AUTOR: DAVID DA COSTA COELHO
Milhões de anos antes do surgimento da humanidade, uma raça alienígena chegou a um estágio tecnológico em que a [1]nanotecnologia passou a fazer parte de suas vidas. Assim eles tinham a sociedade perfeita, sem guerras, fome, doenças, mas em breve uma catástrofe global mudaria tudo isso porque uma imensa erupção solar criou em sua atmosfera um gigantesco [2]pulso eletromagnético que fritou literalmente toda a tecnologia que comandavam seus corpos e sociedades. Após uma década reconstruindo sua tecnologia, eles decidiram que precisavam de algo que jamais fosse erradicado por tal evento cósmico, assim eles criaram os Mandroides, entidades humanoides com a missão de serem os serviçais desta espécie em todos os sentidos. Não eram robôs e nem androides comuns, eram iguais em forma e corpo àquela espécie, totalmente biológicos, mas havia uma diferença, os Mandroides eram indestrutíveis e invulneráveis, e suas bionanocélulas se regeneravam e passavam a atualização a todos, assim, o que um Mandroide soubesse, todos saberiam, e eram bilhões deles...
Com o tempo àquela civilização passou a usar os Mandroides para todas as funções básicas, inclusive sexo, e nestes termos eles eram melhores porque quando interagiam fisicamente, faziam isso também em nível celular, e graças a isso, eles podiam incentivar as áreas de prazer do cérebro de quem se relacionavam, fazendo com que o sexo fosse centenas de vezes melhor com eles do que com um ser biológico que os havia criado.
Com o passar dos séculos a reprodução daquela espécie entrou em decadência, e o numero deles – dos que nasciam – diminuía rapidamente e não permitiu mais a reprodução devido ao gargalo reprodutivo de pouca variedade genética, além do mais, o pulso magnético de séculos atrás ajudou a esterilizar o resto da população, e os que sobreviveram se reproduziam através da clonagem, mas sem novos materiais genéticos para renovar as linhagens do planeta, o gargalo genético se fechou e a outrora civilização Mandara se extinguiu, mas os Mandroides conservaram os genes para no futuro, corrigir o gargalo e talvez salvar seus criadores...
No entanto, o planeta ainda continha a herança dos Mandara, bilhões de Mandroides, uma joia no universo, e sem sua civilização original, e uma das funções primárias comandadas por seus criadores era que se eles se extinguissem, eles deveriam servir a outros povos da galáxia, e para isso deveriam achar a quem servir neste universo. Com essa missão, os Mandroides se apropriaram de todo conhecimento de seus criadores e criaram bases espaciais e minas nos cinturões de asteroides para a construção de naves gigantescas, e delas eles podiam vasculhar o cosmo atrás de novos senhores a quem servir. Depois de milênios, a primeira comunicação que ouviram da raça humana foi uma música chamada rock and roll, e junto veio à imagem de quem cantava e dançava, era [3]Elvis Presley.
Os Mandroides finalmente, após milhões de anos de solidão de servidão a este objetivo, agora tinham a quem prestar serviços e dar sentido a sua imortalidade. Um [4]buraco de minhoca foi aberto do ponto que eles estavam na via láctea com o nosso sol, surgindo entre Mercúrio e Vênus. Da terra algo jamais imaginado foi possível, um buraco de minhoca surgiu próximo da órbita do sol e libertou os Mandroides para o nosso sistema solar, e assim que o evento cósmico se fechou, todos os satélites e telescópios do planeta apontavam para a estrela e os dois planetas.
A caminho da terra estavam 20 naves quilométricas, maiores que muitas cidades americanas, os satélites varreram as estruturas das naves e descobriram que eram feitas de uma espécie de diamante negro, uma tecnologia que há humanidade perseguia há mais de 50 anos, e que certamente se constituía no material perfeito para viagens espaciais, ainda mais daquela dimensão e proporção. Mesmo sabendo que as naves eram indestrutíveis, e que teriam tanta chance contra os alienígenas, quanto um cardume de sardinhas prestes a serem engolidas pelas bocas de centenas de baleias, todas as nações atômicas prepararam seus arsenais nucleares.
