais coisas abaixo de si, como forças perniciosas e sedutoras, sobre as quais “o espírito” plana como a coisa pura em si – como se a humildade, a castidade, a pobreza, em uma palavra, a santidade, não tivessem causado muito mais dano à vida que quaisquer outros horrores e vícios... O puro espírito é a pura mentira... Enquanto o padre, esse negador, caluniador e envenenador da vida por profissão for aceito como uma variedade de homem superior, não poderá haver resposta à pergunta: Que é a verdade?(1)A verdade já foi posta de cabeça para baixo quando o advogado do nada foi confundido com o representante da verdade.

1 – Alusão à passagem bíblica (Novo Testamento, Evangelho segundo João 18:38) na qual Pilatos pergunta a Jesus: “Que é a verdade?”. (N. do T.)

IX

É contra este instinto teológico que guerreio: encontro vestígios dele por toda parte. Todo aquele que possui sangue teológico em suas veias é cínico e desonrado em todas as coisas. Ao pathos(1) que se desenvolve dessa condição denomina-se fé: em outras palavras, fechar os olhos ante si mesmo de uma vez por todas para evitar o sofrimento causado pela visão de uma falsidade incurável. As pessoas constroem um conceito de moral, de virtude, de santidade a partir dessa falsa perspectiva das coisas; fundamentam a boa consciência sobre uma visão falseada; após terem-na tornado sacrossanta com os nomes “Deus”, “salvação” e “eternidade” não aceitam mais que qualquer outro tipo de visão possa ter valor. Descubro este instinto teológico em todas direções: é a mais disseminada e mais subterrânea forma de falsidade que se pode encontrar na Terra. Tudo que um teólogo considera verdadeiro é necessariamente falso: aqui temos praticamente um critério da verdade. Seu profundo instinto de autopreservação não lhe permite honrar ou sequer mencionar a verdade. Onde quer que a influência dos teólogos seja sentida, há uma transmutação de valores, os conceitos de “verdadeiro” e “falso” são forçados a inverter suas posições: tudo que é mais prejudicial à vida é nomeado “verdadeiro”, tudo que a exalta, a intensifica, a afirma, a justifica e a torna triunfante é nomeado “falso”... Quando teólogos, através “consciência” dos príncipes (ou dos povos –), estendem suas mãos ao poder, não há qualquer dúvida quanto a este aspecto fundamental: que o anseio pelo fim, a vontade niilista, aspira ao poder...

1 – O termo phatos vem do grego, significando “sentimento”, “emoção” “paixão”. Opõe-se a logos, pensamento racional, lógico. (N. do T.)

X

Entre os alemães sou imediatamente compreendido quando digo que o sangue teológico é a ruína da filosofia. O pastor protestante é o avô da filosofia alemã; o protestantismo em si é o peccatum originale(1). Definição do protestantismo: paralisia hemiplégica(2) do cristianismo – e da razão... Precisa-se apenas pronunciar as palavras “Escola de Tübingen”(3) para compreender o que é, no fundo, a filosofia alemã – uma forma muito astuta de teologia... Os suevos são os melhores mentirosos da Alemanha; mentem com inocência... Qual o porquê de toda alegria que se estendeu pelo universo erudito da Alemanha – que é formado em três quartos por filhos de pastores e professores – com o aparecimento de Kant? Por que ainda ecoa na convicção alemã que com Kant houve uma mudança para melhor? O instinto teológico dos estudiosos alemães os fez enxergar nitidamente o que tinha se tornado possível novamente... Abria-se um caminho que conduzia de volta ao velho ideal; os conceitos de “mundo verdadeiro” e de moral como essência do mundo (– os dois erros mais viciosos que já existiram!)

estavam, uma vez mais, graças a um ceticismo sutil e astucioso, se não demonstráveis, pelo menos irrefutáveis... A razão, o direito da razão, não vai tão longe... A realidade foi relegada a uma “aparência”; um mundo absolutamente falso – o da essência – foi transformado na realidade... O sucesso de Kant foi um sucesso meramente teológico; assim como Lutero ou Leibniz, ele não foi senão um empecilho à já pouco estável integridade alemã. –

1 – Pecado original.

2 – Hemiplegia designa paralisia de um dos lados do corpo.

3 – A Escola de Tübingen (fundada em 1477) possui uma famosa faculdade de teologia, na qual estudaram Hegel e Johannes Kepler. (N. do T.)

XI

Agora uma palavra contra Kant como moralista. A virtude deve ser nossa invenção; deve surgir de nossa necessidade pessoal e em nossa defesa. Em qualquer outro caso é fonte de perigo. Tudo que não pertence à vida representa uma ameaça a ela; uma virtude nascida simplesmente do respeito ao conceito de “virtude”, como Kant a desejava, é perniciosa. A “virtude”, o “dever”, o “bem em si”, a bondade fundamentada na impessoalidade ou na noção de validez universal – são todas quimeras, e nelas apenas encontra-se a expressão da decadência, o último colapso vital, o espírito chinês de Konigsberg(1). Exatamente o contrário é exigido pelas mais profundas leis da autopreservação e do crescimento: que cada homem crie sua própria virtude, seu próprio imperativo categórico(2). Uma nação se reduz a ruínas quando confunde seu dever com o conceito universal de dever. Nada conduz a um desastre mais cabal e pungente que todo dever “impessoal”, todo sacrifício ao Moloch(3) da abstração. – E imaginar que ninguém pensou no imperativo categórico de Kant como algo perigoso à vida!... Somente o instinto teológico tomou-o sob sua proteção! – Uma ação suscitada pelo instinto vital prova estar correta pela quantidade de prazer que gera: e ainda assim esse niilista, com suas vísceras de dogmatismo cristão, considerava o prazer como uma objeção... O que destrói um homem mais rapidamente que trabalhar, pensar e sentir sem uma necessidade interna, sem um profundo desejo pessoal, sem prazer – como um mero autômato do dever? Essa é tanto uma receita para a décadence(4) quanto para a idiotice... Kant tornou-se um idiota. – E ele era contemporâneo de Goethe! Este calamitoso fiandeiro de teias de aranha foi reputado o filósofo alemão par excellence(5) – e continua a sê-lo!... Abstenho-me de dizer o que penso dos alemães... Kant não viu na Revolução Francesa a transformação do estado da forma inorgânica para a orgânica? Não perguntou a si mesmo se havia algum evento que não poderia ser explicado exceto através de uma disposição moral no homem, para que, fundamentada nisso, “a tendência da humanidade ao bem”

pudesse ser explicada de uma vez por todas? Resposta de Kant: “Isso é a revolução”. O instinto que engana sobre toda e qualquer coisa, o instinto como revolta contra a natureza, a decadência alemã em forma de filosofia – isso é Kant!

1 – Cidade da Prússia onde Kant nasceu e passou toda a sua vida. Por isso, também é conhecido como “filósofo de Köenizberg”. (Pietro nasseti)

2 – Conceito kantiano. Considera-se imperativo uma proposição que tenha a forma de comando, de imposição e, em particular, de um comando ou ordem que o espírito dá a si próprio, Kant distinguia duas espécies de imperativos: o hipotético (ou condicional), quando a ordem ou determinação está subordinada como meio para atingir um determinado fim (ex.: sê justo, se queres ser respeitado); e o categórico (ou não-condicional), se a ordem é incondicional (ex. sê justo). Para Kant só existia um imperativo categórico fundamental (e é a esse que Nietzsche se refere) cuja fórmula é: “Age de tal maneira que o motivo que te levou a agir possa ser convertido em lei universal”. (Pietro nasseti)

3 – Divindade adorada pelos amonitas e moabitas, à qual sacrificavam crianças em troca de boas colheitas e vitória nas guerras. (N. do T.)

4 – Decadência.

5 – Por excelência.

XII

Ponho à parte uns poucos céticos, os tipos decentes na história da filosofia: o resto não possui a menor noção de integridade intelectual. Comportam-se como donzelas, todos esses grandes entusiastas e prodígios – consideram os “belos sentimentos” como argumentos, o “peito estufado” como o sopro de uma inspiração divina, a convicção como um critério da verdade. Ao final, com “alemã” inocência, Kant tentou dar um caráter científico a essa forma de corrupção, essa falta de consciência intelectual, chamando-a de “razão prática”. Deliberadamente inventou uma variedade de razões para usar ocasionalmente quando fosse desejável não se preocupar a razão – isto é, quando a moral, quando o sublime comando “tu deves” fosse ouvido. Lembrando do fato que, entre todos os povos, o filósofo não representa nada mais que o desenvolvimento dos velhos sacerdotes, essa herança sacerdotal, essafraude contra si mesmo deixa de ser algo surpreendente. Quando um homem sente que possui uma missão divina, digamos, melhorar, salvar ou libertar a humanidade – quando um homem sente uma faísca divina em seu coração e acredita ser o porta-voz de imperativos supranaturais – quando tal missão o inflama, é

simplesmente natural que ele coloque-se acima dos níveis de julgamento meramente racionais. Sente a si próprio como santificado por essa missão, sente que faz parte de uma ordem superior!... O que padres têm a ver com filosofia! Estão muito acima dela! – E até agora os padres reinaram! – Determinaram o significado dos conceitos de “verdadeiro” e “falso”!

XIII

Não subestimemos este fato: que nós mesmos, nós, espíritos livres, já somos a “transmutação de todos os valores”, uma manifesta declaração de guerra e uma vitória contra todos os velhos conceitos de “verdadeiro” e “falso”. As intuições mais valiosas são as mais tardiamente adquiridas; as mais valiosas de todas são aquelas que determinam os métodos. Todos os métodos, todos os princípios do espírito científico de hoje foram alvo, por milhares de anos, do mais profundo desprezo; caso um homem se interessasse por eles era excluído da sociedade das pessoas “decentes” – passava por “inimigo de Deus”, por zombador da verdade, por “possesso”. Enquanto homem da ciência, pertencia à Chandala(1)... Tivemos contra nós toda a patética estupidez da humanidade – toda a noção que tinham do que a verdade deveria ser, de qual deveria ser a função da verdade – todo o seu “tu deves” era arremessado contra nós... Nossos objetivos, nossos métodos, nossa calma, cautela, desconfiança – para eles tudo isso parecia algo absolutamente indecoroso e desprezível. – Olhando para trás, alguém até poderia perguntar-se, com alguma razão, se não foi, na verdade, um senso estético que manteve os homens cegos por tanto tempo: o que exigiam da verdade era uma eficiência pitoresca, e daquele em busca do conhecimento uma forte impressão sobre seus sentidos. Foi nossa modéstia que por tanto tempo lhes desceu a contragosto... Quão bem o adivinharam, esses pavões da divindade!

1 – Chandala é a casta mais baixa no sistema hindu. (N. do T.)

XIV

Nós desaprendemos algo. Nos tornamos mais modestos em todos os sentidos. Não derivamos mais o homem do “espírito”, do “desejo de Deus”; rebaixamos o homem a um mero animal. O consideramos o mais forte entre eles porque é o mais astuto; um dos resultados disso é sua intelectualidade. Em

contrapartida, nós nos precavemos contra este conceito: de que o homem é o grande objetivo da evolução orgânica. Em verdade, pode ser qualquer coisa, menos a coroa da criação: ao lado dele estão muitos outros animais, todos em similares estágios de desenvolvimento... E mesmo quando dizemos isso, estamos exagerando, pois o homem, relativamente falando, é o mais corrompido e doentio de todos os animais, o mais perigosamente desviado de seus instintos – apesar disso tudo, com certeza, continua a ser o mais interessante! – No que concerne aos animais inferiores, foi Descartes quem primeiro teve a admirável ousadia de descrevê-los como uma machina(1); toda a nossa fisiologia é um esforço para provar a veracidade dessa doutrina. Entretanto, é ilógico colocar o homem à parte, como fez Descartes: todo o conhecimento que temos sobre o homem aponta precisamente ao que o consideramos: uma máquina. Antigamente, concedíamos ao homem, como herança de algum tipo de ser superior, o que se denominava “livre-arbítrio”; agora lhe retiramos até essa vontade, pois o termo não descreve qualquer coisa que possamos compreender. A velha palavra “vontade” agora designa apenas um tipo de resultado, uma reação individual, que se segue inevitavelmente de uma série de estímulos parcialmente discordantes e parcialmente harmoniosos – a vontade não mais “age” ou “movimenta”... Antigamente pensava-se que a consciência humana, seu “espírito”, era uma evidência de sua origem superior, de sua divindade. Aconselharam-no que, para que se tornasse perfeito, assim como a tartaruga, recolhesse seus sentidos em si mesmo e não tivesse mais contato com coisas terrenas, para escapar de seu “envoltório mortal” – assim apenas restaria sua parte importante, o “puro espírito”. Aqui também pensamos melhor sobre o assunto: para nós a consciência, ou “o espírito”, aparece como um sintoma de uma relativa imperfeição do organismo, como uma experiência, um tatear, um equívoco, como uma aflição que consome força nervosa desnecessariamente – nós negamos que qualquer coisa feita conscientemente possa ser feita com perfeição. O “puro espírito” é uma pura estupidez: retire o sistema nervoso e os sentidos, o chamado “envoltório mortal”, e o resto é um erro de cálculo – isso é tudo!...

1 – Máquina.

XV

No cristianismo, nem a moral nem a religião têm qualquer ponto de contado com a realidade. São oferecidas causas puramente imaginárias (“Deus”, “alma”, “eu”, “espírito”, “livre arbítrio” – ou mesmo o “não-livre”) e efeitos puramente imaginários (“pecado”, “salvação”, “graça”, “punição”, “remissão dos pecados”). Um intercurso entre seres imaginários (“Deus”, “espíritos”, “almas”); uma história natural imaginária (antropocêntrica; uma negação total do conceito de causas naturais); uma psicologia imaginária (mal-entendidos sobre si, interpretações equivocadas de sentimentos gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, os estados do nervus sympathicus com a ajuda da linguagem simbólica da idiossincrasia moral-religiosa – “arrependimento”, “peso na consciência”, “tentação do demônio”, “a presença de Deus”); uma teleologia imaginária (o “reino de Deus”, “o juízo final”, a “vida eterna”). –

Esse mundo puramente fictício, com muita desvantagem, se distingue do mundo dos sonhos; o último ao menos reflete a realidade, enquanto aquele falsifica, desvaloriza e nega a realidade. Após o conceito de “natureza” ter sido usado como oposto ao conceito de “Deus”, a palavra “natural” forçosamente tomou o significado de “abominável” – todo esse mundo fictício tem sua origem no ódio contra o natural (– a realidade! –), é evidência de um profundo mal-estar com a efetividade... Isso explica tudo. Quem tem motivos para fugir da realidade? Quem sofre com ela. Mas sofrer com a realidade significa uma existência malograda... A preponderância do sofrimento sobre o prazer é a causa dessa moral e religião fictícias: mas tal preponderância, no entanto, também fornece a fórmula para a décadence...

XVI

Uma crítica da concepção cristã de Deus conduz inevitavelmente à mesma conclusão. – Uma nação que ainda acredita em si mesma possui seu próprio Deus. Nele são honradas as condições que a possibilitam sobreviver, suas virtudes – projeta o prazer que possui em si mesma, seu sentimento de poder, em um ser ao qual pode agradecer por isso. Quem é rico lhe prodigaliza sua riqueza; uma nação orgulhosa precisa de um Deus ao qual pode oferecer sacrifícios... A religião, dentro desses limites, é uma forma de gratidão. O homem é grato por existir: para isso precisa de um Deus. – Tal Deus precisa ser tanto capaz de beneficiar quanto de prejudicar; deve ser capaz representar um amigo ou um inimigo – é admirado tanto pelo bem quanto pelo mal que causa. Castrar esse Deus, contra toda a natureza, transformando-o em um Deus somente bondade, seria contrário à inclinação humana. A humanidade necessita igualmente de um Deus mau e de um Deus bom; não deve agradecer por sua própria existência à mera tolerância e à filantropia... Qual seria o valor de um Deus que desconhecesse o ódio, a vingança, a inveja, o desprezo, a astúcia, a violência? Que talvez nem sequer tenha experimentado os arrebatadores ardeurs(1) da vitória e da destruição? Ninguém entenderia tal Deus: por que alguém o desejaria? – Sem dúvida, quando uma nação está em declínio, quando sente que a crença em seu próprio futuro, sua esperança de liberdade estão se esvaindo, quando começa a enxergar a submissão como primeira necessidade e como medida de autopreservação, então precisa também modificar seu Deus. Ele então se torna hipócrita, tímido e recatado; aconselha a “paz na alma”, a ausência de ódio, a indulgência, o “amor” aos amigos e aos inimigos. Torna-se um moralizador por excelência; infiltra-se em toda virtude privada; transforma-se no Deus de todos os homens; torna-se um cidadão privado, um cosmopolita... Noutros tempos representava um povo, a força de um povo, tudo que em suas almas havia de agressivo e sequioso de poder; agora é simplesmente o bom Deus... Na verdade não há outra alternativa para os Deuses: ou são a vontade de poder – no caso de serem os Deuses de uma nação – ou a inaptidão para o poder – e neste caso precisam ser bons.

1 – Ardores.

XVII

Onde quer que, por qualquer forma, a vontade de poder comece enfraquecer, haverá sempre um declínio fisiológico concomitante, uma décadence. A divindade dessa décadence, despida de suas virtudes e paixões masculinas, é convertida forçosamente em um Deus dos fisiologicamente degradados, dos fracos. Obviamente, eles não se denominam os fracos; denominam-se “os bons”... Nenhuma explicação é necessária para se entender em quais momentos da História a ficção dualista de um Deus bom e um Deus mau se tornou possível pela primeira vez. O mesmo instinto que leva os inferiores a reduzir seu próprio Deus à “bondade em si” também os leva a eliminar todas as qualidades do Deus daqueles que lhes são superiores; vingam-se demonizando o Deus de seus dominadores. – O bom Deus, assim como o Diabo – ambos são frutos da décadence. – Como podemos ser tão tolerantes com o simplismo dos teólogos cristãos, aceitando sua doutrina de que a evolução do conceito de Deus a partir do “Deus de Israel”, o Deus de um povo, ao Deus cristão, a essência de toda a bondade, significa um progresso? – Mas até Renan(1) o fez. Como se Renan tivesse o direito ao simplismo! O contrário, na realidade, é o que se faz ver. Quando tudo que é necessário à vida ascendente; quando tudo que é forte, corajoso, imperioso e orgulhoso foi amputado do conceito de Deus; quando se degenerou progressivamente até tornar-se uma bengala para os cansados, uma tábua de salvação aos que se afogam; quando vira o Deus dos pobres, o Deus dos pecadores, o Deus dos incapazes par excellence, e o atributo de “salvador” ou “redentor” continua como o atributo mais essencial da divindade – qual é a significância de tal metamorfose? O que implica tal redução do divino? – Sem dúvida, com isso o “reino de Deus” cresceu. Antigamente, tinha somente seu povo, seus “escolhidos”. Mas desde então saiu perambulando, assim como seu próprio povo, a territórios estrangeiros; desistiu de acomodar-se; e finalmente passou a sentir-se em casa em qualquer lugar, esse grande cosmopolita – até agora possui a “grande maioria” ao seu lado, e metade da Terra. Mas esse Deus da “grande maioria”, esse democrata entre os Deuses, não se tornou um Deus pagão orgulhoso: pelo contrário, continua um judeu, continua um Deus das esquinas, um Deus de todos os recantos e gretas, de todos lugares insalubres do mundo!... Seu reino na Terra, agora, assim como sempre, é um reino do submundo, um reino subterrâneo, um reino-gueto... Ele mesmo é tão pálido, tão fraco, tão décadent... Até o mais pálido entre os pálidos é capaz de dominá-lo – os senhores metafísicos, os albinos do intelecto. Esses teceram teias ao seu redor por tanto tempo que finalmente o hipnotizaram, o transformaram em aranha, em mais um metafísico. E então retornou mais uma vez ao seu velho serviço de tecer o mundo a partir de sua natureza interior sub specie Spinozae(2); após isso se transformou em algo cada vez mais tênue e pálido – tornou-se o “ideal”, o “puro espírito”, o “absoluto”, a “coisa em si”... O colapso de um Deus: ele converte-se na “coisa em si”.

1 – O filólogo e historiador Ernest Renan (1823-1892), que dera a um dos volumes de sua obra-mestra, Les Origines du Christianisme, precisamente o título L’Atnéchrist. O volume continha uma história das heresias. (Rubens Rodrigues Torres Filho)

2 – Frase de sentido duplo: segundo a óptica de Espinoza e sob a forma de aranha. Trata-se de um jogo de palavras baseado no próprio de Espinoza – spinne significa aranha em alemão. (Pietro Nasseti)

XVIII

A concepção cristã de Deus – Deus o como protetor dos doentes, o Deus que tece teias de aranha, o Deus na forma de espírito – é uma das concepções mais corruptas que jamais apareceram no mundo: provavelmente representa o nível mais ínfero da declinante evolução do tipo divino. Um Deus que se degenerou em uma contradição da vida. Em vez de ser sua própria glória e eterna afirmação! Nele declara-se guerra à vida, à natureza, à vontade de viver! Deus transforma-se na fórmula para todas calúnias contra o “aqui e agora” e para cada mentira sobre “além”! Nele o nada é divinizado e a vontade do nada se faz sagrada!...

XIX

O fato de as raças fortes do Norte da Europa não terem repudiado esse Deus cristão não dá qualquer crédito aos seus dotes religiosos – para não mencionar seus gostos. Deveriam ter sido capazes de sobrepujar tal moribundo e decrépito produto da décadence. Uma maldição paira sobre eles porque não o repeliram; absorveram em seus instintos a enfermidade, a senilidade e a contradição – e a partir de então não criaram mais nenhum Deus. Dois mil anos se passaram – e nem um único Deus novo! Em vez disso, ainda existe como que por algum direito intrínseco – como se fosse um ultimatum(1) e maximum(2) da força criadora de divindades, do creator spiritus(3) da humanidade –, esse deplorável Deus do monótono-teísmo cristão! Essa imagem híbrida da decadência, destilada do nada, da contradição e da imaginação estéril, na qual todos os instintos da décadence, todas as covardias e cansaços da alma encontram sua sanção! –

1 – Última palavra.

2 – Máximo.

3 – Espírito criador.

XX

Em minha condenação do cristianismo certamente espero não injustiçar uma religião análoga que possui um número ainda maior de seguidores: aludo ao budismo. Ambas devem ser consideradas religiões niilistas – são religiões da décadence – mas distinguem-se de um modo bastante notável. Pelo simples fato de poder compará-las, o crítico do Cristianismo está em débito com os estudiosos da Índia. – O budismo é cem vezes mais realista que o cristianismo – é parte de sua herança de vida ser capaz de encarar problemas de modo objetivo e impassível; é o produto de longos séculos de especulação filosófica. O conceito “Deus” já havia se estabelecido antes dele surgir. O budismo é a única religião genuinamente positiva que pode ser encontrada na História, e isso se aplica até mesmo à sua epistemologia (que é um fenomenalismo estrito) – ele não fala sobre “a luta contra o pecado”, mas, rendendo-se à realidade, diz “a luta contra o sofrimento”. Diferenciando-se nitidamente do cristianismo, coloca a autodecepção que existe nos conceitos morais por detrás de si; isso significa, em minha linguagem, além do bem e do mal. – Os dois fatos fisiológicos nos quais se apóia e aos quais direciona a maior parte de sua atenção são: primeiro, uma excessiva sensibilidade à sensação que se manifesta através de uma refinada suscetibilidade ao sofrimento; segundo, uma extraordinária espiritualidade, uma preocupação muito prolongada com os conceitos e com os procedimentos lógicos, sob a influência da qual o instinto de personalidade submete-se à noção de “impessoalidade” (– ambos esses estados serão familiares a alguns de meus leitores, os objetivistas, por experiência própria, assim como são para mim). Esses estados fisiológicos produzem uma depressão, e Buda tentou combatê-la através de medidas higiênicas. Prescreveu a vida ao ar livre, a vida nômade; moderação na alimentação e uma cuidadosa seleção dos alimentos; prudência em relação ao uso de intoxicantes; igual cautela em relação a quaisquer paixões que induzem comportamentos biliosos e aquecimento do sangue; finalmente, não se preocupar nem consigo nem com os outros. Encoraja idéias que produzam serenidade ou alegria – e encontra meios de combater as idéias de outros tipos. Entende o bem, o estado de bondade, como algo que promove a saúde. A oração não está inclusa, e nem o asceticismo. Não há um imperativo categórico ou qualquer disciplina, mesmo dentro dos monastérios (– dos quais é sempre permitido sair –). Todas essas coisas seriam simplesmente meios para aumentar aquela excessiva sensibilidade supramencionada. Pelo mesmo motivo não advoga qualquer conflito contra os incrédulos; seus ensinamentos não antagonizam nada senão a vingança, a aversão, o ressentimento (– “inimizade nunca põe fim à inimizade”: o refrão que move o budismo...) E nisso tudo estava correto, pois são precisamente essas paixões que, na perspectiva de seu principal objetivo regimental, são insalubres. A fadiga mental que apresenta, já claramente evidenciada pelo excesso de “objetividade” (isto é, a perda do interesse em si mesmo, a perda do equilíbrio e do “egoísmo”), é combatida por vigorosos esforços a fim de levar os interesses espirituais de

volta ao ego. Nos ensinamentos de Buda o egoísmo é um dever. A “única coisa necessária”, a questão “como posso me libertar do sofrimento”, é o que rege e determina toda a dieta espiritual (– talvez alguém lembrar-se-á daquele ateniense que também declarou guerra ao “cientificismo” puro, a saber, Sócrates, que também elevou o egoísmo à condição de princípio moral).

XXI

As necessidades do budismo são um clima extremamente ameno, muita gentileza e liberalidade nos costumes, e nenhum militarismo; ademais, que seu início provenha das classes mais altas e educadas. Alegria, serenidade e ausência de desejo são os objetivos principais, e eles são alcançados. O budismo não é uma religião na qual a perfeição é meramente objeto de aspiração: a perfeição é algo normal. – No cristianismo os instintos dos subjugados e dos oprimidos vêm em primeiro lugar: apenas os mais rebaixados buscam a salvação através dele. Nele o passatempo prevalecente, a cura favorita para o enfado, é a discussão sobre pecados, a autocrítica, a inquisição da consciência; nele a emoção produzida pelo poder (chamada de “Deus”) é insuflada (pela reza); nele o bem mais elevado é considerado algo inatingível, uma dádiva, uma “graça”. Também falta transparência: o encobrimento e os lugares obscurecidos são cristãos. Nele o corpo é desprezado e a higiene é acusada de lascívia; a Igreja distancia-se até da limpeza (– a primeira providência cristã após a expulsão dos mouros foi fechar os banhos públicos, dos quais havia 270 apenas em Córdoba). Também é cristã uma certa crueldade para consigo e para com os outros; o ódio aos incrédulos; o desejo de perseguir. Idéias sombrias e inquietantes ocupam o primeiro plano; os estados mentais mais estimados, portando os nomes mais respeitáveis, são epileptiformes; a dieta é determinada com o fim de engendrar sintomas mórbidos e supra-estimulação nervosa. Também é cristã toda a inimizade mortal aos senhores da terra, aos “aristocratas” – juntamente com uma rivalidade secreta contra eles (– resignam-se do “corpo” – querem apenas a “alma”...). É cristão todo o ódio contra o intelecto, o orgulho, a coragem, a liberdade, a libertinagem intelectual; o ódio aos sentidos, à alegria dos sentidos, à alegria em geral, é cristão...

XXII

Quando o cristianismo abandonou sua terra natal, aqueles das classes mais baixas, o submundo da

Antigüidade, e começou a buscar poder entre os povos bárbaros, não tinha mais de se relacionar com homens exauridos, mas homens ainda intimamente selvagens e capazes de sacrifícios – em suma, homens fortes, mas atrofiados. Aqui, distintamente do caso dos budistas, a causa do descontentamento consigo, do sofrimento por si, não é meramente uma sensibilidade extremada e uma suscetibilidade à dor, mas, ao contrário, uma excessiva ânsia por infligir sofrimento aos outros, uma tendência a obter uma satisfação subjetiva em feitos e idéias hostis. O cristianismo tinha de adotar conceitos e valorações bárbaras para obter domínio sobre os bárbaros: assim como, por exemplo, o sacrifício do primogênito, a ingestão de sangue como um sacramento, o desprezo pelo intelecto e pela cultura; a tortura sob todas as suas formas, corporal e espiritual; toda a pompa do culto. O budismo é uma religião para pessoas em um estágio mais adiantado de desenvolvimento, para raças que se tornaram gentis, amenas e demasiado espiritualizadas (– a Europa ainda não está madura para ele –): é um convite de retorno à paz e à felicidade, a um cuidadoso racionamento do espírito, a um certo enrijecimento do corpo. O cristianismo visa dominar animais de rapina; sua estratégia consiste em torná-los doentes – enfraquecer é a receita cristã para domesticar, para “civilizar”. O budismo é uma religião para o final, para os derradeiros estágios de cansaço da civilização. O cristianismo surge antes da civilização mal ter começado – sob certas circunstâncias cria as próprias fundações desta.

XXIII

O Budismo, eu repito, é uma centena de vezes mais austero, mais honesto, mais objetivo. Não precisa mais justificar suas aflições, sua suscetibilidade ao sofrimento, interpretando essas coisas em termos de pecado – simplesmente diz o que simplesmente pensa: “eu sofro”. Para o bárbaro, entretanto, o sofrimento em si é pouco compreensível: o que necessita é, em primeiro lugar, uma explicação sobre o porquê de seu sofrimento (o seu instinto leva-o a negar completamente seu sofrimento, ou a suportá-lo em silêncio). Aqui a palavra “Diabo” era uma bênção: o homem devia possuir um inimigo onipotente e terrível – não havia motivos para envergonhar-se por sofrer nas mãos de tal inimigo.

– No seu íntimo o cristianismo possui várias sutilezas que pertencem ao Oriente. Em primeiro lugar, sabe que é de pouca relevância se uma coisa é verdadeira ou não, desde que se acredite que é verdadeira. Verdade e fé: aqui temos dois mundos de idéias inteiramente distintas, praticamente dois mundos diametralmente opostos – os seus caminhos distam milhas um do outro. Entender esse fato a fundo – isso é quase o suficiente, no Oriente, para fazer de alguém um sábio. Os brâmanes sabiam disso, Platão sabia disso, todo estudante de esoterismo sabe disso. Quando, por exemplo, um homem sente qualquer prazer através da idéia de que foi redimido do pecado, não é necessário que seja realmente pecador, mas que simplesmente sinta-se pecador. Mas quando a fé é exaltada acima de tudo, disso segue-se necessariamente o descrédito à razão, ao conhecimento e à investigação meticulosa: o caminho que leva à verdade torna-se proibido. – A esperança, em suas formas mais vigorosas, é um estimulante muito mais poderoso à vida

que qualquer espécie de felicidade efetiva. Para o homem resistir ao sofrimento deve possuir uma esperança tão elevada que nenhum conflito com a realidade possa destruí-la – de fato, tão elevada que nenhuma conquista possa satisfazê-la: uma esperança que alcança além deste mundo (precisamente por causa do poder que a esperança tem de fazer os sofredores persistirem, os gregos a consideravam o mal entre os males, como o mais maligno de todos males; permaneceu no fundo da fonte de todo o mal(1)). – Para que o amor seja possível, Deus deve tornar-se uma pessoa; para que os instintos mais baixos tenham seu espaço, Deus precisa ser jovem. Para satisfazer o ardor das mulheres, um santo formoso deve aparecer na cena; para satisfazer o dos homens, deve haver uma virgem. Tais coisas são necessárias se o cristianismo quiser assumir controle sobre um solo no qual o culto de Afrodite ou de Adônis já tenha estabelecido a noção de como uma adoração deve ser. Insistir na castidade aumenta grandemente a veemência e a subjetividade do instinto religioso – torna o culto mais fervoroso, mais entusiástico, mais espirituoso. – O amor é o estado no qual o homem vê as coisas quase totalmente como não são. A força da ilusão alcança seu ápice aqui, assim como a capacidade para a suavização e para a transfiguração. Quando um homem está apaixonado sua tolerância atinge ao máximo; tolera-se qualquer coisa. O problema consistia em inventar uma religião na qual se pudesse amar: através disso o pior que a vida tem a oferecer é superado – tais coisas sequer serão notadas. – Tudo isso se alcança com as três virtudes cristãs: fé, esperança e caridade: as denomino as três habilidades cristãs. – O budismo encontra-se em um estágio de desenvolvimento demasiado avançado, demasiado positivista para ter esse tipo de astúcia. –

1 – Ou seja, na caixa de Pandora. (H. L. Mencken)

XXIV

Aqui apenas toco superficialmente o problema da origem do cristianismo. A primeira coisa necessária para resolver o problema é a seguinte: que o cristianismo deve ser compreendido apenas a partir da análise do solo em que se originou – não é uma reação contra os instintos judaicos; é sua conseqüência inevitável; é simplesmente mais um passo dentro da intimidante lógica dos judeus. Nas palavras do Salvador: “a salvação vem dos judeus”(1). – A segunda coisa a ser lembrada é esta: que o tipo psicológico do Galileu(2) ainda é reconhecível, mas que apenas em sua forma mais degenerada (mutilado e sobrecarregado com características estrangeiras) pôde servir da maneira em que foi utilizado: como tipo para Salvador da humanidade.

– Os judeus são o povo mais notável da História, pois quando foram confrontados com o dilema do ser ou não ser, escolheram, através de uma deliberação excepcionalmente lúcida, o ser a qualquer preço: esse preço envolvia uma radical falsificação de toda a natureza, de toda a naturalidade, de toda a realidade, de todo o mudo interior e também o exterior. Colocaram-se contra todas aquelas condições sob as quais, até agora, os povos foram capazes de viver, ou até mesmo tiveram o direito de viver; a partir deles se

desenvolveu uma idéia que se encontrava em direta oposição às condições naturais – sucessivamente distorceram a religião, a civilização, a moral, a história e a psicologia até as transformar em uma contradição de sua significação natural. Nós encontramos o mesmo fenômeno mais adiante, em uma forma incalculavelmente exagerada, mas apenas como uma cópia: a Igreja cristã, comparada ao “povo eleito”, exibe absoluta ausência de qualquer pretensão à originalidade. Precisamente por esse motivo os judeus são o povo mais funesto de toda a história universal: sua influência causou tal falsificação na racionalidade da humanidade que hoje um cristão pode sentir-se anti-semita sem se dar conta de que ele próprio não é senão a última conseqüência do judaísmo.

Em minha “Genealogia da Moral” apresentei a primeira explicação psicológica dos conceitos subjacentes a estas coisas antitéticas: uma moral nobre e uma moral do ressentimento, a segunda sendo um mero produto da negação da primeira. O sistema moral judaico-cristão pertence à segunda divisão, e em todos os sentidos. Para ser capaz de dizer Não a tudo que representa uma evolução ascendente da vida – isto é, ao bem-estar, ao poder, à beleza, à auto-afirmação – os instintos do ressentimento, aqui completamente transformados em gênio, tiveram de inventar outro mundo no qual a afirmação da vida representasse as maiores malignidades e abominações imagináveis. Psicologicamente, os judeus são pessoas dotadas da mais forte vitalidade, tanto que, quando se viram frente a condições onde a vida era impossível, escolheram voluntariamente, e com um profundo talento para a autopreservação, tomar o lado de todos os instintos que produzem a decadência – não por estarem dominados por eles, mas como que adivinhando neles o poder através do qual “o mundo” poderia ser desafiado. Os judeus são exatamente o oposto dos decadentes: simplesmente foram forçados se mostrar com esse disfarce, e com um grau de habilidade próximo ao non plus ultra(3) do gênio histriônico conseguiram se colocar à frente de todos of movimentos decadentes (– por exemplo, o cristianismo de Paulo –), e assim fazerem-se algo mais forte que qualquer partido de afirmação da vida. Para o tipo de homens que aspiram ao poder no judaísmo e no cristianismo – em outras palavras, a classe sacerdotal – a decadência não é senão um meio. Homens desse tipo têm um interesse vital em tornar a humanidade enferma, em confundir os valores de “bom” e “mau”, “verdadeiro” e “falso” de uma maneira que não é apenas perigosa à vida, mas que também a falsifica.

1 – João 4:22.

2 – A palavra possui forte conotação histórica, pois assim era mais freqüentemente designado Cristo no séc IV, na época das grandes lutas entre pagãos ou helenos, liderados pelo imperador Juliano, e os cristãos alcunhados depreciativamente Galileus, fanáticos do Galileu. (Pietro Nasseti)

3 – Não mais além, isto é, algo inexcedível, que não se ultrapassa.

XXV

A história de Israel é inestimável como uma típica história de uma tentativa de deturpar todos os valores naturais: exponho três fatos corroboram isso. Originalmente, e acima de tudo no tempo da monarquia, Israel manteve uma atitude justa em relação às coisas, ou seja, uma atitude natural. O seu Iavé(1) era a expressão da consciência de seu próprio poder, de sua alegria consigo mesmo, da esperança que tinha em si: através dele os judeus buscavam a vitória e a salvação, através dele esperavam que a natureza lhes desse tudo que fosse necessário para sua existência – acima de tudo, chuva. Iavé é o Deus de Israel e, conseqüentemente, o Deus da justiça: essa é a lógica de toda raça que possui poder em suas mãos e que o utiliza com a consciência tranqüila. Na cerimônia religiosa dos judeus ambos aspectos dessa auto-afirmação ficam manifestos. A nação é grata pelo grande destino que a possibilitou obter domínio; é grata pela benéfica regularidade na mudança das estações e por toda a fortuna que favorece seus rebanhos e colheitas. – Essa visão das coisas permaneceu ideal por um longo período, mesmo após ter sido despojada de validade tragicamente: dentro, a anarquia, fora, os assírios. Mas o povo ainda conservou, como uma projeção de sua mais alta aspiração, a visão de um rei que era ao mesmo tempo um galante guerreiro e um decoroso juiz – foi conservada sobretudo por aquele profeta típico (ou seja, crítico e satírico do momento), Isaías. – Mas toda a esperança foi vã. O velho Deus não podia mais fazer o que fizera noutros tempos. Deveria ter sido abandonado. Mas o que ocorreu de fato? Simplesmente isto: sua concepção foi mudada – sua concepção foi desnaturalizada; esse foi o preço que tiveram de pagar para mantê-lo. – Iavé, o Deus da “justiça” – não está mais de acordo com Israel, não representa mais o egoísmo da nação; agora é apenas um Deus condicionado... A noção pública desse Deus agora se torna meramente uma arma nas mãos de agitadores clericais, que interpretam toda felicidade como recompensa e toda desgraça como punição em termos de obediência ou desobediência a Deus, em termos de “pecado”: a mais fraudulenta das interpretações imagináveis, através da qual a “ordem moral do mundo” é estabelecida e os conceitos fundamentais, “causa” e “efeito”, são colocados de ponta cabeça. Uma vez que o conceito de causa natural é varrido do mundo por doutrinas de recompensa e punição, algum tipo de causalidade inatural torna-se necessária: seguem-se disso todas as outras variedades de negação da natureza. Um Deus que ordena – no lugar de um Deus que ajuda, que dá conselhos, que no fundo é meramente um nome para cada feliz inspiração de coragem e autoconfiança...

