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CONTOS DE TERROR: YULA, A FILHA DO VAMPIRO..

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AUTOR: DAVID DA COSTA COELHO
A menina sugava as ultimas gotas de sangue do turista inglês em viagem à África, ele foi atraído por uma força maior do que sua vontade ao ver uma criança branca de uns oito anos de idade em meio à escuridão da noite e da maioria das pessoas negras de angola. Ela estava com roupas sujas, com cara de faminta, e seu instinto de pai o levou a perguntar quem era ela e onde estava sua família. No segundo seguinte uma dor lancinante no pescoço varreu seu ser e a vida foi exaurida de seu corpo. Sua alma não estava mais ali, corria agora solta em direção ao quarto de sua filha em Londres, para vê-la uma ultima vez antes de partir...
Como tantas vezes ao longo de milhares de anos, YULA havia matado outro ser humano para se manter viva. Graças à vida retirada do senhor Clayton, poderia ficar um ano sem matar novamente e ser de novo apenas uma menina, pois quanto mais velha ela ficava, menos sangue necessitava, ao contrario de quando se tornou vampira e a fome e o desejo de matar gritavam dentro dela; isso ocorreu há 10 mil anos, mas era como se tivesse sido no dia anterior. Lembrara-se quando acordou com muita fome e se levantou em sua tenda e foi até sua mãe pedir comida, mas o que viu foi o oposto, ela estava morta, seu corpo sendo comido por vermes, bem como o resto de seus irmãos e também seu pai.
Ao sair do abrigo, o mesmo pôde ver com o resto de seu povo, todos mortos, sendo devorados por animais da pradaria, ao longe um chacal corria apressado levando uma mão putrefata em sua boca. Todo seu povo foi massacrado por três vampiros famintos, ela foi a ultima a ser mordida e sugada, mas quem lhe mordeu também tinha uma filha quando era humano. A criança havia perdido a vida quando lobos atacaram sua aldeia e ele estava caçando mamutes,  sentia – se culpado por não defender sua menininha mesmo nesse momento. O corpo dela foi dilacerado antes do animal ser morto por lanças dos jovens da aldeia. Enquanto sugava a menina, sua filha lhe veio à mente, apesar disso ter ocorrido há centenas de invernos, sentiu nela a mesma energia que emanava do corpo de sua filha, e como vampiro ele sabia realmente o que era tal coisa.
Os humanos usam apenas uma quantidade mínima do poder de seu cérebro, um vampiro usava 100% dele. E isso implicava não só força, agilidade e inteligência suprema, mas também podiam captar espectros de energia dos quais a humanidade só descobriria milhares de anos após, ao inventar a tecnologia. Assim quando se alimentavam da força vital das pessoas presente no sangue, a alma de suas vítimas apenas trocava de corpo, e podiam ver tal coisa ao leva-los a morte. Por isso não havia sentimentos em relação a se alimentar de seres inteligentes, eram apenas alimento e mais nada.   Sentiu que a alma de sua filha estava de novo no corpo daquela criança. Como vampiro não lhe cabia mais emoções por suas presas, era apenas comida, e sua vida passada não devia lhe atingir nesse momento em que se saciava sua sede de mais vida, em jejum há muito tempo. No entanto, não podia simplesmente matar o ultimo pedaço de sua humanidade, e ao mesmo tempo não deveria mantê-la, estando em negação e conflito com seu novo eu eterno. Só lhe restava à única opção possível. Fazer dela sua filha vampira, uma criança que jamais seria outra coisa além de uma vampira criança.
 Conheceu muitos vampiros ao longo das eras, mas jamais viu uma que não fosse adulto, ao que parece, não havia interesse em fazer de uma criança um imortal. Ela não teria com o que contribuir com a espécie, que por sua própria natureza vivia em isolamento, e quando estavam juntos era para se alimentar, sentir prazer uns com os outros e brincar com os humanos até sugar suas vidas. Transformar um vampiro implicava em cuidar dele até que o mesmo deixasse a infância bestial e sanguinolenta em que a fome era maior que a razão. Ele em toda sua existência jamais havia feito outro, mas como Yula seu desejo de ex-humano e vampiro em transição foi supremo, sugando-a, levou a criança ao ultimo suspiro, e quando percebeu que a alma ia deixar o corpo se continuasse, ele parou. A mordida infectada transferiu o gene que dava a sua espécie o dom que os humanos desejavam desde que tomaram consciência de sua mortalidade.
Mas ele não lhe deu seu sangue, e sim saliva, pois a mesma também tinha vida latente e eterna, mas diminuía a chance dela se transformar. Lambeu a ferida e os buracos da garganta se fecharam, não queria mais estar ali alimentado um lado humano que não fazia mais parte de quem era. Deixou a criança a própria sorte, se ela vivesse seria uma vampira, mas se morresse seria melhor para ele porque enterraria sua ultima emoção de algo que não era mais. Mas não foi bem assim que ocorreu, no terceiro dia ela despertou para a eternidade, em sua humanidade estava órfã, como vampira, jamais conheceu seu criador, e nem mesmo ele a conheceria, pois havia desistido de viver ao não mais se alimentar.  Seu corpo imortal repousava em sono eterno no gelo da Sibéria, a fome o devorava e se um dia levantasse de seu desterro gelado, tal como há milhares de anos, uma aldeia inteira não seria o bastante para suprir sua fome milenar...
 Por milhares de anos ela nunca deixou de ser uma menina em sua mente e corpo, e por isso foi rejeitada por outros vampiros,  gostava de aparecer nas aldeias e ser adotada por alguma família. Vivia com eles em média de 3 a 4 anos. E assim como um leão observa na pradaria suas próximas presas, ela fazia o mesmo com a família adotada. Um a um ela os matava durante os dias finais de sua vida naquele grupo, rasgava as gargantas e dava a impressão que fora um animal selvagem, a despeito do sentimento que desenvolvia enquanto estavam vivos, ao se alimentar ela era o que sempre seria; um ser imortal, faminto de sangue, coisa que sua vitimas lhe davam agora.
Em sua longa existência, milhares de humanos lhe deram a vida. mas atualmente ela só caçava os fracos, doentes e inválidos, e não havia lugar no mundo para isso melhor do que a África, com seus aleijados de guerras tribais, doentes de várias doenças, ou punições a homens e mulheres por cunho sexual religioso. Na verdade o sangue dos africanos era particularmente saboroso e com mais energia que os de outros humanos, em finais do século XX ela entenderia o porquê devido o projeto genoma descobrir que a raça humana inteira era descendente daqueles homens e mulheres que se espalharam pela terra, saindo em parte dali para colonizar outros continentes..
 Mas de vez em quando gostava de variar suas presas de outros continentes, e também era uma espécie de justiça vampira que ela desenvolveu em sua mente. Os europeus fizeram da África uma lastima em termos humanitários, então nada melhor para seu ego do que beber o sangue de um deles de vez em quando. E quando ela fazia isso, não se contentava só com essa primeira vitima, consumia toda família da qual ele fazia parte. E para isso contava não só com os super sentidos de um vampiro que podia farejar e sentir o tipo e sabor de sangue absorvido, mas também com seus poderes de correr e voar mais rápido que qualquer maquina feita pelo homem. Em poucas horas ela estava nas proximidades da casa onde habitava a família dos Clayton em Londres, e ao cair da tarde a noticia de que ele estava morto na África já chegara à residência e muitos outros familiares estavam se dirigindo ao local para confortar Katherine e seus dois filhos menores em prantos.  A noite prometia a Yula um banquete como ela já não saboreava tinha décadas... 

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