As naves chegaram e se posicionaram em órbita circular com a terra. Dali os Mandroides agora puderam estudar melhor seus futuros senhores. Pela data com a qual se descreviam, estavam no ano 2030, com tecnologia obsoleta e formas primitivas de combustível, locomoção e comunicação. Ainda envolvidos em conflitos sectários e religiosos, além da luta por recursos que mantivessem as nações mais avançadas no comando das demais inferiores. E foi destas nações que os comunicados para contato vieram, e o líder dos Mandroides respondeu de uma vez só a todos os humanos, direto em seus aparelhos de comunicação, e até em alguns que já tinham nano chips nos corpos.
- Nós somos Mandroides, entidades biotecnológicas imortais. Em termos físicos e biológicos somos maiores e melhores que vocês porque nossos criadores habitavam em um planeta com gravidade e tamanho superior ao de vocês, mas nosso propósito é e sempre será o de servir, nos os escolhemos como nossos futuros senhores, assim sendo, sua espécie receberá de nós todo conhecimento deixado por nossos genitores, e vocês são seus herdeiros. No entanto, devido a sua primitiva sociedade, divididos por ideologias, religiões e governanças, e para que não se destruam no processo de inserção de nossos sistemas, suas armas de destruição em massa agora já não funcionam mais porque nós as teleportamos para nossa frota. Todas as cabeças nucleares dos milhares de mísseis com os quais vocês se ameaçavam mutuamente, agora serão convertidas em energia pura para elas, e isso é apenas uma medida para impedir que vocês desapareçam, como ocorreu com nossos criadores por motivos diferentes. Num primeiro momento nós enviaremos para cada nação deste planeta um grupo de Mandroides, e após isso, nenhum de vocês precisará mais trabalhar ou lutar pelo próprio sustento. Nós faremos isso para toda raça humana. Construiremos habitações maiores e melhores para cada um de vocês, não haverá mais fome, doenças, guerras, desigualdades e lutas pelo poder econômico, político e religioso; só viver intensamente cada dia, criar filhos e netos, e chegar ao final da vida com dignidade. De hoje até o fim de sua espécie, nós cuidaremos de vocês.
Diante de uma força espacial que suplantou toda humanidade sem dar um só tiro, o que se seguiu foi o teletransporte de milhares de seres aparentemente humanos, mas com 3 metros de altura. De seus corpos, nanotecnologia contaminava toda tecnologia humana, exceto os corpos dos seres vivos, e graças a ela, eles puderam controlar tudo que era de eletrônico no globo. Uma espécie de tradutor universal permitia a compreensão de todas as línguas terráqueas, e o que foi dito em seguida deixou a todos com medo, mas novamente não havia nada que eles pudessem fazer.
- Para que nós possamos servir a vocês, será necessário primeiro ensiná-los. Analisamos toda sua história e tecnologia, e vocês possuem muitos defeitos, mas dispõe de algo que nossos criadores possuíam, ainda que em um grau menor; imaginação, mas tiveram muito mais tempo que vocês. Vocês, apesar de sua barbárie e primitividade, se tivessem o tempo de existência de nossos antigos mestres, os teriam superado em filosofar e produzir obras de arte e tecnologia, mas nós lhes daremos o tempo e as ferramentas para que isso ocorra.
Todos os Mandroides que estavam no planeta levitaram até dez quilômetros acima da terra, e de suas mentes uma ordem foi dada as naves, e delas um campo energético foi estendido pelo globo, energizando cada ser humano da terra, não importando onde os mesmos estavam. Eles se tornaram luz e foram teleportados num primeiro momento para os bancos de dados das naves.
Com a terra agora sem a presença humana, os Mandroides lançaram pulsos de energia em todas as cidades do globo, e os metais que havia nelas se aqueciam e evaporavam, fazendo o mesmo com os materiais sólidos, e todas foram varridas pelo fogo. Os Mandroides estavam literalmente extinguindo todos os rastros de que um dia existiu uma civilização inteligente naquela parte da via láctea. Acima do planeta eles também fizeram o mesmo com a tecnologia humana. Da nave um raio atingiu uma estação espacial, ela ganhou um campo magnético que atraiu tudo que era metálico ao redor do globo. Como se tivesse vida, ele cresceu com esses restos de naves e satélites, e ao atingir seu objetivo, ela se direcionou para a terra, seu alvo era a cratera de um vulcão ativo no Havaí.