A moral já não é mais um reflexo das condições que promovem vida sã e o crescimento de um povo; não é mais um instinto vital primário; em vez disso se tornou algo abstrato e oposto à vida – uma perversão dos fundamentos da fantasia, um “olhar maligno” contra todas as coisas. Que é a moral judaica? Que é a moral cristã? A sorte despida de sua inocência; a infelicidade contaminada com a idéia de “pecado”; o bem-estar considerado como um perigo, como uma “tentação”; um desarranjo fisiológico causado pelo veneno do remorso...

1 – Uma das designações do Deus de Israel utilizadas nos Livros Sagrados. (Pietro Nasseti)

XXVI

O conceito de Deus falsificado; o conceito de moral falsificado; – mas mesmo aqui os feitos dos padres judaicos não cessaram. – Toda a história de Israel não lhes tinha qualquer valor: então a dispensaram! – Tais padres realizaram essa prodigiosa falsificação da qual grande parte da Bíblia é uma evidência documentária; com um grau de desprezo sem paralelos, e em face de toda a tradição e toda a realidade histórica, traduziram o passado de seu povo em termos religiosos, ou seja, converteram-no em um mecanismo imbecil de salvação, através do qual todas ofensas contra Iavé eram punidas e toda devoção recompensada. Nós consideraríamos esse ato de falsificação histórica algo muito mais vergonhoso se a familiaridade com a interpretação eclesiástica da história por milhares anos não tivesse embotado nossas inclinações à retidão inhitoricis(1). E os filósofos apóiam a Igreja: a mentira sobre a “ordem moral do mundo” permeia toda a filosofia, mesmo a mais recente. O que significa uma “ordem moral do mundo”? Significa que existe uma coisa chamada vontade de Deus, a qual determina o que o homem deve ou não fazer; que a dignidade de um povo ou de um indivíduo deve ser medida pelo seu grau de obediência ou desobediência à vontade de Deus; que os destinos de um povo ou de um indivíduo são controlados por essa vontade de Deus, que recompensa ou pune de acordo com a obediência ou desobediência manifestadas. – Em lugar dessa deplorável mentira, a realidade teria isto a dizer: o padre, essa espécie parasitária que existe às custas da toda vida sã, usa o nome de Deus em vão: chama o estado da sociedade humana no qual ele próprio determina o valor de todas as coisas de “o reino de Deus”; chama os meios através dos quais esse estado é alcançado de “vontade de Deus”; com um cinismo glacial, avalia todos povos, todas épocas e todos indivíduos através de seu grau de subserviência ou oposição do poder da ordem sacerdotal. Observemo-lo em serviço: pelas mãos do sacerdócio judaico a grande época de Israel transfigurou-se em uma época de declínio; a Diáspora, com sua longa série de infortúnios, foi transformada em uma punição pela grande época – na qual os padres ainda não significavam nada. Transformaram, de acordo com suas necessidades, os heróis poderosos e absolutamente livres da história de Israel ou em fanáticos miseráveis e hipócritas, ou em homens totalmente “ímpios”. Reduziram todos grandes acontecimentos à estúpida fórmula: “obedientes ou desobedientes a Deus”. – E foram mais adiante: a “vontade de Deus” (em outras palavras, as condições necessárias para a preservação do poder dos padres) tinha de ser determinada – e para tal fim necessitavam de uma “revelação”. Dizendo de modo mais claro, uma enorme fraude literária teve de ser perpetrada, “sagradas escrituras” tiveram de ser forjadas – e então, com grandiosa pompa hierática e dias penitência e muita lamentação pelos longos dias de “pecado” agora terminados, foram devidamente publicadas. A “vontade de Deus”, ao que parece, há muito já havia sido estabelecida; o problema foi que a humanidade negligenciou as “sagradas escrituras”... Mas a “vontade de Deus” já havia sido revelada a Moisés... O que ocorreu? Simplesmente isto: os padres tinham formulado, de uma vez por todas e com a mais estrita meticulosidade, que tributos deveriam ser-lhe pagos, desde o maior até o menor (– não se esquecendo dos mais apetitosos cortes de carne, pois o padre é um grande consumidor de bifes); em suma, ele disse o que desejava ter, qual era a “vontade de Deus”... Desse tempo em diante as coisas se organizam de tal modo que o padre tornou-se indispensável em todos os lugares; em todos os importantes eventos naturais da vida, no nascimento, no casamento, na enfermidade, na morte, para não falar no “sacrifício” (ou seja, na ceia), o sacro-parasita se apresenta para os desnaturalizar – na sua linguagem, para os “santificar”... Pois é necessário salientar

isto: que todo hábito natural, toda instituição natural (o Estado, a administração da Justiça, o casamento, os cuidados prestados aos doentes e pobres), tudo que é exigido pelo instinto vital, em suma, tudo que tem valor em si mesmo é reduzido a algo absolutamente imprestável e até transformado no oposto ao que é valoroso pelo o parasitismo dos padres (ou, se alguém preferir, pela “ordem moral do mundo”). O fato precisa de uma sanção – um poder para criarvalores faz-se necessário, e tal poder só pode valorar através da negação da natureza... O padre deprecia e profana a natureza: esse é o preço para que possa existir. – A desobediência a Deus, ou seja, a desobediência ao padre, à lei, agora porta o nome de “pecado”; os meios prescritos para a “reconciliação com Deus” são, é claro, precisamente os que induzem mais eficientemente um indivíduo a sujeitar-se ao padre; apenas ele “salva”. Considerados psicologicamente, os “pecados” são indispensáveis em toda sociedade organizada sobre fundamentos eclesiásticos; são os únicos instrumentos confiáveis de poder; o padre vive do pecado; tem necessidade de que existam “pecadores”... Axioma Supremo: “Deus perdoa a todo aquele que faz penitência” – ou, em outras palavras, a todo aquele que se submete ao padre.

1 – Nas questões históricas.

XXVII

O cristianismo se desenvolveu a partir de um solo tão corrupto que nele todo o natural, todo valor natural, toda realidade se opunha aos instintos mais profundos da classe dominante – surgiu como uma espécie de guerra de morte contra a realidade, e como tal nunca foi superada. O “povo eleito” que para todas as coisas adotou valores sacerdotais e nomes sacerdotais, e que, com aterrorizante lógica, rejeitou tudo que era terrestre como “profano”, “mundano”, “pecaminoso” – esse povo colocou seus instintos em uma fórmula final que era conseqüente até o ponto da auto-aniquilação: como cristianismo, de fato negou mesmo a última forma da realidade, o “povo sagrado”, o “povo eleito”, a própria realidade judaica. O fenômeno tem importância de primeira ordem: o pequeno movimento insurrecional que levou o nome de Jesus de Nazaré é simplesmente o instinto judaico redivivus(1) – em outras palavras, é o instinto sacerdotal que não consegue mais suportar sua própria realidade; é a descoberta de um estado existencial ainda mais abstrato, de uma visão da vida ainda mais irreal que a necessária para uma organização eclesiástica. O cristianismo de fato nega a igreja...

Não sou capaz de determinar qual foi o alvo da insurreição da qual Jesus foi considerado – seja isso verdade ou não – o promotor, caso não seja a Igreja judaica – a palavra “igreja” sendo usada aqui exatamente no mesmo sentido que possui hoje. Era uma insurreição contra “os bons e os justos”, contra os “Santos de Israel”, contra toda a hierarquia da sociedade – não contra a corrupção, mas contra as castas, o privilégio, a ordem, o formalismo. Era uma descrença no “homem superior”, um Não arremessado contra tudo que padres e teólogos defendiam. Mas a hierarquia que foi posta em causa por

esse movimento, ainda que por apenas um instante, era uma jangada que, acima de tudo, era necessária à segurança do povo judaico em meio às “águas” – representava sua última possibilidade de sobrevivência; era o último residuum(2) de sua existência política independente; um ataque contra isso era um ataque contra o mais profundo instinto nacional, contra a mais tenaz vontade de viver de um povo que jamais existiu sobre a Terra. Esse santo anarquista incitou o povo de baixeza abissal, os réprobos e “pecadores”, os chandala do judaísmo a emergirem em revolta contra a ordem estabelecida das coisas – e com uma linguagem que, se os Evangelhos merecem crédito, hoje o conduziria à Sibéria –, esse homem certamente era um criminoso político, ao menos tanto quanto era possível o ser em uma comunidade tão absurdamente apolítica. Foi isso que o levou à cruz: a prova consiste na inscrição colocada sobre ela. Morreu pelos seus pecados – não há qualquer razão para se acreditar, não importa quanto isso seja afirmado, que tenha morrido pelo pecado dos outros. –

1 – Que retornou à vida; ressuscitado.

2 – Resíduo.

XXVIII

Se ele próprio era consciente dessa contradição – ou se, de fato, essa era a única da qual tinha conhecimento – essa é uma questão totalmente distinta. Aqui, pela primeira vez, toco o problema da psicologia do Salvador. – Para começar, confesso que muitos poucos livros, para mim, são mais difíceis de ler que os Evangelhos. Minhas dificuldades são bastante diferentes daquelas que possibilitaram à curiosidade letrada da mente alemã perpetrar um de seus triunfos mais inesquecíveis. Faz um longo tempo desde que eu, como qualquer outro jovem erudito, desfrutava da incomparável obra de Strauss(1) com toda a sapiente laboriosidade de um meticuloso filólogo. Naquele tempo possuía vinte anos: agora sou sério demais para esse tipo de coisa. Que me importam as contradições da “tradição”? Como alguém pode chamar lendas de santos de “tradição”? As histórias de santos são a mais dúbia variedade de literatura existente; examiná-las à luz do método científico na ausência total de documentos corroborativos a mim parece condenar toda a investigação desde suas origens – isso seria simplesmente uma divagação erudita...

1 – David Friedrich Strauss (1808-74), autor de “Das Leben Jesu” (1835-6), uma obra muito famosa em sua época. Nietzsche se refere a ela. (H. L. Mencken)

XXIX

O que me importa é o tipo psicológico do Salvador. Esse tipo talvez seja descrito nos evangelhos, apesar de que em uma forma mutilada e saturada de caracteres estrangeiros – isto é, a despeito dos Evangelhos; assim como a figura de Francisco de Assis se apresenta em suas lendas a despeito de suas lendas. A questão não é a veracidade das evidências sobre seus feitos, seus ditos ou sobre como foi sua morte; a questão é se seu tipo ainda pode ser compreendido, se foi conservado. – Todas as tentativas de que tenho conhecimento de se ler a história da “alma” nos Evangelhos revelam para mim apenas uma lamentável leviandade psicológica. O Senhor Renan, esse arrivista in psychologicis(1), contribuiu às duas noções mais inadequadas concernentes à explicação do tipo de Jesus: a noção de gênio e a de herói (“heros”). Mas se existe alguma coisa essencialmente antievangélica, certamente é a noção de herói. O que os Evangelhos tornam instintivo é precisamente o oposto de todo o esforço heróico, de todo o gosto pelo conflito: a incapacidade de resistência converte-se aqui em algo moral: (“não resistas ao mal” – a mais profunda sentença dos Evangelhos, talvez a verdadeira chave para eles) a saber, na bem-aventurança da paz, da bondade, na incapacidade para a inimizade. Qual o significado da “boa-nova”? – Que verdadeira vida, a vida eterna foi encontrada – não foi meramente prometida, está aqui, está em você; é a vida que se encontra no amor livre de todos os retraimentos e exclusões, livre de todas as distâncias. Todos são filhos Deus, Jesus não reivindica nada apenas para si; como filhos de Deus, todos os homens são iguais... Imagine fazer de Jesus um herói! – E que tremenda incompreensão escorre da palavra “gênio”! Toda nossa concepção do “espiritual”, toda concepção de nossa civilização não possui qualquer sentido no mundo em que Jesus viveu. Falando com o rigor de um fisiologista, uma palavra bastante diferente deveria ser usada aqui... Todos sabemos que há uma sensibilidade mórbida dos nervos táteis que faz com que os sofredores evitem todo o tocar, se retraiam ante a necessidade de agarrar um objeto sólido. Infere-se disso que, em última instância, tal habitatus(2) fisiológico transforma-se em um ódio instintivo contra toda a realidade, em uma fuga ao “intangível”, ao “incompreensível”; uma repugnância por toda fórmula, por todas noções de tempo e espaço, por todo o estabelecido – costumes, instituições, Igreja –; a sensação de estar em casa em um mundo sem contado com a realidade, um mundo exclusivamente “interior”, um mundo “verdadeiro”, um mundo “eterno”... “O reino de Deus está dentro de vós”...

1 – Em assuntos psicológicos.

2 – Comportamento.

XXX

O ódio instintivo contra a realidade: a conseqüência de uma extremada suscetibilidade à dor e irritação – tão intensa que meramente ser “tocado” torna-se insuportável, pois cada sensação manifesta-se muito profundamente.

A exclusão instintiva de toda aversão, toda hostilidade, todas as fronteiras e distâncias no sentimento: a conseqüência de uma extremada suscetibilidade à dor e irritação – tão grande que sente toda a resistência, toda a compulsão à resistência como uma angústia insuportável (– em outros termos, como nocivo, como proibido pelo instinto de autopreservação), e considera a bem-aventurança (alegria) como algo possível apenas após não ser mais necessário oferecer resistência a nada nem a ninguém, nem mesmo ao mal e ao perigoso – amor como única, como a última possibilidade de vida...

Essas são as duas realidades fisiológicas a partir das quais e por causa das quais a doutrina da salvação se desenvolveu. Denomino-as um sublime hedonismo superdesenvolvido assentado sobre um solo completamente insalubre. O que fica mais próximo delas, apesar de misturado com uma grande dose de vitalidade grega e força nervosa, é o epicurismo, a teoria da salvação do paganismo. Epicuro era um típicodecadente: fui o primeiro a reconhecê-lo. – O medo da dor, mesmo da dor infinitamente pequena – o resultado disso não pode ser qualquer coisa exceto uma religião do amor...

XXXI

Antecipadamente dei minha resposta ao problema. Seu pré-requisito é a assunção de que o tipo do Salvador chegou até nós com sua forma altamente distorcida. Tal distorção é muito provável: há muitos motivos para que esse tipo não deva ser transmitido em sua forma pura, completa e livre de acréscimos. O ambiente no qual esta estranha figura se movia deve ter deixado vestígios nela, e ainda mais deve ter sido feito pela história, pelo destino das primeiras comunidades cristãs; a última, de fato, deve ter embelezado o tipo retrospectivamente com caracteres que apenas podem ser compreendidos enquanto finalidades de guerra e propaganda. Aquele mundo estranho e doentio ao qual os Evangelhos nos conduzem – um mundo aparentemente vindo de uma novela russa, no qual a escória da sociedade, as moléstias nervosas e a idiotice “pueril” se reúnem – deve, de qualquer modo, ter tornado o tipo grosseiro: os primeiros discípulos, em particular, devem ter sido forçados a traduzir, com sua crueza própria, um ser totalmente formado por símbolos e coisas ininteligíveis para poderem compreender alguma coisa – na visão deles o tipo apenas existiu após ter sido reformado em moldes mais familiares... O profeta, o messias, o futuro juiz, o professor de moral, o milagreiro, João Batista – todas simplesmente chances de desfigurá-lo... Finalmente, não subestimemos o proprium(1) de todas as grandes venerações, especialmente as sectárias: tendem a apagar dos objetos venerados todas as características originais e idiossincrasias, não raro

dolorosamente estranhas – nem mesmo os vê. Deve-se lamentar muito que nenhum Dostoievski tenha vivido nas vizinhanças do mais interessante dos décadents – ou seja, alguém que teria sentido o comovente encanto de tal mistura do sublime, do mórbido e do infantil. Em última análise, o tipo, enquanto tipo da decadência, talvez possa realmente ter sido peculiarmente complexo e contraditório: não se deve excluir essa possibilidade. Contudo, as probabilidades parecem estar em seu desfavor, pois neste caso a tradição teria sido particularmente precisa e objetiva, enquanto temos razões para admitir o contrário. Entretanto, existe uma contradição entre o pacífico pregador das montanhas, dos lagos e dos campos, que parece como um novo Buda em um solo muito pouco indiano, e o fanático agressivo, o inimigo mortal dos teólogos e dos eclesiásticos, que é glorificado pela malícia de Renan como “lê grand maitre em ironie(2)”. Pessoalmente não tenho qualquer dúvida de que a maior parte desse veneno (e não menos de esprit(3)) haja penetrado no tipo do Mestre apenas como um resultado da agitada natureza da propaganda cristã: todos conhecemos a inescrupulosidade dos sectários quando decidem fazer de seu líder uma apologia para si mesmos. Quando os primeiros cristãos precisaram de um teólogo hábil, contencioso, pugnaz e maliciosamente sutil para enfrentar outros teólogos, criaram um “Deus” para satisfazer tal necessidade, exatamente como também, sem hesitação, colocaram em sua boca certas idéias que eram necessárias a eles, mas totalmente divergentes dos Evangelhos – “a volta de Cristo”, “o juízo final”, todos os tipos de expectativas e promessas temporais. –

1 – Propriedade, qualidade.

2 – O grande mestre em ironia.

3 – Espírito, ironia.

XXXII

Repito que me oponho a todos os esforços para introduzir o fanatismo na figura do Salvador: a própria palavra imperieux(1), usada por Renan, sozinha é suficiente para anular o tipo. A “boa-nova” nos diz simplesmente que não existem mais contradições; o reino de Deus pertence às crianças; a fé anunciada aqui não é mais conquistada por lutas – está ao alcance das mãos, existiu desde o princípio, é um tipo de infantilidade que se refugiou no espiritual. Tal puberdade retardada e incompleta dos organismos é familiar aos fisiologistas como sintoma da degeneração. A fé desse tipo não é furiosa, não denuncia, não se defende: não empunha “espada” – não entende como poderia um dia colocar homem contra homem. Não se manifesta através de milagres, recompensas, promessas ou “escrituras”: é, do principio ao fim, seu próprio milagre, sua própria recompensa, sua própria promessa, seu próprio “reino de Deus”. Essa fé não se formula – simplesmente vive, e assim guarda-se contra fórmulas. Com certeza, a casualidade do

ambiente, da formação educacional dá proeminência aos conceitos de certa espécie: no cristianismo primitivo encontramos apenas noções de caráter judaico-semítico (– a de comer e beber em comunhão pertence a esta categoria – uma idéia que, como tudo que é judaico, foi severamente fustigada pela Igreja). Cuidemo-nos para não ver nisso tudo mais que uma linguagem simbólica, uma semântica(2), uma oportunidade para falar em parábolas. A teoria de que nenhuma palavra deve ser tomada ao pé da letra era um pressuposto para que este anti-realista pudesse discursar. Colocado entre hindus teria usado os conceitos de Shanhya(3), e entre chineses os de Lao-Tsé(4) – e em ambos os casos isso não faria qualquer diferença a ele. – Tomando uma pequena liberdade no uso das palavras, alguém poderia de fato chamar Jesus de “espírito livre(5)” – não lhe importa o que está estabelecido: a palavra mata(6), tudo aquilo que é estabelecido mata. A noção de “vida” como uma experiência, como apenas ele a concebe, a seu ver encontra-se em oposição a todo tipo de palavra, fórmula, lei, crença e dogma. Fala apenas de coisas interiores: “vida”, ou “verdade”, ou “luz”, são suas palavras para o mundo interior – a seu ver todo o resto, toda a realidade, toda natureza, mesmo a linguagem, tem valor apenas como um sinal, uma alegoria. – Aqui é de suprema importância não se deixar conduzir ao erro pelas tentações existentes nos preconceitos cristãos, ou melhor, eclesiásticos: este simbolismo par excellence encontra-se alheio a toda religião, todas noções de adoração, toda história, toda ciência natural, toda experiência mundana, todo conhecimento, toda política, toda psicologia, todos livros, toda arte – sua “sabedoria” é precisamente a ignorância pura(7) em relação a todas essas coisas. Nunca ouviu falar de cultura; não a combate – nem mesmo a nega... O mesmo pode ser dito do Estado, de toda a ordem social burguesa, do trabalho, da guerra – não tem motivos para negar o “mundo”, nem sequer tem conhecimento do conceito eclesiástico de “mundo”... Precisamente a negação lhe era impossível. – De modo idêntico carece de capacidade argumentativa, não acredita que um artigo de fé, que uma “verdade” possa ser estabelecida através de provas (– suas provas são “iluminações” interiores, sensações subjetivas de felicidade e auto-afirmação, simples “provas de força” –). Tal doutrina não pode contradizer: não sabe que outras doutrinas existem ou podem existir, é inteiramente incapaz de imaginar um juízo oposto... E se, porventura, o encontra, lamenta por tal “cegueira” com uma sincera compaixão – pois somente ela vê a “luz” – no entanto não fará quaisquer objeções...

1 – Imperioso.

2 – A palavra semiótica está no texto, mas é provável que semântica seja a palavra que Nietzsche tinha em mente. (H. L. Mencken)

3 – Um dos seis grandes sistemas da filosofia hindu. (H. L. Mencken)

4 – Considerado o fundador do taoísmo. (H. L. Mencken)

5 – O nome que Nietzsche da aos que aceitam sua filosofia. (H. L. Mencken)

6 – Isto é, a rigorosa palavra da lei – o objetivo mais importante nas primeiras pregações de Jesus. (H. L. Mencken)

7 – Referência à “ignorância pura” (reine Thorheit) do Parsifal de Richard Wagner.(H. L. Mencken)

XXXIII

Em toda a psicologia dos Evangelhos os conceitos de culpa e punição estão ausentes, e o mesmo vale para o de recompensa. O “pecado”, que significa tudo aquilo que distancia o homem de Deus, é abolido – essa é precisamente a “boa-nova”. A felicidade eterna não está meramente prometida, nem vinculada a condições: é concebida como a única realidade – todo o restante não são mais que sinais úteis para falar dela.

Os resultados de tal ponto de vista projetam-se em um novo estilo de vida, um estilo de vida especialmente evangélico. Não é a “fé” que o distingue do cristão; a distinção se estabelece através da maneira de agir; ele age diferentemente. Não oferece resistência, nem em palavras, nem em seu coração, àqueles que lhe são opositores. Não vê diferença entre estrangeiros e conterrâneos, judeus e pagãos (“próximo”, é claro, significa correligionário, judeu). Não se irrita com ninguém, não despreza ninguém. Não apela às cortes de justiça nem se submete às suas decisões (“não prestar juramento”(1)). Nunca, quaisquer sejam as circunstâncias, se divorcia de sua esposa, mesmo que possua provas de sua infidelidade. – No fundo, tudo isso é um princípio; tudo surge de um instinto. –

A vida do salvador foi simplesmente professar essa prática – e também em sua morte... Não precisava mais de qualquer formula ou ritual em suas relações com Deus – nem sequer da oração. Rejeitou toda a doutrina judaica do arrependimento e recompensa; sabia que apenas através da vivência, de um estilo de vida alguém poderia se sentir “divino”, “bem-aventurado”, “evangélico”, “filho de Deus”. Não é o “arrependimento”, não são a “oração e o perdão” o caminho para Deus: apenas o modo de viver evangélico conduz a Deus – isso é justamente o próprio o “Deus”! – O que os Evangelhos aboliram foi o judaísmo presente nas idéias de “pecado”, “remissão dos pecados”, “salvação através da fé” – toda a dogmática eclesiástica dos judeus foi negada pela “boa-nova”.

O profundo instinto que leva o cristão a viver de modo que se sinta “no céu” e “imortal”, apesar das muitas razões para sentir que não está “no céu”: essa é a única realidade psicológica na “salvação”. – Uma nova vida, não uma nova fé.

1 – Mateus 5:34.

XXXIV

Se compreendo alguma coisa sobre esse grande simbolista, é isto: que considerava apenas realidades subjetivas como reais, como “verdades” – que viu todo o resto, todo o natural, temporal, espacial e histórico apenas como símbolos, como material para parábolas. O conceito de “Filho de Deus” não designa uma pessoa concreta na história, um indivíduo isolado e definido, mas um fato “eterno”, um símbolo psicológico desvinculado da noção de tempo. O mesmo é válido, no sentido mais elevado, para o Deus desse típico simbolista, para o “reino de Deus” e para a “filiação divina”. Nada poderia ser mais acristão que as cruas noções eclesiásticas de um Deus como pessoa, de um “reino de Deus” vindouro, de um “reino dos céus” no além e de um “filho de Deus” como segunda pessoa da Trindade. Isso tudo – perdoem-me a expressão – é como soco no olho (e que olho!) do Evangelho: um desrespeito aos símbolos elevado a um cinismo histórico-mundial... Todavia é suficientemente óbvio o significado dos símbolos “Pai” e “Filho” – não para todos, é claro –: a palavra “Filho” expressa a entrada em um sentimento de transformação de todas as coisas (beatitude); “Pai” expressa esse próprio sentimento – a sensação da eternidade e perfeição. – Envergonho-me de lembrar o que a Igreja fez com esse simbolismo: ela não colocou uma história de Anfitrião(1) no limiar da “fé” cristã? E um dogma da “imaculada conceição” ainda por cima?... – Com isso conseguiu apenas macular a concepção...

O “reino dos céus” é um estado de espírito – não algo que virá “além do mundo” ou “após a morte”. Toda a idéia de morte natural está ausente nos Evangelhos: a morte não é uma ponte, não é uma passagem; está ausente porque pertence a um mundo bastante diferente, um mundo apenas aparente, apenas útil enquanto símbolo. A “hora da morte” não é uma idéia cristã – “horas”, tempo, a vida física e suas crises são inexistentes para o mestre da “boa-nova”...

O “reino de Deus” não é uma coisa pela qual os homens aguardam: não teve um ontem nem terá um amanhã, não virá em um “milênio” – é uma experiência do coração, está em toda parte e não está em parte alguma...

1 – Mitologia grega. Anfitrião era o filho de Alceu. Alcmena era sua esposa. Durante sua ausência ela foi visitada por Zeus e Heracles. (H. L. Mencken)

XXXV

O “portador da boa-nova” morreu assim como viveu e ensinou – não para “salvar a humanidade”, mas para demonstrar-lhe como viver. Seu legado ao homem foi um estilo de vida: sua atitude ante os juízes, ante os oficiais, ante seus acusadores – sua atitude perante a cruz. Não resiste; não defende seus direitos; não faz qualquer esforço para evitar a maior das penalidades – ainda mais, a convida... E roga, sofre e ama com aqueles, por aqueles que o maltratam. Não se defender, não se encolerizar, não culpar... Mas igualmente não resistir ao mal – amá-lo...

XXXVI

– Nós, espíritos livres – nós somos os primeiros a possuir os pré-requisitos para entender o que, por dezenove séculos, permaneceu incompreendido – temos aquele instinto e paixão pela integridade que declara uma guerra muito mais ferrenha contra a “sagrada mentira” que contra todas as outras mentiras... A humanidade estava indizivelmente distante de nossa benevolente e cautelosa neutralidade, de nossa disciplina de espírito que sozinha torna possível solucionar coisas tão estranhas e sutis: o que os homens sempre buscaram, com descarado egoísmo, foi sua própria vantagem; criaram a Igreja a partir da negação dos Evangelhos...

Todos que procurassem por sinais de uma divindade irônica que maneja os cordéis por detrás do grande drama da existência não encontrariam pequena evidência neste estupendo ponto de interrogação chamado cristianismo. A humanidade ajoelha-se exatamente perante a antítese do que era a origem, o significado e a lei dos Evangelhos – santificaram no conceito de “Igreja” justamente o que o “portador da boa-nova” considerava abaixo si, atrás de si – seria vão procurar por um melhor exemplo de ironia histórico-mundial –

XXXVII

– Nossa época orgulha-se de seu senso histórico: como, então, se permitiu acreditar que a grosseira fábula do fazedor de milagres e Salvador constitui as origens do cristianismo – e que tudo nele de espiritual e simbólico surgiu apenas posteriormente? Muito pelo contrário, toda a história do cristianismo – da morte na cruz em diante – é a história de uma incompreensão progressivamente grosseira de um

simbolismo original. Com toda a difusão do cristianismo entre massas mais vastas e incultas, até mesmo incapazes de compreender os princípios dos quais nasceu, surgiu a necessidade de torná-lo mais vulgar e bárbaro – absorveu os ensinamentos e rituais de todos cultos subterrâneos do imperium Romanum e as absurdidades engendradas por todo tipo de raciocínio doentio. Era o destino do cristianismo que sua fé se tornasse tão doentia, baixa e vulgar quanto as necessidades doentias, baixas e vulgares que tinha de administrar. O barbarismomórbido finalmente ascende ao poder com a Igreja – a Igreja, esta encarnação da hostilidade mortal contra toda a honestidade, toda grandeza de alma, toda disciplina do espírito, toda humanidade espontânea e bondosa. – Valores cristãos – valores nobres: apenas nós, espíritos livres, restabelecemos a maior das antíteses em matéria de valores!...

XXXVIII

– Não posso, neste momento, evitar um suspiro. Há dias em que sou visitado por um sentimento mais negro que a mais negra melancolia – o desprezo pelos homens. Que não haja qualquer dúvida sobre o que desprezo, sobre quem desprezo: é o homem de hoje, do qual desgraçadamente sou contemporâneo. O homem de hoje – seu hálito podre me asfixia!... Em relação ao passado, como todos estudiosos, tenho muita tolerância, ou seja, um generoso autocontrole: com uma melancólica precaução atravesso milênios inteiros de mundo-manicômio, chamem isso de “cristianismo”, “fé cristã” ou “Igreja cristã”, como desejaram – tomo o cuidado de não responsabilizar a humanidade por sua demência. Mas um sentimento irrefreável irrompe no momento em que entro nos tempos modernos, nos nossos tempos. Nossa época é mais esclarecida... O que era antigamente apenas doentio agora se tornou indecente – é uma indecência ser cristão hoje em dia. E aqui começa minha repugnância. – Olho à minha volta: não resta sequer uma palavra do que outrora se chamava “verdade”; já não suportamos mais que um padre pronuncie tal palavra. Mesmo um homem com as mais modestas pretensões à integridade precisa saber que um teólogo, um padre, um papa de hoje não apenas se engana quando fala, mas na verdade mente – já não se isenta de sua culpa através da “inocência” ou da “ignorância”. O padre sabe, como todos sabem, que não há qualquer “Deus”, nem “pecado”, nem “salvador” – que o “livre arbítrio” e a “ordem moral do mundo” são mentiras –: a reflexão séria, a profunda auto-superação espiritual impedem que quaisquer homens finjam não saber disso... Todas idéias da Igreja agora estão reconhecidas pelo que são – as piores falsificações existentes, inventadas para depreciar a natureza e todos os valores naturais; o padre é visto como realmente é – como a mais perigosa forma de parasita, como a peçonhenta aranha da criação... – Nós sabemos, nossa consciência agora sabe – exatamente qual era o verdadeiro valor de todas essas sinistras invenções do padre e da Igreja e para que fins serviram, com sua desvalorização da humanidade ao nível da autopoluição, cujo aspecto inspira náusea – os conceitos de “outro mundo”, de “juízo final”, de “imortalidade da alma”, da própria “alma”: não passam de instrumentos de tortura, sistemas de crueldade através dos quais o padre torna-se mestre e mantém-se mestre... Todos sabem disso, mas, mesmo assim, nada mudou. Para onde foi nosso último resquício decência, de auto-respeito se nossos

homens de Estado, no geral uma classe de homens não convencionais e profundamente anticristãos em seus atos, agora se denominam cristãos e vão à mesa de comunhão?... Um príncipe à frente de seus regimentos, magnificente enquanto expressão do egoísmo e arrogância de seu povo – e mesmo assim declarando, sem qualquer vergonha, que é um cristão!...(1) Quem, então, o cristianismo nega? O que ele chama “o mundo”? Ser soldado, ser juiz, ser patriota; defender-se a si mesmo; zelar pela sua honra; desejar sua própria vantagem; ser orgulhoso... Toda prática trivial, todo instinto, toda valoração convertida em ato agora é anticristã: que monstro de falsidade o homem moderno precisa ser para se denominar um cristão sem envergonhar-se! –

1 – Nietzsche refere-se ao Kaiser Guilherme II, que subira ao trono da Alemanha em 15 de abril de 1888, cinco meses antes da redação de O Anticristo. (Pietro Nasseti)

XXXIX

– Farei uma pequena regressão para explicar a autêntica história do cristianismo. – A própria palavra “cristianismo” é um mal-entendido – no fundo só existiu um cristão, e ele morreu na cruz. O “Evangelho” morreu na cruz. O que, desse momento em diante, chamou-se de “Evangelho” era exatamente o oposto do que ele viveu: “más novas”, um Dysangelium(1). É um erro elevado à estupidez ver na “fé”, e particularmente na fé na salvação através de Cristo, o sinal distintivo do cristão: apenas a prática cristã, a vida vivida por aquele que morreu na cruz, é cristã... Hoje tal vida ainda é possível, e para certos homens até necessária: o cristianismo primitivo, genuíno, continuará sendo possível em quaisquer épocas... Não fé, mas atos; acima de tudo, um evitar atos, um modo diferente de ser... Os estados de consciência, uma fé qualquer, por exemplo, a aceitação de alguma coisa como verdade – como todo psicólogo sabe, o valor dessas coisas é perfeitamente indiferente e de quinta ordem se comparado ao dos instintos: estritamente falando, todo o conceito de causalidade intelectual é falso. Reduzir o ato ser cristão, o estado de cristianismo, a uma aceitação da verdade, a um mero fenômeno de consciência, equivale a formular uma negação do cristianismo. De fato, não existem cristãos. O “cristão” – aquele que por dois mil anos passou-se por cristão – é simplesmente uma auto-ilusão psicológica. Examinado de perto, parece que, apesar de toda sua “fé”, foi apenas governado por seus instintos – e que instintos! – Em todas as épocas – por exemplo, no caso de Lutero – “fé” nunca foi mais que uma capa, um pretexto, uma cortina por detrás da qual os instintos faziam seu jogo – uma engenhosa cegueira à dominação de certos instintos... Eu já denominei a “fé” uma habilidade especialmente cristã – sempre se fala de “fé” mas se age de acordo com os instintos... No mundo de idéias do cristão não há qualquer coisa que sequer toque a realidade: ao contrário, reconhece-se um ódio instintivo contra a realidade como força motivadora, como único poder de motivação no fundo do cristianismo. Que se segue disso? Que mesmo aqui, in psychologicis, há um erro radical, isto é, determinante da essência, ou seja, da substância. Retire-se uma idéia e coloque-se uma realidade genuína em seu lugar – e todo o cristianismo reduz-se a um nada! – Visto calmamente, este

fenômeno é dos mais estranhos, uma religião não apenas dependente de erros, mas inventiva e engenhosa apenas em criar erros nocivos, venenosos à vida e ao coração – constitui um verdadeiro espetáculo para os Deuses – para aquelas divindades que também são filósofas, as quais encontrei, por exemplo, nos célebres diálogos de Naxos. No momento em que a repugnância as deixar (– e também a nós!) ficarão agradecidas pelo espetáculo proporcionado pelos cristãos: talvez por causa desta curiosa exibição somente o miserável e minúsculo planeta chamado Terra mereça olhar divino, uma demonstração de interesse divino... Portanto, não subestimemos os cristãos: o cristão, falso até a inocência, está muito acima do macaco – uma teoria das origens bastante conhecida(2), quando aplicada aos cristãos, torna-se simplesmente uma delicadeza...

1 – Um dos muitos neologismos de Nietzsche. Ele compõe este vocábulo angelium (cuja origem vem do grego e que significa “nova”, “notícia”) fazendo oposição com os prefixos dys (mau, infeliz – “notícia má”) e eu (bom, feliz – “boa nova”, “boa notícia”). (Pietro Nasseti)

2 – Referência à teoria de Charles Darwin sobre as origens do homem. (Pietro Nasseti)

XL

– O destino do Evangelho foi decidido no momento de sua morte – foi pendurado na “cruz”... Somente a morte, essa inesperada e vergonhosa morte; somente a cruz, a qual geralmente era reservada apenas à canalha – somente este assombroso paradoxo colocou os discípulos face a face com o verdadeiro enigma: “Quem era este? Oque era este?” – O sentimento de desalento, de profunda afronta e injúria; a suspeita de que tal morte poderia constituir uma refutação de sua causa; a terrível questão “Por que aconteceu assim?” – esse estado mental é facilmente compreensível. Aqui tudo precisa ser considerado como necessário; tudo precisa ter um significado, uma razão, uma elevadíssima razão; o amor de um discípulo exclui todo o acaso. Apenas então da fenda da dúvida bocejou: “Quem o matou? Quem era seu inimigo natural?” – essa pergunta reluziu como um relâmpago. Resposta: o judaísmo dominante, a classe dirigente. A partir desse momento revoltaram-se contra a ordem estabelecida, começaram a compreender Jesus como um insurrecto contra a ordem estabelecida. Até então este elemento militante, negador estava ausente em sua imagem; ainda mais, isso representava seu próprio oposto. Decerto a pequena comunidade não havia compreendido o que era precisamente o mais importante: o exemplo oferecido pela sua morte, a liberdade, a superioridade sobre todo o ressentimento – uma plena indicação de quão pouco foi compreendido! Tudo que Jesus poderia desejar através de sua morte, em si mesma, era oferecer publicamente a maior prova possível, um exemplo de seus ensinamentos. Mas os discípulos estavam muito longe de perdoar sua morte – apesar de que fazê-lo seria consoante ao evangelho no mais alto grau; e também não estavam preparados para se oferecerem, com doce e suave tranqüilidade de coração, a uma morte similar... Muito pelo contrário, foi precisamente o menos evangélico dos sentimentos, a vingança,

que os possuiu. Parecia-lhes impossível que a causa devesse perecer com sua morte: “recompensa” e “julgamento” tornaram-se necessários (– e o que poderia ser menos evangélico que “recompensa”, “punição” e “julgamento”!). – Uma vez mais a crença popular na vinda de um messias apareceu em primeiro plano; a atenção foi direcionada a um momento histórico: o “reino de Deus” virá para julgar seus inimigos... Mas nisso tudo há um mal-entendido gigantesco: conceber o “reino de Deus” como ato final, como uma simples promessa! O Evangelho havia sido, de fato, a própria encarnação, o cumprimento, a realização desse “reino de Deus”. Foi apenas então que todo o desprezo e acridez contra fariseus e teólogos começaram a aparecer no tipo do Mestre, que com isso foi transformado, ele próprio, em fariseu e teólogo! Por outro lado, a selvagem veneração dessas almas completamente desequilibradas não podia mais suportar a doutrina do Evangelho, ensinada por Jesus, sobre os direitos iguais entre todos os homens à filiação divina: sua vingança consistiu em elevar Jesus de modo extravagante, destarte separando-o deles: exatamente como, em tempos anteriores, os judeus, para vingarem-se de seus inimigos, se separaram de seu Deus e o elevaram às alturas. Este Deus único e este filho único de Deus: ambos foram produtos do ressentimento...

