Por David da Costa Coelho
No começo deste ano, nas minhas férias escolares, fui a Copacabana passear e tirar umas fotos, aproveitando um daqueles raros dias em que estou só e posso me divertir com imagens que durarão décadas, arquivadas na internet, pois as fotos paisagísticas são as que realmente me atraem. Dificilmente faço fotos de pessoas, salvo raras exceções... Depois de fotos dos prédios e lugares típicos, fui caminhar na praia descalço, vendo o mundo de turistas gringos que vem para cá no verão. Contudo, algo especial me chamou a atenção, pois ao lado de uma turista – talvez alemã ou inglesa - muito branca, na ponta da praia, já quase chegando ao forte de Copacabana, havia dois mendigos dormindo mais acima, enquanto ela passava óleo em suas pernas, e de vez em quando a turista olhava para eles meio receosa. No entanto, ambos dormiam a sono pesado, deviam ter ficado até o amanhecer coletando material reciclável para vender, e naquela hora da manha, dormiam o sono dos justos num cartão postal mundial...
Tirei umas fotos deles porque aquilo de certa forma era algo raro, mas não retirei do cartão de memoria, ainda estão ali guardadas, passei o resto do dia caminhando, e fui até o Leblon, e a surpresa não parava, vi mendigos próximos a uma famosa casa de massas ali perto. Outra mendiga sentada ao lado de uma drogaria, com uma criança de uns três anos grudados ao corpo dela, e mais duas de um uns oito e onze anos pelo tamanho. Como dou aula é fácil calcular a idade deles, embora bem magros e desnutridos. Peguei o metrô e fui até a central do Brasil para mais fotos, mas ali, além dos monumentos e do sambódromo, o espetáculo é mais antigo e prosseguia sua triste sina; mendigos e viciados em drogas diversas fazem daquele local uma espécie de nicho ecológico próprio, da espécie humana excluída e invisível que se tornaram... Dormem entre as lanchonetes, próximo a praça. Ou nas laterais do prédio da Central. E como não se banham diariamente e não têm roupas limpas, não podem frequentar locais destinados a quem faz parte do mundo real, assim sendo o banheiro é em via publica, e o banho, nas fontes da cidade... Aquele dia estava ainda muitas fotos de terminar...
Dias depois, quando minha esposa estava voltando das férias com a família no Chile, e fui busca-la às três da manhã, o que mais havia no caminho próximo à comunidade que fica na rota do aeroporto eram viciados em crack e mendigos. Embora conheça a realidade do RJ, ela não deixou de reparar no progresso que ainda mantinhos no tocante a mendigos e viciados. No percurso de volta, um engarrafamento quilométrico, depois de duas horas, quase raiando o dia, finalmente encontramos o problema. Três viciados em crack tinham sido atropelados por um caminhão, e ainda acertaram outro carro...
Mas viciado morto e atropelado na Avenida Brasil à noite, quando não ocorre também durante o dia, já se tornou coisa comum, difícil é o dia que isso não ocorre... Não só nessa via famosa do RJ, mas na linha amarela, vermelha, e até mesmo em outras menos conhecidas. Entretanto, ainda restam outras mazelas desta desgraça social que mancha nossa ascensão às potencias ricas do globo. Como docente de História, discordo desse termo porque o país mais rico do mundo, os EUA, tem 60 milhões de pessoas passando fome, dormindo em esgotos, bueiros e estações de trens e casas e prédios em ruinas e abandonados por razões obvias. Se uma nação é rica a esse ponto, e não dá um jeito de cuidar deles com algum projeto social; semelhante ao feito nos anos 30 por Franklin Delano Roosevelt, o contraponto com a África, onde morrem de fome diariamente 34 mil crianças, segundo a ONU; não estão lá tão distantes no futuro, se nada em contrario for feito hoje...
Aqui no Brasil também temos milhões na linha da pobreza, auxiliados pelos programas sociais do governo, que muitos chamam de bolsa esmola, bolsa voto, vagabundagem e tantos outros preconceitos idílicos de quem tem tudo e não esta nem aí para os que nada possuem. As bolsas ricos e bolsa corrupção, tão romanticamente falado em jornais e sites diariamente, não tem tanta pregação contraria quanto estes programas de ajuda a pessoas pobres. E é nesse sentido que faço o questionamento. No meu entender, essas pessoas devem ser ressocializadas de alguma forma. Já andei por muitas cidades do RJ, Niterói, São Gonçalo, Magé, Caxias...
Em Niterói, próximo à rodoviária tem um batalhão da PM, e ao entardecer, restos de alimentos são postos para fora nas lixeiras. Contudo, o que se vê, com carros da PM entrando e saindo, são mendigos revirando as latas para catar as sobras do almoço, ou qualquer parte que forre o estomago. E um pouco depois do batalhão, indo para o centro da cidade, mendigos e viciados se unem em grupo para fumar crack, ou trocar os produtos do dia. Quase chegando à faculdade universo, mendigos caminham e pedem aos alunos e camelos dinheiro e doações. Não só ali, como na UFF, já próximo às barcas e ao Plaza Shopping. Ou seja, essas pessoas não tem opção de mudar de vida. E só lhes resta esse caminho até que a morte os leve em alguns anos. Ou se são mortos por algum riquinho maldito que gosta de queimar indigentes a noite, ou por traficantes, e em alguns casos por doentes mentais que também matam mendigos. Não raro a teve nos mostra alguns desses casos macabros.
É de minha opinião que devemos fazer alguma coisa no âmbito de resgate humano dessas pessoas sem futuro e destino. Não podemos continuar ignorando os indigentes que vemos nas calçadas a noite, dormindo próximo a bancos, restaurantes abertos ou fechados, ou recolhendo alimentos em lixos de comércios ou qualquer que seja, é que só se tornam seres humanos nas festas hipócritas do ‘natal sem fome’. Se não há lei para levar essas pessoas para um centro social, tratar suas mazelas, ensinar a ler escrever e ter uma profissão no futuro, mesmo que de cuidadores de praças, ou presidentes da republica se tiverem dom para isso no futuro; que nossos políticos as façam. Em breve virão as olimpíadas e copa do mundo. E nos não somos hipócritas a ponto de desconhecer que todos serão retirados na marra das zonas turísticas e de jogos, para não atrapalhar os negócios e o cartão postal visto por bilhões neste evento... E sem lei para isso. Ou seja, quando o estado e os políticos querem algo, se tem lei eles fazem, e se não tem, fazem assim mesmo; porque o interesse deles, e não o da população, esta sempre em primeiro lugar...