A explosão foi semelhante a uma bomba de hidrogênio de [5]50 megatons, mas finalmente o sistema solar estava livre do que um dia foi à humanidade, e sem eles, os oceanos recuperaram sua fauna, as florestas e rios serpenteavam de vida, e nos céus as aves e insetos povoavam cada centímetro de luz do sol. Para a vida de modo geral, os Mandroides foram a melhor coisa que os seres da terra podiam desejar.
Os Mandroides agora estavam prontos para a segunda parte de sua missão, servir a seus novos donos, mas não era exatamente aos humanos que eles queriam servir. Ao longo de milhares de anos a civilização Mandara pereceu devido ao gargalo genético, mas com os humanos não havia tal problema porque havia bilhões deles. Mas sua genética inferior não lhes permitiria sobreviver num planeta maior e mais denso em atmosfera e gravidade quanto o planeta Mandara. Mas havia uma solução. Os Mandroides tinham os dados genéticos de seus criadores, assim eles podiam recriar a civilização inteira através da clonagem, mas desta vez eles tinham algo mais...
Os humanos foram materializados em câmaras, e em seus corpos o DNA mandara foi inserido, e com essa base genética como raiz, o DNA alienígena acabou crescendo e assumindo os corpos, modificando-os e tornando-os mais densos e fortes. A raça humana deixou de existir, e em seu lugar os Mandara voltaram à vida após quase um milhão de anos de sua extinção. Mas de certa forma eles eram algo melhor e superior; e agora não apresentavam mais os traços da humanidade inferior, eles eram Mandaras, com 3 metros de altura, com as memórias de quem eram milênios atrás, com todo seu poder físico e intelectual, acrescidos do gene da imaginação e criatividade, uma característica humana, mas sem lembrarem que haviam se extinguido; essa parte foi excluída pela criação suprema deles, os Mandroides.
E assim de deu novamente com aqueles bilhões de seres retornando a vida antiga, desfrutando os prazeres do sexo, comidas e bebidas, criando obras de arte, poesia e músicas. Em termos comparativos, seriam semelhantes aos gregos de Atenas, que graças aos escravos para todo tipo de trabalho, suas mentes estavam livres para criar a democracia, matemática e todas as demais ciências humanas. Mas o genoma humano não era assim tão fácil de exterminar. Dentro dos mandaras, e nas relações físicas com os Mandroides, algo mais prosperou, um desejo de liberdade e imortalidade que nenhum Mandara possuía antes, porque mesmo após séculos de vida e prazeres, até mesmo eles morriam.
Ao longo dos séculos, os mandaras começaram novamente a experimentar outra evolução, o DNA humano começou a sobrepor o DNA invasor, e apesar dos corpos e mentes ainda serem Mandara, aos poucos a humanidade voltava a ressurgir no âmago daqueles seres, e ter a noção de sua memória ancestral. Isso ocorria em sonhos ou na interação física com os Mandroides. Esse anseio por liberdade também causou outra mudança, ela alterou a mente da espécie feita para servir. Agora não eram só os seres totalmente biológicos que interagiam em modo celular, pois o DNA humano havia se fundido com o DNA dos Mandroides.
Os humanos estavam programados biologicamente para transcender sua forma e se tornarem sempre algo melhor e mais evoluídos; e a fusão com Mandaras os privaram temporariamente deste destino, mas agora nada podia pará-los. Cumprindo ordens de seus senhores, alguns Mandroides foram teleportados e convertidos em energia, o mesmo feito com alguns Mandaras, e dentro das câmaras eles foram reconstruídos como um único individuo genético. O resultado era um ser novo e melhor, imortal, e superior às duas raças alienígenas de senhor e serviçal. Mas ele era totalmente humano em formato de corpo, com uma mente humana tão avançada e evoluída, que a tecnologia já não era mais necessária para aquele pequeno grupo de novos seres. Não precisavam mais de alimento, nem de nada que outro ser pudesse lhes prover.