XLI

– E a partir desse momento surgiu um problema absurdo: “Como pôde Deus permiti-lo?” Para o qual a perturbada lógica da pequena comunidade formulou uma resposta assustadoramente absurda: Deus deu seu filho em sacrifício para a remissão dos pecados. De uma só vez acabaram com o Evangelho! O sacrifício pelos pecados, e em sua forma mais obnóxia e bárbara: o sacrifício do inocente pelo pecado dos culpados! Que paganismo apavorante! – O próprio Jesus havia suprimido o conceito de “culpa”, negava a existência de um abismo entre Deus e o homem; ele viveu essa unidade entre Deus e o homem, que era precisamente a sua “boa-nova”... E não como um privilégio! – Desde então o tipo do Salvador foi sendo corrompido, pouco a pouco, pela doutrina do julgamento e da segunda vinda, a doutrina da morte como sacrifício, a doutrina da ressurreição, através da qual toda a noção de “bem-aventurança”, a inteira e única realidade dos Evangelhos é escamoteada – em favor de um estado existencial pós-morte!... Paulo, com aquela insolência rabínica que permeia todos seus atos, deu um caráter lógico a essa concepção indecente deste modo: “Se Cristo não ressuscitou de entre os mortos, então é vã toda a nossa fé” – E de súbito converteu-se o Evangelho na mais desprezível e irrealizável das promessas, a petulante doutrina da imortalidade do indivíduo... E Paulo a pregava como uma recompensa!...

XLII

Agora se começa a ver justamente o que terminava com a morte na cruz: um esforço novo e totalmente original para fundar um movimento de pacifismo budístico, e assim estabelecer a felicidade na Terra – real, não meramente prometida. Pois esta é – como já demonstrei – a diferença essencial entre as duas religiões da decadência: o budismo não promete, mas de fato cumpre; o cristianismo promete tudo, masnão cumpre nada. – A “boa nova” foi seguida rente aos calcanhares pela “péssima nova”: a de Paulo. Paulo encarna exatamente o tipo oposto ao “portador da boa nova”; representa o gênio do ódio, a visão do ódio, a inexorável lógica do ódio. Oque esse disangelista(1) não ofereceu em sacrifício ao ódio! Acima de tudo, o Salvador: ele pregou-o em sua própria cruz. A vida, o exemplo, o ensinamento, a morte de Cristo, o significado e a lei de todo o Evangelho – nada disso restou após esse falsário, com seu ódio, ter reduzido tudo ao que lhe tivesse utilidade. Certamente não a realidade, certamente não a verdade histórica!... E uma vez mais o instinto sacerdotal do judeu perpetrou o mesmo grande crime contra a História – simplesmente extirpou o ontem e o anteontem do cristianismo e inventou sua própria história das origens do cristianismo. Ainda mais, fez da história de Israel outra falsificação, para que assim se tornasse uma mera pré-história de seus feitos: todos os profetas falavam de seu “Salvador”... Mais adiante a Igreja falsificou até a história da humanidade para transformá-la em uma pré-história do cristianismo... A figura do Salvador, seus ensinamentos, seu estilo de vida, sua morte, o significado de sua morte, mesmo as conseqüências de sua morte – nada permaneceu intocado, nada permaneceu sequer semelhante à realidade. Paulo simplesmente deslocou o centro de gravidade daquela vida inteira para um local detrás desta existência – na mentira do Jesus “ressuscitado”. No fundo, a vida do salvador não lhe tinha qualquer utilidade – o que necessitava era de uma morte na cruz e de algo mais. Ver qualquer coisa honesta em Paulo, cuja casa estava no centro da ilustração estóica, quando converteu uma alucinação em uma prova da ressurreição do Salvador, ou mesmo acreditar na narrativa de que ele próprio sofreu essa alucinação – isso seria uma genuína niaiserie(2) da parte de um psicólogo. Paulo desejava o fim; logo, também desejava os meios. – Aquilo que ele próprio não acreditava foi prontamente engolido por suficientes idiotas entre os quais disseminou seu ensinamento. – Seu desejo era o poder; em Paulo o padre novamente quis chegar ao poder – só podia servir-se de conceitos, ensinamentos e símbolos que tiranizam as massas e formam rebanhos. Qual parte do cristianismo Maomé tomou emprestada mais tarde? A invenção de Paulo, sua técnica para estabelecer a tirania sacerdotal e organizar rebanhos: a crença na imortalidade da alma – isto é, a doutrina do “julgamento”.

1 – “Portador da má notícia”

2 – Parvoíce, tolice.

LXIII

Quando centro de gravidade da vida é colocado, não nela mesma, mas no “além” – no nada –, então se retirou da vida o seu centro de gravidade. A grande mentira da imortalidade pessoal destrói toda razão, todo instinto natural – tudo que há nos instintos que seja benéfico, vivificante, que assegure o futuro, agora é causa de desconfiança. Viver de modo que a vida não tenha sentido: agora esse é o “sentido” da vida... Para que o espírito público? Para que se orgulhar pela origem e antepassados? Para que cooperar, confiar, preocupar-se com o bem-estar geral e servir a ele?... Outras tantas “tentações”, outros tantos desvios do “bom caminho”. – “Somente uma coisa é necessária”... Que todo homem, por possuir uma “alma imortal”, tenha tanto valor quanto qualquer outro homem; que na totalidade dos seres a “salvação” de todo indivíduo um possa reivindicar uma importância eterna; que beatos insignificantes e desequilibrados possam imaginar que as leis da natureza são constantemente transgredidas em seu favor – não há como expressar desprezo suficiente por tamanha intensificação de toda espécie de egoísmos ad infinitum, até a insolência. E, contudo, o cristianismo deve o seu triunfo precisamente a essa deplorável bajulação de vaidade pessoal – foi assim que seduziu ao seu lado todos os malogrados, os insatisfeitos, os vencidos, todo o refugo e vômito da humanidade. A “salvação da alma” – em outras palavras: “o mundo gira ao meu redor”... A venenosa doutrina dos “direitos iguais para todos” foi propagada como um princípio cristão: a partir dos recônditos mais secretos dos maus instintos o cristianismo travou uma guerra de morte contra todos os sentimentos de reverência e distância entre os homens, ou seja, contra o primeiro pré-requisito de toda evolução, de todo desenvolvimento da civilização – do ressentimento das massas forjou sua principal arma contra nós, contra tudo que é nobre, alegre, magnânimo sobre a terra, contra nossa felicidade na Terra... Conceder a “imortalidade” a qualquer Pedro e Paulo foi a maior e mais viciosa afronta à humanidade nobre já perpetrada. – E não subestimemos a funesta influência que o cristianismo exerceu mesmo na política! Atualmente ninguém mais possui coragem para os privilégios, para o direito de dominar, para os sentimentos de veneração por si e seus iguais – para o pathos da distância... Nossa política está debilitada por essa falta de coragem! – Os sentimentos aristocráticos foram subterraneamente carcomidos pela mentira da igualdade das almas; e se a crença nos “privilégios da maioria” faz e continuará a fazer revoluções – é o cristianismo, não duvidemos disso, são as valorações cristãs que convertem toda revolução em um carnaval de sangue e crime! O cristianismo é uma revolta de todas as criaturas rastejantes contra tudo que é elevado: o Evangelho dos “baixos” rebaixa...

XLIV

– Os Evangelhos são inestimáveis como evidência da corrupção já arraigada dentro da comunidade cristã primitiva. O que Paulo, com a cínica lógica de um rabino, posteriormente levou a cabo era no fundo

apenas um processo de degradação que se iniciou com a morte do Salvador. – Nenhum esmero é demais na leitura dos Evangelhos; dificuldades se ocultam por detrás de cada palavra. Eu confesso – espero que ninguém me leve a mal – que precisamente por essa razão oferecem um deleite de primeira ordem a um psicólogo – como o oposto de toda corrupção ingênua, como um refinamento par excellence, como uma arte da corrupção psicológica. Os Evangelhos, de fato, estão à parte. A Bíblia em geral não deve ser comparada a eles. Estamos entre judeus: essa é a primeira coisa que devemos ter em mente se não quisermos perder o fio do assunto. A genialidade empregada para criar a ilusão de “santidade” pessoal permanece sem paralelos, tanto nos livros quanto nos homens; essa elevação da falsidade na palavra e nos gestos ao nível de arte – isso tudo não se deve ao acaso de um talento individual, de alguma natureza excepcional. O necessário aqui é a raça. Todo o judaísmo manifesta-se no cristianismo como a arte de forjar mentiras sagradas, como a técnica judaica que após muitos séculos de aprendizado e treinamento sério chegou à sua mais alta maestria. O cristão, essa ultima ratio(1) da mentira, é o judeu mais uma vez – é triplicemente judeu... A vontade subjacente de utilizar somente conceitos, símbolos e atitudes que convém à práxis sacerdotal, o repúdio instintivo a qualquer outra perspectiva e a qualquer outro método para estimar valor e utilidade – isso não é somente uma tradição, é uma herança: apenas como uma herança é capaz de operar com força natural. Toda a humanidade, mesmo as maiores mentes das maiores épocas (com uma exceção que, talvez, mal fosse humana –), deixou-se enganar. O Evangelho foi lido como um livro da inocência... certamente nenhuma modesta indicação do alto grau de perícia com que o truque foi feito. – É claro, se pudéssemos de fato ver esses carolas e santos falsos, mesmo que apenas por um instante, a farsa seria posta a fim – e precisamente porque não consigo ler suas palavras sem também ver seus gestos que acabei com eles... Simplesmente não consigo suportar a maneira com que levantam os olhos. – Para a maioria, felizmente, livros não passam de literatura. – Que não nos deixemos induzir em erro: eles dizem “não julgueis”, mas condenam ao inferno tudo que fica em seu caminho. Ao deixarem Deus julgar, são eles próprios que julgam; ao glorificarem Deus, glorificam a si mesmos; ao exigirem que todos manifestem as virtudes para as quais são aptos – mais ainda, das quais precisam para permanecer no topo –, assumem o aspecto de homens em uma luta pela virtude, de homens engajados numa guerra para que a virtude prevaleça. “Nós vivemos, morremos, sacrificamo-nos pelo bem” (– “a verdade”, “a luz”, “o reino de Deus”): na realidade, simplesmente fazem o que não podem deixar de fazer. Forçados, como hipócritas, a serem furtivos, se esconderem nos cantos, se esquivarem pelas sombras, convertem sua necessidade em dever: é como um dever que surge sua vida humilde, e tal humildade converte-se em mais uma prova de devoção... Ah, essa humilde, casta e misericordiosa fraude! “A própria virtude deve testemunhar em nosso favor”... Leiam-se os Evangelhos como livros de sedução moral: essa gentinha insignificante se atrela à moral – conhecem perfeitamente suas utilidades! A moral é o melhor meio para conduzir a humanidade pelo nariz! – A verdade é que a mais consciente presunçãodos eleitos disfarça-se de modéstia: desse modo colocaram a si próprios, a “comunidade”, os “bons e justos”, de uma vez por todas, de um lado, do lado da “verdade” – e o resto da humanidade, “o mundo”, do outro... Nisto observamos a espécie mais fatal de megalomania que a Terra já testemunhou: pequenos abortos de beatos e mentirosos começam a reivindicar direitos exclusivos sobre os conceitos de “Deus”, “verdade”, “luz”, “espírito”, “amor”, “sabedoria”, “vida”, como se fossem sinônimos deles próprios, e através disso buscaram estabelecer o limite entre si e o “mundo”; pequenos superjudeus, maduros para todo tipo de manicômio, viraram os valores de cabeça para baixo para satisfazerem suas noções, como se somente o cristão fosse o significado, o sal, a medida e também o juízo final de todo o resto... Todo esse desastre só foi possível porque no mundo já existia uma megalomania similar, de mesma raça, a saber, a judaica:

uma vez que se abriu o abismo entre judeus e judeus-cristãos, a estes já não havia escolha senão empregar os mesmos procedimentos de autoconservação que o instinto judaico lhes aconselhava, mesmo contra os próprios judeus, ainda que judeus somente os tivessem empregado contra não-judeus. O cristão é simplesmente um judeu de confissão “reformada”. –

1 – Última razão. Argumento decisivo.

XLV

– Ofereço alguns exemplos do tipo de coisa que essa gente insignificante tinha dentro de suas cabeças – do que colocaram na boca do Mestre: a cândida crença de “belas almas”. –

“E tantos quantos vos não receberem, nem vos ouvirem, saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo dos vossos pés, em testemunho contra eles. Em verdade vos digo que haverá mais tolerância no dia do juízo para Sodoma e Gomorra, do que para os daquela cidade” (Marcos, 6:11). – Quão evangélico!

“E qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma mó de atafona, e que fosse lançado no mar” (Marcos, 9:42). – Quão evangélico!

“E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (Marcos, 9:47-48). – Não é exatamente do olho que se trata...

“Dizia-lhes também: Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte sem que vejam chegado o reino de Deus com poder” (Marcos 9:1). – Bem mentido, leão!...(1)

“Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Porque...” (Nota de um psicólogo: a moral cristã é refutada pelos seus porquês: suas razões a contrariam – isso a faz cristã) (Marcos, 8:34). –

“Não julgueis, para que não sejais julgados ...com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós” (Mateus 7:1-2). – Que noção de justiça, que juiz “justo”!...

“Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também

assim?” (Mateus 5:46-47). – Princípio do “amor cristão”: no fim das contas quer ser bempago...

“Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas” (Mateus 6:15). – Muito comprometedor para o assim chamado “pai”.

“Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33). – Todas estas coisas: isto é, alimento, vestuário, todas necessidades da vida. Um erro, para ser eufêmico... Um pouco antes esse Deus apareceu como um alfaiate, pelo menos em certos casos.

“Folgai nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso galardão no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas” (Lucas 6:23). – Canalha indecente! Já se compara aos profetas...

“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém violar o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (I Paulo aos coríntios, 3:16-17). – Para coisas assim não há desprezo suficiente...

“Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas?” (I Paulo aos coríntios, 6:2). – Infelizmente, não é apenas o discurso de um lunático... Esse espantoso impostor assim prossegue: “Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?”...

“Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação... Não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que nada são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele” (I Paulo aos coríntios, 1:20 e adiante(2)). – Para compreender esta passagem, um exemplo de primeira linha da psicologia da moral de chandala, deve-se ler a primeira parte de minha “Genealogia da Moral”: nela, pela primeira vez, foi evidenciado o antagonismo entre a moral nobre e a moral de chandala, nascida do ressentimento e da vingança impotente. Paulo foi o maior dos apóstolos da vingança...

1 – Paráfrase de Demétrio. “Bem rugido, leão!”, ato V, cena I de “Sonho de uma Noite de Verão”, por William Shakespeare. O leão, obviamente, é o símbolo cristão para Marcos. (H. L. Mencken)

2 – 20, 21, 26, 27, 28, 29.

XLVI

– Que se infere disso? Que convém vestir luvas antes de ler o Novo Testamento. A presença de tanta sujeira faz disso algo muito aconselhável. Tão pouco escolheríamos como companheiros os “primeiros cristãos” quanto os judeus poloneses: não que tenhamos a necessidade de lhes fazer objeções... Ambos cheiram mal. – Em vão procurei no Novo Testamento por um único traço de simpatia; nele não há nada que seja livre, bondoso, sincero ou leal. Nele a humanidade nem mesmo dá seu primeiro passo ascendente – o instinto de limpeza está ausente... Apenas maus instintos estão presentes, e tais instintos nem ao menos são dotados de coragem. Nele tudo é covardia; tudo é um fechar os olhos, um auto-engano. Após ler o Novo Testamento qualquer outro livro parece limpo: por exemplo, imediatamente após Paulo, li com arrebatamento o mais encantador e insolente zombeteiro, Petrônio, do qual poder-se-ia dizer o mesmo que Domenico Boccaccio escreveu sobre César Bórgia ao Duque de Parma: “é tutto festo” – imortalmente saudável, imortalmente alegre e são... Estes santarrões miseráveis erram no essencial. Atacam, mas tudo que atacam torna-se distinto. Quem é atacado por um “primeiro cristão” certamente não é denegrido... Pelo contrário, é uma honra possuir um “primeiro cristão” como oponente. Não se pode ler o Novo Testamento sem adquirir uma predileção por tudo que nele é maltatrado – para não falar da “sabedoria deste mundo”, que um insolente fanfarrão tenta reduzir a nada com a “loucura da pregação”... Mesmo os escribas e fariseus são beneficiados por tal oposição: certamente deviam ter algum valor para merecerem ser odiados de maneira tão indecente. Hipocrisia – como se essa fosse uma acusação que os “primeiros cristãos” ousassem fazer! – Afinal, eles eram os privilegiados, e isso era suficiente: o ódio dos chandala não precisa de qualquer outro pretexto. O “primeiro cristão” – e também, receio, o “último cristão”, que eu talvez viva tempo suficiente para ver – é um rebelde por profundo instinto contra tudo que é privilégio – vive e guerreia sempre pela “igualdade de direitos”... Estritamente falando, ele não tem escolha. Quando alguém pretende representar, ele próprio, o “eleito de Deus” – ou “templo de Deus”, ou “juiz dos anjos” –, então qualquer outro critério de eleição, quer seja baseado na honestidade, no intelecto, na virilidade e no orgulho, ou na beleza e liberdade de coração, torna-se simplesmente “mundano” – o mal em si... Moral: toda palavra pronunciada por um “primeiro cristão” é uma mentira, todos seus atos são instintivamente desonestos – todos seus valores, todos seus fins são nocivos, mas todos que odeia, tudo que odeia, tem valor verdadeiro... O cristão, e particularmente o padre cristão, é um critério de valores.

– Preciso acrescentar que, em todo o Novo Testamento, não aparece senão uma única figura merecedora de honra: Pilatos, o governador romano. Levar assuntos judaicos a sério – ele estava muito acima disso. Um judeu a mais ou a menos – que isso importa?... A nobre ironia do romano ante o qual a palavra “verdade” foi cinicamente abusada enriqueceu o Novo Testamento com a única passagem que tem qualquer valor – que é sua crítica e sua destruição: “Que é a verdade?”...

XLVII

– O que nos distingue não é nossa incapacidade de encontrar Deus, nem na história, nem na natureza, nem por detrás da natureza – mas que consideramos tudo que foi honrado como sendo Deus, não como algo “divino”, mas lastimável, absurdo, nocivo; não como um simples erro, mas como um crime contra a vida... Negamos que esse Deus seja Deus... E se alguém nos mostrasse esse Deus cristão, ficaríamos ainda menos inclinamos a crer nele. – Numa fórmula: Deus, qualem Paulus creavit, Dei negatio.(1) – Uma religião como o cristianismo, que não possui um único ponto de contato com a realidade, que se esfacela no momento em que a realidade impõe seus direitos, inevitavelmente será a inimiga mortal da “sabedoria deste mundo”, ou seja, da ciência – nomeará bom tudo que serve para envenenar, caluniar e depreciar toda disciplina intelectual, toda lucidez e retidão em matéria de consciência intelectual, toda frieza nobre e liberdade de espírito. A “fé”, como um imperativo, veta a ciência – in praxi(2), mentir a todo custo... Paulo compreendeu muito bem que a mentira – que a “fé” – era necessária; e posteriormente a Igreja compreendeu Paulo. – O Deus que Paulo inventou, um Deus que “reduz ao absurdo” a “sabedoria deste mundo” (especialmente as duas grandes inimigas da superstição, a filologia e a medicina), é em verdade uma indicação da firme determinação de Paulo para realizar isto: dar o nome de Deus à sua própria vontade, thora(3) – isso é essencialmente judaico. Paulo quer desvalorizar a “sabedoria deste mundo”: seus inimigos são os bons filólogos e médicos da escola alexandrina – a guerra é feita contra eles. De fato, nenhum homem pode ser filólogo e médico sem ao mesmo tempo ser anticristo. O filólogo vê por detrás dos “livros sagrados”, o médico vê por detrás da degeneração fisiológica do cristão típico. O médico diz “incurável”; o filólogo diz “fraude”...

1 – Deus, tal como Paulo o criou, é a negação de Deus.

2 – Na prática.

3 – Lei.

XLVIII

– Será que alguém já compreendeu claramente a célebre história que se encontra no início da Bíblia – a do pavor mortal de Deus ante a ciência? Ninguém, de fato, a compreendeu. Este livro de padres par excellence começa, como convém, com a grande dificuldade interior do padre: ele enfrenta um único grande perigo, ergo, “Deus” enfrenta um único grande perigo. –

O velho Deus, todo “espírito”, todo grão-padre, todo perfeição, passeia pelo seu jardim: está entediado e tentando matar tempo. Contra o enfado até os Deuses lutam em vão(1). O que ele faz? Cria o homem – o homem é divertido... Mas então percebe que o homem também está entediado. A piedade de Deus para a única forma da aflição presente em todos os paraísos desconhece limites: então em seguida criou outros animais. Primeiro erro de Deus: para o homem esses animais não representavam diversão – ele buscava dominá-los; não queria ser um “animal”. – Então Deus criou a mulher. Com isso erradicou enfado – e muitas outras coisas também! A mulher foi o segundo erro de Deus. – “A mulher, por natureza, é uma serpente: Eva” – todo padre sabe disso; “da mulher vem todo o mal do mundo” – todo padre sabe disso também. Logo, igualmente cabe a ela a culpa pela ciência... Foi devido à mulher que o homem provou da árvore do conhecimento. – Que sucedeu? O velho Deus foi acometido por um pavor mortal. O próprio homem havia sido seu maior erro; criou para si um rival; a ciência torna os homens divinos – tudo se arruína para padres e deuses quando o homem torna-se científico! – Moral: a ciência é proibida per se; somente ela é proibida. A ciência é o primeiro dos pecados, o germe de todos os pecados, o pecado original. Toda a moral é apenas isto: “Tu não conhecerás” – o resto é deduz-se disso. – O pavor de Deus, entretanto, não o impediu de ser astuto. Como se proteger contra a ciência? Por longo tempo esse foi o problema capital. Resposta: expulsando o homem do paraíso! A felicidade e a ociosidade evocam o pensar – e todos pensamentos são maus pensamentos! – O homem não deve pensar. – Então o “padre” inventa a angústia, a morte, os perigos mortais do parto, toda a espécie de misérias, a decrepitude e, acima de tudo, a enfermidade – nada senão armas para alimentar a guerra contra a ciência! Os problemas não permitem que o homem pense... Apesar disso – que terrível! – o edifício do conhecimento começa a elevar-se, invadindo os céus, obscurecendo os Deuses – que fazer? – O velho Deus inventa a guerra; separa os povos; faz com que se destruam uns aos outros (– os padres sempre necessitaram de guerras...). Guerra – entre outras coisas, um grande estorvo à ciência! – Inacreditável! O conhecimento, a emancipação do domínio sacerdotal prosperam apesar da guerra! – Então o velho Deus chega à sua resolução final: “O homem tornou-se científico – não existe outra solução: ele precisa ser afogado”...

1 – Paráfrase de Schiller, “Contra a estupidez até os Deuses lutam em vão.” (H. L. Mencken)

XLIX

– Fui compreendido. No início da Bíblia está toda a psicologia do padre. – O padre conhece apenas um grande perigo: a ciência – o conceito sadio de causa e efeito. Mas a ciência apenas floresce totalmente sob condições favoráveis – um homem precisa de tempo, precisa possuir um intelecto transbordante para poder “conhecer”... “Logo, é preciso tornar o homem infeliz” – essa foi, em todas as épocas, a lógica do padre. – É fácil ver o que, a partir dessa lógica, surgiu no mundo: – o “pecado”... O conceito de culpa e punição, toda a “ordem moral do mundo” foram direcionados contra a ciência – contra a emancipação do homem do jugo sacerdotal... O homem não deve olhar para seu exterior; deve olhar apenas para o interior.

Não deve olhar as coisas com acuidade e prudência, não deve aprender sobre elas; não deve olhar para nada; deve apenas sofrer... E sofrer tanto que sempre esteja precisando de um padre. – Fora os médicos! O necessário é um Salvador. – O conceito de culpa e punição, incluindo as doutrinas da “graça”, da “salvação”, do “perdão” – mentiras sem qualquer realidade psicológica – foram inventadas para destruir o senso de causalidade do homem: são um ataque contra o conceito de causa e efeito! – E não um ataque com punho, com faca, com honestidade no amor e no ódio! Longe disso, foi inspirado pelo mais covarde, mais velhaco, mais ignóbil dos instintos! Um ataque de padres! Um ataque de parasitas! O vampirismo de sanguessugas pálidas e subterrâneas!... Quando as conseqüências naturais de um ato já não são mais “naturais”, mas vistas como obras de fantasmas da superstição – “Deus”, “espíritos”, “almas” –, como conseqüências “morais”, recompensas, punições, sinais, lições, então torna-se estéril todo o solo para o conhecimento – e com isso perpetrou-se o maior dos crimes contra a humanidade. – Repito que o pecado, essa autoprofanação par excellence, foi inventado para tornar impossível ao homem a ciência, a cultura, toda a elevação e todo o enobrecimento; o padre reina graças à invenção do pecado. –

L

– Não posso, aqui, prescindir de uma psicologia da “fé”, do “crente”, em proveito, como é justo, dos próprios “crentes”. Se hoje há alguns que ainda não sabem quão indecente é ser “crente” – ou quanto isso indica decadência, falta de vontade de viver –, amanhã eles o saberão. Minha voz alcança até os surdos. – Parece-me que entre cristãos, se não compreendi mal, prevalece uma espécie de critério da verdade chamado “prova de força”. A fé beatifica: logo, é verdadeira”. – Poderia-se objetar que a beatitude não é demonstrada, mas apenas prometida: sustenta-se na “fé” enquanto condição – será beatificado porque crê... Mas e aquilo que o padre promete ao crente, aquele “além” transcendental – como isso pode ser demonstrado? – A “prova de força”, no fundo, não passa da crença de que os efeitos prometidos pela fé se realizarão. – Numa fórmula: “Creio que a fé beatifica – logo, ela é verdadeira”... Mas não podemos ir além disso. Esse “logo” já é o próprio absurdum transformado em critério da verdade. – Contudo, por cortesia, admitamos que a beatificação através da fé tenha sido demonstrada (– não meramente desejada, não meramente prometida pela suspeita boca de um padre): mesmo assim, poderia a beatitude – dito em forma técnica, o prazer – ser uma prova da verdade? Dista tanto de sê-lo que a influência das sensações de prazer sobre a resposta à questão “Que é a verdade?” praticamente constitui uma objeção à verdade, ou, em todo caso, é suficiente para torná-la altamente suspeita. A prova do “prazer” prova o “prazer” – nada mais; por que se deveria admitir que juízos verdadeiros geram mais prazer que os falsos e que, em conformidade a alguma harmonia preestabelecida, necessariamente trariam consigo sensações de prazer? – A experiência de todas as mentes profundas e disciplinadas ensina o contrário. O homem teve de lutar bravamente por cada migalha da verdade; teve de sacrificar quase tudo aquilo em que se agarra o coração humano, o amor humano, a confiança humana na vida. Para isso é necessário possuir grandeza de alma: o serviço da verdade é o mais duro dos serviços. – O que significa, então, a integridade intelectual?

Significa ser severo com seu próprio coração, desprezar os “belos sentimentos” e fazer de cada Sim e de cada Não uma questão de consciência! – A fé beatifica: logo, ela mente...

LI

Que em certas circunstâncias a fé promove a bem-aventurança, que a bem-aventurança não faz de uma idee fixe(1) uma idéia verdadeira, que a fé na realidade não move montanhas, mas as constrói onde antes não existiam: tudo isso fica bastante evidente após uma breve visita a um hospício. Mas não, é claro, para um padre: pois seus instintos o induzem a dizer que a doença não é doença e que hospícios não são hospícios. O cristianismo necessita da doença, assim como o espírito grego necessitava de uma saúde superabundante – o verdadeiro objetivo de todo o sistema de salvação da Igreja é tornar as pessoas enfermas. E a própria Igreja – não considera ela um manicômio católico como o ideal último? – Toda a Terra, um manicômio? – O tipo de homem religioso que a Igreja deseja é o típico decadente; a época em que uma crise religiosa se apodera de um povo é sempre marcada por epidemias de desordem nervosa; o “mundo interior” de um homem religioso assemelha-se tanto ao “mundo interior” de um homem sobreexcitado e exausto que é difícil distinguir entre os dois; os estados mais “elevados”, que o cristianismo colocou sobre a humanidade como valores supremos, são formas epileptóides – a Igreja concedeu nomes sagrados apenas para lunáticos ou grandes impostores in majorem Dei honorem(2)... Uma vez me aventurei a considerar todo o sistema cristão de training em penitência e salvação (atualmente melhor estudado na Inglaterra) como um método para produzir uma folie circulaire(3) sobre um solo já preparado, ou seja, um solo absolutamente insalubre. Nem todos podem ser cristãos: não se é “convertido” ao cristianismo – antes é necessário estar suficientemente doente... Nós outros, nós que temos coragem para a saúde e para o desprezo – temos o direito de desprezar uma religião que prega a incompreensão do corpo! Que se recusa a dispensar a superstição da alma! Que da insuficiência alimentar faz “virtude”! Que combate a saúde como alguma espécie de inimigo, de demônio, de tentação! Que se convenceu de que é possível trazer uma “alma perfeita” em um corpo cadavérico, e que, para isso, inventou um novo conceito de “perfeição”, um estado existencial pálido, doentio, fanático até a estupidez, a chamada “santidade” – uma santidade que não passa de uma série de sintomas de um corpo empobrecido, enervado e incuravelmente corrompido!... O movimento cristão, enquanto movimento Europeu, desde o começo não foi mais que uma sublevação de toda espécie de elementos desterrados e refugados (– que agora, sob a máscara do cristianismo, aspiram ao poder). – Não representa a degeneração de uma raça; representa, pelo contrário, uma conglomeração de produtos da decadência vindos de todas as direções, amontoando-se e buscando-se reciprocamente. Não foi, como se pensa, a corrupção da Antigüidade, da Antigüidade nobre, que tornou o cristianismo possível; nunca será possível combater com violência suficiente a imbecilidade erudita que atualmente sustém tal teoria. Quando as enfermas e podres classes chandala de todo o imperium foram cristianizadas, o tipo oposto, a nobreza, alcançou seu estágio de desenvolvimento mais belo e amadurecido. A maioria subiu ao poder; a

democracia, com seus instintos cristãos, triunfou... O cristianismo não era “nacional”, não estava baseado em raça – apelou a todas as variedades de homens deserdados pela vida, tinha aliados em toda parte. O cristianismo possui em seu âmago o rancor dos doentes – o instinto contra os sãos, contra a saúde. Tudo que é bem-constituído, orgulhoso, galante e, acima de tudo, belo é uma ofensa aos seus olhos e ouvidos. Novamente recordo as inestimáveis palavras de Paulo: “Deus escolheu as coisas fracas deste mundo, as coisas loucas deste mundo, as coisas ignóbeis e as desprezadas”(4): essa era a fórmula; in hoc signo(5) a décadence triunfou. – Deus na cruz – o homem nunca compreenderá o assustador significado que esse símbolo encerra? – Tudo que sofre, tudo que está crucificado é divino... Nós todos estamos suspensos na cruz, conseqüentemente somos divinos... Apenas nós somos divinos!... Neste sentido o cristianismo foi uma vitória: uma mentalidade mais nobre pereceu por ele – o cristianismo continua sendo a maior desgraça da humanidade. –

1 – Idéia fixa.

2 – Para maior honra de Deus.

3 – Loucura circular.

4 – I Coríntios 1:27-28.

5 – Com este sinal.

LII

O cristianismo também se encontra em oposição a toda boa constituição intelectual – somente a razão enferma pode ser usada como razão cristã; toma o partido de tudo que é idiota; lança sua maldição contra o “intelecto”, contra a soberba do intelecto são. Visto que a doença é inerente ao cristianismo, segue-se disso que o estado típico do cristão, “a fé”, também é necessariamente uma forma de doença; todos os caminhos retos, legítimos e científicos devem ser banidos pela Igreja como sendo caminhos proibidos. A própria dúvida é um pecado... A completa ausência de limpeza psicológica no padre – identificada por um simples olhar – é um fenômeno resultante da decadência – observando-se mulheres histéricas e crianças raquíticas notar-se-á regularmente que a falsificação dos instintos, o prazer de mentir por mentir e a incapacidade de olhar e caminhar direito são sintomas da decadência. “Fé” significa não querer saber o que é a verdade. O padre, o devoto de ambos os sexos, é uma fraude porque é doente: seus instintos exigem que a verdade jamais tenha direito em qualquer ponto. “Tudo que torna doente é bom; tudo que surge da plenitude, da superabundância, do poder, é mau”: assim pensa o crente. Uma compulsão para

mentir – é através disso que reconheço todo teólogo predestinado. – Outra característica do teólogo é sua incapacidade filológica. O que quero dizer com filologia é, de modo geral, a arte de ler bem – a capacidade de absorver fatos sem interpretá-los falsamente, sem perder, na ânsia de compreendê-los, a cautela, a paciência e a sutileza. Filologia como ephexis(1) na interpretação: trate-se de livros, de notícias de jornal, dos mais funestos eventos ou de estatísticas meteorológicas – para não mencionar a “salvação da alma”... A maneira como um teólogo, seja de Berlim ou Roma, explica, digamos, uma “passagem bíblica”, ou um acontecimento, por exemplo, a vitória do exército nacional, sob a sublime luz dos Salmos de Davi, é sempre tão ousada que faz um filólogo subir pelas paredes. E o que dizer quando devotos e outras vacas da Suábia(2) usam o “dedo de Deus” para converter sua miserável existência cotidiana e sedentária em um milagre da “graça”, da “providência”, em uma “experiência divina”? O mais modesto exercício de intelecto, para não dizer de decência, deveria de certo ser suficiente para convencer esses intérpretes da perfeita infantilidade e indignidade de tal abuso da destreza digital de Deus. Apesar de sermos poucos compassivos, caso encontrássemos um Deus que curasse oportunamente um constipado, ou que nos colocasse em uma carruagem no instante em que começasse a chover, ele nos pareceria um Deus tão absurdo que, mesmo existindo, teríamos de aboli-lo. Deus como empregado doméstico, como carteiro, como mensageiro – no fundo, Deus é simplesmente um nome dado para a mais imbecil espécie de acaso... A “Divina Providência”, na qual terça parte da “Alemanha culta” ainda acredita, é um argumento tão forte contra Deus que em vão se procuraria por um melhor. E em todo caso é um argumento contra os alemães!...

1 – Ceticismo.

2 – Uma referência à Universidade de Tübingen e sua famosa escola de crítica Bíblica. O líder da escola era F. C. Baur, e um dos homens que ele mais fortemente influenciou era uma abominação de Nietzsche, David F. Strauss, ele próprio, um suábio. (H. L. Mencken)

LIII

– É tão pouco verdadeiro que mártires oferecem qualquer verossimilhança a uma causa que me sinto inclinado a negar que qualquer mártir já teve alguma coisa a ver com a verdade. No tom com que um mártir lança sua convicção à cara do mundo revela-se um grau tão baixo de probidade intelectual, tamanha insensibilidade ao problema da “verdade”, que nunca chega a ser necessário refutá-lo. A verdade não é algo que alguns homens têm e outros não: na melhor das hipóteses, só há camponeses e apóstolos de camponeses, da classe de Lutero, que possam pensar assim da verdade. Pode-se ter certeza de que, quanto maior for o grau de consciência intelectual de um homem, maior será sua modéstia, sua discrição neste ponto. Ser competente em cinco ou seis coisas e se recusar, com delicadeza, a saber algo mais... O entendimento que todos profetas, sectários, livres-pensadores, socialistas e homens de igreja têm da

palavra “verdade” é simplesmente uma prova cabal de que nem sequer foi dado o primeiro passo em direção à disciplina intelectual e ao autocontrole necessários à descoberta da menor das verdades. – Os mártires, diga-se de passagem, foram uma grande desgraça na história: seduziram... A conclusão a que todos idiotas, mulheres e plebeus chegam é que deve haver algum valor em uma causa pela qual alguém afronta a morte (ou que, como o cristianismo primitivo, engendra uma epidemia de gente à procura da morte) – essa conclusão impede o exame os fatos, tolhe por inteiro o espírito investigativo e circunspeto. Os mártires danificaram a verdade... Mesmo hoje, basta uma certa dose de crueldade na perseguição para proporcionar uma honrável reputação ao mais vazio tipo de sectarismo. – Como? O valor de uma causa é alterado pelo fato alguém ter se sacrificado por ela? – Um erro que se torna honroso é simplesmente um erro que possui um encanto sedutor: julgais, senhores teólogos, que vos daremos a chance de serdes martirizados por vossas mentiras? – Melhor se refuta uma causa colocando-a, respeitosamente, no gelo – esse também é o melhor meio para refutar os teólogos... Foi precisamente esta a estupidez histórico-mundial de todos os perseguidores: deram uma aparência honrosa à causa a que se opuseram – deram-lhe de presente a fascinação do martírio... Mulheres ainda se ajoelham ante um erro porque lhes disseram que um indivíduo morreu na cruz por ele. A cruz, então, é um argumento? – Mas sobre todas essas coisas um, e somente um, disse aquilo de que há milhares de anos se tinha necessidade – Zaratustra:

Traçaram sinais de sangue pelo caminho que percorreram, e sua loucura ensinava que a verdade se prova através do sangue.

Mas o sangue é, de todas, a pior testemunha da verdade; sangue envenena até a doutrina mais pura e a converte em insânia e ódio do coração.

E quando alguém atravessa o fogo por sua doutrina – que isso prova? Mais vale, em verdade, que do nosso próprio incêndio venha a nossa doutrina!(1)

1 – “Assim falou Zaratustra”, parte II, “Dos Sacerdotes”.

LIV

Não nos enganemos: grandes intelectos são céticos. Zaratustra é um cético. A força e a liberdade que surgem do vigor e da plenitude intelectual se manifestam através do ceticismo. Homens de convicção estática não são levados em consideração quando se pretende determinar o que é fundamental em matéria de valor e desvalor. Homens de convicção são prisioneiros. Não vêem longe o bastante, não vêem abaixo de si: para um homem poder falar de valor e desvalor é necessário que veja quinhentas convicções abaixo de si – atrás de si... Uma mente que aspira a algo grande, e que também deseja os meios para isso, é

necessariamente cética. A liberdade de qualquer tipo de convicção constitui parte da força, da capacidade de possuir um ponto de vista independente... A grande paixão do cético, o fundamento e a potência do seu ser, é mais esclarecida e mais despótica que ele próprio, coloca toda sua inteligência a seu serviço; lhe torna inescrupuloso; lhe concede a coragem para empregar até meios ímpios; sob certas circunstâncias, lhe permite convicções. A convicção enquanto um meio: muito só pode ser alcançado por meio de uma convicção. A grande paixão usa, consome convicções, mas não se submete a elas – sabe-se a soberana. – Pelo contrário, a necessidade de fé, de uma coisa não subordinada ao sim e não, de carlylismo, se me permitem a expressão, é a necessidade da fraqueza. O homem de fé, o “crente” de toda espécie, é necessariamente dependente – tal homem é incapaz de colocar-se a si mesmo como objetivo, e tampouco é capaz determinar ele próprio seus objetivos. O “crente” não se pertence; apenas pode ser o meio para um fim; precisa ser consumido; precisa de alguém que o consuma. Seus instintos atribuem suprema honra à moral da despersonalização; tudo o persuade a abraçar essa moral: sua prudência, sua experiência, sua vaidade. Todo tipo de fé é em si mesma a expressão de uma despersonalização, de um alheamento de si... Após se ponderar sobre quão necessários à maioria são os regulamentos restringentes; sobre quão necessária é a opressão, ou, em um sentido mais elevado, a escravidão, para possibilitar o bem-estar ao homem de vontade fraca, e especialmente à mulher, então finalmente se compreende o significado da convicção e da “fé”. Para o homem de convicção a fé representa sua espinha dorsal. Deixar de ver muitas coisas, não possuir imparcialidade alguma, ser sempre de um partido, estimar todos os valores com uma ótica severa e infalível – essas são as condições necessárias à existência desse tipo de homem. Mas isso faz deles antagonistas do homem veraz – da verdade... O crente não é livre pra responder à questão do “verdadeiro” e do “falso”; segundo os ditames de sua consciência: a integridade, neste ponto, seria sua própria ruína. A limitação patológica de sua ótica faz do homem convicto um fanático – Savonarola, Lutero, Rousseau, Robespierre, Saint-Simon – o tipo desses encontra-se em oposição ao espírito forte, emancipado. Mas as grandiosas atitudes desses intelectos doentes, desses epiléticos das idéias, exercem influência sobre as grandes massas – os fanáticos são pitorescos, e a humanidade prefere observar poses a ouvir razões...

