POR DAVID DA COSTA COELHO
Uma das frases icônicas de Paulo Freire refere-se à [1]educação, de que seria muita ingenuidade da classe pobre acreditar que as elites que os comandam e manipulam iriam permitir uma educação que questionasse o sistema dominante; e quando se trata de desigualdade social, podemos adequar à mesma de que seria muita ingenuidade acreditar que os americanos e europeus permitiriam que o Brasil se tornasse uma potência econômica para competir com eles na venda de tecnologia, foguetes, carros, aviões, navios, cereais, carnes em geral e armas, o mercado mais lucrativo da América e Europa...
Mas como fazer para que uma nação gigantesca como o Brasil não se torne uma potência econômica, tendo em vista as inúmeras riquezas minerais e humanas que só existem aqui? Simples, suborne as elites, os milicos, a imprensa vendida, corrupta e golpista, e os três poderes...
Insufle nelas os valores europeus e americanos, e diga que há um inimigo externo para amedrontar a população com uma mudança de regime político, pois esse medo é o comunismo cubano. E crie também o inimigo interno através do crime e do combate eterno às drogas, à bandidagem dos morros e suas festas de funk libertino, os negros e mestiços, essa classe pobre e perigosa que sai à noite para suas festas e orgias e amedrontar gente de bem, essas pessoas brancas, que moram em condomínios fechados de frente para praia, ou em bairros nobres com muros maiores que a muralha da China.
Treine os militares para temer e matar pretos, mulatos e mestiços, e criminalizá-los por todas as mazelas sociais, e os que não forem mortos na guerra contra o crime e às drogas, joguem-nos na cadeia e que eles se lasquem para lá nessas senzalas do século XXI...
Destrua a educação com projetos liberais para escolas, insufle um programa de aprovação automática para que os alunos saiam da escola mais tarde não como seres pensantes e produtores de cultura, e sim idiotas uteis que reptem aquilo que ouvem nas redes abertas de teve e rádio, ou na internet porque contestar o que recebem exigem iniciativa e pensamento crítico, coisas que eles jamais terão...
Não invista em ciência e tecnologia, isso não dá lucro, e se espera muitos anos por algo que lá fora está sobrando, dito isso, importe e pague [2]royaties as empresas internacionais, e ainda que suas patentes já estejam vencidas, e você possa fazer genérico aqui, continue pagando porque isso é bom...
Transforme os professores em inimigos públicos, pague salários de miséria, diga que são esquerdistas e doutrinadores, não faça concursos públicos, e se fizer não os chame, empurre contratos na maioria deles, e os demita em dezembro sem direito a nada. Criminalize suas greves e ponha a culpa da educação ruim no colo dessa classe malévola, afinal os políticos nada tem haver com educação...
Privatize todas as empresas lucrativas do País com a desculpa que não serão usadas mais por políticos corruptos, fique com a parte podre e jogue na divida da nação, assim se privatiza o lucro e socializa o prejuízo...
Destrua os sindicatos com [3]flexibilização das leis trabalhistas ao ponto de quase informalidade, criando uma gigantesca massa de trabalhadores sem direitos, sem empregos, e que se sujeitam a qualquer emprego ou salario para não passar fome, virar mendigo ou entrar para a vida do crime...
Pegue pesado na criação de leis mais duras que punam ainda mais a parte mais pobre e carente da população porque aumenta o temor de lutar contra a desigualdade. Criminalize greves, passeatas, discursos revisionistas e dê aos militares amplos poderes para baixar o pau nesses movimentos e não serem criminalizados em suas ações contra esses grupos; divida a sociedade em classes sócias e faça que cada uma odeie ainda mais a classe abaixo, e diga que aquela que está acima, aceitou as regras do jogo e merece seu lugar e privilégios sociais...
Dissemine ideias de que o estado é corrupto porque tem empresas e intervém na economia, o que é um absurdo porque o estado não deve ter empresa e tem que ser liberal, deixando a iniciativa privada tudo que antes concernia ao estado. Mas para uma boa gestão liberal o estado tem que ser o mais desregulamento possível, inclusive na destruição de direitos das classes trabalhadoras, sem direitos, sem encargos, os liberais gerarão zilhões de empregos...
O estado deve privatizar petróleo, refinarias e distribuidoras, energia e distribuidoras elétricas, companhias de água e esgoto, fabricas de fertilizantes e suas minas; toda e qualquer indústria bélica também deve ser privada e não estatal. Empresas de telecomunicações devem ser privadas e jamais públicas; e a joia da coroa, os bancos públicos, com a informação de todo cidadão da nação, e seu dinheiro de direitos trabalhistas e de aposentadoria, estes todos devem ser privatizados. E pra finalizar, após tudo isso, o estado deve induzir a iniciativa privada a investir com suas demandas estatais obrigatórias porque ele é o motor que faz gerar o sistema...
Como visto, quando tudo é privado, não há como o estado ter recursos para combater as desigualdades sociais, e sem isso a sociedade descaba para a criminalidade, o desespero social, e as elites seguem destruindo e absorvendo tudo que pode para gastar no 1º mundo e esconder seus lucros advindos das privatizações nos paraísos fiscais. Há um país que pune isso com bala na cabeça, a China. Lá não importa se você é bilionário ou pobre, se roubar e for condenado a morte, a pena será executada. E se não mudarmos nada, não serão as elites canalhas que sofrerão, e sim os pobres que continuarão sendo mortos nas favelas, nas estradas e nas filas de hospital e INSS...
[1] Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica. Paulo Freire
[2] Royalties é uma palavra em inglês que significa regalia ou privilégio. Consiste em uma quantia que é paga por alguém ao proprietário pelo direito de usar, explorar ou comercializar um produto, obra, terreno, etc. Esta palavra é o plural de royalty, que significa realeza.
[3] O que é a flexibilidade da CLT?
O objetivo é flexibilizar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a partir principalmente dos acordos coletivos, para aumentar a produtividade da economia e reduzir os custos dos empresários ao investir. Mas com o cuidado de manter os direitos assegurados aos trabalhadores pela Constituição