A experiência foi estendida a todo o resto do planeta, e em poucos meses não havia mais Mandroides e nem Mandaras, uma nova espécie surgiu, Humandroides, seres humanos de corpo e alma, mas com a mente tão avançada e evoluída, que se estivessem em seu planeta original seriam chamados de deuses. E nesse sentido eles eram realmente deuses porque suas mentes e corpos superiores podiam fazer coisas fantásticas, mas a maior de todas – [6]graças ao poder de Gáia de seu mundo – eles podiam voltar ao planeta Terra com sua mente quântica, e sentir a vida que emanava dela em todas as suas criaturas. Foi essa força que salvou a humanidade, pois embora a milhares de anos luz dali, no mundo quântico, Gáia jamais deixou suas partes se separarem dela, e na hora certa ela fez o que sempre quis, evoluiu seus filhos para que sempre estivessem conectados a sua mãe...
[1] Nanotecnologia é a capacidade potencial de criar coisas a partir de átomos, usando as técnicas e ferramentas que estão sendo desenvolvidas nos dias de hoje para colocar cada átomo e cada molécula no lugar desejado. Se conseguirmos este sistema de engenharia molecular, o resultado será uma nova revolução industrial. Além disso, teria também importantes consequências económicas, sociais, ambientais e militares.
[2] Conhecido também como PEM, o Pulso eletromagnético é um fenômeno físico que pode ser decorrente de fenômenos naturais, como explosões solares ou estelares, explosões nucleares ou ainda de grandes correntes elétricas. Falando de uma forma mais técnica, chamamos dessa forma os pulsos de alta energia e de largo espectro, que se propaga pelo espaço gerando um campo elétrico defasado de um campo magnético. Sua frente de onda pode danificar componentes eletrônicos que estejam dentro do campo.
[3] Elvis Aaron Presley foi um famoso músico e ator norte-americano, mundialmente denominado como o Rei do Rock e com a alcunha de "Elvis, The Pelvis", pela forma extravagante, mas ousada como dançava e se mexia, adquirida na década de 50. Elvis também foi um dos pioneiros do rock and roll. Uma de suas maiores virtudes era a sua voz, devido ao seu alcance vocal, que atingia, segundo especialistas, notas musicais de difícil alcance para um cantor popular. A crítica especializada reconhece seu expressivo ganho, em extensão, com a maturidade; além de virtuoso senso rítmico, força interpretativa e um timbre de voz que o destacava entre os cantores populares, sendo avaliado como um dos maiores e por outros como um dos melhores cantores populares do século XX.
[4] A teoria do buraco da minhoca foi desenvolvida pelos físicos Albert Einstein e Nathan Rosen que acreditavam na possibilidade de ser possível se realizar viagens no tempo por meio de buracos que atuam como portais que permitiram o transito entre o futuro e passado, ou ligar duas regiões distantes do espaço. De forma simplificada, a teoria defende a possibilidade da viagem no tempo, muito explorada em filmes de ficção cientifica. Essa ideia é tem como base a teoria da relatividade, desenvolvida pelo próprio Einstein, que defende que toda massa curva o espaço-tempo. Trata-se da ligação entre dois pontos diferentes presentes no espaço-tempo, que é capaz de reduzir o tempo e a distância de viagem. Ainda de acordo com a teoria da relatividade, esses buracos de fato existem, mas até então nenhum foi descoberto.
[5] Poderio nuclear semelhante a uma explosão com 50 milhões de toneladas de dinamite.
[6] Teoria de Gaia, também conhecida como Hipótese de Gaia, é uma tese que afirma que o planeta Terra é um ser vivo. De acordo com esta teoria, nosso planeta possui a capacidade de auto-sustentação, ou seja, é capaz de gerar, manter e alterar suas condições ambientais. A Teoria de Gaia foi criada pelo cientista e ambientalista inglês James Ephraim Lovelock, no ano de 1969. Contou com os estudos da bióloga norte-americana Lynn Margulis. O nome da teoria é uma homenagem a deusa Gaia, divindade que representava a Terra na mitologia grega. Quando foi lançada, esta teoria não conseguiu agradar a comunidade de cientistas tradicionais. Mas foi primeiramente aceita por ambientalistas e defensores da ecologia. Porém, atualmente, com o problema do aquecimento global, esta teoria está sendo revista e muitos cientistas tradicionais já aceitam algumas ideias da Teoria de Gaia.