LV

– Um passo adiante na psicologia da convicção, da “fé”. Agora já faz bastante tempo desde que propus a questão de talvez as convicções serem inimigas mais perigosas à verdade que as mentiras (“Humano, Demasiado Humano”, Aforismo 483(1)). Desta vez pretendo colocar a questão definitiva: existe, de modo geral, alguma diferença entre uma mentira e uma convicção? – Todo o mundo acredita que sim; mas no que esse mundo não acredita! – Toda convicção tem sua história, suas formas primitivas, seus estágios de tentativa e erro: somente se transforma em convicção após não ter sido, por um longo tempo, uma convicção, e, depois disso, por um tempo ainda mais longo, sofrivelmente uma convicção. Não poderia também haver a falsidade nessas formas embrionárias de convicção? – Às vezes apenas é necessária uma

mudança de pessoas: o que era uma mentira para o pai torna-se uma convicção para o filho. – Chamo de mentira o recusar-se a ver uma coisa que se vê, recusar-se a ver algo como de fato é: se a mentira foi proferida perante testemunhas ou não, isso não possui relevância. A espécie mais comum de mentira é aquela com a qual nos enganamos a nós mesmos: mentir aos outros é algo relativamente raro. – Agora, este não querer ver o que se vê, este não querer ver como de fato é, praticamente constitui o primeiro requisito para todos que pertencem a alguma espécie de partido: o homem de partido inevitavelmente torna-se um mentiroso. Por exemplo, os historiadores alemães estão convictos de que Roma era sinônimo de despotismo e que os povos germânicos trouxeram o espírito da liberdade ao mundo: qual a diferença entre essa convicção e uma mentira? Pode alguém ainda se admirar de que todos os partidos, incluindo os historiadores alemães, instintivamente se sirvam de frases morais – que a moral quase deva sua sobrevivência ao fato de toda espécie de homem de partido necessitar dela a cada instante? – “Esta é nossa convicção: proclamamo-la perante todo o mundo; vivemos e morremos por ela – que sejam respeitados todos aqueles que possuem convicções!” – De fato, ouvi isso da boca dos anti-semitas. Pelo contrário, senhores! Mentir por princípio certamente não torna um anti-semita mais respeitável... Os padres, que possuem mais sutileza em tais questões, e que compreendem bem a objeção existente contra a idéia de convicção, ou seja, de uma mentira que se transforma em princípio porque serve a um propósito, tomaram emprestado dos judeus o artifício de introduzir nesses casos os conceitos “Deus”, “vontade de Deus” e “revelação Divina”. Kant, com seu imperativo categórico, também estava no mesmo caminho: isso era sua razão prática(2). Há questões relativas à verdade e à inverdade que o homem não pode decidir; todas as questões capitais, todos problemas capitais de valoração estão acima da razão humana... Conhecer os limites da razão – somente isso é filosofia genuína. Que finalidade teve a revelação divina ao homem? Deus faria algo supérfluo? O homem não pode descobrir por si mesmo o que é bom e o é ruim, então Deus lhe ensinou sua vontade... Moral: o padre não mente – não existe a questão da “verdade” ou da “inverdade” entre as coisas de que falam os padres. É impossível mentir a respeito de tais coisas, pois para mentir primeiramente seria necessário saber o que é verdade. Mas isso está além do que o homem pode saber; logo, o padre é simplesmente um porta-voz de Deus. – Tal silogismo de padre não é de modo algum somente judaico e cristão; o direito à mentira e à astuciosa evasiva da “revelação” pertence ao tipo do padre em geral – tanto aos padres da decadência quanto aos padres dos tempos pagãos (– pagãos são todos aqueles que dizem sim à vida, e para os quais “Deus” é uma palavra que significa um sim a todas as coisas). – A “lei”, a “vontade de Deus”, o “livro sagrado”, a “inspiração” – são todas palavras que designam as condições sob as quais o padre adquire e mantém o poder – esses conceitos se encontram no fundo de todas organizações sacerdotais, de todos governos eclesiásticos ou filosófico-eclesiásticos. A “santa mentira” – comum a Confúcio, ao código de Manu, a Maomé e à Igreja cristã – não falta em Platão. “A verdade está aqui”: essas palavras significam, onde quer que sejam pronunciadas, o padre mente...

1 – “Inimigos da verdade. – Convicções são inimigos da verdade mais perigosos que as mentiras.”

2 – Uma referência, é claro, à “Kritik der praktischen Vernunft” de Kant (Crítica da Razão Prática).(H. L. Mencken)

LVI

– Em última análise, chega-se a isto: qual a finalidade da mentira? O fato de que, no cristianismo, os fins “sagrados” não são visíveis é minha objeção aos seus meios. Só existem maus fins: o envenenamento, a calúnia, a negação da vida, o desprezo pelo corpo, a degradação e envilecimento do homem através do conceito de pecado – logo, seus meios também são maus. – Tenho o sentimento oposto quando leio o código de Manu, uma obra incomparavelmente mais intelectual e superior; seria um pecado contra a inteligência simplesmente nomeá-lo juntamente com a Bíblia. É fácil ver o porquê: há uma filosofia genuína por detrás dele, nele próprio, e não apenas uma mixórdia fétida de rabinismo judaico e superstição – oferece, mesmo aos psicólogos mais delicados, algo saboroso. E não nos esqueçamos do mais importante, ele difere fundamentalmente de toda espécie de Bíblia: através dele os nobres, os filósofos e guerreiros preservam o domínio sobre a maioria; está cheio de valores nobres, denota um sentimento de perfeição, de aceitação da vida, um ar triunfante em relação a si e à vida – o sol brilha sobre o livro todo. – Todas as coisas sobre as quais o cristianismo descarrega sua inexaurível vulgaridade – por exemplo, a procriação, as mulheres e o casamento – nele são tratadas seriamente, com respeito, amor e confiança. Como alguém pode colocar nas mãos de crianças e mulheres um livro contentor de palavras tão abjetas: “Para evitar a impudicícia, que cada homem tenha sua própria esposa e que cada mulher tenha seu próprio marido; ...pois é melhor casar-se que queimar-se(1)”? E será possível ser um cristão enquanto a origem do homem estiver cristianizada, isto é, maculada pela doutrina da immaculata conceptio?... Não conheço qualquer outro livro em que sejam ditas tantas coisas boas e ternas sobre a mulher quanto no código de Manu; aqueles velhos e santos possuíam um modo tão amável de ser com as mulheres que talvez seja impossível superá-los. “A boca de uma mulher”, diz um trecho, “o seio de uma donzela, a oração de uma criança e a fumaça de um sacrifício são sempre puros”. Noutro trecho: “Não há nada mais puro que a luz do sol, a sombra de uma vaca, o ar, a água, o fogo e a respiração de uma donzela”. Finalmente, esta última passagem – que talvez também seja uma mentira sagrada –: “todos orifícios do corpo acima do umbigo são puros, todos os abaixo são impuros. Apenas na donzela o corpo todo é puro”.

1 – I Coríntios 7:2 e 7:9.

LVII

Pega-se a irreligiosidade dos meios cristãos in flagranti simplesmente colocando os fins tencionados pelo

cristianismo ao lado dos tencionados pelo código de Manu – pondo essas duas finalidades monstruosamente antitéticas sob uma forte luz. O crítico do cristianismo não pode evitar a necessidade de torná-lo desprezível. – O código de Manu tem a mesma origem que todo bom livro de leis: sumariza a prática, a sagacidade e a experimentação ética de longos séculos; chega às suas conclusões, e então não cria mais nada. O pré-requisito para uma codificação dessa espécie é reconhecer que os meios usados para estabelecer a autoridade de uma verdade adquirida dura e lentamente diferem fundamentalmente dos que seriam utilizados para demonstrá-la. Um livro de leis nunca relata a utilidade, as razões, a casuística de suas leis: com isso perderia o tom imperativo, o “tu deves”, no qual a obediência se fundamenta. O problema encontra-se exatamente aqui. – Em um certo ponto da evolução de um povo, sua classe mais judiciosa, ou seja, com melhor percepção do passado e do futuro, declara que as séries experiências usadas para determinar como todos devem viver – ou podem viver – chegaram ao fim. O objetivo agora é colher os frutos mais ricos possíveis desses dias de experimentação e experiências difíceis. Em conseqüência, o que se deve evitar acima de tudo é o prolongamento da experimentação – a continuação do estado no qual os valores são volúveis, sendo testados, escolhidos e criticados ad infinitum. Contra isso se levantam duas paredes: de um lado, a revelação, isto é, a assunção de que as razões subjacentes às leis não possuem origem humana, que não foram buscadas e encontradas por um lento processo e após muitos erros, mas que possuem uma origem divina, foram feitas completas, perfeitas, sem uma história, como um presente, um milagre...; do outro lado, a tradição, isto é, a afirmação de que as leis permaneceram inalteradas desde tempos imemoriais, e que seria um crime contra os antepassados colocá-las em dúvida. A autoridade da lei assenta-se sobre estas duas teses: Deus a deu e os antepassados a viveram. – A razão superior desse procedimento está na intenção de distrair a consciência, passo a passo, de suas preocupações sobre os modos corretos de viver (isto é, aqueles que foram provados por uma vasta e minuciosamente considerada experiência), para que o instinto atinja um automatismo perfeito – um pressuposto essencial a toda espécie de mestria, toda perfeição na arte da vida. Confeccionar um código como o de Manu significa oferecer a um povo a chance de ser mestre, de chegar à perfeição – de aspirar ao mais sublime na arte da vida. Para tal fim deve-se torná-lo inconsciente: esse é o objetivo de toda mentira sagrada. – A ordem das castas, a lei suma e dominante, é meramente uma ratificação de uma ordem natural, de uma lei natural de primeira ordem, sobre a qual nenhum arbítrio, nenhuma “idéia moderna” exerce qualquer influência. Em toda sociedade saudável há três tipos fisiológicos que gravitam à diferenciação, mas que se condicionam mutuamente; cada qual tem sua própria higiene, sua própria esfera de trabalho, seu próprio sentimento de perfeição e maestria. Não é manu, mas a natureza que separa em uma classe aqueles que preponderam intelectualmente, em outra aqueles que são notáveis pela força muscular e temperamento, e numa terceira aqueles que não se distinguem, que somente demonstram mediocridade – esta última representa a grande maioria, as duas primeiras são a elite. A casta superior – que denomino a dos pouquíssimos – tem, sendo a mais perfeita, privilégios correspondentes: representa a felicidade, a beleza e tudo de bom sobre a Terra. Apenas os homens mais intelectuais têm direito à beleza, ao belo; apenas entre eles a bondade não significa fraqueza. Pulchrum est paucorum hominum(1): ser bom é privilégio. Nada lhes é mais impróprio que a rudeza, o olhar pessimista, os olhos afinados com a fealdade – ou a indignação por causa do aspecto geral das coisas. A indignação é um privilégio dos chandala; assim como o pessimismo. “O mundo é perfeito” – assim fala o instinto dos mais intelectuais, o instinto do homem que diz sim à vida. “A imperfeição, tudo que é inferior a nós, a distância, o pathos da distância, os próprios chandala, são parte dessa perfeição”. Os homens mais inteligentes, sendo os mais fortes, encontram sua felicidade onde outros encontrariam apenas desastre: no labirinto, na dureza para

consigo e para com os outros, no esforço; seu prazer está na auto-superação; neles o ascetismo torna-se uma segunda natureza, uma necessidade, um instinto. Consideram tarefas difíceis como um privilégio; para eles é um entretenimento lidar com fardos que esmagariam todos os outros... Conhecimento – uma forma de ascetismo. – Representam o tipo mais honroso de homens: mas isso não impede que também sejam os mais amáveis e mais alegres. Dominam não porque querem, mas porque são; não possuem a liberdade de ser os segundos. – A segundacasta: a esta pertencem os guardiões da lei, os mantenedores da ordem e da segurança, os guerreiros mais nobres e, acima de tudo, o rei, como a mais elevada forma de guerreiro, juiz e defensor da lei. Os segundos constituem o elemento executivo dos intelectuais; são aqueles que lhes estão mais próximos, os aliviando de tudo que há de grosseiro no trabalho de liderar – são seu séqüito, sua mão direita, os seus melhores discípulos. Nisso tudo, repito, nada é arbitrário, nada é “artificial”; apenas o contrário é artificial – ele destrói a natureza... A ordem das castas, a hierarquia simplesmente formula a lei suprema própria vida; a separação dos três tipos é necessária para conservar a sociedade, para possibilitar o surgimento dos tipos mais elevados, mais sublimes – a desigualdade de direitos é condição primordial para a existência de quaisquer direitos. – Um direito é um privilégio. Cada qual tem seus privilégios de acordo com seu modo de ser. Não subestimemos os privilégios dos medíocres. Quanto mais elevada, mais dura torna-se a vida – o frio aumenta, a responsabilidade aumenta. Uma civilização elevada é uma pirâmide: somente subsiste com uma base larga; seu pré-requisito é uma mediocridade sã e fortemente consolidada. O ofício, o comércio, a agricultura, a ciência, grande parte da arte, em suma, toda a gama de atividades ocupacionais, são apenas compatíveis com a mediocridade no poder e no querer; tais coisas estariam fora de seu lugar entre homens excepcionais; o instinto necessário encontrar-se-ia em contradição tanto com a aristocracia como com o anarquismo. O fato de o homem ser publicamente útil, uma engrenagem, uma função, é evidência de uma predisposição natural; não é a sociedade, mas o único tipo de felicidade de que são capazes, que faz deles máquinas inteligentes. Para os medíocres a felicidade é a mediocridade; possuem um instinto natural para dominar apenas uma coisa, para a especialização. Seria profundamente indigno da parte de um intelecto profundo ver algo de condenável na mediocridade em si. Ela é, de fato, o primeiro pré-requisito ao surgimento das exceções: é uma condição necessária a toda civilização elevada. Quando o homem excepcional trata o homem medíocre com mais delicadeza que si próprio ou seus iguais, isso não se trata de uma gentileza – é simplesmente seu dever... A quem odeio mais entre a ralé de hoje? A escumalha socialista, aos apóstolos de chandala que minam o instinto do trabalhador, seu prazer, seu sentimento de contentamento com uma existência pequena – que o tornam invejoso, que lhe ensinam a vingança... A injustiça nunca está desigualdade de direitos, mas na exigência de direitos “iguais”... O que é mau? Mas essa questão foi respondida: tudo que se origina da fraqueza, da inveja, da vingança. – O anarquista e o cristão têm a mesma origem...

1 – A beleza é para poucos.

LVIII

Em verdade, o fim pelo qual se mente faz uma grande diferença: se com isso preserva ou destrói. Há uma perfeita consonância entre o cristão e o anarquista: seus objetivos, seus instintos, direcionam-se somente à destruição. Basta voltarmo-nos à história para encontrar a prova disso: ela aparece com precisão espantosa. Já estudamos um código religioso cujo objetivo era converter as condições sob as quais a vida prospera numa organização social “eterna” – a missão que o cristianismo encontrou foi justamente destruir tal organização, porque com ela a vida prospera. Naquele, os benefícios que a razão produziu durante longos períodos de experimentação e incerteza foram aplicados nos aspectos mais remotos, fazia-se o todo esforço possível para colher os maiores, mais ricos e mais completos frutos; aqui, pelo contrário, os frutos são envenenados durante a noite... Aquilo que se erigia aere perennius(1), o imperium Romanum, a mais magnificente forma de organização sob condições adversas jamais alcançada, em comparação com a qual todo o anterior e o posterior assemelham-se a uma grosseria, uma imperfeição, um diletantismo – esses anarquistas santos fizeram da destruição do “mundo”, ou seja, do imperium Romanum, uma questão de “devoção”, até que não restasse pedra sobre pedra – até ao ponto em que os germanos e outros rústicos foram capazes de dominá-lo... O cristão e o anarquista: ambos são decadentes; ambos são incapazes de qualquer ato que não seja dissolvente, venenoso, degenerativo, hematófago; ambos têm por instinto um ódio mortal contra tudo que esta em pé, tudo que é grande, tudo que é durável, tudo que promete futuro à vida... O cristianismo foi o vampiro do imperium Romanum – destruiu do dia para a noite a vasta obra dos romanos: a conquista do solo para uma grande cultura que poderia aguardar por sua hora. Será possível que isso ainda não foi compreendido? O imperium Romanum que conhecemos, e que a história da província romana nos ensina a conhecer cada vez melhor – essa admirável obra de arte em grande estilo, era apenas um começo, sua construção estava calculada para provar seu valor por milhares de anos. Até hoje nada em escala semelhante sub specie aeterni(2) foi construído, ou sequer sonhado! – Essa organização era forte o suficiente para resistir a maus imperadores: o acaso da personalidade não pode fazer nada em tais coisas – primeiro princípio de toda arquitetura genuinamente grande. Mas não era forte o suficiente para resistir contra a mais corrupta das corrupções – contra cristãos... Esses vermes furtivos que, sob a proteção da noite, da névoa e da duplicidade rastejam sobre todo indivíduo, sugando-lhe todo o interesse sério pelas coisas reais, todo o instinto para a realidade – essa turba covarde, efeminada e melíflua gradualmente alienou todas as “almas” desse edifício colossal – aquelas naturezas preciosas, virilmente nobres, que haviam encontrado em Roma sua própria causa, sua própria seriedade, seu próprio orgulho. A dissimulação dos hipócritas, o mistério dos conventículos, conceitos tão sombrios quanto o inferno, como o sacrifício do inocente, a unio mystica(3) no beber sangue, e acima de tudo o fogo lentamente reavivado da vingança, da vingança de chandala – isso dominou Roma: o mesmo tipo de religião que, numa forma preexistente, Epicuro combateu. Leia-se Lucrécio para entender contra oque Epicuro fez guerra – não contra o paganismo, mas contra o “cristianismo”, isto é, a corrupção das almas através dos conceitos de culpa, punição e imortalidade. – Combateu os cultos subterrâneos, todo o cristianismo latente – naquele tempo negar a imortalidade já era uma verdadeira salvação. – E Epicuro havia triunfado, todo intelecto respeitável em Roma era epicúreo – foi quando Paulo apareceu... Paulo, o ódio de chandala encarnado, inspirado pelo gênio, contra Roma, contra “o mundo” – o judeu, o judeu eternopar excellence... O que ele percebeu foi como, com a ajuda de um pequeno movimento sectário cristão, à parte do judaísmo, uma “conflagração mundial” poderia ser acesa; percebeu como, com o símbolo do “Deus na cruz”, poderia condensar todas as sedições secretas,

todos os frutos das intrigas anárquicas, em um imenso poder. “A salvação vem dos judeus” – cristianismo é a fórmula para sobrepor e agregar os cultos subterrâneos de todas variedades, por exemplo, o de Osíris, da Grande Mãe, de Mitra: era nisso que consistia o gênio de Paulo. Seu instinto estava tão seguro disso que, com ousada violência contra a verdade, colocou as idéias que fascinavam toda espécie de chandala na boca de sua invenção, do “salvador”, e não apenas na boca – fez dele algo que até os sacerdotes de Mitra podiam entender... Foi esta sua revelação em Damasco: compreendeu que precisava da crença na imortalidade para despojar o valor do “mundo”, que a idéia de “inferno” dominaria Roma – que a noção de um “além” significa a morte da vida. Niilista e cristão: são coisas que rimam(4), e não somente rimam...

1 – Mais duradouro que o bronze.

2 – Sob o aspecto do eterno.

3 – União sagrada ou mística.

4 – Rimam em alemão: “Nihilist und Christ”. (N. do T.)

LIX

Todo o esforço do mundo antigo em vão: não tenho palavras para descrever meu sentimento ante tal monstruosidade. – E, considerando o fato de que esse era um trabalho meramente preparatório, que com granítica autoconsciência lançou os fundamentos para um trabalho de milhares de anos, todo o significado da antiguidade desaparece!... Para que serviram os gregos? Para que serviram os romanos? – Todos os pré-requisitos para uma cultura sábia, todos métodos científicos já existiam; o homem já havia aperfeiçoado a grande e incomparável arte de ler bem – essa é a primeira necessidade para a tradição da cultura, para a unidade das ciências; as ciências naturais, aliadas às matemáticas e à mecânica, palmilhavam o caminho certo – o sentido dos fatos, o último e mais precioso de todos os sentidos, tinha suas escolas, e suas tradições possuíam séculos! Compreende-se isso? Tudo que era essencial ao começo do trabalho estava pronto; – e o mais essencial, nunca será demais repeti-lo, são os métodos, que também são o mais difícil de desenvolver e o que há mais tempo têm contra si os costumes e a indolência. O que hoje reconquistamos com uma inexprimível vitória sobre nós mesmos – pois certos maus instintos, certos instintos cristãos ainda habitam nossos corpos –, ou seja, o olhar afiado ante a realidade, a mão prudente, a paciência e a seriedade nas menores coisas, toda a integridade no conhecimento – tudo isso já existia há mais de dois mil anos! E mais, havia também bom gosto, um excelente e refinado tato! Não como um adestramento de cérebros! Não como a cultura “alemã”, com seus modos grosseiros! Mas como corpo,

como gesto, como instinto – em suma, como realidade... Tudo em vão! Do dia para a noite tornou-se memória! – Os gregos! Os romanos! A nobreza do instinto, o gosto, a investigação metódica, o gênio para a organização e administração, a fé e a vontade para assegurar futuro do homem, um grandioso sim a todas as coisas, visível sob a forma de imperium romanum e palpável a todos os sentidos, um grande estilo que não era simplesmente arte, mas que havia se transformado em realidade, verdade, vida... – Tudo destruído de um dia para outro, e não por uma convulsão da natureza! Não pisoteado até a morte por teutônicos e outros búfalos! Mas vencido por vampiros velhacos, furtivos, invisíveis e anêmicos! Não conquistado – apenas consumido!... A vingança oculta, a inveja mesquinha, agora dominam! Tudo que é miserável, intrinsecamente doente, tomado por maus sentimentos, todo o mundo de gueto da alma estava subitamente no topo! – Leia-se qualquer agitador cristão, por exemplo, Santo Agostinho, para entender, para sentir o cheiro daquela gente imunda que subiu ao poder. – Seria um erro, entretanto, presumir que havia falta de compreensão por parte dos líderes do movimento cristão: – ah, eles eram espertos, espertos até à santidade, esses pais da Igreja! O que lhes faltava era algo bastante diferente. A natureza deixou – talvez esqueceu-se – de dotá-los, ao menos modestamente, de instintos respeitáveis, íntegros, limpos... Dito entre nós, eles não são sequer homens... Se o islamismo despreza o cristianismo, tem mil razões para fazê-lo: o islamismo pressupõe homens...

LX

O cristianismo nos fez perder todos os frutos da civilização antiga, e mais tarde nos fez perder os frutos da civilização islâmica. A maravilhosa cultura dos mouros na Espanha, que era fundamentalmente mais próxima aos nossos sentidos e gostos que Roma e Grécia, foi pisoteada (– não digo por que tipo de pés –). Por quê? Porque devia sua origem aos instintos nobres e viris – porque dizia sim à vida, e a com a rara e refinada luxuosidade da vida mourisca!... Mais tarde os cruzados combateram algo ante o qual seria mais apropriado que rastejassem – uma civilização que faria mesmo o nosso século XIX parecer muito pobre e “atrasado”. – O que queriam, obviamente, era saquear: o Oriente era rico... Coloquemos à parte os preconceitos! As cruzadas: pirataria em grande escala, nada mais! A nobreza alemã, que no fundo é uma nobreza de viking, estava em seu elemento com as cruzadas: a Igreja sabia muito bem como ganhar a nobreza alemã.... A nobreza alemã, sempre a “guarda suíça” da Igreja, estava ao serviço de todos maus instintos da Igreja – mas bem paga... Foi precisamente a ajuda das espadas, do sangue e do valor alemães que permitiu à Igreja fazer sua guerra de morte contra tudo que é nobre sobre a Terra! Aqui poderiam ser feitas perguntas bastante dolorosas. A nobreza alemã encontra-se fora da história das civilizações elevadas: a razão é óbvia... Cristianismo, álcool – os dois grandes meios de corrupção... Em suma, não havia mais escolha entre o islamismo e o cristianismo que há entre um árabe e um judeu. A decisão já foi tomada; não há mais liberdade de escolha aqui. Ou bem se é chandala ou bem se não é... “Guerra de morte a Roma! Paz e amizade com o islamismo!”: esse foi o sentimento, essa foi a ação do grande espírito livre, do gênio entre os imperadores alemães, Frederico II. Como? Será preciso que um alemão

seja gênio, espírito livre, para possuir sentimentos decentes? Não consigo imaginar como um alemão poderia sentir-se cristão...

LXI

Neste momento faz-se mister evocar uma memória cem vezes mais dolorosa aos alemães. Os alemães impediram a Europa de colher os últimos grandes frutos de cultura – a Renascença. Compreende-se finalmente, será que por fim compreende-se o que era a Renascença? A transmutação dos valores cristãos – uma tentativa com todos os meios, todos os instintos e todos os recursos do gênio para fazer triunfarem os valores opostos, os valores mais nobres... Até ao presente essa foi a única grande guerra; nunca houve uma questão mais crítica que a da Renascença – que é minha questão também –; nunca houve uma forma de ataque mais fundamental, mais direta, mais violentamente desferida por toda uma frente contra o centro do inimigo! Atacar no lugar decisivo, no próprio assento do cristianismo, e lá entronar os valores nobres – isto é, introduzi-los nos instintos, nas necessidades e desejos mais fundamentais dos que ocupavam o poder... Vejo diante de mim a possibilidade de um encantamento supraterreno: – parece-me que cintila com todas vibrações de uma beleza sutil e refinada, dentro da qual há uma arte tão divina, tão diabolicamente divina, que em vão se procuraria através dos milênios por semelhante possibilidade; vejo um espetáculo tão rico em significância e ao mesmo tempo tão maravilhosamente paradoxal que daria a todas as divindades do Olimpo o ensejo de irromper numa imortal gargalhada – César Bórgia como Papa!... Compreendem-me?... Pois bem, essa teria o sido a espécie de vitória que hoje somente eu desejo –: com ela o cristianismo teria sido abolido! – Que sucedeu? Um monge alemão, Lutero, chegou a Roma. Esse monge, com todos os instintos vingativos de um padre malogrado no corpo, levantou uma rebelião contra a Renascença em Roma... Em vez de compreender, com profundo reconhecimento, o milagre que havia ocorrido: a conquista do cristianismo em sua sede – usou o espetáculo apenas para alimentar seu próprio ódio. O homem religioso pensa apenas em si mesmo. – Lutero viu apenas a corrupção do papado, enquanto exatamente o oposto estava tornando-se visível: a velha corrupção, o peccatum originale, o cristianismo já não ocupava mais o trono papal! Em seu lugar havia vida! Havia o triunfo da vida! Havia um grande sim a tudo que é grande, belo e audaz!... E Lutero restabeleceu a Igreja: a atacou... A Renascença – um evento sem sentido, uma grande futilidade! – Ah, esses alemães, quanto já nos custaram! Tornar todas as coisas vãs – sempre foi esse o trabalho dos alemães. – A Reforma; Leibniz; Kant e a assim chamada filosofia alemã; as guerras de “independência”; o Império – sempre um substituto fútil para algo que existia, para algo irrecuperável... Estes alemães, eu confesso, são meus inimigos: desprezo neles toda a sujidade nos valores e nos conceitos, a covardia perante todo sim e não sinceros. Há quase mil anos embaraçam e confundem tudo que seus dedos tocam; têm sobre suas consciências todas as coisas feitas pela metade, feitas nas suas três oitavas partes, de que a Europa está doente – e também pesa sobre suas consciências a mais imunda, incurável e indestrutível espécie de cristianismo – protestantismo... Se a humanidade nunca conseguir

livrar-se do cristianismo, os culpados serão os alemães...

LXII

– Com isto concluo e pronuncio meu julgamento: eu condeno o cristianismo; lanço contra a Igreja cristã a mais terrível acusação que um acusador já teve em sua boca. Para mim ela é a maior corrupção imaginável; busca perpetrar a última, a pior espécie de corrupção. A Igreja cristã não deixou nada intocado pela sua depravação; transformou todo valor em indignidade, toda verdade em mentira e toda integridade em baixeza de alma. Que se atrevam a me falar sobre seus benefícios “humanitários”! Suas necessidades mais profundas a impedem de suprimir qualquer miséria; ela vive da miséria; criou a miséria para fazer-se imortal... Por exemplo, o verme do pecado: foi a Igreja que enriqueceu a humanidade com esta desgraça! – A “igualdade das almas perante Deus” – essa fraude, esse pretexto para o rancor de todos espíritos baixos – essa idéia explosiva terminou por converter-se em revolução, idéia moderna e princípio de decadência de toda ordem social – isso é dinamite cristã... Os “humanitários” benefícios do cristianismo! Fazer da humanitas(1) uma autocontradição, uma arte da autopoluição, um desejo de mentir a todo custo, uma aversão e desprezo por todos instintos bons e honestos! Para mim são esses os “benefícios” do cristianismo! – O parasitismo como única prática da Igreja; com seus ideais “sagrados” e anêmicos, sugando da vida todo o sangue, todo o amor, toda a esperança; o além como vontade de negação de toda a realidade; a cruz como símbolo representante da conspiração mais subterrânea que jamais existiu – contra a saúde, a beleza, o bem-estar, o intelecto, a bondade da alma – contra a própria vida...

Escreverei esta acusação eterna contra o cristianismo em todas as paredes, em toda parte onde houver paredes – tenho letras que até os cegos poderão ler... Denomino o cristianismo a grande maldição, a grande corrupção interior, o grande instinto de vingança, para o qual nenhum meio é suficientemente venenoso, secreto, subterrâneo ou baixo – chamo-lhe a imortal vergonha da humanidade...

E conta-se o tempo a partir do dies nefastus(2) em que essa fatalidade começou – o primeiro dia do cristianismo! – Por que não contá-lo a partir do seu último dia? – A partir de hoje? – Transmutação de todos os valores!...

1 – Caráter humano, sentimento humano.

2 – Dia nefasto.

Lei contra o cristianismo

Datada do dia da Salvação: primeiro dia do ano Um (em 30 de Setembro de 1888, pelo falso calendário).

Guerra de morte contra o vício: o vício é o cristianismo</ p="">

Artigo Primeiro – Qualquer espécie de antinatureza é vício. O tipo de homem mais vicioso é o padre: ele ensina a antinatureza. Contra o padre não há razões: há cadeia.

Artigo Segundo – Qualquer tipo de colaboração a um ofício divino é um atentado contra a moral pública. Seremos mais ríspidos com protestantes que com católicos, e mais ríspidos com os protestantes liberais que com os ortodoxos. Quanto mais próximo se está da ciência, maior o crime de ser cristão. Conseqüentemente, o maior dos criminosos é filósofo.

Artigo Terceiro – O local amaldiçoado onde o cristianismo chocou seus ovos de basilisco deve ser demolido e transformado no lugar mais infame da Terra, constituirá motivo de pavor para a posteridade. Lá devem ser criadas cobras venenosas.

Artigo Quarto – Pregar a castidade é uma incitação pública à antinatureza. Qualquer desprezo à vida sexual, qualquer tentativa de maculá-la através do conceito de “impureza” é o maior pecado contra o Espírito Santo da Vida.

Artigo Quinto – Comer na mesma mesa que um padre é proibido: quem o fizer será excomungado da sociedade honesta. O padre é o nosso chandala – ele será proscrito, lhe deixaremos morrer de fome, jogá-lo-emos em qualquer espécie de deserto.

Artigo Sexto – A história “sagrada” será chamada pelo nome que merece: história maldita; as palavras “Deus”, “salvador”, “redentor”, “santo” serão usadas como insultos, como alcunhas para criminosos.


Artigo Sétimo – O resto nasce a partir daqui.

OS EUA E SEUS CRIMES MACABROS...

$
0
0

QUEM PAGOU A CONTA? A GUERRA SECRETA DA CIA CONTRA A CULTURA
O livro Who Paid the Piper: The CIA and the Cultural Cold War (London: Granta Books) de Francis Stonor Saunders conta em detalhes a maneira como a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) infiltrou-se e influenciou um grande número de organizações culturais por meio de seus agentes e de organizações filantrópicas associadas, como as Fundações Ford e Rockfeller. O livro revela ainda como a CIA no pós guerra alistou muitos intelectuais na campanha para provar que o engajamento à esquerda é incompatível com a arte séria e o conhecimento.
A autora Francis Stonor Saunders, detalha como e porque a CIA patrocinou congressos culturais, montou exibições de arte e organizou concertos. A Agência também publicou e produziu autores conhecidos que seguiam essa linha de Washington, patrocinou a arte abstrata e fez ataques à arte de conteúdo social. E, em todo o mundo, financiou publicações que atacavam o marxismo, o comunismo e as políticas revolucionárias, ao mesmo tempo que justificavam ou ignoravam políticas imperialistas destrutivas e violentas dos Estados Unidos.
A CIA conseguiu atrair um dos mais proeminentes porta-vozes (ou defensores) do discurso da liberdade intelectual, a ponto de incluir alguns intelectuais em sua folha de pagamento.
Muitos desses intelectuais ficaram conhecidos por se envolver com esses “projetos”, mas outros ficaram orbitando em torno desses projetos, alegando que não sabiam das ligações com a CIA, depois que os seus patrões foram denunciados publicamente no final da década de 60 e durante a Guerra do Vietnã, e depois que a maré política virou para a esquerda .
Publicações anticomunistas americanas e européias receberam várias verbas, direta e indiretamente, entre as quais a Partisan Review, Kenynon Review, New Leader e Enconuter. Entre os numerosos intelectuais pagos pela CIA estavam Irving Kristol, Melvin Lasky, Isaiah Berlin, Stephen Spender, Sidney Hook, Daniel Bell, Dwight MacDonald, Robert Lowel, Hannah Arendt e Mary MacCarthy. Na Europa, a CIA teve um interesse pela promoção da “Esquerda Democrática” e de ex-esquerdistas entre eles Inacio Silone, Stephen Spender, Arthur Koestler, Raymond Aron, Anthony Crosland, Michael Josselson e George Orwell.
Contando com o entusiasmo de Sidney Hook e Melvin Lasky, a CIA teve um papel destacado na fundação do Congresso pela Liberdade Cultural, uma espécie de OTAN cultural que agrupou todo tipo de esquerdistas e direitistas “antiestalinistas”. Eles tinham absoluta liberdade para defender os valores culturais e políticos do Ocidente, atacar o “totalitarismo estalinista” e tergiversar sobre o racismo e imperialismo americano.
A CIA E A ARTE PELA ARTE
De vez em quando, um artigo de crítica marginal a sociedade de massas americana era publicada nas revistas subsidiadas pela CIA. Uma coisa particularmente estranha nesse grupo de intelectuais pagos pela CIA não era o seu comprometimento político, mas a pretensão de que buscava a verdade de maneira desinteressada, de que eram humanistas iconoclásticos e livres-pensadores e artistas que defendiam a arte pela arte em contraposição aos “filiados” e “assalariados” corruptos da máquina estalinista. É impossível acreditar na alegação que não sabiam das ligações com a CIA.
Como é que eles podiam ignorar a falta de qualquer crítica básica em suas revistas contra os inúmeros linchamentos que estavam ocorrendo no Sul dos Estados Unidos naquele período? Como podiam ignorar, durante a realização de seus congressos culturais, qualquer crítica às intervenções imperialistas dos Estados Unidos na Guatemala, no Irã, Grécia e Coréia, que provocaram milhões de mortes? Como podiam ignorar as grosseiras justificativas, publicadas em suas revistas para os crimes imperialistas que estavam ocorrendo naquela época?
Todos esses intelectuais eram soldados: alguns falastrões, venenosos, rudes e polêmicos, como Sidney Hook e Melvim Lasky; outros eram ensaístas elegantes, como Stephen Spender, ou informantes, donos da verdade como George Orwell. A autora do livro, Francis Stonor Saunders, retrata a elite wasp(1) manipulando os cordéis na CIA e os ex-esquerdistas rosnando contra os dissidentes esquerdistas.
Quando a verdade veio à tona no final dos anos 60 e alguns “intelectuais” de Nova York, Paris e Londres fingiram indignação por terem sido usados, a CIA fez retaliações contra eles. Tom Braden, que dirigiu a Seção das Organizações Internacionais da CIA, entregou-os contando detalhes de que todos eles tinham que saber quem pagavam seus salários e bolsas. De acordo com Branden, a CIA financiou as suas “espumas literárias” expressão usada pelo chefe linha-dura da CIA Cord Meyer, para qualificar os “exercícios intelectuais” de Hook, Kristol e Lasky.
Braden escreveu que o dinheiro das publicações mais conhecidas e prestigiadas da autodenominada “Esquerda Democrática” (Encounter, New leader, Partisan Revew), vinha da CIA e que “um agente (da CIA) tornou-se o editor da Encounter”. Por volta de 1953, escreveu Braden; “nós influenciávamos ou trabalhávamos em organizações internacionais em todos os campos”.
O livro de Saunders traz informações úteis sobre as maneiras pelas quais as operações da CIA eram montadas para defender os interesses imperialistas dos Estados Unidos na frente Cultural. O livro dá início também a uma importante discussão sobre as conseqüências a longo prazo das posições ideológicas e artísticas defendidas pelos intelectuais da CIA.
Saunders rechaça as alegações (de Hook, Kristol, e Lasky) de que a CIA e suas fundações associadas ofereciam ajuda sem pedir nada em troca. Ela demonstra que “dos indivíduos e das instituições subsidiadas pela CIA esperava-se que tomassem parte… da propaganda de guerra”. A propaganda mais eficaz seguindo a definição da CIA, era do tipo em que “o sujeito se move na direção que você quer por razões que ele acredita ser a deles”.
O PLANO DA CIA PARA IMPEDIR O PRÊMIO NOBEL PARA PABLO NERUDA
Quando a CIA punha recursos à disposição da “Esquerda Democrática” para eventuais discussões sobre reforma social, seus intelectuais ficavam interessados nas polêmicas “antiestalinistas” e nas diatribes literárias contra os marxistas ocidentais e contra os escritores e os artistas soviéticos. Eles recebiam então patrocínios mais generosos e eram promovidos com maior visibilidade. Braden refere-se a isso como a “convergência” entre a CIA e a “Esquerda Democrática” européia na luta contra o comunismo.
A colaboração entre a “Esquerda Democrática” e a Agência incluía operações fura-greves na França, a deduragem contra estalinistas (Orwell e Hook) e campanhas camufladas de difamação para evitar que artistas esquerdistas fossem premiados (isso aconteceu por exemplo na disputa de Pablo Neruda pelo Prêmio Nobel em 1964).
(….) Uma das mais importantes e fascinantes discussões do livro de Saunders é o fato da CIA e seus aliados no museu de arte Moderna de Nova York (MoMA) terem aplicado vastas somas de dinheiro na promoção da pintura e dos pintores do Expressionismo Abstrato, considerado um antídoto à arte de conteúdo. Ao promover o Expressionismo Abstrato a CIA comprou uma briga com a ala direita do Congresso. A Agência achava que a escola espresava “uma ideologia anticomunista, a ideologia da liberdade e da livre empresa, cujo o não figurativismo e apoliticismo constituíam a própria antítese do realismo socialista”. O Expressionismo Abstrato era visto como a verdadeira expressão da vontade nacional. Para enfrentar as críticas da direita no Congresso, a CIA voltou-se para o setor privado, mais precisamente para o MoMA e seu cofundador, Nelson Rockefeller, que se referia ao Expressionismo Abstrato como “a pintura da livre empresa”. Muitos diretores do MoMA mantiveram duradouras relações com a CIA e quiseram dar mais que uma mãozinha na promoção do Expressionismo Abstrato como arma da Guerra Fria cultural. Caríssimas exposições foram organizadas por toda Europa e críticos de arte foram mobilizados para escrever artigos repletos de entusiásticos elogios. A combinação de recursos econômicos do MoMA com a fundação Fairfeld, ligada à CIA, garantiram a colaboração das mais prestigiosas galerias de arte da Europa, as quais por sua vez puderam espalhar sua influência estética pela Europa afora.
O Expressionismo Abstrato, como uma ideologia “da arte livre” (segundo George Kennan) foi usado para atacar politicamente os artistas engajados da Europa. O Congresso pela Liberdade Cultural (ponta de lança da CIA) ofereceu grande apoio à cultura abstrata em oposição à estética figurativa e realista, num explícito ato político. Comentando o papel político do Expressionismo abstrato, Saunders sublinha “Uma das características mais extraordinárias no papel que a pintura americana jogou na Guerra Fria cultural não foi o fato de ter se tornado parte da iniciativa, mas o fato desse movimento, tão deliberadamente declarado apolítico, ter se tornado tão intensamente politizado”. A CIA associou artistas apolíticos e a arte com liberdade. Isso foi feito para isolar os artistas da esquerda européia. A ironia é que a postura apolítica só valia para o consumo da esquerda. Apesar de tudo, a CIA e suas organizações culturais foram capazes de moldar profundamente a visão de arte no pós-guerra. Alguns escritores, poetas, artistas e músicos de prestígio proclamaram a sua independência da política e declararam sua crença na arte pelo amor da arte. O dogma do artista do intelectual livre, como alguém desconectado do engajamento político, ganhou corpo e está disseminado até hoje.
Embora tenha apresentando uma detalhada descrição das ligações entre CIA e os artistas e intelectuais ocidentais, Saundres deixou inexploradas as razões estruturais para a necessidade da CIA de controlar os dissidentes. Seus argumentos estão muito baseados no contexto da competição política e no conflito com o comunismo soviético. Ele não faz uma tentativa séria de localizar a Guerra Fria cultural da CIA no contexto das lutas de classes, da revolução e do Terceiro Mundo e nos desafios marxistas independentes à dominação do imperialismo econômico dos Estados Unidos. Isso leva Saunders a valorizar algumas iniciativas e operações da CIA em detrimento de outras. (….)
A TAREFA DOS INTELECTUAIS PAGOS PELA CIA NÃO ERA QUESTIONAR, MAS SERVIR AO IMPÉRIO
As verdadeiras origens da Guerra Fria cultural estão enraizadas na luta de classes. Muito antes a CIA e seus agentes ex-comunitas da AFL-CIO Irving Brown e Jay Lovestone usaram milhões de dólares para subverter sindicatos militantes e acabar com greves comparando sindicatos social-democráticos. O Congresso pela Liberdade Cultural e seus esclarecidos intelectuais receberam dinheiro dos mesmos agentes da CIA que contrataram os gângsters de Marselha (França) para acabar com a greve dos portuários em 1948. Depois da Segunda Guerra, com a desmoralização na Europa da velha direita (comprometida por suas ligações com os fascistas e com o sistema capitalista enfraquecido), a CIA chegou a conclusão de que para submeter os sindicalistas e intelectuais contrários a OTAN seria necessário encontrar ou (inventar) uma Esquerda Democrática disposta a participar das lutas ideológicas. A CIA criou uma seção especial para neutralizar as objeções da bancada direitista do Congresso. A Esquerda Democrática foi essencialmente usada para combater a Esquerda radical e dar um verniz ideológico à hegemonia americana na Europa. Até o ponto dos pugilistas ideológicos da Esquerda Democrática poderem dar forma às políticas estratégicas e interesses dos Estados Unidos. A tarefa deles não era questionar ou reivindicar, mas servir ao império em nome dos “valores democráticos do Ocidente”. Somente quando surgiu uma oposição maciça à Guerra do Vietnã nos Estados Unidos e na Europa, e as suas ligações com a CIA foram denunciadas é que muitos intelectuais promovidos ou financiados pela Agência abandonaram o navio e começaram a criticar a política externa dos Estados Unidos. Um exemplo: depois de passar a maior parte de sua carreira na folha de pagamento da CIA, Stephen Spender tornou-se crítico da política americana no Vietnã, assim como alguns editores da Partisan Review. Todos eles alegaram inocência, mas poucos críticos acreditaram que um caso de amor com tantas revistas e conferências, de tão longo e profundo envolvimento, pudesse transpirar sem um certo grau de conhecimento.
ATAQUES À STÁLIN VISAVAM ENCOBRIR OS CRIMES DO IMPERIALISMO
O envolvimento da CIA na vida cultural dos Estados Unidos, Europa e outras regiões teve importantes conseqüências a longo prazo. Muitos intelectuais foram recompensados com o prestígio e reconhecimento público e verbas para pesquisas justamente para trabalhar com viseiras ideológicas da Agência. Alguns dos grandes nomes da Filosofia, da Ética Política, da Sociologia e da Arte, que ganharam visibilidade com as conferências e revistas financiadas pela CIA, definiram as normas e os padrões para a formação da nova geração, baseado nos parâmetros políticos estabelecidos pela CIA. Não foi nem o mérito nem a competência, mas sim a política – a linha de Washington- que definiu a “verdade” e a “excelência” e as futuras cátedras das universidades, fundações e museus de maior prestígio. As ejaculações retóricas da Esquerda Democrática antiestalinistas dos Estados Unidos e da Europa e suas profissões de fé nos valores democráticos e na liberdade serviam como capa ideológica para os mais abomináveis crimes do Ocidente .
Uma vez mais recentemente, muitos intelectuais da Esquerda Democrática perfilaram-se com o Ocidente e com o exército de libertação de Kosovo2 no apoio ao banho de sangue de milhares de servos e ao assassinato de um monte de inocentes vítimas civis. Se o antiestalinismo foi o ópio da Esquerda Democrática durante a Guerra Fria, o intervencionismo praticado em nome dos direitos humanos tem hoje o mesmo efeito narcortizante, iludindo os esquerdistas democráticos contemporâneos.
A CIA FOI QUEM CRIOU O MODELO DE ARTISTAS APOLÍTICOS E DIVORCIADOS DAS LUTAS
As campanhas culturais da CIA criaram o protótipo dos intelectuais, acadêmicos e artistas que hoje se dizem apolíticos e que estão divorciados das lutas populares e cujo valor aumenta na medida em que se distanciam das classes populares e se aproximaram das fundações de prestígio. O modelo do profissional de sucesso criado pela CIA é o porteiro ideológico que deixa de fora os intelectuais que escrevem sobre a luta de classes, a exploração de classes e o imperialismo americano – ou seja, categorias “ideológicas”, “não objetivas”, como eles dizem. A pior e mais duradoura influência dos integrantes do Congresso pela Liberdade Cultural não foi a defesa que eles fizeram das políticas imperialistas dos Estados Unidos, mais o êxito que conseguiram ao impor sobre as novas gerações de intelectuais a idéia de excluir qualquer discussão sobre o imperialismo americano nos meios de comunicação políticos e culturais influentes. A questão não é se os intelectuais ou artistas atuais podem ou não assumir uma posição progressista a respeito deste ou daquele assunto. O problema é a permanente crença entre os escritores e artistas de que as expressões sociais e políticas anti-imperialistas não devem aparecer em música, pintura ou qualquer escrito sério se querem que sua obra seja considerada um trabalho de substancial mérito artístico. A mais persistente vitória política da CIA foi a de convencer os intelectuais de que o engajamento sério e firme à esquerda é incompatível com a arte séria e o conhecimento. Hoje, na ópera, no teatro ou nas galerias de arte assim como nos encontros profissionais das universidades , os valores definidos pela CIA durante a Guerra Fria estão visíveis e disseminados: quem ousa despir o imperador?
JAMES PETRAS É SOCIÓLOGO MARXISTA NORTE-AMERICANO

Notas

1. Wasp (white Anglo-Saxon Protestant), protótipo do americano “puro”
2. KLA(Kosovo Liberation Army)

O OBJETIVO DAS GUERRAS IMPERIALISTAS É ROUBAR AS RIQUEZAS DOS POVOS
Syria-apotheosis-of-barbarism CAPAHá exatos 11 meses, outubro do ano passado, o jornal A Verdade, em sua edição de nº 144, denunciou que as potências imperialistas preparavam uma nova guerra no mundo. Dessa vez, afirmamos, o povo escolhido para ser massacrado era o povo sírio. Afirmamos ainda, que sem justificativa para levar a cabo esta guerra, o imperialismo, em particular o estadunidense, colocava em prática o mesmo plano adotado no Iraque: divulgar a mentira de que o governo sírio possuía um grande arsenal de armas químicas e que estava usando essas armas contra a população. O anúncio da marionete da indústria bélica e das multinacionais de petróleo norte-americanas, Barack Obama, de que iria “castigar o governo sírio”, comprova, infelizmente, que A Verdade tinha razão.

Para compreender as verdadeiras causas dessa nova agressão imperialista contra os povos árabes, publicamos o artigo citado Imperialismo quer mais uma guerra no mundo, que além de desmascarar a nova mentira dos EUA, revela que os trabalhadores, a juventude, os povos, e todos as forças progressistas e democráticas precisam se levantar contra o plano dos países imperialistas de escravizar os povos e dominar as riquezas das nações, caso contrário o império levará o mundo a uma nova guerra mundial.

Por que o império quer a guerra

A Síria não é um país socialista e, por isso mesmo, não é democrático. A principal lei da economia do país é o lucro e quem manda e governa é a classe dos ricos. As eleições são manipuladas, há perseguição aos que lutam por uma revolução e pelo verdadeiro socialismo e são numerosos os casos de corrup-ção no país. Os que têm dinheiro, as famílias ricas, conseguem resolver seus problemas; os que não têm, a imensa maioria da população, sofrem para conseguir até mesmo um emprego. Apesar de ter socialismo em seu nome e em seu programa, o Partido Baath (Partido do Renascimento Árabe Socialista) não defende nem pratica o socialismo científico de Marx e Lênin, embora quando de sua Constituição em 1963 tenha sido um partido progressista, visto que nacionalizou o petróleo, as terras e adotou medidas contra a espoliação estrangeira do país. Porém, desde a década de 80, se transformou num instrumento a serviço dos privilégios de algumas centenas de famílias e de grupos privados. Em decorrência, várias multinacionais têm cada vez mais negócios na Síria. A multinacional italiana do setor de armamentos – Finmeccanica – há dois anos está entre os principais fornecedores do governo sírio. Finmeccanica é o oitavo fornecedor do Pentágono e também produz em parceria com a norte-americana Lockheed Martin

Por ser um país dependente, a Síria sofre duramente as consequências da atual crise econômica capitalista. Este fato foi agravado porque desde os anos 90, o governo adota um conjunto de reformas neoliberais para permitir o avanço do capital estrangeiro, elimina programas de assistência social e reduz os investimentos públicos em 50%. As terras nas grandes cidades foram privatizadas e entregues a grandes empresas, que elevaram os preços dos imóveis, obrigando milhares de famílias a irem morar na periferia das cidades e formar favelas. Hoje, o país tem um elevado número de desempregados jovens, as desigualdades sociais aumentaram absurdamente e a pobreza é crescente. Tal situação levou, em meio aos levantes populares da Tunísia e do Egito, a juventude a ocupar as ruas exigindo mudanças sociais e políticas no país.

Foi nesse terreno que os países imperialistas começaram a operar, enviando à Síria mercenários que estavam no Iraque, para organizarem atentados e recrutarem insatisfeitos com o regime em vista de se formar um exército. Até a organização terrorista Al-Qaeda foi articulada pela CIA e é membro ativo do chamado Exercito Livre da Síria. Também, a serviço dessa estratégia imperialista, o reacionário governo turco de Tayyip Erdogan ao bombardear a Síria cumpre o papel de provocador visando a acelerar a nova guerra imperialista.

Entretanto, não é nem para acabar com o capitalismo na Síria nem com a corrupção e muito menos defender os direitos humanos que os EUA, a França, a Inglaterra e a Alemanha querem bombardear a Síria e derrubar o governo de BacharAl Assad. Aliás, basta observar o que se tornaram a Líbia, o Afeganistão e o Iraque após as intervenções militares dos países imperialistas para concluirmos como ficará a Síria se ocorrer um ataque da OTAN (Organização do Tratado Atlântico Norte).

Com efeito, nenhum desses países tornou-se mais democrático ou menos violento após as guerras de que foram vítimas. Pelo contrário, hoje na Líbia, em vários edifícios públicos tremula a bandeira da organização terrorista Al-Qaeda, a mesma que é acusada de realizar o atentado às torres gêmeas nos EUA, o qual matou mais de 3 mil cidadãos norte-americanos, e no dia 11 de setembro último realizou um atentado que matou o embaixador dos EUA na Líbia, Christopher Stevens. No Afeganistão, entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2012, 1.145 pessoas morreram e 1.945 ficaram feridas devido a atentados. Mulheres e crianças representam 30% das vítimas.

Ademais, se existisse por parte das potências imperialistas algum respeito aos direitos humanos, os EUA não teriam financiado e ajudado o golpe militar em Honduras, tentado derrubar o governo de Hugo Chávez e não continuariam apoiando e mantendo as sanguinárias ditaduras do Iêmen, do Bahrein e da Arábia Saudita.

Também, a defesa que a Rússia e a China fazem do governo sírio nada tem a ver com o respeito à autodeterminação dos povos. Lembremos que ambos os países foram favoráveis às criminosas guerras contra o Iraque e o Afeganistão e já aprovaram diversas sanções econômicas contra a Síria e o Irã, privando milhões de árabes de alimentos e de remédios.

A velha mentira repetida

 Sem ter o que dizer para justificar uma nova guerra imperialista, os Estados Unidos e demais potências imperialistas repetem o mesmo argumento (ou melhor dizendo, a mesma mentira) usada contra o Iraque: (“Saddam tem armas químicas de destruição massiva”) ou contra a Líbia (Kadafi massacra população civil).

Portanto, o principal motivo levantado pelos EUA e seus aliados para pressionarem a ONU a aprovar a agressão à Síria e usarem sua máquina de guerra mortífera composta de satélites militares, bombas nucleares, submarinos, aviões não tripulados, mísseis intercontinentais e milhões de homens armados espalhados em mais de 1.000 bases militares estacionadas em cerca de 50 países, é que a Síria possui “poderosas armas químicas e pode usá-las contra a população”.

Vejamos o que declarou o secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, no dia 28 de setembro ao ser perguntado pela imprensa de seu país sobre os depósitos de armas químicas na Síria: “Informações da inteligência americana dão conta de que o arsenal está em locais seguros, mas parte tinha se movido. Não está claro quando as armas foram transferidas, nem se a movimentação aconteceu recentemente.” A notícia prossegue dizendo que os EUA acreditam que a Síria tem dezenas de depósitos de armas químicas e biológicas espalhados pelo país”.

No final de agosto, o presidente Barack Obama declarou: “Vamos ser muito claros com o regime Assad, mas também com todos os outros combatentes, que a linha vermelha será quando começarmos a ver um monte de armas químicas sendo movidas e usadas. Isso mudará nosso cálculo”.

 Ora, nunca uma missão internacional esteve na Síria para investigar se o país possui ou não armas químicas. E agora, não só o país tem, como está transferindo essas armas de um lugar para outro.

 Mas como acreditar num governo que já mentiu tantas vezes? Lembremos algumas: disse que não jogaria bombas atômicas no Japão e jogou; disse que não usaria armas biológicas contra o Vietnã e usou, disse que Saddam possuía armas de destruição em massa e era mentira. Diz que o Irã está produzindo arma nuclear e, até hoje, apesar de várias inspeções, a AIEA não foi capaz de encontrar nem uma só arma nuclear no país, embora os EUA possuam, de acordo com o Pentágono, 5.113 armas nucleares e Israel algumas centenas.

Aliás, mentira e desinformação é o que mais tem surgido em relação à Síria. De fato, crimes contra o povo sírio, assassinatos e execuções não é algo raro praticado pelas chamadas forças rebeldes da Síria. Vejamos o que declarou o insuspeito embaixador brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, chefe de um painel internacional independente que investiga a situação na Síria: “Existem motivos razoáveis para acreditar que as forças antigovernamentais daquele país perpetram assassinatos, execuções extrajudiciais e tortura”.

Paulo Pinheiro também denunciou o uso de crianças com menos de 18 anos de idade por grupos armados de oposição. “Estas forças não identificam seus membros com uniformes reais ou insígnias para diferenciá-los da população civil “, acrescentou. Crimes realizados por esses elementos, como sequestros, tortura e maus-tratos de soldados do governo capturados, também foram repudiados pela Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, NaviPillay.

Concluindo, Pinheiro criticou o governo por levar a cabo ataques indiscriminados, como ataques aéreos e bombardeios de artilharia a áreas residenciais. Ele também se posicionou contra a aplicação de sanções contra a Síria, por constituírem uma negação dos direitos fundamentais ao povo desse país, onde, segundo a ONU, existem 2,5 milhões de pessoas que necessitam de ajuda humanitária. O especialista reiterou a necessidade de uma solução política na Síria e ressaltou que “não há possibilidade de uma solução militar.” (Correio do Brasil, 22/09/2012).

Escravizar os povos para dominar as riquezas

Porém, os grandes meios de comunicação da burguesia com o objetivo de convencer os povos da necessidade de mais uma guerra imperialista, divulgam mentiras e mais mentiras certos do que afirmou o ministro da Propaganda de Hitler, o nazista Joseph Goebbles: “Uma Mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade”.

Na realidade, o que está por trás da atual guerra que se desenvolve na Síria e que já matou mais de 25.000 sírios é o interesse das potências imperialistas em controlar uma nação que produz petróleo e gás natural – por dia, a Síria produz 380 mil barris de petróleo e tem reservas de 2,5 bilhões de barris e 240 bilhões de m3 de gás natural –; está situada na região estratégica do Oriente Médio e faz fronteira com Iraque, Irã, Turquia, Líbano e Israel. Ademais, a Síria, até por força das circunstâncias, pois tem parte de seu território nas colinas de Golã ocupado por Israel desde 1967, é um país que tem apoiado a luta pelo Estado da Palestina e tem em seu território quase 500 mil refugiados palestinos.

Dessa forma, a substituição do atual governo sírio por um governo submisso à dominação dos EUA, da França e da Inglaterra na região, além de garantir aos monopólios desses países o controle sobre petróleo e gás, também enfraquece o Irã, a luta do povo palestino, e facilita o controle político do Oriente Médio. Em resumo, se trata de mais uma guerra para assegurar os interesses de multinacionais como a Exxon, BP, Chevron, Barrick Gold, Shell, Total, Monsanto, HSBC, Deutsche Bank, Goldman Sachs, entre outros e de criar demanda para a indústria militar dos países imperialistas: a Boeing (EUA), a Northrop (EUA), a General Dynamics (EUA), a Raytheon (EUA), a BAE Systems, a EADS (europeia), a Finmeccanica (italiana), a L-3 Communications (EUA) e a United Technologies (EUA).

Há várias comprovações da existência de paramilitares a serviço da CIA na Síria e o governo denunciou na ONU a existência de 60.000 mercenários pagos pelas potências imperialistas atuando no país. O chamado Exército Livre da Síria recebe há muito dinheiro e armas da Inglaterra, da França e dos EUA. Segundo a BBC, agência de notícias inglesa, o governo britânico entregou mais de 7 milhões de dólares em “abastecimento médico e equipamentos de comunicação’ aos grupos armados sírios. A França, que teve a Síria como colônia até 1949, defendeu, por intermédio do Ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius, que “as zonas liberadas sírias que estão sob controle dos rebeldes recebam ajuda financeira, administrativa e sanitária.” O chanceler francês prometeu ajuda de 5 milhões de euros (R$ 12,8 milhões) aos opositores.

A Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, anunciou no último dia 29 mais US$ 30 milhões de assistência em alimentos, água e serviços médicos e mais 15 milhões em “equipamentos de comunicação” à oposição política não-armada”.

Ora, apesar da ONU adotar sanções contra a Síria – o governo sírio é reconhecido pela organização e por centenas de países – uma intervenção como essa que ocorre no país fere todas as leis internacionais e mostra que há muito o imperialismo jogou na lata do lixo o princípio da convivência pacífica entre os países e o respeito à autodeterminação das nações.

São essas, portanto, as razões que asseguram que mais uma guerra imperialista está a caminho. Tal situação coloca perante todos os homens e mulheres livres que não querem nem aceitam uma ditadura mundial do capital e a escravidão da humanidade por um punhado de países imperialistas governados por meia dúzia de bancos e de monopólios, a questão de o que fazer para deter esses genocídios e impedir que novas guerras sejam desencadeadas por potências capitalistas. Tais potências, mergulhadas numa profunda e grave crise econômica, veem como sua salvação aumentar a exploração dos trabalhadores, abocanhar as riquezas dos povos e dominar o mundo. Com a palavra Che Guevara: “O imperialismo capitalista foi derrotado em muitas batalhas parciais. Porém é uma força considerável no mundo e não se pode aspirar à sua derrota definitiva sem o esforço e o sacrifício de todos”¹.

¹ Che Guevara. Discurso em Seminário Econômico de Solidariedade Afroasiática. 1965
1. Wasp (white Anglo-Saxon Protestant), protótipo do americano “puro”
2. KLA(Kosovo Liberation Army)
http://averdade.org.br/2013/10/pagou-conta-guerra-secreta-cia-cultura



A ESCOLHA DE SER VICIADO EM DROGAS!?...

$
0
0

Por David da Costa Coelho
Aqui no RJ existe um instituto social chamado [1]Manasses, e um dos seus inúmeros trabalhos é a recuperação de drogados de qualquer vicio, utilizando não aquele monte de remédios de Psiquiatria – autorizados - que são piores do que aqueles que os dependentes químicos deles em tratamento tomavam antes de irem para lá, e sim algo que eu faço há muitos anos com meus clientes... Apenas conversa dura e real, encontrando nas escolhas deles, do que os levou aquele estado de coisas, ouvindo e vendo-os chorar inúmeras vezes, mas ao final eu ouvirei que estou certo – não gosto dessa parte – dai em diante a confrontação com cada detalhe do ocorrido; e substituição das porcarias alimentícias por alimentos naturais que proporcionam endorfinas e energia vital. Sejam eles carnes, legumes e [2]frutas, o importante é serem frescos e saudáveis. É um processo inicial de desintoxicação do corpo e da mente...
Além disso, acompanhamento e direcionar a vida do individuo para algo que gere endorfinas das coisas normais que o faça se sentir bem – exercícios, lazer, apego a família, algum credo que ele tenha anteriormente aquela situação, e que sirva de bussola nesse momento - cujo objetivo seja mudar aquela situação para sempre, não como uma contagem de dias de uma realidade final; e sim uma mudança sincera daqui para frente o que lhe dará motivos reais e imediatos para viver... Coisa que só fazia no lado das drogas, porque a endorfina dela te dá na hora prazeres que levam sacrifícios reais e demoram muito. Daí a capacidade de pessoas fracas, através de inúmeras desculpas particulares, se deixarem levar por algo ‘maravilhoso’ como qualquer droga, mas de duração curta e destruição certeira; o que o livra do problema imediato, e põe de volta à vida, dando motivos de seguir em frente, sem a síndrome do tadinho de mim, muito comum em quem chega para se tratar dessa, ou inúmeras patologias atuais e passadas.
Uma das coisas mais triste para um drogado, viciado em qualquer coisa prejudicial a sua vida, é aceitar - terapeuticamente - que ele era antes de tudo um fraco, e sua incapacidade de levar a vida sem aquela muleta, o fez chegar a esta situação. Claro que 99% deles irão dizer que a culpa foi da família, de amigos que o levaram até as drogas, ou a sua situação social e econômica o forçou aquela realidade. Bom, essa pessoa fictícia dos desenhos da teve retrata bem essa síndrome psicológica do tadinho de mim:
 "Se a culpa é minha eu coloco em quem eu quiser. - Homer Simpson”
Geralmente é isso o que ocorre, a pessoa quer descontar sua fraqueza interior em pessoas que não respiravam, comiam ou bebiam por ele, mas que ainda assim são culpados por - ele - ser um doente, viciado em drogas; que destroem não só a sua vida, mas dos amigos e familiares a sua volta e que ainda se preocupam com ele, a ponto de tentarem de todas as formas, libertá-lo daquela opção. Uma vez ciente de que a culpa é sua, e foi sua as escolhas que o levaram aquela situação, cabe agora se expor a nova realidade, saber o porquê deseja não ser mais um ser digno da pena de outras pessoas e sim um individuo especial que pode ser capaz de muita coisa; dentre elas viver sua própria vida, sem impor aos demais o preço de sua fraqueza anterior.
Tive um amigo alcoólatra anônimo, sua historia era um conto magnifico, pois escalou altas profissões e desceu a degraus tão baixos que o levaram quase a mendicância. Depois de chegar à instituição e se libertar provisoriamente do álcool, ele mudou do nordeste para o RJ, e aqui nos conhecemos e fomos amigos por décadas, até sua morte em 2005, por cirrose. Ajudei-o com dinheiro, moradia por meses em minha casa e emprego, aturei suas inúmeras recaídas no meu lar, pois de caixa de banco no nordeste, veio para cá e recomeçou como garçom. Ali era exposto diariamente a seu vicio, e enquanto convivemos juntos, jamais bebeu novamente. Contudo, ele conheceu uma pessoa, foi morar em outra cidade e passou por inúmeras recaídas, a ponto de sua companheira vir a mim diversas vezes, em busca de auxilio ao marido.
Numa de nossas conversas, muito duras por sinal, eu descobri porque ele, após 10 anos ‘limpo’, havia voltado a beber. Não aceitava mais a realidade que vivia, tudo que ele foi e sofreu, além de desistir de si mesmo para vir para o RJ tentar uma nova vida. Pior, sabia que estava com cirrose, e caso se tratasse, poderia ainda viver uns 20 anos. Mas de novo vamos a uma frase de outro personagem, só que este real e com longo histórico de consumo de drogas diversas:
‘ É melhor viver 10 anos a 1000 do que 1000 anos a 10. Lobão.’
A decisão dele foi essa, descontar os anos de abstinência numa rápida recuperação do álcool que faltava em sua vida, já que para ele ela não tinha mais sentido, apenas uma sucessão de dias, e quando isso ocorre, não há terapeuta que cure ninguém, porque a pessoa tem a sua disposição inúmeras[3]formas de suicídio, em curto prazo, com armas e venenos, ou em ‘longo’, com drogas diversas. Portanto, a primeira coisa que o ex viciado deve ter em conta é que embora ele esteja tecnicamente curado, se não encontrar motivos reais para permanecer assim, cedo ou tarde ele estará de novo entregue a essa coisa fantástica que faz parte de seu DNA. Uma das que deve fazer é não contar dias e anos que esta sem uso, e sim se entregar a motivos reais para deixar essa coisa para sempre.
Na instituição citada – Manassés - eles usam a religião como pano de fundo central da terapia. Além de mudança de ambiente, geralmente os drogados são levados para outro estado, uma mudança brusca que os força a renascer para uma nova realidade, dando motivos para buscar em seu interior a lembrança da família, amigos, e distancia da realidade que viveram. Bom, cada um desenvolve terapia de acordo com sua linha de pensamento e atuação, eu acredito apenas em terapia de confronto – encarar a realidade sem dó nem pena, como forma real de cura – além do mais, mudar uma pessoa de ambiente - em minha opinião - sendo que após ele deve retornar, é apenas uma fuga da realidade que sempre esta a nossa frente. Já tratei de viciados, um deles hoje é pastor de igreja, tem 200 fieis sob sua tutela, e sempre conta a seus membros a sua vida nesse mundo nojento. Tem cicatrizes de bala no corpo para não deixar esquecer porque quase foi morto por dividas de cocaína, e só não morreu porque não era a hora, ou segundo ele; não foi a vontade de Deus...
Essa sucessão de exemplos serve apenas como uma introdução de um tema mais do que cotidiano, as drogas fazem parte da história humana há milênios. Muitas usadas como caminho de acesso aos deuses, em diversas religiões animistas e politeístas, os cogumelos estão no topo da lista, e até outras de cunho pentecostal, a exemplo a do Santo Daime, que usa um chá especifico para atingir um estado de relação com sua divindade. Assim com a escolha sexual é opção de cada um, usar as drogas, por qualquer razão ou escolha, também é exclusivo da pessoa em si. Manter – se drogado também envolve uma escolha pessoal. E isso implica antes de tudo olhar a sua volta e saber aonde isto o levará, bem como o custo social e familiar. Não há cura sem uma consciência de que precisa dela. Aceitar a mesma como consequência de seu desejo, tem o mesmo efeito do motivo que o levou a usar esse lixo para sua vida. Muitos simplesmente não querem deixar essa realidade porque a vida real não o motiva em sentido contrario. Já os que decidem o caminho em direção a saída, seja bem vindo, e saiba que sempre haverá um demônio atrás da porta, lhe convidando para prazeres maravilhos que bem conhece...
Assim como viver é fazer escolhas difíceis dia a dia, durante anos, magondo pessoas próximas e distantes, por alguns momentos raros de existência feliz, e muitos extremamente complicados, a droga é sempre o caminho mais fácil do fraco. Se caiu nelas, foi sim um fraco, e o que motiva a não voltar para elas é a força que havia em si, e só descobriu ao chegar no fundo de sua alma. Não há ninguém que deva dizer se tu deve ou não se drogar, nem culpar por isso.   Se decidiu sair, de vez, toda vez que a droga estiver em suas mãos ou olhos, veja-as como lixo, e como tal, o destino dele não é no seu corpo, sua vida ou de familiares, mas em um local que não fara mal a ninguém.
[]


DROGAS SEUS EFEITOS E CARACTERÍSTICAS 
‘DROGAS: Como existem vários psicotrópicos na natureza e estes quando ingeridos em grandes quantidades levam a uma liberação maciça de dopamina na via mesolímbica. Ocorre um GRANDE PRAZER. Mas, um prazer diferente do produzidos pela dopamina natural do cérebro, pois as quantidades são diferentes. Desta forma, o reforço e a recompensa são muito maiores com a utilização da droga. Quando isso não acontece, ocorre a dependência, o vício e a busca por mais droga. A partir deste momento, a volta a uma VIDA NORMAL é muito difícil e necessita de muito esforço.’
As drogas são substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que provocam alterações psíquicas e físicas a quem as consome e levam à dependência física e psicológica. Seu uso sistemático traz sérias consequências físicas, psicológicas e sociais, podendo levar à morte em casos extremos, em geral por problemas circulatórios ou respiratórios. É o que se chama overdose. Além das drogas tradicionais, os especialistas também incluem na lista o cigarro e o álcool.O emprego e abuso propagado de drogas não se restringem aos adolescentes e não começou com o advento da cultura jovem dos anos 60, como qualquer um que tinha 20 anos na década de 50 pode atestar. A humanidade usa as drogas para diversos fins há milhares de anos. Mas no século XX elas se popularizaram com uma nova ciência; a psiquiatria...                      
Os jovens e adolescentes estão entre os principais usuários de drogas. Pesquisas indicam que entre 12 e 18 anos eles já iniciam o consomo de álcool, cigarro, maconha e outras drogas da moda. Entretanto, ao contrario do que é propalado de que a maconha seria a porta de entrada, na verdade isso ocorre com cigarro e álcool, pois as drogas licitas, são as mais fáceis de obter e se tornam caminho natural para algo mais pesado. Atualmente cresce o uso de crack e drogas sintéticas, como o ecstasy. Os consumidores de cocaína são os que mais procuram tratamento para se livrar da dependência, o qual é feito por meio de psicoterapias que promovem a abstinência às drogas e do uso de antidepressivos em 60% dos casos. Atualmente, cerca de 5% dos brasileiros são dependentes químicos de alguma droga.
TIPOS DE DROGA - As drogas são classificadas de acordo com a ação que exercem sobre o sistema nervoso central. Elas podem ser depressoras, estimulantes, perturbadoras ou, ainda, combinar mais de um efeito.
 Depressoras - Substâncias que diminuem a atividade cerebral, deixando os estímulos nervosos mais lentos. Fazem parte desse grupo o álcool, os tranquilizantes, o ópio (extraído da planta Papoula somniferum) e seus derivados, como a morfina e a heroína.
Estimulantes - Aumentam a atividade cerebral, deixando os estímulos nervosos mais rápidos. Excitam especialmente as áreas sensorial e motora. Nesse grupo estão as anfetaminas, a cocaína (produzida das folhas da planta da coca, Erytroxylum coca) e seus derivados, como o crack.
Perturbadoras - São substâncias que fazem o cérebro funcionar de uma maneira diferente, muitas vezes com efeito alucinógeno. Não alteram a velocidade dos estímulos cerebrais, mas causam perturbações na mente do usuário. Incluem a maconha, o haxixe(produzidos da planta Cannabis sativa), os solventes orgânicos (como a cola de sapateiro) e o LSD (ácido lisérgico).
Drogas com efeito misto - Combinam dois ou mais efeitos. A droga mais conhecida desse grupo é o ecstasy, metileno dioxi-metanfetamina (MDMA), que produz uma sensação ao mesmo tempo estimulante e alucinógena.
Drogas e doenças infecciosas - O uso comum de seringas para a injeção de drogas é um dos principais meios de transmissão do HIV e do vírus da hepatite B e C.
Prevenção e tratamento - Os especialistas afirmam que o melhor modo de combater as drogas é a prevenção. Informação, educação e diálogo são apontados como o melhor caminho para impedir que adolescentes se viciem. Para usuários que ainda não estão viciados, o tratamento recomendado são a psicoterapia e a participação em grupos de apoio. Para combater o vício, além das terapias são usados medicamentos que reduzem os sintomas da abstinência ou que bloqueiam os efeitos das drogas.
Há alguns fatores que contribuem para que um jovem tenha maiores probabilidades de se viciar.  O primeiro é genético, Já se provou que pessoas com histórico familiar de alcoolismo ou algum outro vício correm maiores riscos de também ser dependentes.  Os demais estão relacionados com a personalidade, Adolescentes tímidos, ansiosos por algum tipo de reconhecimento entre os amigos, apresentam maior comportamento de risco para a dependência. 
MACONHA: Os efeitos físicos mais frequentes são avermelhamento dos olhos, ressecamento da boca e taquicardia (elevação dos batimentos cardíacos, que sobem de 60 - 80 para 120 - 140 batidas por minuto). Com o uso contínuo, alguns órgãos, como o pulmão, passam a ser afetados. Devido à contínua exposição com a fumaça tóxica da droga, o sistema respiratório do usuário começa a apresentar problemas como bronquite e perda da capacidade respiratória. Além disso, por absorver uma quantidade considerável de alcatrão presente na fumaça de maconha, os usuários da droga estão mais sujeitos a desenvolver o câncer de pulmão. O consumo da maconha também diminui a produção de testosterona. A testosterona é um hormônio masculino responsável, entre outras coisas, pela produção de espermatozoides. Portanto, com a diminuição da quantidade de testosterona, o homem que consome continuamente maconha apresenta uma capacidade reprodutiva menor.
COCAÍNA: A cocaína é uma droga psicoativa que estimula e vicia, promovendo alterações cerebrais bastante significativas. A mesma é extraída da folha da coca, e se consumida por muito tempo, ocasiona danos cerebrais e diversos outros problemas de saúde. Aceleração ou diminuição do ritmo cardíaco, dilatação da pupila, elevação ou diminuição da pressão sanguínea, calafrios, náuseas, vômitos, perda de peso e apetite são alguns dos efeitos biológicos da cocaína.
CRACK:  O crack é queimado e sua fumaça aspirada passa pelos alvéolos pulmonares, dos alvéolos o crack cai na circulação e atinge o cérebro. No sistema nervoso central, a droga age diretamente sobre os neurônios. O crack bloqueia a recaptura do neurotransmissor dopamina, mantendo a substância química por mais tempo nos espaços sinápticos. Com isso as atividades motoras e sensoriais são superestimuladas. A droga aumenta a pressão arterial e a frequência cardíaca. Há risco de convulsão, infarto e derrame cerebral. O crack é distribuído pelo organismo por meio da circulação sanguínea. No fígado, ele é metabolizado. A droga é eliminada pela urina.
ECSTASY - A DROGA DO AMOR: Os principais efeitos do ecstasy são uma euforia e um bem-estar intensos, que chegam há durar 10 horas. A droga age no cérebro aumentando a concentração de duas substâncias: a dopamina, que alivia as dores, e a serotonina, que está ligada a sensações amorosas. Por isso, a pessoa sob efeito de ecstasy fica muito sociável, com uma vontade incontrolável de conversar e até de ter contato físico com as pessoas. O ecstasy provoca também alucinações. Os malefícios causados pela droga ao corpo do usuário são ressecamento da boca, perda de apetite, náuseas, coceiras, reações musculares como câimbras, contrações oculares, espasmo do maxilar, fadiga, depressão, dor de cabeça, visão turva, manchas roxas na pele, movimentos descontrolados de vários membros do corpo como os braços e as pernas, crises bulímicas e insônia.


DROGAS E CAPITALISMO - QUEM SÃO OS VERDADEIROS CRIMINOSOS

Se o leitor, acreditando na Rede Globo e similares, pensa que os verdadeiros e maiores culpados pelo inferno imposto ao povo brasileiro pelo crack, cocaína e maconha são os traficantes das favelas e subúrbios das cidades, está enganado. Essas gangues são apenas vendedoras varejistas, "funcionárias" de um patrão atacadista, e estão no degrau menos poderoso e rico de um gigantesco businesscapitalista nacional e internacional.
Os donos, diretores e administradores dessa cadeia produtiva integrada à economia do imperialismo, embora se escondam em luxuosos edifícios e debaixo de seus caros ternos de executivos, podem ser plenamente identificados. São membros das classes dominantes. Financistas, empresários da alta burguesia e latifundiários.
No Brasil, "respeitáveis" fazendeiros e banqueiros são os mais citados (o HSBC, Unibanco, Bradesco, Real, Credit Suisse e Bozano Simonsen já apareceram em denúncias).
Na Colômbia e Peru, além do latifúndio e de bancos, também são apontados como "sócios" as Forças Armadas e políticos de vários calibres, inclusive presidentes da República.
Porém, o comando do negócio é do USA. Foram seus governantes e suas classes ricas quem, a partir dos anos 1970/1980, implantaram e massificaram esse horrendo negócio, através principalmente da CIA (agência de espionagem/ inteligência), da DEA (agência de "combate"às drogas), do FBI (polícia federal) e do Pentágono (Forças Armadas).
Extrema ironia: no resumo da novela, a denunciante Globo e os denunciados traficantes possuem o mesmíssimo patrão.
COMO TUDO COMEÇOU
Hoje a droga movimenta cerca de 300 a 500 bilhões de dólares ao ano, é o 2 º item do comércio mundial, vencendo até o petróleo, só sendo superado pelo das armas. Ao contrário do que divulga o monopólio da imprensa, essa economia não nasceu e cresceu apenas como atividade de marginais, cartéis e máfias e sim foi algo planejado e montado pelo imperialismo (principalmente do USA) como um business . Se isso mata ou destrói seres humanos (até em seu próprio país) pouco importa.
"O tráfico de drogas foi sempre um negócio capitalista, por ser organizado como uma empresa, estimulada pelo lucro", diz a enciclopédia Conteúdo Global (*).
A droga como gerador de renda para as classes dominantes e para o imperialismo vem desde séculos atrás, porém a “narcoempresa”, nos moldes em que existe hoje, começou a surgir na década de 1960 e solidificou-se a partir de 1970/1980.
Foi nos anos 60 que os ianques enxergaram as mil vantagens políticas/ideológicas e econômicas que uma transnacional da droga poderia dar ao sistema.
Sabe-se que desde 1963 os militares do USA e a CIA montaram "uma rede de produção e distribuição de narcóticos para gerar uma fonte de financiamento para futuras ações de contrainsurgência (guerras populares e movimentos de libertação na América Latina)", afirma a Folha da História (*).
E agrega: "No final de 1964, Philip Agee, agente da CIA, denunciou o começo da operação na Bolívia. Ali os generais Barrientos e Banzer, também agentes da CIA, construíram uma primeira rede".
Pouco depois, para criar um mercado consumidor maior, o USA não teve nenhum melindre em viciar seus próprios cidadãos: os soldados mandados ao Vietnã. Segundo Jansen (*) essa guerra (1964-1975) seria marcada pelo uso generalizado de drogas. "Cerca de 30 mil soldados estadunidenses se tornaram dependentes de drogas (notadamente maconha e heroína) para que continuassem estimulados no front ".
O FMI PARTICIPA
Perto dos anos 1980, com a elevação do número de consumidores/viciados no USA e outros lugares, era necessário incentivar o crescimento das lavouras de folhas de coca e maconha, para sustentar o grande business . E isso foi feito com a participação do FMI e do Banco Mundial, na década de 80.
Naquela época, suas medidas anti-povo em muitos países pobres resultaram na supressão de milhões de empregos. Conforme Jansen, isso "provocou uma transferência maciça de mão de obra para a economia dita informal e em particular para a produção de drogas, em países como Bolívia, Peru, Colômbia, Afeganistão".
Vejamos o caso da famosa Colômbia.
Hoje o país produz cerca de 80% da cocaína do mundo. Isso só foi possível porque com o empurrão do FMI e Banco Mundial, na década de 1980 os fazendeiros deixaram de produzir café para produzir coca e cocaína. Ou seja, os latifundiários colombianos foram convidados pelos ianques a entrar na empresa. Aceitaram com gosto.
Os gerentes do país passaram a autorizar empréstimos externos nos quais os dólares eram trocados por pesos, plano que ficou conhecido como Ventanilla Siniestra (Janelinha Sinistra). Com tal plano, verdadeira oficialização da lavagem de dinheiro da droga, autoridades colombianas "deram anistias tributárias, por meio das quais foram incorporados e legalizados os investimentos dos narcotraficantes", afirma Jansen.
Vejamos ainda o exemplo da Bolívia, onde o FMI e o presidente Paz Estenssoro também abriram as portas para o grande narco-negócio na década de 1980.
Conforme Del Roio (*), em 1985 foi aplicado um plano econômico que levou os índices de desemprego a 30%. O FMI aconselha e pressiona para a liberalização geral.
Então, "o presidente Paz Estenssoro, com o decreto DS 21.060 declara que todas as moedas cotadas podem ser depositadas nos bancos bolivianos, em qualquer quantidade e sem controle nenhum, com respeito total ao sigilo bancário em relação a sua proveniência. Os aplausos dos organismos econômicos internacionais foram generalizados. Significou o sinal verde para os grandes investimentos na coca. (...) Aconteceu que em pouco tempo no planalto de Chapare, o melhor terreno para a plantação, a população passou de 20 mil habitantes para 200 mil. Caso quase único de esvaziamento das cidades e retorno ao campo".
Com o aumento da produção, o chefe de polícia do Panamá Manoel Antônio Noriega já conseguia, entre 1984 e 1986, "exportar" ao USA 2 toneladas de cocaína e 500 toneladas de maconha do cartel colombiano de Medellín.
Noriega era agente da CIA desde 1967. Ele participou de esquema clandestino organizado pela CIA de financiamento dos bandos paramilitares chamados de "os Contras" que atacavam o governo sandinista da Nicarágua, relata Jansen. Tal operação ficou conhecida em 1986 como o escândalo "Irã-Contras" (compra de armas no Irã para financiar os bandos na tentativa de derrubar os sandinistas).
Em 1989, Noriega se proclamou chefe de Estado do Panamá, declarando-se em estado de guerra contra o USA. Resultado: 13 mil marines invadiram o país e o prenderam. O pretexto foi "combate ao narcotráfico". Mas muita gente não acreditou. Para a CIA, ele era um perigoso arquivo.
COMO FUNCIONA
No Afeganistão, a produção de drogas foi retomada depois da invasão militar do USA em 2001. Após a invasão, o país superou a Colômbia e se tornou o maior produtor mundial de drogas (principalmente ópio e heroína) e, em 2003, o negócio faturou 2,3 bilhões de dólares, mais da metade do PIB do país.
Embora o comando da narcoeconomia seja dos ianques, sua estrutura é similar à uma transnacional e funciona em rede.
Na América do Sul, na ponta da produção está o latifúndio, que planta coca e maconha.
No Brasil, fazendeiros e camponeses pobres do sertão de Pernambuco ("polígono da maconha"), Maranhão, Tocantins e Mato Grosso são os mais citados.
Os produtores latinoamericanos têm como sócios e protetores um numeroso segmento de políticos (até presidentes da República, como no Peru e Colômbia), militares, juízes, etc.
A distribuição atacadista internacional costuma contar com empresários do chamado crime organizado (cartéis, máfias, etc).
Todos esses departamentos do “narco-negócio”, embora poderosos, ficam com apenas 10% dos lucros totais. A distribuição varejista, a dos traficantes dos morros e periferias do Brasil, aquela que a Globo e o resto do monopólio ataca, é a raia mais miúda dobusiness, não recebendo mais que uma parcela mínima desses 10%.
O maior lucro do empreendimento, 90% do total, é dos bancos. "Respeitáveis" banqueiros, frequentadores das colunas sociais, deveriam estar nas páginas policiais.
Diz a enciclopédia Conteúdo Global que o papel central da narcoeconomia como parte integrante do capitalismo é detectado no peso que a lavagem do dinheiro da droga possui hoje no sistema bancário internacional.
No Brasil, os mais apontados em denúncias são o HSBC, Unibanco, Bradesco, Real, Credit Suisse e Bozano Simonsen.
Há alguns anos, para facilitar a vida dos seus clientes da “narcoeconomia”, vários bancos criaram filiais em alguns países, nos quais vale tudo, e que são chamadas de paraísos fiscais.
Conforme José Moreira Chumbinho (*), as drogas são uma das principais armas criadas pelo imperialismo em decadência. "O processo de domesticação econômica, ideológica e política, associada ao uso ‘voluntário' e permanente de drogas completa o ciclo necessário para incapacitar os setores mais combativos da população".
O surgimento do crack
Reproduzimos aqui alguns trechos de artigo de Ney Jansen, bastante esclarecedores:
"Na década de 1980 jovens do bairro pobre de South Central de Los Angeles, Califórnia, foram devastados pelo crack. Em 18/08/1996 o jornal local San José Mercury News, publicou uma série de artigos sobre como a droga se apoderou daquele território.
O que esteve por trás de tudo: o escândalo Irã-Contras e as ligações entre a CIA, DEA e os cartéis colombianos, protegendo a entrada de drogas no USA para financiar os "Contras" na Nicarágua. A citação (de Del Roio) é longa, mas merece ser reproduzida por extenso:
"Os que possuem boa memória se recordarão do processo contra o coronel Oliver North, que terminou com sua condenação. Os autos desse processo demonstraram com nomes e fatos que por vários anos a CIA e a DEA estiveram em contato com os chamados cartéis colombianos, protegendo a entrada de drogas nos Estados Unidos. Tal operação servia para encontrar fundos ilegais para financiar as forças opositoras ao governo sandinista da Nicarágua.

Através dos cristais que restam da fabricação da cocaína, é  possível fabricar uma droga muito mais barata e mortal, adequada aos pobres, que será chamada de crack.

Eis que os guetos negros de Los Angeles, onde o desemprego juvenil chega a 45%, pode ser inundado com o novo produto. Por cinco anos, de 1982 a 1987, os Contras nicaraguenses, com a cobertura de organismos oficiais (do USA), despeja 100 quilos de cristais de coca semanais sobre South Central (Obs: Total de 27 mil quilos).

(...)A partir dessa atividade criminosa exercida contra os negros de Los Angeles, o crack espalhou-se pelas metrópoles dos Estados Unidos e de vários países latino-americanos.

Esta é uma história para recordarmos quando vemos nas ruas de São Paulo (Obs: E muitíssimas outras cidades) as nossas crianças agonizando ou cometendo crimes porque viciadas em crack. Agora sabemos quem são os primeiros responsáveis".
O surgimento do crack na década de 1980 tem por antecedência o papel político que as drogas desempenharam no USA nas décadas de 1960 e 70.
É nesse período que surge em 1966 o Partido dos Panteras Negras, organização da classe operária e da juventude negra do USA.
(…) Além de destruir as sedes, prender e assassinar os militantes Panteras Negras, a CIA e o FBI passarão, em associação com narcotraficantes da América latina, a despejar toneladas de cocaína, maconha, heroína nos bairros negros visando a desarticulação política, levando à dissolução do Partido.
Mumia Abu Jamal (2001), ex-militante dos Panteras Negras, comentou o papel do crack nas comunidades negras no USA:
"Um espectro assombra as comunidades negras da América. Como vampiro, suga a alma das vidas negras, não deixando nada senão esqueletos que se movem fisicamente mas que estão afetiva e espiritualmente mortos.

É o resultado direto da rapinagem planetária, das manipulações dos governos e da eterna aspiração dos pobres a fugir, aliviar-se, ainda que brevemente, dos paralisantes grilhões da miséria extrema.

A sua procura de alívio se soletra C-R-A-C-K. Crack. Pedra. Chame como quiser, pouco importa; ele é na verdade, uma outra palavra para "morte".

Notas
(*) Principais fontes: Drogas, imperialismo e luta de classes , Ney Jansen (sociólogo), artigo, revista Urutagua, no.12, 2007, Universidade Estadual de Maringá (PR); As últimas armas do império agonizante , José Moreira Chumbinho, A Nova Democracia nº 1, julho/agosto 2002; Verbetes do sítio www.conteudoglobal.com (enciclopédia virtual ) ;Mundialização e criminalidade, José Luiz Del Roio, in: Drogas: hegemonia do cinismo , Memorial. 1997; Folha da História , junho, 2000 in: Peru – Do império dos incas ao império da cocaína , Rosana Bond, Coedita, 2004

Fonte: A Nova Democracia





[1] A Instituição Social Manassés possui um alto índice de resultados positivos, o que impulsiona a continuar com um trabalho que confirma a fé de que em Deus tudo é realmente possível. A Instituição existe porque alguém se preocupou, trabalhou e perseverou. Mas o amor o faz vencer todas as barreiras e hoje é líder e responsável por todo este trabalho humano, onde conta com cerca mil pessoas e mais de 21 unidades espalhadas pelo Brasil.

[2] Durante os intervalos das refeições, se possível coma sempre frutas ou sucos variados das mesmas. De preferencia limão, abacaxi ou melancia, podendo enriquecer os mesmos com salsa, hortelã e tantas outras sugestões magníficas. No jantar, lembre se que mais tarde vai dormir, ou até mesmo fazer coisas mais palatáveis antes, então de preferencia uma salada com carne, ou se for vegetariano, algo análogo.  Antes de dormir, crie o habito de tomar um suco de limão ou melancia, elas fazem a limpeza de seu corpo enquanto dorme, semelhante ao óleo de motor de seu carro, sem isso ele literalmente trava.

[3] AS RAZÕES EMOCIONAIS DO SUICÍDIO
.
O SUICÍDIO DE UM GRANDE AMIGO

O QUE FAZER COM MENDIGOS E DROGADOS NO RJ?

$
0
0

Por David da Costa Coelho
No começo deste ano, nas minhas férias escolares, fui a Copacabana passear e tirar umas fotos, aproveitando um daqueles raros dias em que estou só e posso me divertir com imagens que durarão décadas, arquivadas na internet, pois as fotos paisagísticas são as que realmente me atraem. Dificilmente faço fotos de pessoas, salvo raras exceções... Depois de fotos dos prédios e lugares típicos, fui caminhar na praia descalço, vendo o mundo de turistas gringos que vem para cá no verão. Contudo, algo especial me chamou a atenção, pois ao lado de uma turista – talvez alemã ou inglesa - muito branca, na ponta da praia, já quase chegando ao forte de Copacabana, havia dois mendigos dormindo mais acima, enquanto ela passava óleo em suas pernas, e de vez em quando a turista olhava para eles meio receosa. No entanto, ambos dormiam a sono pesado, deviam ter ficado até o amanhecer coletando material reciclável para vender, e naquela hora da manha, dormiam o sono dos justos num cartão postal mundial...
Tirei umas fotos deles porque aquilo de certa forma era algo raro, mas não retirei do cartão de memoria, ainda estão ali guardadas, passei o resto do dia caminhando, e fui até o Leblon, e a surpresa não parava, vi mendigos próximos a uma famosa casa de massas ali perto. Outra mendiga sentada ao lado de uma drogaria, com uma criança de uns três anos grudados ao corpo dela, e mais duas de um uns oito e onze anos pelo tamanho. Como dou aula é fácil calcular a idade deles, embora bem magros e desnutridos. Peguei o metrô e fui até a central do Brasil para mais fotos, mas ali, além dos monumentos e do sambódromo, o espetáculo é mais antigo e prosseguia sua triste sina; mendigos e viciados em drogas diversas fazem daquele local uma espécie de nicho ecológico próprio, da espécie humana excluída e invisível que se tornaram... Dormem entre as lanchonetes, próximo a praça. Ou nas laterais do prédio da Central. E como não se banham diariamente e não têm roupas limpas, não podem frequentar locais destinados a quem faz parte do mundo real, assim sendo o banheiro é em via publica, e o banho, nas fontes da cidade...  Aquele dia estava ainda muitas fotos de terminar...
Dias depois, quando minha esposa estava voltando das férias com a família no Chile, e fui busca-la às três da manhã, o que mais havia no caminho próximo à comunidade que fica na rota do aeroporto eram viciados em crack e mendigos. Embora conheça a realidade do RJ, ela não deixou de reparar no progresso que ainda mantinhos no tocante a mendigos e viciados. No percurso de volta, um engarrafamento quilométrico, depois de duas horas, quase raiando o dia, finalmente encontramos o problema. Três viciados em crack tinham sido atropelados por um caminhão, e ainda acertaram outro carro...
Mas viciado morto e atropelado na Avenida Brasil à noite, quando não ocorre também durante o dia, já se tornou coisa comum, difícil é o dia que isso não ocorre... Não só nessa via famosa do RJ, mas na linha amarela, vermelha, e até mesmo em outras menos conhecidas. Entretanto, ainda restam outras mazelas desta desgraça social que mancha nossa ascensão às potencias ricas do globo. Como docente de História, discordo desse termo porque o país mais rico do mundo, os EUA, tem 60 milhões de pessoas passando fome, dormindo em esgotos, bueiros e estações de trens e casas e prédios em ruinas e abandonados por razões obvias. Se uma nação é rica a esse ponto, e não dá um jeito de cuidar deles com algum projeto social; semelhante ao feito nos anos 30 por Franklin Delano Roosevelt, o contraponto com a África, onde morrem de fome diariamente 34 mil crianças, segundo a ONU; não estão lá tão distantes no futuro, se nada em contrario for feito hoje...
Aqui no Brasil também temos milhões na linha da pobreza, auxiliados pelos programas sociais do governo, que muitos chamam de bolsa esmola, bolsa voto, vagabundagem e tantos outros preconceitos idílicos de quem tem tudo e não esta nem aí para os que nada possuem. As bolsas ricos e bolsa corrupção, tão romanticamente falado em jornais e sites diariamente, não tem tanta pregação contraria quanto estes programas de ajuda a pessoas pobres. E é nesse sentido que faço o questionamento. No meu entender, essas pessoas devem ser ressocializadas de alguma forma. Já andei por muitas cidades do RJ, Niterói, São Gonçalo, Magé, Caxias...
Em Niterói, próximo à rodoviária tem um batalhão da PM, e ao entardecer, restos de alimentos são postos para fora nas lixeiras. Contudo, o que se vê, com carros da PM entrando e saindo, são mendigos revirando as latas para catar as sobras do almoço, ou qualquer parte que forre o estomago. E um pouco depois do batalhão, indo para o centro da cidade, mendigos e viciados se unem em grupo para fumar crack, ou trocar os produtos do dia. Quase chegando à faculdade universo, mendigos caminham e pedem aos alunos e camelos dinheiro e doações. Não só ali, como na         UFF, já próximo às barcas e ao Plaza Shopping. Ou seja, essas pessoas não tem opção de mudar de vida. E só lhes resta esse caminho até que a morte os leve em alguns anos. Ou se são mortos por algum riquinho maldito que gosta de queimar indigentes a noite, ou por traficantes, e em alguns casos por doentes mentais que também matam mendigos. Não raro a teve nos mostra alguns desses casos macabros.

É de minha opinião que devemos fazer alguma coisa no âmbito de resgate humano dessas pessoas sem futuro e destino. Não podemos continuar ignorando os indigentes que vemos nas calçadas a noite, dormindo próximo a bancos, restaurantes abertos ou fechados, ou recolhendo alimentos em lixos de comércios ou qualquer que seja, é que só se tornam seres humanos nas festas hipócritas do ‘natal sem fome’. Se não há lei para levar essas pessoas para um centro social, tratar suas mazelas, ensinar a ler escrever e ter uma profissão no futuro, mesmo que de cuidadores de praças, ou presidentes da republica se tiverem dom para isso no futuro; que nossos políticos as façam. Em breve virão as olimpíadas e copa do mundo. E nos não somos hipócritas a ponto de desconhecer que todos serão retirados na marra das zonas turísticas e de jogos, para não atrapalhar os negócios e o cartão postal visto por bilhões neste evento... E sem lei para isso. Ou seja, quando o estado e os políticos querem algo, se tem lei eles fazem, e se não tem, fazem assim mesmo; porque o interesse deles, e não o da população, esta sempre em primeiro lugar...

A REENCARNAÇÃO DE JESUS.;!?

$
0
0

Por David da Costa Coelho

Um dia desses um de meus alunos perguntou-me alguns tópicos sobre reencarnação, pois uma tia dele é kardecista e ele estava curioso sobre o tema, eu lhe disse não era deste credo, pois espiritismo não faz parte do segmento reencarnacionista que acredito, algo novo e compilado no século XIX; e durante um intervalo de aula para o recreio eu lhe expliquei sobre o meu credo, mas afirmou de antemão que devido ser protestante, não acreditava nisso nem no que sua tia frequentava. Eu pulei a parte dos concílios ocorridos ainda no império romano, que retirou da bíblia a reencarnação e fiz-lhe a seguinte pergunta:
- Sendo assim, gostaria que me explicasse como Jesus voltará se ele não reencarnar novamente no corpo de alguma mulher, como filho dela, e anos depois se apresentar aos seus fieis como o próprio, que retornou para cumprir outra profecia?
Os olhos profundos dele, perdidos num vazio de duvidas, bem como o silencio seguinte foi à resposta não dada. Depois retornamos e prosseguimos a aula de Brasil Império e ficamos neste vazio para uma próxima conversa, mas dei a ele diversas [1]passagens bíblicas para estudar, que corroboram tais questões, além de manda-lo pesquisar sobre o Imperador Teodósio, pois foi ele que acabou com a tradição judaica da Reencarnação, e o suposto Jesus – historicamente não há evidencias inquestionáveis de sua existência, e se existiu, foi apenas mais um judeu, elevado a categoria de salvador do povo, contra as atrocidades dos romanos; mas como o importante para ele era paz e amor, foi relegado como tal. Por isso Barrabás foi salvo, porque lutou contra os Romanos de arma em punho – assim vamos nos ater apenas a parte religiosa deste tema, e não a histórica.
Em dado momento do surgimento do cristianismo, síntese de varias religiões do Oriente Médio, Egito, e tradições copiadas de povos da Europa, a exemplo o dia de finados e o anel de casamento; foi dito que Jesus um dia voltaria para salvar as pessoas das mazelas com as quais a humanidade convive há milênios. Elas estão bem descritas nos pecados capitais. É claro que podemos acrescentar mais algumas advindas do capitalismo selvagem e monopolista. A tal teoria da prosperidade é de longe uma delas, porque o crente que contribuir mais com sua igreja terá em dobro o que doar. Os lideres destas facções protestantes vendem a seus fieis uma visão de um Jesus provedor de riquezas e bens materiais – promessa de prosperidade - o que religiosamente ele jamais proferiu. Ao contrario, absteve-se de bens porque no mundo religioso, o que importa não são posses, e sim ações afirmativas pelo seu próximo; tudo que o capitalismo e a teoria da prosperidade divina de Jesus jamais serão...
Hoje, no entanto, o que mais se encontra nas ruas são veículos com adesivos bem sugestivos: ‘foi jesus quem me deu; propriedade de jesus; tenha fé em cristo e ele te dará o mundo; guiado por mim, dirigido por jesus...’
 Ou seja, não é mais a fé em algo após a morte que conta, e sim o apego a bens terrenos, a pedição 24 h por dia por carros, jatinhos, apartamentos, fazendas, e quiçá até mesmo um terreninho na lua; assim que ela estiver disponível para habitação num futuro proximo.  Entretanto, embora isso possa parecer coisa nova, na verdade foi um dos motivos macabros que deu origem a reforma protestante, no século XVI.
A sanha da Igreja Católica em explorar os fieis com a venda de indulgencias, tais como o prego da cruz que pregou Cristo, o pedaço do lenço que secou suas lágrimas e seu sangue, um pedaço de seu prepúcio, já que como judeu foi circuncidado, pedacinhos da cruz de madeira em que ele foi colocado... Ou seja, uma infinidade de falcatruas que fizeram tais canalhices serem questionadas, originando a reforma protestante. No entanto, como a historia sempre se repete, os protestantes fazem hoje o que criticavam séculos atrás, com a venda de óleo sagrado, lencinho, tijolinho, fronha, uma infinidade de coisas que faria o Jesus por reencarnar desistir de voltar aqui, mandar o pai dele – que é ele mesmo segundo a trindade cristã - jogar esse povo todo na fornalha do capiroto.  
Diante deste quadro dantesco do que as religiões fazem e fizeram em nome de Jesus, dentre elas exterminarem milhões de pessoas por não acreditarem na versão religiosa imposta, seja ela católica ou protestante... Calcula-se que a população indígena do continente americano era de 100 milhões de pessoas, mas após a chegada dos europeus e o consequente extermínio por riquezas, imposição de fé e preconceitos, ficou nos dias de hoje em 5 milhões. Essa mesma visão religiosa foi imposta também na Oceania, Ásia e na África, os resultados humanos disso, fazem os números de mortos na 1ª e 2ª Guerra mundial parecerem um conto de fadas de tão pequeno.
O famoso holocausto de 6 milhões de judeus, ciganos e deficientes físicos, feito por Hitler, com apoio dos EUA e Inglaterra, é fichinha em comparação com os 10 milhões de congoleses que o rei da Bélgica exterminou sozinho, ou os 30 milhões mortos na Índia pelo império britânico da Rainha Vitória. Somado os outros povos que foram dizimados por países imperialistas cristãos como Alemanha, Holanda, Itália, EUA e Rússia; com todos esses milhões e mortos em seu nome, e olha que ainda continua em boa parte da África, além dos crimes de pedofilia das igrejas, Jesus ainda se proporia a reencarnar e salvar essa gente mesquinha, covarde e hipócrita?
Será que o aceitariam, tendo em vista que nem em sua época ele foi aceito? Se ele chegasse flutuando, ou caminhando alguns centímetros acima do solo, com seus poderes divinos e exigisse o trono e as contas do vaticano, ou da Igreja universal, ou mundial, os pastores e o Papa entregariam?  Ou será que eles diriam que o tal cristo nada mais é que um mágico, assim como o top de linha mundial, o 1º de todos, Dynamo, que já caminhou sobre o Rio Tamisa, flutuou no cristo redentor, transformou agua em vinho, e até fez a multiplicação de peixes numa favela da África do sul... Seu quadro de magicas, dentre elas prever o futuro, dirigir cego com um piloto de formula 1 do lado, e tantas outras coisas nos levantam a teoria conspiratória de que jesus já pode ter voltado aqui inúmeras vezes, mas percebendo como a coisa estava, decidiu permanecer incógnito, apenas encantando o povo com seus dons supremos.
Para alguns dons divinos, outros, no entanto, afirmam que isso será comum a nossos descendentes do futuro, e que muitos de nós já possuem estes dons latentes, aguardando apenas um casal especial se unir para dar a seu filho o somatório de todos eles. Em meu livro O GENOMA DE CRISTO, é isso que ocorre, e falta pouco para também ser publicado em minha pagina, ao chegar à casa de 1 milhão de visitas.
Eu acredito em meu credo na existência de ascendidos, assim como muitos outros reencarnacionistas, em pessoas especiais que passaram por todos os estágios de reencarnação e não tem mais motivos para retornar aqui, salvo pelo bem da humanidade. No entanto, se cristo realmente foi um deles, e já veio até aqui, com certeza sua revelação ao mundo não se dará neste século, talvez lá para o ano 2400, pois neste período, espero que estejamos preparados para sermos mais humanos, e não estes seres hipócritas e mesquinhos que só se importam com seu deleite supremo, numa vida curta, medíocre e egoísta...


[1] JOÃO BATISTA, A REENCARNAÇÃO DE ELIAS: Malaquias 4:5, Antigo Testamento, informa o envio do profeta Elias a terra, como precursor de Jesus: “Eis que vos envio o profeta Elias, antes que venha o terrível e grande dia do Senhor”. O anúncio da vinda de Elias, informando da missão do profeta, para que o povo pudesse reconhecê-lo e saber estar próxima a vinda do filho de Deus. Elias era de fato esperado pelos judeus, desde a promessa em Malaquias, como precursor do Cristo. Julgaram encontra-lo em João Batista, mas o batizador respondeu que não era ele o Elias que havia de vir, nem mesmo um profeta. Alguns estudiosos espíritas acreditam que João Batista não se lembrava de sua encarnação anterior, outros que ele ainda não tinha consciência de sua missão, e aqueles em defesa que a modéstia fez João responder daquela forma.

[Mateus 17:10] Perguntaram-lhe os discípulos: Por que dizem então os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?

[Mateus 17:11] Respondeu ele: Na verdade Elias havia de vir e restaurar todas as coisas;

[Mateus 17:12] digo-vos, porém, que Elias já veio, e não o reconheceram; mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim também o Filho do homem há de padecer às mãos deles.

[Mateus 17:13] Então entenderam os discípulos que lhes falava a respeito de João, o Batista. Falara de João Batista morto recentemente a mando de Herodes.
 O que Jesus pronunciou foi renascimento, ser gerado de novo, exatamente com o mesmo significado de reencarnação, ou seja, nascer novamente.

[João 3:7] Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.

"Palingenesia"é a palavra grega para reencarnação em português, e ela consta de alguns textos bíblicos no antigo e novo testamento, embora sempre posta nas traduções ou versões, como recriação ou regeneração.

Deve-se atentar que os cristãos não reencarnacionistas não admitem a pré-existência da alma, ou seja, que a alma é criada no exato momento da concepção. Jeremias 1:5, no entanto, diz textualmente ser conhecido antes mesmo do ato da sua fecundação, o que só pode significar pluralidade de vidas. "[Jeremias 1:5] Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta."

A HISTÓRIA SECRETA DA RENÚNCIA DE BENTO XVI
Paris - Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba. Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro. O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.
Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas. Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno.
O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem em sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente. Depois do escândalo provocado pelo vazamento da correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para isso contratou o jornalista estadunidense Greg Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox. Burke tinha por missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica.
A divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo do papa, Paolo Gabriele, e muitas outras mãos invisíveis, foi uma operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos: operação contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar em seu lugar um italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de segredos, os vatileaks fizeram afundar a tarefa de limpeza confiada a Greg Burke. Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de redesenhar.
Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa. Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo.
Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira. O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual.
Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em julho passado. A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do Vaticano. As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época.
João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais. Marcinkus terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres. No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus.
Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” em sua gestão. Tedeschi saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava sendo investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro. Na verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano. Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas.
Aí começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco. Sua destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de documentos roubados do papa.
Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos: corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se auto alimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FInternacional%2FA-historia-secreta-da-renuncia-de-Bento-XVI-%2F6%2F27404

O IMPACTO DA TEORIA DA EVOLUÇÃO NO MUNDO RELIGIOSO

$
0
0


Por David da Costa Coelho
A teoria da [1]evolução de Charles Darwin no mundo atual ainda gera conflitos tão impactantes quanto os ocorridos na Inglaterra vitoriana do século XIX. Embora a mesma possua muitos erros e acertos devido às respostas dadas pela ciência contemporânea, e que ele não conhecia na época em que publicou seu livro; a primazia de seu trabalho não só mudou a forma de vermos a raça humana, como também propiciou explicações para um numero quase infindável de novas teorias e preconceitos que viriam a seguir. Mas de todas as contribuições tangíveis da teoria, a mais impactante e atual é a meritocracia – uma invenção chinesa do período de sua unificação há 2300 anos, mas que caiu como uma luva explicativa dentro da teoria evolutiva e liberal - com ela se justifica porque determinadas classes de nobres, governantes e pessoas são bem sucedidas, e outras não, evidente que se exclui do contexto as passagens históricas que levaram esses grupos de seres humanos bem sucedidos alcançarem essa posição, pois no caso, só o mérito interessa...

 A teoria, como dito anteriormente, é complexa, tem grandes defensores do lado da ciência e uma ferrenha resistência a sua aceitação em muitas partes do globo, principalmente por entidades religiosas que perderam a primazia de serem representantes do Deus [2]criador de todas as coisas. Não que isso seja novidade porque todos os povos da terra têm a sua lenda de criação por suas divindades especificas, mas como o cristianismo é a religião primordial do ocidente, bem como suas facções protestantes, são delas as mais claras disputas em defender o criacionismo como a verdadeira origem da humanidade, segundo seu conto de fadas particular. O fato de os [3]índios do Brasil, ou os aborígenes da [4]Austrália terem uma versão diferente, ou os deuses [5]nórdicos, [6]gregos, e afins, isso nem se fala, pois seria blasfêmia...

Coube a Charles Darwin modificar esse conceito e tornar o mundo de outrora, tão seguro e religioso, numa espécie de purgatório de conflitos científicos e divinos, discutidos até hoje por especialistas de diferentes áreas, algumas tão insólitas como economistas neoliberais que defendem o capitalismo predatório que vem literalmente destruindo os principais ecossistemas do planeta. Para estes, a desculpa de que é para o bem das pessoas e gerar emprego, em nenhum momento modifica sua real intenção, punir as classes menos favorecidas, tidas como um empecilho evolutivo, e que, portanto deve seguir o curso natural da evolução, a extinção. Quando politicas econômicas são voltadas para esses grupos, logo aquelas classes descritas na meritocracia surgem para contestar essa ajuda aos desqualificados da evolução, o que na opinião deles, é apenas um desperdício de recursos e privilegio a seres humanos desqualificados e preguiçosos...

No contexto do cristianismo, a teoria de que os seres humanos tinham um parentesco em comum com os macacos, e não mais feito à imagem e semelhança de deus, fez com que as pessoas tratassem Darwin e seus defensores, muito pior do que já faziam com Judas, o suposto traidor de Jesus; esquecendo o contexto religioso de que o próprio sabia de tudo com antecedência, e mesmo assim deixou que ocorresse, para que a ‘profecia’ se cumprisse. Evidente que os defensores do evolucionismo contra-atacaram com força total, porque a primazia da teoria era fazer as pessoas pensarem e questionar os dogmas obscuros de milhares de anos de imposição religiosa. E nesse campo os céticos, agnósticos e ateus, depois de séculos lutando uma guerra ideológica sem um líder máximo, de repente foram presenteados com um ícone que não só respondia suas duvidas, como também colocava as divindades obrigatória até então em seu devido lugar; a ficção religiosa.

Se nos séculos anteriores isso fez as pessoas sofrerem por serem confrontadas em seus credos. Ainda hoje isso gera muito conflito. Uma de minhas melhores amigas é pedagoga de uma escola onde leciono. Durante o curso na faculdade, ao ser informada sobre as teorias de Darwin, e ter a matéria obrigatória como parte do curso que fazia na época, chorou de raiva porque desde criança foi criada no evangelho, e tudo o mais que isso representa. Não só questionava a matéria que precisava para se graduar, como também não aceitava a inserção obrigatória da mesma. Ela tem duas graduações, mas optou pela pedagogia porque biologia a colocaria sempre em contato com a teoria da evolução. Nas aulas que damos ao iniciar o 6º ano, a teoria da evolução esta entre as primeiras coisas que os alunos são levados a conhecer porque passamos pela origem do homem e a pré-história. Se pessoas adultas padecem desse conflito entre ciência e fé, são muito pior nestes alunos juvenis, muitos deles doutrinados desde a infância pela religião católica e protestante. Condicionados desde crianças a dizer graças a deus por tudo que ocorre em suas vidas.

No caso de Darwin estar certo em alguns aspectos de sua teoria, e errado em outras, de acordo com novas evidencias da origem da vida, a exemplo a panspermia, ou uma suposta origem da humanidade através de alienígenas denominados Anunnakis, elas não o desqualificam como um dos maiores cientistas do planeta, que fez a historia humana mais rica e elegante. O fato de receber o ódio de fundamentalistas religiosos, ou pessoas que são incapazes de contextualizar o mundo religioso e o cientifico, só confirma uma coisa imutável, ele conseguiu deixar a origem da vida menos medíocre...



[1] Em oposição ao criacionismo, a teoria evolucionista parte do princípio de que o homem é o resultado de um lento processo de alterações (mudanças). Esta é a ideia central da evolução: os seres vivos (vegetais e animais, incluindo os seres humanos) se originaram de seres mais simples, que foram se modificando ao longo do tempo. Essa teoria, formulada na segunda metade do século XIX pelo cientista inglês Charles Darwin, tem sido aperfeiçoada pelos pesquisadores e hoje é aceita pela maioria dos cientistas.

[2] O criacionismo é uma forma de explicação sobre a origem do mundo, onde se busca atribuir a constituição das coisas à ação de um sujeito criador; A bíblia  relata que Deus teria feito a terra em sete dias. No primeiro dia teria construído o universo e a Terra. No segundo e no terceiro, estabeleceu os céus, as terras e mares do mundo. Nos dois dias seguintes apareceram os primeiros seres vivos e a separação do dia e da noite. No sexto e último dia, surgiram os demais animais e o homem. E no sétimo ele descansou.

[3] Mitologia guarani refere-se às crenças do povo tupi-guarani da porção centro-sul da América do Sul, especialmente os povos nativos do Paraguai e parte da Argentina, Brasil e Bolívia. A figura primária na maioria das lendas guaranis da criação é Iamandu (ou Nhanderu ou Tupã), o deus Sol e realizador de toda a criação. Com a ajuda da deusa lua Araci, Tupã desceu à Terra num lugar descrito como um monte na região do Aregúa, Paraguai, e deste local criou tudo sobre a face da Terra, incluindo o oceano, florestas e animais. Também as estrelas foram colocadas no céu nesse momento. Tupã então criou a humanidade (de acordo com a maioria dos mitos Guaranis, eles foram, naturalmente, a primeira raça criada, com todas as outras civilizações nascidas deles) em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal e partiu. Nhanderuvuçú (Tupã) é considerado Deus supremo na religião primitiva dos índios brasileiros que habitavam as terras tupiniquins atualmente chamadas Brasil. Nhanderuvuçú não tem forma humana a chamada forma antropomórfica, é a energia que existe, sempre existiu e existirá para sempre, portanto Nhanderuvuçú existe mesmo antes de existir o Universo. A única realidade que sempre existiu, existe e existirá para sempre é a energia a qual os índios brasileiros identificam como Nhanderuvuçú.

[4] A narração da Criação dos Aborígenes da Austrália, o tempo do Sonho, está ainda muito presente na sua cultura, na sua religião e no seu modo de vida. O tempo do Sonho começou quando o Criador de todas as coisas, de nome Baiame, acordou a Mãe-Sol. Quando esta abriu os olhos, uma doce luz inundou a Terra. O Criador enviou a Mãe-Sol para a Terra, uma planície estéril, para que ela aí despertasse os Antepassados.  À passagem da Mãe as plantas começaram a nascer. Uma vez acordados os Antepassados, também chamados Espíritos, começou verdadeiramente a criação da Austrália, das suas paisagens e da sua fauna. Estes Antepassa dos viveram inúmeras aventuras e combateram estranhas criaturas. Cada nova peripécia modificava a paisagem. Por exemplo, as pessoas ou os animais que cometiam atos proibidos eram punidos pela serpente Arco-Íris, que os afogava, criando assim baías e rios. Depois, atirava os seus ossos para formar rochedos e colinas. Deste modo, nos locais de passagem dos Antepassados foram criados a fauna, a flora e o relevo do continente australiano. Todas as histórias destes espíritos criadores, diferentes de uma região para a outra, constituem os «sonhos» que fundam a cultura aborígene e continuam a ser transmitidos de geração em geração. É assim que o tempo do Sonho se perpetua na Austrália há milhares de anos.


[5] A CRIAÇÃO: No princípio só existia um grande abismo vazio chamado “GINNUNGAGAP” e “YGGDRASIL”, a árvore cósmica que sustenta os mundos. Nas raízes desta árvore havia dois grandes reinos, um de fogo chamado MUSPELL, e outro de escuridão e névoa chamado NIFELHEIM. Entre os dois reinos estava HVERGELMIR, um grande caldeirão com água borbulhante que alimentava as águas dos doze grandes rios que flutuavam sobre o grande abismo vazio “GINNUNGAGAP” e que, ao precipitar-se nele, formavam blocos gigantes de gelo (este é o “caos” original de todas as religiões primitivas).  No amanhecer da existência, chamas de fogo do reino de MUSPELL caem sobre os blocos de gelo, formando gigantescas nuvens de vapor que surgem do grande abismo, formando os elementos, o espaço, um grande oceano e a terra, no princípio gelada (vemos aqui o fogo fecundando as águas, origem de mundos, bestas, homens e Deuses). Então, vem à criação da vaca “AUDHUMLA” (a Mãe Espaço). Ela começa a lamber e a derreter o gelo e liberta dele o gigante BUR, e das gotas de gelo derretido forma-se o gigante de gelo YMIR (os divinos hermafroditas, que surgem do absoluto na aurora da criação), aos quais ela alimenta com quatro rios de leite que surgem dos seus peitos.
Surgem os mundos sustentados pela árvore sagrada YGGDRASIL, a árvore da vida que sustenta os nove mundos (dimensões superiores), a MIDGARD (terra dos homens ou mundo físico), e o NILFLHEIM (as infra dimensões). Estes mundos se sustentavam sobre seus ramos e três de suas raízes os comunicavam. Eis aqui a árvore da Kabala com seus Sephirotes e os Kliphos. Da união de BOR (irmão de BUR) com um gigante surgem os Deuses à existência. Os primeiros Deuses são ODÍN, VILI e VE.
A partir daqui há duas versões: Uma diz que o gigante YMIR dorme, e das gotas de suor do seu braço esquerdo nasce o primeiro casal humano ASK e EMBLA (Adão e Eva). Mas o gigante YMIR leva em si mesmo as sementes do mal (o Ego) e seus outros descendentes serão “os gigantes de gelo”, encarnação do mal, do Ego, da caída angélica, estabelecendo-se, a partir deste momento, uma luta mortal entre os Deuses e os gigantes de gelo, que será o centro de toda a épica nórdica até o terrível desenlace final em RAGNAROK.
A outra versão diz que Odín, Vili e Ve matam o gigante de gelo Ymir e criam a terra como relata o “Vafprúonismál” (os relatos de Vafthrudnir):  Da carne de Ymir a terra foi criada, e de seus ossos, as rochas, a abóbada do céu foi feita com o crânio do gigante de gelo, e o mar formou-se com seu sangue. E a seguir criam o primeiro casal humano de um pedaço de madeira. Odín, com seu alento, deu-lhes a vida, Ve deu-lhes os sentidos, e Vili deu-lhes a inteligência.http://www.vopus.org/pt/gnose/antropologia-gnostica/a-mitologia-nordica.html


[6] Os gregos da antiguidade acreditavam que Prometeu e Epimeteu, dois Titãs, cansados do marasmo do Mundo e do Olimpo, resolveram pedir permissão a Zeus, o rei dos deuses, para criarem seres mortais. Zeus inicialmente não gostou muito da ideia, mas Prometeu argumentou que se algo saísse errado, não havia com o que se preocupar, afinal seriam seres mortais e logo que morressem acabaria o problema. Zeus então autoriza Prometeu e Epimeteu de criarem os mortais.
Prometeu ficou responsável em criar um ser que seria a imagens e semelhança dos deuses, o homem. Epimeteu ficou responsável em criar outros seres.
Epimeteu então cria vários animais, e para cada um deu uma virtude, uma habilidade que os permitia manter a sobrevivência.
Os animais de pequena estatura, Epimeteu compensava com a velocidade, ou com capacidade de se esconder, camuflar. Os animais maiores, apesar de não serem tão ágeis, tinham a força. Em fim alguns Epimeteu deu asas, garras, a capacidade de viver nas águas, mas todos tinham algo que os ajudavam a se manterem vivos na natureza.
Quando prometeu foi criar o homem, ajuntou um pouco de argila e o fez semelhante aos deuses do Olimpo, entretanto, quando foi lhe dar alguma virtude ou habilidade, percebeu que Epimeteu havia gastado todas com os animais, e nada sobrou para o homem. Prometeu ficou furioso com Epimeteu, pois agora o homem ficaria vulnerável aos outros seres, pois ele nasceria indefeso, sem nenhuma habilidade que o ajudasse a sobreviver.
Prometeu para tentar reparar o erro de Epimeteu, teve que dar ao homem uma habilidade extremamente perigosa e que não deveria ser dada: a astúcia. Alem disso, Prometeu foi ao Olimpo e de lá roubou o fogo e deu ao homem. Este fogo não apenas ajudaria o homem a sobreviver, mas este fogo representava a luz, ou seja, o conhecimento, a sabedoria. Juntando a astucia, e a sabedoria, o homem se tornou capaz da fazer tudo aquilo que fosse necessário para a sua sobrevivência, e isto o tornava muito diferente dos outros mortais, já que essas habilidades dava ao homem o completo domínios sobre os demais seres mortais.
Zeus ao descobrir o que Prometeu havia feito, ficou extremamente furioso e deu um severo castigo a Prometeu. O condenou a passar a eternidade preso sobre correntes, e durante o dia, um ave comeria todo seu ventre. Durante a noite, por ser imortal, Prometeu se regenerava, e pela manhã a ave retornava para mais uma vez alimentar-se do seu ventre.
Quanto a Epimeteu, Zeus sabendo da sua simplicidade, resolveu engana-lo. Zeus criou Pandora, uma deusa que foi presenteada por uma habilidade de cada deus do Olimpo, que seria responsável em carregar uma caixa, que tinha uma maldição deixada por cada deus o Olimpo. Pandora deveria seduzir Epimeteu e então fazê-lo abrir caixa entre os homens. Epimeteu ao ver pandora logo se apaixona e casa-se com ela, então a caixa de Pandora é aberta e varias maldições passar a existir entre os homens. A partir deste momento, o homem foi condenado a viver com a dor, sofrimento, medo, ira, ganância, dentre varias outras maldições.
Pandora percebendo o que havia acontecido, resolveu ajudar os homens dando uma só virtude que o ajudaria a sobreviver em meio a tantas maldições que ela mesma ajudou a libertar: a Esperança. Com a esperança, apesar da dor, sofrimento, medo, o homem conseguiria manter-se vivo.
http://www.descobrindohistoria.com.br/2012/10/mitologia-grega-criacao-do-homem.html


OS SACRIFÍCIOS DE ANIMAIS PELA RELIGIÃO E CIÊNCIA;.!?

$
0
0

Por David da Costa Coelho

As pessoas fazem estardalhaço na internet por várias coisas, algumas seguindo o raciocínio de manada, postando e repassando idiotices, sem contestar a informação ou a idoneidade ou motivo por traz dela. Ou quando se aplica a coisas que realmente tem fundamento, foi contextualizado por conhecedores do assunto e estudiosos, cabendo para isso, ainda assim; mais aprofundamento porque a opinião de qualquer ser humano nunca esta totalmente livre de ranços de sua cultura, religião e politica. Com os animais não poderia deixar de ser diferente porque nós somos os únicos seres que tem consciência da vida e da morte, eles, no entanto, vivem apenas por instinto.
Os seres vivos de carne e osso, ao longo de milhares de anos desde a evolução e supremacia humana, são nosso alimento, nossas pragas, nossas oferendas aos deuses do panteão [1]henoteista, e monoteísta; os islâmicos ainda hoje fazem o sacrifício de cabras e bois eu seu dia sagrado [2]Eid al-Adha. Os membros de religiões henoteista e animistas no mundo inteiro também. Alguns [3]judeus ortodoxos fazem sacrifício de animais, e o costume pode estar de volta porque segundo a lei deles, deve ser feito nas proximidades do templo sagrado, onde é o muro das lamentações...
As religiões de cunho africano como Umbanda e Candomblé, usam o sangue e carcaças de animais em suas festas e ritos de celebração de suas divindades, ou até mesmo oferendas que são postas em encruzilhadas, matas e cachoeiras, como forma de alimentar os deuses em seus pedidos. Algumas partes desses animais são consumidas quando em festas de matança pelos [4]Ogans, outras no entanto, devem ser deixadas inteiras e intocadas aos deuses em despachos, como dito acima, o que deixa o povo das demais religiões que discordam da pratica não só de cabelo em pé, como taxam aquilo de crime hediondo aos direitos dos animais...
Nos dias de hoje isso cria muita polêmica no Brasil, principalmente em face de religiões como o protestantismo e o cristianismo creditarem à Umbanda e o Candomblé como religiões demoníacas; e tais oferenda seriam coisas terríveis, oferecidas ao demônio e seus enviados para acabar com a vida das pessoas ou agradar as divindades maléficas do credo. Se tais religiões existissem na Europa renascentista, católicos e protestantes não teriam se matado aos milhares, pois teriam um inimigo comum que os unisse na sandice particular de matar quem pensa o deus diferente deles...
Ao contrario disso, as religiões de origem africana, seguidas por ¼ da população brasileira, são apenas outras que tem o mesmo caminho da qual todas se originaram, e ainda mantem suas tradições ancestrais de oferendas aos seus santos, deuses e entidades do além. O catolicismo, com sua semana santa em que só se deve comer peixe, também é semelhante porque seres vivos também serão mortos em nome da divindade suprema, copiada ao longo de séculos de um sincretismo de inúmeros povos. A carne consumida em nome do nascimento desse deus é uma celebridade de morte animal na escala de bilhões de seres, o natal celebra um nascimento divino; mas a festa sangrenta deste credo fica por conta dos Perus, frangos, carne de porco, evento também compartilhado também por protestantes. Não esquecendo o dia de ação de graças nos EUA, em que se mata em média 50 milhões de Perus para o evento de agradecimento aos índios que lhes deram meios de sobreviver ao chegarem à América. Assim como os perus, os índios receberam o mesmo tratamento caridoso...  
Neste quesito de extermínio de animais em homenagens a datas cívicas e religiosas, só escapam os vegetarianos porque comer carnes para eles é um crime. No entanto, também são hipócritas porque vivem em uma sociedade onde o [5]boi e a vaca estão presentes em tudo de suas vidas... Além dos mais, as plantas também são seres vivos, mas só porque não possuem um cérebro centralizado, como no reino animal, acham que não estão vivos e podem comer sem culpa. Bom, as plantas não possuem só a energia vital que adoramos consumir no almoço, jantar e dejejum, elas reagem a carinho e sentimentos, comprovado em inúmeros estudos científicos, portanto, podemos compreender uma inteligência ampla, só que nossa ciência ainda não a estudou a esse ponto. As supremas mentes vegetarianas imaginam que se o ser vivo não tem um cérebro num lugar central, acham que não há inteligência, portanto é menos terrível comer uma alface que um boi...
A bem da verdade, não existe um único ser vivo neste planeta, do reino animal, que não precise da energia vital das plantas, dos fungos e bactérias para sobreviver, mas após morrer, seu corpo será decompostos por vermes, fungos e bactérias, que alimentarão as plantas; e os seres vivos superiores. Um ciclo perfeito há bilhões de anos, portanto, certas futilidades, aos olhos da natureza e da evolução, são apenas sandices temporárias humanas. Nossos ancestrais compreenderam isso quando se delineou o animismo, porque a energia vital esta em tudo. E nas oferendas de seres vivos aos seus deuses diversos, pretendiam com suas orações, endereçarem esse poder as divindades, para que elas atendessem seus pedidos módicos de saúde, sexualidade perfeita, bens materiais e longevidade pessoal.
Com relação à ciência, mesmo estando no século XXI, ela ainda utiliza animais em milhares de pesquisas que salvam vidas, ou que são apenas direcionadas para vaidades inúteis, manipuladas pela mídia, para pessoas que não pensam. A exemplo do Shampoo para crescer cabelo, esmalte para fortalecer unha, e tantas outras besteiras para pessoas que não conseguem entender que o corpo produz as coisas de dentro de suas células para os órgãos; assim sendo se existisse o tal Shampoo para crescer cabelo, por que ainda existem bilhões de carecas no mundo? Embora possa parecer uma idiotice, muitas indústrias se utilizam de animais para pesquisas que simplesmente dão nojo de tão inúteis. Dizer que podemos excluir os animais de todas elas, é ser tão hipócrita quanto um vegetariano que não deixa a vida no mundo civilizado, cheio de produtos a base de carne, e não vai viver numa ilha a base de verduras.
O que precisamos tanto no mundo religioso, civil e cientifico, é de menos exagero e mais consenso com a realidade que nos permeia.  Quando as pessoas entenderem que a terra é um campo de passagem, não importa sua religião, ciência ou ateísmo, vaidade ou forma de consumir alimentos; e sim como podemos conviver com os outros seres que não pensam, mas nos servem como alimentos, oferendas ou cobaias. Talvez chegue um dia que as religiões estejam menos presas a seus passados originais e não utilizem mais os mesmos a suas divindades. Da mesma forma que a computação quântica possa no futuro classificar dados tão avançados, que façam o uso de cobaias tão necessárias quanto esfregar pedras para fazer fogo. Mas como dito, essas coisas demandam tempo, até lá, que o fundamentalismo de todas as esferas, quem sabe, sejam menos atuantes...




[1] Crença na existência de vários deuses, mas só um é venerado como deidade suprema, um exemplo simples seria Zeus, do panteão grego, ou Odim do panteão Viking.

[2] Aspectos relacionados ao Sacrifício de Animais (Udhia): O Normal no Ato do Sacrifício é que seja feito para as pessoas vivas, conforme feito pelo profeta Mohammed e seus companheiros onde faziam o sacrifício por eles e por seus familiares, ao contrário do que muitas pessoas pensam que é um ato exclusivo a ser dedicado para as pessoas mortas; sendo que o sacrifício para os mortos se divide em três categorias: - [1] Fazer o sacrifício para si e para os seus familiares vivos e dedicar também o mesmo para os familiares já mortos, conforme era feito pelo Profeta. -[2] Fazer o sacrifício para as pessoas mortas conforme suas recomendações e testamentos enquanto vivas, o que é confirmado pelo versículo do Alcorão sagrado (E quem o altera, após ouvi-lo, apenas , haverá pecado sobre os que alteram. Por certo, Allah é Oniouvinte, Onisciente). – [3] Fazer o sacrifício para os mortos de uma forma independente dos vivos, como uma boa ação, dessa forma é considerado válido, sendo que não foi constatado que o profeta Mohammed, fez o sacrifício especialmente e somente para os mortos, pois ele não fez ao seu tio Hamza, um dos mais próximos familiares a ele e nem pela suas esposa Khadija, e não foi constatado também que os companheiros do profeta fizeram isso durante a sua vida. Vale a pena ressaltar o erro que muitos muçulmanos fazem, sacrificar um animal pelo seu parente no mesmo ano que morre, sendo que esse sacrifício é exclusivo a ele, pois pensam que não é válido associar outras pessoas neste sacrifício, pois não sabem que é preferível fazer por si mesmo e por todos seus familiares, sendo assim a dedicação e o ato de adoração tem retorno para todos, tanto os vivos como os mortos. Proibições: Ao entrar no mês islâmico lunar Zil-hijjah, a pessoa que for executar o sacrifício do animal esta proíbida de: cortar o cabelo, cortar as unhas, ou remover algo de sua pele, até que termine de sacrificar, isto conforme narrado por Bukhari e Muslim, onde o profeta diz: (Se entrar nos dez dias de Zil-hijjah e quiser fazer o sacrifício, então não corte seus cabelos nem as suas unhas). Sendo que se a pessoa cometer essa falha, e cortar seu cabelo ou unhas de propósito, ela deve se arrepender e não voltar ao mesmo erro, e seu sacrifício continua válido ao contrário de que muitos acreditam, mas se o fizer sem perceber, ou sem saber que não é válido o seu sacrifício continua valendo. A regra pode ser quebrada caso haja necessidade tal como: cortar a unha por dor, ou cabelo muito comprido acima dos olhos, ou retirar pelos devido a uma ferida.

[3] Durante a semana de comemorações da páscoa judaica, foram iniciados nesta sexta-feira, os sacrifícios no monte do templo, algo que segundo os próprios judeus, não acontecia a quase 2000 anos. Seria este acontecimento, o cumprimento da profecia de Daniel 9:27? "Ele confirmará uma aliança com muitos por uma semana [sete anos], mas na metade da semana [três anos e meio, 42 meses ou 1.260 dias] fará cessar o sacrifício e a oferta de cereais."

[4] AXÒGÚN, que sacrifica para os orixás.

[5] Primeiro de tudo, vamos entender o que é veganismo e, para isso, vamos ver sua origem: o vegetarianismo. Não, os dois não são a mesma coisa.

A SUPREMA JURISPRUDÊNCIA DE JOAQUIM BARBOSA...

$
0
0


Por David da Costa Coelho

Quando se iniciou o processo do mensalão do PT, estava em jogo o poder das elitesmesquinhas, derrotadas nas urnas, mas disposta a vencer em outra esfera, e ir à forra suprema em nova eleição, mas isso não ocorreu... Pela 3ª vez a presidência do País ficou com o Partido dos Trabalhadores, tendo no poder máximo, Dilma, ex-ministra de Lula, vista pela oposição e asseclas como um poste inelegível de 3% antes de vencer no 2º turno o eterno candidato das elites; José Serra. A solução a partir de então era usar o 4º poder para massacrar o PT e seus aliados com todos os crimes possíveis que eles tenham cometido ou não, o importante era acusar, e neste sentido o Mensalão era a estrela com o qual eles se guiavam...
 Após a denuncia, esta seria amplificada em todos seus canais, revistas e jornais, concessões públicas obtidas em apoio a Ditadura Militar corruptae governos entreguistas apátridas, como o de FHC; uma boa leitura deste período de falcatruas pode ser vista no livro O PRÍNCIPE DA PRIVATARIA e A PRIVATARIA TUCANA. Contudo, os podres da elite oposicionista, com seus crimes e escândalos mafiosos gigantescos e super documentados, deveriam ser ocultos pelos poderes que eles comandam...
No caso em questão a Impren$a apátrida, procuradores da república tão prestativos a eles quanto os da época de Fernando Henrique Cardoso... Além dela, havia o conluio do judiciário partidarizado, que só pune preto, pobre, favelado, e exclui seus próprios membros, expor centenas de fontes dessa triste realidade seria perda de tempo, basta lembrar que Demóstenes Torres, pode ser aposentado com R$ 22 mil por mês. Coisa normal, já que o juiz Lalau também recebe seus proventos de fato e de direito, mesmo tendo roubado milhões dos cofres públicos...
Depois de uma novela televisiva histórica, em que [1]decisões do STF contra os ‘Mensaleiros’, foram comemoradas como final de copa do mundo. Devassadas em jornais, revistas, rádios e internet, com prisão cinematográfica, o Brasil conseguiu mudar a constituição, sem que os deputados e senadores dessem um voto para isso. Antes disso você precisava de fatos concretos e irrefutáveis para ser condenado num tribunal, agora, depois da teoria imposta pelo [2]STF; que condenou sem provas, tu também pode ao ser acusado por supostamente saber que tal coisa ocorreu e tu tinhas noção. Numa explicação mais simples. Se um bandido entra na tua casa e rouba teu carro, e na fuga ele mata alguém atropelado, a culpa também é sua porque tu tinhas a posse e domínio do carro. Ou se teu vizinho lhe acusar de algo que tu não fez, mas ele diz que você fez e tu não tens como desmentir o cidadão, tu podes ser condenado porque não provou que não fez.
Antes a constituição dizia que ninguém podia ser condenado sem prova, agora, não só pode, como já ocorreu e virou jurisprudência. Ou seja, a caça as bruxas, extinta nos anos finais da inquisição católica e protestante, esta de volta, e agora com todo o peso da lei. Mas o que isso tem haver com os personagens canalhas de nosso combalido País?
 Bom, os livros citados acima, com inúmeros documentos provando os crimes de FHC, José Serra, seus parentes e amigos jamais chegaram aos tribunais porque o esquadrão de defesa politica, jurídica e midiática deles é a 1ª maravilha do mundo. Se um desses crimes tivesse as mãos do PT e aliados, com certeza já teriam pedido cadeira elétrica pros meliantes, esquartejamento, e as ossadas expostas ao sol... Contudo, nem todos os envolvidos desse quadro têm as costas tão protegidas como eles. No jargão mafioso, são peixes pequenos...
Entretanto, é aí que mora o perigo, pois basta uma coisa conhecida como engenharia reversa jurídica, para que aqueles reles peões do xadrez, virem rainhas e ameacem o rei... Uma vez que eles comecem a fazer delação premiada, e acusarem seus antigos patrões em beneficio próprio, como no caso do mensalão petista. Bom, se o Brasil já não tem cadeia para todos os presos mixuruca que poluem os olhos dos nobres togados do direito, o que dirão quando pessoas de fino trato, depois de condenados pela teoria do domínio do fato; em voga e a disposição de todos os juízes das três instancias a partir do fim do mensalão, faltará cadeia para essa gente.
Para entender como isso mudou tudo, os juristas que defendem esses bilionários estavam todos felizes com a condenação de personagens históricos do PT, mas quando perceberam onde o calo podia apertar a partir de então, o 4º poder passou a recebê-los em seus programas de entrevistas e auditórios para não só tirar dúvidas, como propor solução. Mas a única que existe é a extinção desse julgamento imoral e criminoso, anulando a jurisprudência feita. Nesse quesito, é mais fácil ver Jesus reencarnado e caminhado nas aguas de Copacabana do que os juízes do STF reconhecerem seus erros e anularem o mensalão... Então retornamos ao iniciado, a solução é ter um presidente da republica que seja de oposição ao PT e seus aliados, e como isso também é um milagre impossível nos próximos 12 anos, pelo menos... Em breve veremos a teoria do domínio do fato sendo usada em trensalão, helicópteros de cocaína, roubo anel, desvios de verbas e por aí vai.
O PT tem inúmeros erros no poder, o maior deles é não escolher a dedo as pessoas para colocar em cargos específicos que podem fazer verdadeiras devassas e manipulações; para o bem ou para o mal. Como os procuradores mui amigos do PSDB, que inventaram e finalizaram o mensalão do PT, antes de iniciar o do PSDB, que foi a mãe e pai de todos.  Lula e Dilma escolheram para Ministros do STF pessoas que são atores, promotores, músicos, ou magistrados gagas de direita, e o que fazem lá é defender os interesses de sua classe social oligárquica.
 O mais famoso de todos, um orgulho para o Brasil e a suposta meritocracia, pois chegou ao curso superior por seus brios, é hoje uma pessoa que destoa para o mesmo lado de seus colegas da classe social e apátrida que pertence. De longe a melhor escolha de Lula em relação ao debito com os negros que o Brasil deve e muito, e ao mesmo tempo, outra decepção. Mas de tudo isso, mesmo condenando sem provas, ele mudou a História jurídica do País, resta agora que nas próximas eleições, nossos governantes eleitos não esqueçam qual parte do povo deve ocupar as cadeiras mais importantes depois da presidência...





[1] ROSA WEBER, ministra do STF: “Não tenho prova cabal contra José Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”.
IVES GANDRA MARTINS, 78, 56 anos de advocacia e dezenas de livros publicados: O ex-ministro José Dirceu foi condenado sem provas. A teoria do domínio do fato foi adotada de forma inédita pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para condená-lo. Sua adoção traz uma insegurança jurídica "monumental": a partir de agora, mesmo um inocente pode ser condenado com base apenas em presunções e indícios.
A jurisprudência pode ser conceituada tanto em termos gerais quanto pela ótica do caso particular. Sob a primeira perspectiva é definida como o conjunto das soluções dadas pelos tribunais as questões de Direito. Para a segunda, denomina-se Jurisprudência o movimento decisório constante e uniforme dos tribunais sobre determinado ponto do Direito. Para Marcel Nast, Professor da Universidade de Estrasburgo “a Jurisprudência possui, na atualidade, três funções muito nítidas, que se desenvolveram lentamente: uma função um tanto automática de aplicar a lei; uma função de adaptação, consistente em pôr a lei em harmonia com as ideias contemporâneas e as necessidades modernas; e uma função criadora, destinada a preencher as lacunas da lei."
[2] POR ANTONIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA: A jurisprudência do mensalão cria precedentes perigosos na segurança processual e nos direitos do acusado? Alvo de televisionamento, contendo o envolvimento de figuras proeminentes do mundo político, financeiro e publicitário. Colocado como um julgamento do comportamento ético de um partido político e dos seus governos. Posto como teste da imparcialidade do STF, pois a maioria dos seus integrantes foi nomeada pelos dois últimos governos. Envolvendo a sedimentada ideia de que no país as classes privilegiadas não são punidas. O julgamento do chamado mensalão, com tudo isso, deixará marcas profundas no comportamento dos que operam o direito, como nos tribunais inferiores, e no próprio (in)consciente coletivo. Assim, certos aspectos de maior repercussão podem ser apontados, sem embargo de outros e dos efeitos do julgamento que só o futuro mostrará. Para alguns ministros, nos crimes de difícil comprovação, o juiz não precisa de provas cabais, bastando indícios ou até a sua percepção pessoal para proferir uma condenação. Em outras palavras, permite-se que o magistrado julgue por ouvir dizer, com base na verdade tida como sabida, mas não provada. Estará assim, na verdade, julgando com os sentidos e não com as provas.
É da tradição do direito penal dos povos civilizados a necessidade da certeza para uma condenação. Caso o juiz não tenha a convicção plena da responsabilidade do acusado, deverá absolvê-lo. Trata-se do consagrado "in dubio pro reo" - na dúvida, absolve-se. Mais do que jurídica, essa máxima atende ao anseio natural de liberdade e de justiça. Não é justo punir-se com dúvida. Alguns ministros, porém, pregaram a responsabilidade objetiva, com desprezo ao comportamento e à vontade do acusado. Autoria criminal implica em um comportamento comissivo ou omissivo e na vontade dirigida à prática criminosa. Exemplificando para explicar: a condição pessoal, digamos, do dirigente de uma empresa, por si só, não o torna culpado por crimes cometidos em prol de tal empresa. Utilizou-se a teoria já antiga do domínio do fato para justificar punições incabíveis. No entanto, ao contrário do propalado, essa teoria exige justamente que o autor vincule-se ao crime pela ação e pela vontade de agir criminosamente. Alguns pronunciamentos trouxeram preocupante imprecisão ao conceito de lavagem de dinheiro. Consiste na conduta utilizada para emprestar aparente licitude ao produto de um crime, ocultando e dissimulando a sua origem. Há a necessidade de uma ação concreta, diversa do crime anterior. No entanto, alguns julgadores, de forma imprecisa, parecem querer considerar lavagem a mera utilização do produto do outro delito. Usar o dinheiro sem a simulação de sua origem não é lavagem, mas natural decorrência do crime patrimonial. Considerar o mero uso como outra figura penal é admitir crime sem conduta própria e permitir dupla punição a só uma ação.
A sociedade não ficou inerte e nem apática. Reagiu ao julgamento, em regra aplaudindo condenações e criticando absolvições. Conclui-se que a expectativa é pela culpa e não pela inocência. Isso é fruto da disseminação de uma cultura punitiva, de intolerância raivosa e vingativa, que tomou conta da nossa sociedade, fazendo-a apenas clamar por punição, sem pensar em prevenir o crime, combater suas causas. Não pode passar sem registro um outro aspecto extraído ou confirmado pelo julgamento do mensalão: o poder da mídia para capturar a vaidade humana e torná-la sua refém. Nesse sentido, um alerta: todos nós, integrantes da cena judiciária, deveremos administrar as nossas vaidades, para que ela não se sobreponha às responsabilidades que temos para com o seu principal protagonista, o cidadão jurisdicionado.
ANTONIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA, 67, é advogado criminalista. Foi presidente da OAB-SP (1987-1990) e defende Ayanna Tenório no julgamento do mensalãoAbushttp://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-jurisprudencia-do-mensalao-por-mariz-de-oliveira

GÁS DE XISTO, FRACKING: O FIM DO PARANÁ E VIZINHOS...

$
0
0

Por David da Costa Coelho

Um velho ditado de minha profissão - História– afirma que aquele que não conhece o passado da humanidade, esta condenado a repeti-lo, e em alguns casos, ser engolido por ele; através de nova roupagem do que agora se faz ‘novo’. Pois infelizmente é isso o que vem ocorrendo nos EUA, Argentina, China, e em breve no Brasil, principalmente no sul do País, onde se encontram as nossas maiores reservas de [1]xisto... Que podem colocar a nação como uma superpotência econômica também nesta área. Bom, essa é a boa noticia... A má, conspiratória e terrível para aqueles que vivem da agricultura, fruticultura e criação de animais para consumo próprio, venda em território nacional ou exportação, é que uma vez iniciada a produção desse gás nos estados em questão; essas atividades que geram emprego para milhões de pessoas, estarão com os dias contados...
 Para terem uma ideia do que nos espera caso se engula essa trolha passivamente, como aconteceu nos EUA, e Argentina, e só agora eles começaram os movimentos e passeatas com personalidades hollywoodianas da mídia, artistas e ambientalistas, depois que a vaca foi pro brejo... Basta assistir nas notas de rodapé o programa cidades e soluções sobre o gás de [2]xisto nos EUA, ou a Guerra do Fracking na [3]Argentina. É claro que há documentários mais densos sobre o tema, mas esses estão resumidos e mostram em detalhes as coisas macabras que nos aguardam...
Uma delicia de falcatruas contra o cidadão pobre e sem advogados para ricaços, que os livrem das corporações canalhas, que fazem o que desejam no estado mais fascista do mundo, os EUA; onde as megaempresas bancam os políticos em suas campanhas, e com isso enganam o povo que vota neles pela propaganda. Só que uma vez eleitos, como sempre, atuarão em favor das corporações que os bancaram. Assim eles mudam a lei de acordo com as ações e trilhões que irão faturar, mesmo que isso destrua a agua, as fazendas e a vida de milhões de pessoas. No capitalismo insano, o lucro não mede consequências. Apenas povo informado e consciente, com governantes honestos e patriotas é que poderia mudar isso, um sonho de natal impossível... Aqui no Brasil isso não é diferente, nossos políticos – de todos os partidos - tem o mesmo DNAdos irmãos do norte, só que é na base do jeitinho. E se nada for feito, com todas as informações históricas disponíveis, o filme se repetira também entre nós...
Bom, a região da argentina onde se iniciou a extração através do [4]Fracking, era o lar de milhares de pessoas, que exportavam cereais e frutas lindas e suculentas para diversos países da Europa e do mundo, além disso, a famosa carne argentina ali produzida tinha o mesmo destino. Mas aí, através do processo nefasto de extração de gás e derivados usando o Fracking, o lençol freático ficou contaminado. As terras ao redor seguiram o mesmo caminho, e as pessoas, para não morrerem envenenadas - assim como ocorreu com seus animais de criação e das florestas ao redor com as aguas dos rios e lagos ao redor – são obrigadas a comprar agua de carros pipas e de outras localidades mais limpas. Não esquecendo também as doenças que devastaram as pessoas antes deles descobrirem o crime ambiental e correrem atrás do prejuízo.
A segunda parte do problema deles veio na parte mais dolorosa do corpo, o bolso. Os moradores locais e países que compravam as frutas, cereais e carnes daquela parte da argentina, simplesmente não fazem mais isso porque contaminados como estavam podia fazer mal a população que comece tais coisas. De uma hora para outra, milhares de fazendeiros estavam vivendo sua crise mundial em escala nacional. Em resumo, ficaram sem emprego, doentes, sem ter como sobreviver em suas antigas propriedades, e dependentes do governo. Como sabemos, a argentina não vai muito bem economicamente porque foi devassada pelos governos corruptos e entreguistas do patrimônio publico. E o pior, as companhias que fizeram tudo isso na província do documentário, a [5]YPF e a Chevron, além de não pagarem por seus crimes amplos, ainda obtiveram subsidio do governo, algo na casa de 10 bilhões de dólares, e quem pagou por isso foi o povo, com aumento do gás e combustíveis, na casa de 40%.
Se fosse só isso, o mesmo já vem ocorrendo nos EUA, mas no nosso caso é pior. Existe um aquífero gigantesco chamado Guaraní, com reserva de agua doce estimada em 500 anos. Ele cobre o Uruguai, Paraguai, Argentina e Brasil, sendo que nos cabe a maior parte dele porque pega do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas, SP, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.  A extração do gás de xisto, como podem ver na nota de rodapé, contamina além da terra, as aguas subterrâneas com materiais químicos e radioativos.  A triste noticia é que no lado argentino, como gotas de soro pingando na corrente sanguínea de um paciente em coma, já esta ocorrendo, e se nada for feito, o Paraná também será inundado de companhias de extração desse gás; usando os mesmos produtos, e causando o maior crime ambiental e humano da história do Brasil, e quiçá do mundo. Não só isso, pois além do aquífero, perderemos um dos maiores celeiros de grãos, frutas, carnes e seres vivos de nosso bioma.
O Fracking é proibido na maioria dos países da Europa por razões obvias, mas onde ele é permitido, corporações do petróleo e química, enviarão seus empresários, e ali, farão o que sempre fazem; muito bem descrito no documentário A CORPORAÇÃO. Manipular, enganar, subornar, poluir e levar os lucros a seus países de origem. Se nós, latino-americanos não nos unirmos através do conhecimento e lutas por um futuro sem as mazelas descritas, mais uma vez, a história nefasta da raça humana se repetirá...








[1] O xisto é uma camada de rocha sedimentar, originada sob temperaturas e pressões elevadas, contendo matéria orgânica disseminada em seu meio mineral. Consiste numa fonte energética não renovável. É um tipo de rocha encontrada na natureza em duas formas diferentes:
o betuminoso e o pirobetuminoso, ambos são ricos em betume. As características de cada um são:
 Xisto Pirobetuminoso – A matéria orgânica (querogênio), que depois será transformada em betume, é sólida à temperatura ambiente, o betume é obtido através do aquecimento da rocha.
Xisto Betuminoso – são hidrocarbonetos (substâncias constituídas de hidrogênio e carbono) que aparecem em rochas sedimentares. A matéria orgânica (betume) disseminada em seu meio é quase fluída, sendo facilmente extraída. O óleo do xisto refinado é idêntico ao petróleo de poço, sendo um combustível muito valorizado. Para a obtenção desse óleo é necessária a extração do betume existente na rocha. Atualmente, os Estados Unidos possui a maior reserva mundial de xisto, seguido pelo Brasil, Estônia, China e Rússia.
http://www.brasilescola.com/geografia/xisto-betuminoso.htm

[2] ENERGIA À GÁS DE XISTO E SUAS QUESTÕES AMBIENTAIS:
Exploração de nova forma de energia à gás de xisto traz à tona questões ambientais. Programa Cidades e Soluções, da Globonews.

[3] HD - LA GUERRA DEL FRACKING de PINO SOLANAS:
A Guerra dos fracking é o sétimo documentário  de Pino Solanas sobre a Argentina contemporânea. Através de uma viagem de campo para o Vaca Muerta, em Neuquén, com os pesquisadores e especialistas Félix Herrero e Maristella Svampa,  revelam depoimentos de moradores e especialistas sobre os efeitos poluentes do óleo e gás obtido, no novo processo não convencional de coletada de gás. O Fracking destrói a água subterrânea com centenas de substâncias químicas nocivas, e as terras ao redor por poluição. Nos EUA estão causando os maiores danos ambientais, com protesto das populações afetadas e milhares de artistas, cientistas e intelectuais. Nas províncias argentinas, dezenas de municípios já proibiram a instalação desses poços. No entanto, a YPF assinou um acordo de exploração por 35 anos, em conjunto com a Chevron americana naquela região, e através de politicas de marketing e compra de políticos, busca obter novas áreas de exploração, sem, contudo indenizar e nem arcar com as consequências sócias, politicas e humanas... 

[4] A fratura hidráulica, também chamada de fracking, é uma prática que está sendo muito utilizada por companhias de petróleo e gás para aumentar suas produções, e vem gerando bastante polêmica. Este tipo de extração agride gravemente o meio ambiente por se tratar um processo que consiste na perfuração e injeção de fluídos químicos no solo para elevar a pressão, fazendo com que haja fratura das rochas e a liberação do gás natural. Nos fluídos usados existem cerca de 600 produtos tóxicos, incluindo agentes cancerígenos. Cada poço pode ser fraturado até 18 vezes e são necessários de 400 a 600 caminhões tanque de água para cada operação. O fluído que é usado é deixado a céu aberto para evaporar, tornando o ar contaminado e contribuindo para o surgimento de chuvas ácidas.
Durante o processo as águas subterrâneas próximas, usadas para abastecer cidades da região, também ficam poluídas. Houve mais de mil casos de contaminação próximos a área de perfuração. A exploração do gás é muito comum nos EUA com mais de 500 mil poços ativos. As toxinas que vazam durante o processo estão causando a morte de diversas espécies aquáticas, pois prejudicam a qualidade da água, fazendo com que ela esteja mais ácida, desenvolvendo graves lesões nos peixes. Este processo de extração está sendo fortemente questionado por um grupo de ambientalistas e sociedade civil que querem a suspensão imediata desta prática. Um estudo publicado recentemente afirma ainda que o fracking pode estar ligado à presença de terremotos. Conforme a pesquisa, pelo menos 109 terremotos foram registrados no estado de Ohio, em um período de 14 meses.  Os fenômenos teriam começado após 13 dias do início das fraturas hidráulicas na região.
http://www.docol.com.br/planetaagua/sustentabilidade/fracking-o-que-e-e-quais-suas-consequencias/

[5] Dante Ragazzi Pauli, Presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (Abes): “A produção do gás e do petróleo de xisto é bastante perigosa, e o processo de fraturamento das rochas não é seguro. Injetam-se produtos químicos que podem contaminar os nossos rios e lagos, ameaçar a fauna e a flora. Nós temos o exemplo, na Argentina e no Texas (EUA), de mortandade de animais, de água da torneira pegando fogo.”

CONTOS DE TERROR: O TORTURADOR...

$
0
0

Por David da Costa Coelho

Peter era da CIA, durante décadas ele foi enviado a países da América Latina, África, Ásia E Oriente Médio. Sua missão era simples, extrair confissões de prisioneiros que realmente tivessem valor, já que sobre tortura, muitas delas eram mentiras para impedir a dor, assim ele idealizou uma série de técnicas que forçariam seu alvo a contar o que desejava saber. Evidente que nesse processo ele tinha prazer pessoal, pois estava no controle, detinha o poder de vida e morte não só de seu interrogado, como de todas as pessoas que ele conhecia e se importava. Não bastando isso, ele tinha um motivo familiar para tal. Seu pai foi morto num campo de prisioneiros de guerra no Vietnam, sob tortura, o que lhe fez procurar a carreira da medicina e se qualificar em áreas que o tornaram um dos melhores espiões da agencia...
Durante a guerra do Iraque, ele teve acesso aos generais de alto escalão. O objetivo da agencia não era saber onde se encontravam mais rebeldes, e sim onde Saddam Hussein guardava os bilhões de dólares que não estavam em bancos na Europa ou nos EUA, completamente bloqueados. A agencia sabia que era algo em torno de 20 bilhões, espalhados em locais secretos desde a [1]1ª guerra do golfo, nos anos 1990, mas daquela vez não era interessante para os americanos retirar o ditador do poder. No entanto, essa agora era outra guerra e história, os EUA tinham que deter as reservas de petróleo para suas multinacionais, cobrindo muitos dos gastos da guerra, e lhe dando mais folego para o dólar, já que muitos países pretendiam comprar o ouro negro com outras moedas o que prejudicava os EUA...
O baralho com o rosto dos principais lideres do Iraque foi jogado como panfleto de aviões aos milhares, e as ricas recompensas por cada um daqueles homens fez com que todos os generais fossem pegos rapidamente. É claro que a imprensa não sabia que a CIA já tinha todos eles, a noticia que recebiam é que as buscas pelos graduados continuavam. Muitos desses líderes tinham suas famílias seguras na Europa, assim podiam ser torturados, mas de nada adiantaria, já que estavam dispostos a morrer pela sua fé; o islamismo, ou por sua ideologia. Mas eles desconheciam os tentáculos da CIA no mundo inteiro, sua falta de senso aos direitos humanos e acordos mundiais contra toda forma de tortura. No mito do patriotismo e segurança nacional, seja ela politica, econômica ou conspiratória, a agência e associados era superior a Nicolau Maquiavel ou Sun Tzu.
O primeiro paciente de Peter, Ismael Ibin Mohamad, era o 2º no comando de Saddam, além disso, era primo em primeiro grau dele, portanto sabia muitos segredos da nação. Mas como já esperado, sentia se intocável porque suas três esposas e filhos moravam na França, tinham dinheiro em contas na Suíça para viverem vidas dignas por três gerações. Portanto estava disposto a sofrer o que fosse, Allah sabia que nada sairia de sua boca. Os americanos iriam mata-lo de qualquer forma. Só que ele desconhecia as capacidades de seu algoz e torturador. Uma das suas especializações era a anestesia. E com ela, ele podia fazer o paciente não sentir nada, ou entrar numa técnica conhecida de perda de tempo e realidade.
Sem nada perguntar ao general, o militar foi anestesiado para ficar grogue, e depois exposto a imagens de sua família recém-filmadas na Europa. Suas esposas e filhos eram os personagens da tela, ele tinha dez ao todo. Sendo quatro mulheres. O menor de todos possuía 15 anos. As imagens vinham em fotos bem rápidas, e nos intervalos, imagens subliminares rápidas de corpos destruídos por torturas. Após esse processo, ele foi para segunda parte do processo, onde era sedado para sono profundo de dias, mas recebia estimulantes para acordar, em uma semana como prisioneiro, o general acreditava que já estava ali por meses. Dormindo e acordando por uma hora, alimentado apenas de soro com nutrientes básicos, seu corpo outrora forte e musculoso também sentiu a tortura psicológica e ele perdeu 30 quilos rapidamente, já que o local onde estava era frio...
Após uma semana, ele estava pronto para as perguntas, mas para o general, já estava ali há meses.

- Não tenho interesse em matar o senhor ou lhe causar dor física, desejo apenas que nos informe em quais mesquitas estão os dólares que estão destinados a comprar soldados e armamentos para uma resistência sem futuro. Causando mortes dos nossos soldados e refletindo em desastres à população civil. Se nos ajudar, um sósia seu será morto e ocupará seu lugar, e lhe deixaremos voltar paras suas mulheres e filhos em um de nossos aviões. O senhor, entretanto, continuará nos dando informações ao longo dos anos, mas poderá ser livre na Europa, desde que não se envolva mais com seu passado...

Mohamad riu daquela proposta, não havia nada a dizer para aqueles infiéis, além do mais, nada podiam fazer com sua família na Europa, e essa era a falha dos ocidentais, eles respeitavam as regras. A sua resposta foi cuspir no chão, com a arrogância de quem se acha ainda no poder, mesmo após perdê-lo. Suas contas na suíça, tinham 1 bilhão de dólares só para uma resistência em longo prazo, e se ele ficasse sumido por um ano - coisa que já se aproximava em sua mente – representantes fieis ao islã, tinham instruções para irem em determinados locais, abrir armários secretos e ter acesso a contas que permitiriam a [2]Jihad contra os infiéis..
Com sua calma e paciência tradicional, Peter recolocou o general em sua técnica anterior de sono e despertar, deu-lhe inúmeros diuréticos para que ao acordar ele tivesse que urinar, para reafirmar as horas dormindo, embora se passassem apenas meia hora, duas horas ou seis. Para evitar as caibras, o soro tinha muito potássio. Em uma semana o general emagreceu a ponto de ficar cadavérico. As sessões de cinema com sua família era a única coisa que o mantinham com sua fé. Mas algo mudou. Ele foi amordaçado, sentado nu em uma cadeira, vendo as cenas que jamais imaginou, seus filhos pegos pela CIA nas escolas, suas esposas também prisioneiras. Depois todo levadas amordaçados a um galpão com diversos homens com espadas.
Viu no filme o numero das contas bancarias que elas tinham acesso para sobreviver, bem como as respectivas senhas. Sabia que elas tinham sido torturadas para revelar aquilo. O medo agora não era mais por sua alma, e sim pelos seus filhos. Junto deles  havia mais três mulheres islâmicas com o mesmo numero de crianças. Então todos foram encapuzados, colocados para andar numa roda, com uma musica tocando, e quando ela parava. Um soldado pegava uma das mulheres, ele não sabia se era sua esposa, ou outra do grupo, pois a roupa era igual. Ela foi posta de joelhos. Seu pescoço decepado, e a cabeça caiu rolando. As lagrimas de dor e incerteza devastaram sua alma. O processo se refez até que só havia o mesmo numero de sua família, outras 13 pessoas estavam mortas no chão. Para ele, talvez sua família, e não os estranhos. Ao final eles foram sentados em cadeiras e suas mascaras retiradas, sua família estava salva, Allah é grande e misericordioso.
Peter sabia que o homem estava destruído na alma, no corpo, e no que restava de esperança. Era hora de receber seu premio:

- Como já lhe disse, não tenho nenhuma intenção de lhe causar dor física, o mesmo não posso dizer de meus superiores, sua família não foi massacrada porque ainda tenho esperança com você. A minha proposta continua a mesma. Aceite e poderá ter tudo que lhes foi tirado. Recuse, e desta vez não haverá mais ninguém para acompanhar naquele espetáculo nefasto. Eu tenho mulher e filho, e isso me deixou doente de ver. Senti sua dor, e sua incerteza.
Peter era um mestre na manipulação, e sabia que após um tempo, prisioneiros podiam adquirir afinidade com seu raptor e torturador, ainda mais se durante as conversas se colocasse também como personagem semelhante.

O general decidiu que não valia mais a pena continuar impondo sofrimento a sua família, era por eles que havia resistido a tudo para se mantiver fiel ao islã e a sua nação. Com um aceno de cabeça, ele concordou, mas estava fraco demais para poder falar. Acordou três dias depois mais forte após receber varias transfusões de sangue, e nutrientes no soro. Estava num lugar que era uma das antigas mansões do ditador, e para sua surpresa, suas esposas e filhos também estavam ali ao acordar. Embora o medo estivesse nos olhos de sua família, ele os tranquilizou porque faria tudo que os americanos desejavam; e em breve estariam todos livres, refazendo a vida na Europa. Sem jornais e revistas, apenas alimentos e livros sagrados, aos poucos ele estava pronto a indicar os locais onde estava a fortuna almejada.
Os locais indicados foram cercados por soldados, e agentes da CIA, cofres secretos em mesquitas e no deserto revelaram os bilhões de dólares. Como deviam dar algo aos abutres da imprensa e ao povo americano, para justificar a guerra ao terror, um bilhão de dólares foi entregue a coalizão e virou noticia no mundo inteiro. O presidente Bush não saia da TV, concedendo entrevistas e dizendo que todos do baralho seriam presos e condenados pelos seus crimes contra a humanidade. Evidente que nenhum repórter, exceto de redes árabes, perguntaram se o presidente americano também seria julgado porque milhares de iraquianos estavam sendo mortos por bombardeiros ‘cirúrgicos’ de aviões não tripulados e misseis lançados de navios a esmo.
Um sósia do general Ismael Ibin Mohamad, estava entre um grupo que foi morto num bombardeio, num dos redutos de insurgentes. Ao ver aquelas imagens, o general vivo e agora saudável com sua família, sabia que estava seguro. Ele tinha sido avisado que se revelasse todos os segredos, estaria salvo, afinal Peter era um homem de palavra. E até agora tudo havia sido cumprido. Ele entregou a conta secreta da suíça, e de posse dela, o dinheiro foi transferido para uma conta secreta da agencia, meses depois, mais 19 bilhões de dólares se juntaria no caixa da agencia. Essa era outra fonte de renda, retiravam de traficantes bandidos e de contas secretas de generais e ditadores de países dominados. A outra era o trafico de drogas, o Afeganistão era um local onde os americanos possuem uma plantação de opio e derivados que rendia muito dinheiro para agencias secretas.
Os imóveis da família na Europa foram vendidos, suas contas esvaziadas, na residência, toda família ganhou novos documentos oficiais, de acordo com eles, todos teriam nascido no Kuwait. Uma cirurgia plástica mudou a aparência do general. Ele agora se chamava Hassan al Hammad, um rico comerciante de uma importadora de produtos químicos. De general a informante e laranja da cia, sua missão, encontrar interessados no que ele vendia, armas químicas e biológicas. Papel que ele desempenhou por cinco anos, dando aos americanos conexões que lhes permitiram grandes sucessos estratégicos e políticos.
 Mas a CIA é uma agencia que não negocia com terroristas, após sugar tudo que o general sabia, ele é a família são enviados a uma viagem de negócios a Europa. Ficariam num hotel 5 estrelas em Paris. Sua família estava satisfeita de voltar a Europa após todo aquele sacrifício que  tinham sofrido.  Mas jamais chegariam lá. Ao entrarem no avião particular, a família foi dopada com sonífero na agua e bebidas. Em seguida foram levados ao deserto, receberam tiros na nuca, seus corpos foram dissolvidos em produtos químicos e jogados na areia para serem evaporados pelo sol. A ordem para a morte de todos veio de Peter, era sua politica particular jamais deixar um interrogado vivo, mesmo que tivesse que aguardar estrategicamente alguns anos para isso...








[1] Guerra ocorrida em 1991, contra o Iraque, para libertação do Kuwait, liderada pelos Estados Unidos, os aliados europeus e a Arábia Saudita. A crise teve início em 2 de agosto de 1990, quando o Iraque, sob a liderança do presidente Saddam Hussein, anexou o Kuwait com o objetivo de controlar as reservas petrolíferas. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) exigiu a retirada incondicional do Iraque até 15 de janeiro de 1991. Um exército composto por meio milhão de soldados, chefiado pelos Estados Unidos, lançou uma forte ofensiva terrestre, libertando o Kuwait em 27 de fevereiro. Em abril o Iraque aceitou o cessar fogo, porém sofreu duras sanções econômicas por não entregar seu armamento químico e bacteriológico.

[2] Jihad significa esforço, em árabe, e é utilizada para caracterizar qualquer esforço que tenha sido utilizado em alguma ação. O termo é muito utilizado pelos praticantes da religião muçulmana, mas também pode ser usado pelos que não são. Está presente no Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, pelo qual regem suas vidas, e consta também nas falas do Profeta Muhammad, que dividiu jihad em duas, a maior, que significa a luta da pessoa consigo mesmo, e a jihad menor, que é o esforço que os muçulmanos fazem para levar a religião islâmica para outras pessoas. Segundo o Corão, quem nela participar participará da felicidade no paraíso. O jihadismo é o conjunto de práticas do Jihad, que também é considerado "um esforço de acordo com Alá".
Guerra Santa: O Ocidente considera que Jihad é uma guerra, que tem o objetivo de transformar as pessoas em praticantes do islamismo e fazer com que eles pratiquem atentados e se tornem homens-bomba. Já os muçulmanos, dizem que essa é uma definição equivocada, que jihad não tem nada a ver com guerra, e sim no empenho que os praticantes devem ter em seguir a religião.

O PODER MORTAL DA PSIQUIATRIA NAS SOCIEDADES

$
0
0

Por David da Costa Coelho
.
Quando se trata do nível de canalhice que o ser humano pode ter, ao inventar uma ideologia, convencer o seu publico alvo inicial em suas fronteiras, e depois exportar isso para o mundo inteiro; seja através da religião, mídia, ciência ou em ultimo caso das guerras, nada poderia nos surpreender porque a religião tem feito isso há milênios, e como sabemos, apesar de estarmos no século XXI, ela está cada dia mais atual... No entanto, cabe ressaltar que ideologias são apenas armas intelectuais de alguns grupos dominantes humanos, portanto a única forma de resistir a elas é através do conhecimento, mas para que isso ocorra, a pessoa deve deixar a sua zona de conforto – religiosa, psicológica, [1]social, e ‘intelectual’ - com a qual sua vida segue diariamente, a exemplo o filme Matrix, e começar a questionar-se. Contudo, como no filme, para alguns daqueles personagens, a verdade foi tão ruim que eles desejaram retornar a seu mundo perfeito.
Ainda hoje, são poucos os indivíduos que poderiam fazer parte dessa linha de ação, pois a maioria das pessoas sofre do complexo de ovelha, precisam de um líder que lhes guie, mesmo que a resposta do seu problema esteja na sua frente. Um dos exemplos clássicos desta afirmação esta no mercado bilionário de livros de autoajuda. A mídia escolhe alguém de um seguimento especifico, desde que seja celebridade na religião, ciências, psicologia, psiquiatria, ou famoso de plantão em alguma série, filme ou novela; e a partir daí, o que eles falam é massificado numa escala de propaganda local ou mundial, para criar um consenso e aceitação. Assim, quando ele publica algo, a exemplo do livro do padre Marcelo, um Best seller de idiotices, e que fatura milhões. O livro inteiro é indigno de ser usado como papel higiênico, exceto a parte final que vem naturalmente não das imbecilidades atuais de seu credo e sim de religião reencarnacionista, não que a bíblia não o seja, pois a reencarnação foi retirada dela por um imperador romano que oficializou o [2]cristianismo como religião oficial do estado.
Outro exemplo de consenso religioso que influenciou o mundo e faturou bilhões em nome da bondade e ajuda ao próximo foi a [3]Madre Teresa de Calcutá; no entanto, após sua morte, o que se descobriu foi um cenário oposto porque antes de tudo ela era um ser humano com uma ideologia, a de que o sofrimento leva a deus, portanto ajudar alguém doente a viver melhor era um ato contra ele. E ao contrario do que se possa imaginar, de que a igreja católica não tinha conhecimento desses crimes monstruosos, eles tinham sim, mas o dinheiro que entrava era um motor para fazer novos fieis e construções de novas bases; além de pagar os crimes de pedofilia pelos membros da igreja, custando bilhões de dólares. Impedir a galinha dos ovos de ouro de continuar sua agenda mundial não seria nada produtivo, além do mais, depois de morta ela foi beatificada, e o cargo de santa esta logo ali, é claro que milhões de reportagem provando seus crimes podem mudar isso, mas no mundo hipócrita católico, nem sempre a verdade é um alvo certeiro...
Como dito a autoajuda é um negócio da china, muitos de meus amigos e clientes já me pediram para escrever algo semelhante, mas meus brios morais e reencarnacionista, que me forçam a viver segundo meus erros e acertos, e aceitar isso como forma de crescimento intelectual para uma próxima vida me proíbem.  Assim como não trazemos nada ao reencarnarmos, exceto nossa alma e experiências de vida, ao partirmos, levamos só um pouco do conhecimento desta existência. E isso implica em aceitar que não há nada fácil, sendo a solução de tudo o conhecimento, mas ele não é inocente, há sempre algo por trás, o que nos obriga sempre a buscar a verdade que estão nos ocultando.
Como sabemos, a forma de ‘ajudar’ as pessoas supostamente doentes da mente, numa esfera mais cientifica se deu com a psiquiatria, através de inúmeros precursores da filosofia, experimentalismo, religião e muitas outras ao longo de milênios; nos impérios mais antigos da terra, como China, Índia, Egito, Grécia. Mas como a abordagem final deveria vir da ciência, a compilação de todo esse conhecimento ancestral chegou a dois homens especiais; Emil Kraepelin e Sigmund [4]Freud, foi com eles que ela ganhou a notoriedade e as técnicas que dividem no mundo moderno a ciência que fez dos psiquiatras os profissionais que não precisam da aprovação ou punição de nenhum poder na terra... A palavra deles ao afirmar que alguém tem alguma doença mental é tão sagrada quanto o nascer do dia. Além disso, eles foram os responsáveis por tudo o mais que fará desta ciência uma indústria bilionária, com histórico de sandices e criminalidades contra a humanidade que beiram a própria loucura suprema.
Umas de suas aplicações mais atuais são as que os [5]EUA utilizam na base de Guantánamo, em Cuba, ou em locais secretos de prisioneiros e inimigos que eles criam, afinal de contas, num mundo sem bem e mal, não haveria como dominar a mente das pessoas com essa ideologia tão lucrativa e prestativa a interesses módicos e escusos.  Não só eles, mas a Alemanha nazista, a URSS – países que receberam financiamento dos EUA, Inglaterra, e capitalistas da Europa - potências que se extinguiram, mas deixaram herdeiros, e como tal, a pratica de crimes psicológicos pelas agencias secretas das superpotências atômicas estão mais atuais que os programas de computador a cada ano. As cadeias, sanatórios e orfanatos tomaram a vez dos campos de concentração da gestapo e da Sibéria soviética. O [6]Brasil, supostamente livre desse ranço, não só fez parte, e pior, ainda continua porque a saúde publica no País, para as pessoas normais é um lixo, para doentes mentais e demais desgraças sociais como drogas, violência e crimes diversos, um verdadeiro caso de policia; e como ela é brasileira, jamais prenderão os ricos que fazem esses crimes.
Os psicólogos, longe de se informarem sobre as inúmeras maldades praticadas por essa corrente de maus profissionais, devido a interesses financeiros, continuam enviando pessoas para as mãos desses senhores, onde com base na teoria $do desequilíbrio químico, entupirá o paciente de remédios tarja preta e vermelha; havendo milhares de processos no mundo inteiro contra esses mesmos remédios e a corporação que o criou. Mas não é uma luta fácil de Davi contra Golias, e sim de corporações mundiais que não podem ser punidas porque são transnacionais, uma daquelas maravilhas do neoliberalismo e globalização. Um dos exemplos mais nefastos vem do remédio chamado [7]talidomida, e ao final a empresa criminosa, bem como os médicos que indicaram o remédio, nada sofreram, mas as famílias que tiveram que arcar com o custo financeiro social e humano, estas sim; pagam até hoje, bem como os países onde vivem, já que a pensão vem dos cofres públicos e não da corporação criminosa.
Ao longo do século XX, inúmeros remédios psiquiátricos foram desenvolvidos, vendidos aos incautos, produziram mais doenças e mortes do que muitas guerras daquele século; depois disso proibidos, mas como sempre, após uma nova roupagem e propaganda, estão de volta às prateleiras com um novo nome e cura milagrosa de almas das quase mil doenças do manual da [8]loucura da psiquiatria. No entanto, algumas delas como o ópio, heroína, meta anfetamina e a cocaína hoje são proibidas. Bom, proibir drogas legais leva as empresas a produzi-las novamente e por no mercado com outro nome, já as segundas, geram um mercado trilionário de trafico de drogas, lavagem de dinheiro em paraísos fiscais, e o melhor de todos; uma indústria de segurança e medo nas pessoas, no mundo ‘civilizado isso é conhecido como máfia’, e nos em desenvolvimento são as favelas e gangues diversas. A diferença entre legal e ilegal esta apenas em quem assina o papel para o farmacêutico, e para que isso ocorra, a máquina descrita no inicio tem que funcionar como um relógio atômico perfeito.
Contudo, ainda falta a melhor parte, como essas drogas ilegais geram problemas de toda ordem, a cura necessita do paciente em questão ser enviado a um psiquiatra, que em seguida lhe passa uma droga legal – paga pelo estado – para curar a pessoa viciada em drogas ilegais e com a mente destruída. Já as pessoas ‘normais’, depois de presas em casa pelos bandidos e medo de sair na rua pela violência, ou temor que seu parente próximo seja morto por bandidos, motoristas bêbados, ou qualquer violência social; acabam desenvolvendo algum transtorno psicológico somo síndrome do Pânico, Toque, ou alguma especifica do manual da loucura. Para entender realmente como a coisa é seria, a nos EUA, os políticos fascistas, em conluio com os psiquiatras, convenceram o governo a dar remédio para alunos de milhares de escolas no país, a fim de acalmar os ânimos das crianças e combater a violência... Não duvido nem um pouco que em breve os daqui não aprovem a mesma coisa, afinal dólares em contas na suíça, para auxiliar políticos interessados no bem estar do povo é uma máxima tupiniquim...
Digo sempre aos meus amigos, alunos e leitores, que a saída de qualquer problema que a raça humana tenha, a solução se encontra nos livros de história, por mais que ela seja manipulada, escrita de acordo com a ideologia e tempo histórico dos escritores, ainda assim, ao lermos a mesma de vários autores, podemos aos poucos achar a solução. Com relação a ela e a psiquiatria, bom, os espartanos não tinham problema psicológicos, eram homens treinados desde a infância para a perfeição física e mental. Os atenienses, para a batalha, filosofia é logica. Os chineses, com auxilio de um monge indiano, criaram as artes marciais e uma terapia de mente e corpo. Hoje, em muitos lugares da China, podemos encontrar centenários praticando Tai chi chuan. Com essa arte, captam a energia da vida e da terra, mantendo a mente e o corpo. Não só essa, mas centenas de artes marciais, yoga, ou esportes como corrida. Muitos ‘velhinhos, que conseguem por no chinelo até mesmo este que vos escreve, correm maratonas pelo mundo.
Em resumo, viver traz inúmeros problemas físicos e mentais, e uma hora os problemas irão chegar como uma chuva torrencial. O fato mais importante é que ela não dura para sempre, a não ser que você acredite que carregar o passado é mais importante que viver o hoje ou amanha que ainda chegará. Se estiver nesta fase, e for a um psiquiatra - salvo raras exceções - lembre-se que ele é como o chefe de uma boca de fumo ou cocaína, só que autorizada pelo governo, que é composto de políticos que sabem tudo de medicina, e industria médica; e depois que entrar nessa, sair será muito mais difícil que aceitar a vida como ela é seguir em frente...











[1] Psiquiatria: Uma Indústria da Morte (Leg. Pt- Pt)
Há 3 documentários, todos de responsabilidade da organização CCHR. A CCHR pertence à Cientologia. Não faço parte dessa organização e nem sou parte de NENHUMA organização ou religião. Respeito o trabalho incrível de divulgação que a CCHR tem feito em relação a esse CRIME contra a humanidade que a Psiquiatria tem cometido através dos anos. A medicina em geral vem sendo há muito tempo CORROMPIDA pelos interesses escusos dos fabricantes de DROGAS LEGAIS: a indústria farmacêutica.
____________

___________
2-  PSIQUIATRIA: UMA INDUSTRIA DA MORTE - 1h 47min
3- PSIQUIATRIA: Um Erro Mortal - 1h 27min
____________
Os Cartéis Farmacêuticos são talvez o segundo cartel mais influente e controlador junto aos governos do mundo inteiro. O mais perigoso é o Cartel da Indústria Bélica dos EUA. O Cartel de Armamentos atua basicamente SÓ nos EUA e faz um ESTRAGO astronômico no mundo inteiro, através da politica belicista dos EUA, que existe apenas para gerar LUCROS para o Cartel das indústrias de armamentos norte americanas... Já o CARTEL FARMACÊUTICO atua no mundo inteiro, em todos os países, o trabalho deles é MUITO mais fácil, os políticos não entendem PORRA NENHUMA de saúde, assim eles dançam de acordo com a música que os lobbies farmacêuticos tocam, muitas vezes ingenuamente, outras sabendo que estão enganando a população em troca de uma gorda comissão, grana por baixo da mesa... A população PRECISA sair dessa ingenuidade homérica e ENTENDER que como operam os políticos. Para a grande maioria dos políticos a "ética"É: DESDE QUE EU GANHE MINHAS COMISSÕES... A POPULAÇÃO QUE SE FODA. - Políticos corruptos TEM que ser processados e CONDENADOS por crimes de lesa-pátria, e isso deveria incluir PENA DE MORTE, como é o caso da China, onde no ano passado um politico que aceitou 300 mil dólares de "bola" de uma corporação para influenciar no legislativo foi condenado à morte. Os três documentários abaixo são bem esclarecedores, todo mundo deveria vê-los. Médicos psiquiatras são TODOS eles criminosos passivos, criminosos ingênuos, SHILLS passivos da indústria farmacêutica. 99% dos psiquiatras NÃO SABEM que estão PREJUDICANDO seus pacientes quando receitam drogas psicotrópicas. Tenho uma conhecida, psiquiatra que dava "remédios para dormir" para os próprios filhos quando eram bebes! Ela é ótima pessoa, alegre, astral, mas por ingenuidade ela não está consciente que sua profissão é PREJUDICIAL a todos os seus pacientes. Um dos PIORES defeitos do ser humano é a maldita INGENUIDADE.

[2] O Papa que acabou com a tradição judaica da Reencarnação foi o Imperador Romano Teodósio I. Por isso recebeu criticas da comunidade Judaica e começou a sua resposta à queima da sinagoga em Calínico. Dando inicio da cisma histórica entre Judeus e Cristãos. Esse episódio é significante, porque exemplifica a mudança do império romano pluralista para o Estado cristão. A separação entre o Cristianismo e o Judaísmo, efetivada teologicamente em 325 no Primeiro Concílio de Niceia, era agora lei sob os imperadores romanos, que tomaram os seus conselhos da Igreja. O incidente de Calínico é o símbolo da conquista do antissemitismo eclesial. A Igreja podia agora manejar, e manejou, para influenciar a legislação imperial num modo danoso para os judeus.
Ano de 380: O imperador Teodósio proclama oficialmente o Cristianismo a única “Religião de Estado”. Mas ainda será necessário esperar mais 12 anos para que todos os outros cultos sejam definitivamente proibidos.

[3] A Verdade sobre Madre Teresa de Calcutá

“Talvez esse descaso fosse parte da ética da religiosa, que via o sofrimento dos outros como algo que os aproximava de Cristo”, diz Geneviève. Em mais de uma ocasião Madre Teresa celebrou a dor como algo que enobrece. “O mundo ganha com esse sofrimento”, chegou a dizer. Curiosamente, quando adoecia, ela não se tratava nos centros geridos por ela, mas sim em hospitais de ponta na Índia e nos Estados Unidos.’

[4] Emil Kraepelin foi um psiquiatra alemão e é comumente citado como o criador da moderna psiquiatria, psicofarmacologia e genética psiquiátrica. Kraepelin defendia que as doenças psiquiátricas são principalmente causadas por desordens genéticas e biológicas. Após demonstrar a inadequação dos métodos antigos, como os da psicanálise, Kraeplin desenvolveu um novo sistema diagnóstico. Suas teorias psiquiátricas dominaram o campo da psiquiatria no início do século XX e a base dessas teorias continua sendo utilizada até os dias de hoje...
Sigmund Schlomo Freud, mais conhecido como Sigmund Freud, foi um médico neurologista e criador da Psicanálise. Freud iniciou seus estudos pela utilização da técnica da hipnose como forma de acesso aos conteúdos mentais no tratamento de pacientes com histeria. Ao observar a melhoria de pacientes de Charcot, elaborou a hipótese de que a causa da doença era psicológica, não orgânica. Essa hipótese serviu de base para seus outros conceitos, como o do inconsciente. Freud também é conhecido por suas teorias dos mecanismos de defesa, repressão psicológica e por criar a utilização clínica da psicanálise como tratamento da psicopatologia, através do diálogo entre o paciente e o psicanalista. Freud acreditava que o desejo sexual era a energia motivacional primária da vida humana, assim como suas técnicas terapêuticas. Ele abandonou o uso de hipnose em pacientes com histeria, em favor da interpretação de sonhos e da livre associação, como vias de acesso ao inconsciente. Suas teorias e seu tratamento com seus pacientes foram controversos na Viena do século XIX, e continuam a ser muito debatidos hoje. Suas ideias são frequentemente discutidas e analisadas como obras de literatura e cultura geral em adição ao contínuo debate ao redor delas no uso como tratamento científico e médico.
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_psiquiatria

[5] BBC A Armadilha: O Que Aconteceu com Nosso Sonho de Liberdade

[6] Em nome da razão - Um filme sobre os porões da loucura (1979). Documentário quase todo filmado no manicômio de Barbacena, Minas Gerais. A câmera penetra em todos os ambientes do hospital - pavilhões de velhos, aleijados, crianças, homens e mulheres. As sequências são interligadas pela imagem de um longo e escuro corredor do hospício e uma 'louca' que canta uma música. Texto narrado em off propõe uma reflexão sobre a função social do manicômio a quem servem os hospitais psiquiátricos, quem são as pessoas enviadas para lá, qual o processo de 'cura' e recuperação a que são submetidos. O filme encerra com depoimentos da família de um paciente.
[7] Os advogados da australiana Lynette Rowe, que nasceu sem as pernas e os braços, venceram a empresa alemã na Justiça da Austrália – afirmaram que “suas desculpas são muito leves, tardias e repletas de hipocrisia”, e que “durante 50 anos, a Grunenthal esteve envolvida em uma estratégia de empresa, calculada para resguardar-se de qualquer consequência moral, jurídica e financeira em função da negligência nos anos de 1950 e 1960″.... Ilonka Stebritz, da Associação de Vítimas do Contergan (nome comercial da talidomida na Alemanha), considerou o discurso do representante da empresa insuficiente: “Expressou arrependimento, mas não se desculpou por ter colocado no mercado este medicamento, que foi vendido às mulheres grávidas, sem serem realizados previamente testes clínicos”.
[8] O MARKETING DA LOUCURA (1/2)- A verdade sobre as drogas psiquiátricas (Narr/Leg. Pt.Pt), é o documentário definitivo sobre a indústria de drogas psiquiátricas. Aqui está a verdadeira história da parceria altamente rentável entre a psiquiatria e as companhias farmacêuticas que criou um centro de lucros de 80 bilhões de dólares com psicofármacos. Mas as aparências enganam. O quão válido são os diagnósticos de psiquiatras quão seguros são seus medicamentos? Cavando fundo por baixo do verniz corporativo, este documentário expõe a verdade por trás das tramas e esquemas de marketing e da farsa científica que escondem campanhas perigosas e muitas vezes mortais de vendas. Neste filme você vai descobrir que ... Muitos dos efeitos colaterais dos medicamentos podem realmente fazer a sua "doença mental" piorar. Medicamentos psiquiátricos podem induzir à agressão e depressão. Alguns medicamentos psicotrópicos receitados à crianças são mais viciantes do que cocaína. Diagnósticos psiquiátricos parecem ser baseados na ciência duvidosa. Dos 297 transtornos mentais contidos com o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, nenhum pode ser objetivamente medido por testes patológicos. Sintomas da doenças mentais no âmbito desse Manual são arbitrariamente atribuídos por um sistema de votação subjetiva por uma comissão de psiquiatrias. Estima-se que 100 milhões de pessoas no mundo usam drogas psicotrópicas. O Marketing da Loucura expõe a insanidade real em nosso sistema "de saúde" psiquiátrica: um esquema orientado só para lucros, às custas do desrespeito aos direitos humanos. Este filme mergulha em uma indústria corrompida pela ganância corporativa e oferece um aviso chocante dado por especialistas corajosos que valorizam a saúde pública mais que o dinheiro.

O QUE REPRESENTA O SEXO PARA SUA VIDA?

$
0
0


Por David da Costa Coelho
Bilhões de anos atrás essa pergunta era completamente sem sentido, tendo em vista que o estilo de reprodução era individualista, não havia necessidade da busca de um parceiro para trocar genes e dar inicio a uma criatura com herança genética [1]diferenciada. Era o inicio da vida na Terra, povoada de seres microscópicos com nomes estranhos como as do reino [2]monera, nossos antepassados mais distantes, de acordo com a teoria da evolução, neste período do planeta, seres maiores que bactérias não teriam como sobreviver porque a atmosfera como a conhecemos hoje não existia, no entanto, seria totalmente modificada pelos organismos vivos em evolução, possibilitando o surgimento de criaturas mais complexas...  
Mas como as coisas estão sempre em mutação no universo, o sexo e a própria vida na terra não deveria seguir apenas uma linha reprodutiva pela competição entre as espécies, pois na natureza há uma luta constante para ver quem se se adapta as mudanças ambientais e de predadores, além do que, seria muito chato em minha opinião. Dai, por razões de uma série de mutações ao acaso, como se acredita hoje... Já que a reprodução sexuada produz maior variabilidade genética, embora existindo variabilidade na reprodução assexuada, ela ocorre em pouca quantidade, não permitindo a resistência e sobrevivência de varias espécies e organismos como vemos atualmente. A mistura de características genéticas distintas resulta em seres resistentes a doenças e adaptados ao meio predatório em que vivem, sobrevivendo e passando essa herança genética aos descendentes.  
A necessidade de um [3]parceiro para sexo exige competição entre machos e fêmeas. Até hoje competimos por mulheres lindas e saudáveis, homens altos, fortes ou bem sucedidos financeiramente porque dinheiro em nosso mundo representa uma família prospera e segura. Mesmo quando queremos sexo apenas por prazer e companhia, não importando se o individuo representa o 3º sexo, ou seja, homo afetivos, comumente Rotulado como [4]Gay; A busca de dotes físicos sempre esta na primeira escolha. Nessa questão final, chegamos ao sexo como ele é - ao menos na opinião deste que vos escreve - um mecanismo imposto geneticamente para reprodução, com estímulos de recompensa e prazer, motivo pelo qual os machos competem pelas fêmeas da espécie, ou também em busca de prazer e companhia, justificando a existência de indivíduos homo afetivos no mundo dos humanos, ou animais com o viés gay, coisa comum na natureza.
Mas para nós humanos o sexo não existe apenas para reprodução, pois diferente de todos os seres vivos do planeta, temos algo chamado consciência, e com ela responsabilidades em varias esferas. Dentro destas estas a felicidade e o conceito que desenvolvemos no ocidente para relações mais duradoras, chamado amor. Contudo, nem todos os povos humanos acreditam nisso, pois fazem casamentos arranjados com o objetivo de preservar as heranças familiares acumuladas por gerações, a casta em que pertencem, ou o nome masculino; porque em muitas sociedades, não levar o nome de seu ancestral homem, significa perder sua família. Embora isso seja uma idiotice para nós ocidentais, já que depois de muitas lutas sociais, homens podem usar os nomes de suas esposas, fugindo do patriarcalismo religioso imposto por milênios.
 Como visto, algo fundamental para a humanidade não é uma coisa simples, ao contrario, é a mola que motiva todas as relações mais complexas entre seres humanos.  Ainda hoje é taboo uma pessoa do mesmo sexo ter afinidades emotivas em publico, ou em tevês abertas. O puritanismo imposto pelas religiões monoteístas hipócritas, com seus lideres transvestidos de tradutores divinos, faz desse ato de carinho um escândalo, com direito a enviar os meliantes ao inferno; teoria que eles criaram a partir do mundo grego e do livro [5]A Divina Comédia. Os ocidentais impõem ao resto do mundo o conceito de liberdade individual como se fosse a suprema invenção do planeta, mas ela não se aplica ao sexo; este, ao olhos dos preconceituosos acima, é algo sujo e imoral. Se os mesmos fossem jogados numa fenda do tempo ao mundo grego e romano, rasgariam os pulsos porque esses povos levavam o prazer sexual a limites que fariam qualquer devasso se sentir humilhado.
Apesar de sermos herdeiros de sua cultura, essa parte foi excluída da história porque a religião católica e protestante castrou a liberdade dos comuns, já os nobres, ricos e líderes religiosos hipócritas, em suas festas, orgias e escândalos de sexo com crianças, continuam a usar o sexo como sempre foi há milênios. Nos países islâmicos, a liberdade sexual só existe para os homens, com suas varias esposas, ou harém se for da elite da elite. Já a mulher não passa de uma reles reprodutora, tendo que se contentar em dar prazer ao marido e ser casta e vestida de acordo com a sandice islâmica de cada nação onde impera essa religião.
Hoje o sexo vai muito além da relação familiar ou de prazer dos amantes, forma a base de nossa sociedade, como motiva toda sorte de comercio, religião, crimes e castra a nossa liberdade porque ele não é de graça, há sempre um preço em tudo que ele nos oferece. A vida sexual de um ser humano se inicia na maioria dos casos na adolescência. Mas só seremos realmente maduros nesta questão após os 40 anos. Nesta fase de nossa vida, somos conhecedores amplos de cultura, religião e governos hipócritas, a partir deste momento, sabemos o preço do sexo. Mas se por acaso ainda restar duvida, a velhice faz exatamente sua função, acaba com o sexo porque o corpo tem prazo de validade. Se o sexo representa algo a nossa civilização, com certeza o fim dele na velhice, decreta uma prisão mental que temos a consciência de tudo, mas não temos um corpo perfeito que atenda a estes desejos...




[1] Na reprodução assexuada não há troca de gametas, um indivíduo se divide em duas e forma uma cópia idêntica a ele próprio. É o caso, por exemplo, de bactérias que fazem a reprodução assexuada por bipartição ou cissiparidade, estrangula-se no meio e se divide em duas. Há também a reprodução assexuada por brotamento, você pega um galho de uma planta, esse galho produz raízes e se torna em outra planta igual a aquela de onde saiu o galho e forma um broto que gera outro indivíduo daquela espécie sem ter havido atividade sexual, a= não; assexuada = sem sexo. *Entende-se que sexo é todo o procedimento que leva ao encontro do gameta masculino com o gameta feminino. *Entende-se que reprodução é a produção de novos indivíduos e independe do método utilizado, a reprodução pode ser de duas formas: reprodução sexuada ou reprodução assexuada. Obs. A clonagem é uma forma de reprodução assexuada porque na clonagem não existe encontro de gametas

[2] Reino de seres vivos representados por dois sub-reinos, o das Bactérias e o das Arqueas. As Arqueas são seres geralmente encontrados em ambientes extremos (salinidade, temperatura, pH…) e diferem das Bactérias por possuírem parede celular de composição distinta (algumas não possuem parede) e apresentarem organização gênica mais semelhante à dos seres eucariontes, aproximadamente relacionadas a eles do que com as bactérias.
[3]Reprodução sexuada: É a combinação gênica de dois indivíduos – já que esta reprodução abrange a fecundação ou fertilização (a forma mais comum de reprodução sexuada) – e por isso, é considerada mais importante no quesito evolutivo, já que permite a diversidade genética.

[4] O termo inglês foi incorporado em outras línguas, sendo usada com muita frequência no Brasil e em Portugal. Embora, algumas vezes, gay seja usado como denominador comum entre homens e mulheres homossexuais e bissexuais, tal uso tem sido constantemente rejeitado por implicar na invisibilidade ante a lesbianidade e a bissexualidade. Da mesma forma, o senso comum algumas vezes atribui a palavra a pessoas travestis ou transexuais, atribuição esta resultante do desconhecimento da distinção entre sexualidade e gênero.

[5] O Inferno é a primeira parte da "Divina Comédia" de Dante Alighieri, sendo as outras duas o Purgatório e o Paraíso. Está dividido em trinta e quatro cantos (uma divisão de longas poesias), possuindo um canto a mais que as outras duas partes, que serve de introdução ao poema. A viagem de Dante é uma alegoria através do que é essencialmente o conceito medieval de Inferno, guiada pelo poeta romano Virgílio. No poema, o inferno é descrito com nove círculos de sofrimento localizados dentro da Terra. Foi escrito no início do século XIV. Os mais variados pintores de todos os tempos criaram ilustrações sobre esta obra, se destacando Botticelli, Gustave Doré e Dalí.
Viewing all 339 articles
Browse latest View live